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Adães Bermudes, em 1907, conhecia bem a arte desenvolvida pelos artistas de Coimbra, sobretudo pelos que se encontravam ligados à Escola Livre das Artes do Desenho (ELAD) fundada em 1897 por Mestre António Augusto Gonçalves; fazia-lhes os mais rasgados elogios e entregava-lhes trabalhos destinados a embelezar os edifícios erguidos sob a sua responsabilidade. Era, por isso, “de esperar que o novo edifício construído num belo local [fosse] ao mesmo tempo que um monumento da mais fina arte, uma prova também das extraordinárias aptidões dos artistas conimbricenses, cujos esforços para levantar a arte industrial portuguesa são conhecidos e vistos com aplauso por todo o país”.
O arquiteto, no projeto que riscou, deixou-se influenciar pela arquitetura tradicional coimbrã que ficou, desde o século XVI, impregnada pelo espírito da renascença, mas, no dizer do articulista do Resistencia é necessário “que se não entregue a obra ás mãos do primeiro sucateiro, e que se faça do novo edifício, colocado no melhor local de Coimbra, obra para honra e não para desdouro dos nossos artistas”.
Fig. 9 - João Machado
Os responsáveis pela Agência do Banco de Portugal conheciam bem a capacidade e as aptidões dos artistas mondeguinos e, por isso era de esperar que entregassem a empreitada a alguém credenciado.
Das notícias então publicadas em jornais citadinos deduz-se que o alarife encarregado de riscar o edifício da agência do Banco de Portugal “elaborou, ou pretende elaborar o projeto dentro das tradições da arte local, escolhendo para estilo do novo edifício o da Renascença” e o diretor do Resistencia acrescenta na sua folha que, quanto à concretização daquele tipo de decoração apenas João Machado seria capaz de o executar com a qualidade desejada.
Fig. 10 - A Agência do Banco de Portugal em fase de conclusão
Os outros cinzeladores da pedra a trabalhar na cidade reagiram desagradados à referência inserta no jornal, pensando, quiçá, que ela representava o eco de palavras proferidas por João Machado ou, dizemos nós, movidos por uma “doença” chamada inveja. Machado, seriamente desgostado, reagiu enviando uma carta ao periódico onde referia que “quando soube que um colega [seu], depois de ter conhecimento de que f[ora] convidado para executar esse trabalho” contactou os diretores do Banco, oferecendo os seus serviços, declarara que jamais se encarregaria de tal trabalho. E se bem o disse, fielmente o cumpriu, apesar do dr. Quim Martins em posterior edição afirmar que “se o sr. João Machado abandona a obra, o sr. João Machado falta à consideração que deve a quem justamente lhe aquilata o valor” e que o artista “não tem só a contar consigo, tem de contar também com a cidade que lhe festeja o talento que o enobrece”.
O artista manteve-se irredutível e o trabalho de cantaria acabou por ser entregue a Francisco António dos Santos, Filho, “canteiro que vem conseguindo créditos de artista em várias obras a seu cargo”.
Como normalmente acontece, o prazo estipulado para a construção do edifício sofreu uma derrapagem, até porque quando se começaram a abrir os alicerces as obras tiveram de parar, a fim de ser resolvido o problema originado pela existência de um vasto lençol de água que se torno necessário drenar.
Finalmente, com a presença de Adães Bermudes, a 24 de outubro de 1912 foi feita a entrega do novo edifício da Agência do Banco de Portugal, inaugurada a 1 de novembro desse mesmo ano.
Fig. 11 - A Agência do Banco de Portugal já concluída
No dia da inauguração os diretores da nova agência, Manuel Inácio Palhoto e Henrique Ferreira acompanharam a direção do Gazeta de Coimbra numa visita às instalações e estes “fica[ram] perfeitamente impressionados com as comodidades e o bom gosto ali reunidos, transpirando em todas as suas dependências um tom de modernismo que muito [lhes] agrad[ou]”.
Neste contexto, os visitantes cumprimentavam “os ilustres agentes desta nova agência” ao mesmo tempo que felicitavam “o público de Coimbra pelo excelente edifício agora inaugurado e que vem imprimir à cidade uma nota caraterística do seu progresso e desenvolvimento”.
Fig. 12 - Selo do Banco de Portugal. 1846. Desenho de Domingos António de Sequeira
ORIENTAÇÃO BIBLIOGRÁFICA
OBRAS DE CONSULTA
OBRAS DE CONSULTA
DAMÁSIO, Diogo Filipe Monteiro, Arquitetura do Banco de Portugal. Evolução dos projetos para a sede, filial e agências do Banco de Portugal (1846-1955), Coimbra, 2013. [Policopiado]
http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2011/11/banco-de-portugal-em-coimbra.htmll
https://pt.wikipedia.org/wiki/Banco_de_Portugal
https://www.bportugal.pt/page/historia
Relatorio do Conselho de Administração do Banco de Portugal. Gerencia do anno de 1905. Balanço, documentos e parecer do Conselho Fiscal, Lisboa, Imprensa Nacional, 1906, p. 21.
https://www.bportugal.pt/sites/default/files/anexos/pdf-boletim/relatorioca1905.pdf.
PUBLICAÇÕES PERIÓDICAS
Architectura Portugueza (A), 4, Ano VI, Lisboa, 1913.04.00.
Gazeta de Coimbra, Coimbra, 1912.10.26; 1912.11.02.
Jornal de Coimbra, Coimbra, 1911.08.05; 1912.01.31; 1912.10.30.
Defeza, Coimbra, 1910.03.25.
Noticias de Coimbra, Coimbra, 1908.01.18; 1909.10.02.
Construcção Moderna (A), 273, Ano IX, n.º 9, Lisboa, 1908.10.10.
Resistencia, Coimbra, 1903.05.03; 1906,07,01; 1907.07.02; 1907.08.25; 1907.09.20; 1907.10.03; 1907.10.06; 1908.11.15.
Conimbricense (O), Coimbra, 1906.07.05.
Tribuno Popular (O), 4893; 5211, 6907, Coimbra, 1903.05.06; 1906.06.30; 1907.06.08
Finalmente decidiram-se por construir o prédio destinado á sua agência no Largo Príncipe D. Carlos, atual Portagem, e que em 1912, aquando da inauguração do imóvel fora, por via da implantação da República, renomado de Miguel Bombarda; mas, para tal, tiveram de comprar as casas dos senhores António José Vieira e Paulo Antunes Ramos, ligadas ao Café Montanha, já então a funcionar e negociar com a Câmara Municipal a cedência de algumas parcelas de terreno. Face ao acordo estabelecido entre as partes o Banco de Portugal tinha de pagar à edilidade a quantia de 12$000 réis por cada metro quadrado de terreno público que ocupasse.
Fig. 3 - Largo Príncipe D. Carlos (Portagem) c. 1890
Os diretores da entidade bancária encarregaram de riscar o projeto da agência da cidade do Mondego Arnaldo Redondo Adães Bermudes (Porto, 1863-Sintra,1948) que, em 1902, fora já o responsável pelo edifício da cidade de Bragança.
O arquiteto formou-se na Academia de Belas Artes do Porto e continuou o seu desenvolvimento académico em Paris, onde frequentou diversas escolas e ateliers, com particular destaque para a “École de Beaux Arts”. Regressou a Portugal em 1894 e instalou-se em Lisboa. Ao longo da vida profissional recebeu diversos prémios e distinções, além de ter exercido cargos relevantes no contexto da administração pública.
Fig. 4 - Arquiteto Adães Bermudes
Adães Bermudes, nas obras que projetava, não empregava um só estilo, e possuía a destreza e a habilidade necessárias para utilizar as mais diversas soluções, tendo sempre presente o contexto em que a obra se inseria e o fim a que se destinava.
Procurando apresentar desenhos funcionais e racionalistas recorria com idêntica desenvoltura a modelos relacionados com a arquitetura francesa, com o ecletismo ou com os neomedievalismos. Também não se eximia a aceitar as novas correntes arquitetónicas, quer estivessem relacionadas com o modernismo ou com a Arte Nova, nem marginalizava a introdução de «novos» materiais nas suas construções; estamos a falar do ferro, do vidro e do betão armado.
Adães Bermudes, enquanto arquiteto de seleção do Banco durante cerca de 20 anos, traçou 10 dos 17 projetos das agências então construídas e pode dizer-se que definiu a imagem de marca do Banco.
Fig. 5 - Projeto da Agência do Banco de Portugal em Coimbra
À construção do edifício mondeguino, posta em praça em outubro de 1909 com a base de licitação de 27.416$000 réis, apresentaram-se cinco concorrentes, mas a empreitada, com a obrigatoriedade de ser concluída no prazo de dois anos, acabou por ser arrematada por João Gaspar Marques das Neves pela quantia de 25.616$000 réis.
No dizer da revista “A Architectura Portugueza” o edifício da Agência do Banco de Portugal que se ergueu, a partir de 1908, na «Pérola do Mondego» “é (…) um belo trecho de arquitetura moderna, de linhas elegantes, corretas e harmoniosas, duma grande pureza de estilo”.
Devido ao facto de o edifício se encontrar implantado num terreno que apresenta um apreciável declive, dos três pisos existentes apenas dois se podem visualizar na fachada principal que, pode dizer-se sem grande rigor face à assimetria existente, se encontra dividida em três panos, separados por largas pilastras de cantaria esculpida.
No piso térreo que deita para a Portagem, na parte central, rasga-se uma enorme porta ladeada por aberturas que se multiplicam, também lateralmente, no referido nível e o piso superior apresenta-se rodeado por ventanas e sacadas decoradas com aventais e balaustradas de pedra trabalhada.
A porta (e, provavelmente, dizemos nós, utilizando um critério de similitude, toda a gradaria que veda as aberturas do piso térreo), “delicado trabalho de serralheria artística” saiu da forja de António Maria da Conceição (Rato), homem cuja atividade artística não se encontra bem documentada, mas que, com tantos outros “ferreiros” mais conhecidos contribuiu para o desenvolvimento da tão significativa arte conimbricense do ferro.
Fig. 6 - Portal e ventanas. Gradaria de ferro forjado
Mestre Conceição não se quedava confinado ao mérito artístico, mas assumia-se como cidadão prestante, pois durante mais de trinta anos desempenhou o cargo de comandante dos Bombeiros Voluntários.
Corre, na parte superior do edifício, uma platibanda de cantaria que, a espaços, suporta urnas e se interrompe, aqui e além, por pequenos frontões e por elementos esculturados.
Na zona central, a platibanda é descontinuada por uma pseudoarquitrave onde se pode ler «Agencia do Banco de Portugal».
Uma edícula, onde se destaca um relógio, sobrepujada por um frontão interrompido que contém, ao centro, as armas de Coimbra cingidas por uma coroa mural, termina o conjunto.
Fig. 7 - Agência do Banco de Portugal. Pseudoarquitrave e edícula com relógio
Refira-se a existência de um relógio na zona nobre do edifício, máquina, na época, omnipresente em fábricas, escolas, estações de caminho de ferro e muitas outras estruturas, utilizada até à exaustão depois do take off industrial, na medida em que obriga à passagem do tempo do pouco mais ou menos para o tempo da hora certa.
A agência mondeguina, como era comum, possuía caixas fortes que, devido ao já aludido grande desnivelamento do terreno, para além de se encontrarem instaladas no subsolo, “ocupam um vasto espaço e são construídas com a maior solidez em «béton» couraçado de ferro, com portas à prova de fogo, construídas pela Fábrica Portugal”.
No rés-do-chão, precedia um espaçoso hall ao redor do qual se instalavam as diversas secções da Agência com o pessoal especializado a desempenhar os serviços adequados, um longo vestíbulo e vários gabinetes destinados à receção do público.
Fig. 8 – Hall
Fechava o hall uma cobertura de ferro e vidro que exibia vitrais saídos da oficina de Cláudio Nunes, conhecido vitralista.
As colunas, de ferro fundido, foram executadas na oficina de José Alves Coimbra.
O edifício possuía um conforto que, para a época, se pode considerar fora do comum, passando pelo aquecimento central, instalado pela conhecida casa francesa de Felix Labat que “é das mais perfeitas”, e por uma iluminação que quase nos atrevíamos a apelidar de feérica a cargo da firma lisboeta Herrmann.
Encarregou-se dos serviços de canalização de água e de gaz, bem como do fornecimento dos artigos sanitários necessários Caetano da Cruz Rocha que tinha o seu estabelecimento na Calçada.
ORIENTAÇÃO BIBLIOGRÁFICA
OBRAS DE CONSULTA
DAMÁSIO, Diogo Filipe Monteiro, Arquitetura do Banco de Portugal. Evolução dos projetos para a sede, filial e agências do Banco de Portugal (1846-1955), Coimbra, 2013. [Policopiado]
http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2011/11/banco-de-portugal-em-coimbra.htmll
https://pt.wikipedia.org/wiki/Banco_de_Portugal
https://www.bportugal.pt/page/historia
Relatorio do Conselho de Administração do Banco de Portugal. Gerencia do anno de 1905. Balanço, documentos e parecer do Conselho Fiscal, Lisboa, Imprensa Nacional, 1906, p. 21.
https://www.bportugal.pt/sites/default/files/anexos/pdf-boletim/relatorioca1905.pdf.
PUBLICAÇÕES PERIÓDICAS
Architectura Portugueza (A), 4, Ano VI, Lisboa, 1913.04.00.
Gazeta de Coimbra, Coimbra, 1912.10.26; 1912.11.02.
Jornal de Coimbra, Coimbra, 1911.08.05; 1912.01.31; 1912.10.30.
Defeza, Coimbra, 1910.03.25.
Noticias de Coimbra, Coimbra, 1908.01.18; 1909.10.02.
Construcção Moderna (A), 273, Ano IX, n.º 9, Lisboa, 1908.10.10.
Resistencia, Coimbra, 1903.05.03; 1906,07,01; 1907.07.02; 1907.08.25; 1907.09.20; 1907.10.03; 1907.10.06; 1908.11.15.
Conimbricense (O), Coimbra, 1906.07.05.
Tribuno Popular (O), 4893; 5211, 6907, Coimbra, 1903.05.06; 1906.06.30; 1907.06.08
Criado por decreto que D. Maria II assinou a 19 de novembro de 1846, o Banco de Portugal resultou da fusão do Banco de Lisboa, banco comercial e emissor, com a Companhia Confiança Nacional, sociedade de investimento especializada no financiamento da dívida pública.
O Banco de Portugal, para além da sua função de banco comercial, assumia-se também como banco emissor; fundado com o estatuto de sociedade anónima, até à sua nacionalização, acontecida em 1974, era maioritariamente privado.
Apesar de, a partir de dezembro de 1887, ter deixado de partilhar o direito de emissão de notas com outras instituições, só em 1891 é que passou efetivamente a deter o exclusivo da emissão de moeda, porque apenas então assinou um acordo com os outros bancos emissores.
Depois de uns primórdios atribulados, o Banco de Portugal entrou numa fase de crescimento pujante e acabou por se tornar o banco comercial mais importante do país.
Enquanto vigorou o padrão-ouro, ou seja até 1891, uma das suas principais preocupações passou por assegurar a convertibilidade das notas que emitia em moeda metálica.
Por via do contrato celebrado, em dezembro de 1887, entre o Banco de Portugal e a Coroa portuguesa, a instituição passou a exercer as funções de banqueiro do Estado bem como de caixa geral do Tesouro, obrigando-se a criar agências em todas as capitais de distrito, tanto do continente, como das ilhas.
A maior parte dessas agências acabou por se instalar em edifícios ocupados pelo Governo Civil, associando-se, desta forma, a uma entidade governamental passível de remeter para valores de respeitabilidade e de segurança.
Este organismo estatal ocupava, quase sempre, edifícios desamortizados que haviam sido outrora palácios ou conventos e, a fim de desempenhar funções bancárias tiveram de ser parcialmente adaptados, pois viram-se na necessidade de se inserir numa estratégia destinada a assegurar o estatuto de instituição de prestígio inerente ao Banco de Portugal.
Fig. 1 - Colégio dos Lóios onde funcionava o Governo Civil e onde esteve instalada a primeira Agência do Banco de Portugal
Na sequência da obrigatoriedade de criar agências nas capitais de distrito, em Coimbra, também se instalou, a 3 de fevereiro de 1891, uma filial do banco que, seguindo as normas comuns, se instalou no edifício onde se encontrava sediado o Governo Civil, ou seja, no antigo Colégio de S. João Evangelista, mais conhecido pelo nome de Colégio dos Lóios.
Ignoramos se Ricardo Loureiro foi o primeiro gerente da instituição, mas sabemos que cessou funções em 1904 e que a 18 de janeiro do ano seguinte tomou posse do cargo o dr. Guilhermino Augusto de Barros, ainda em funções no ano de 1908.
Em 1903 a entidade bancária, face à necessidade de autonomia e à evolução dos serviços, já pensava selecionar um edifício apropriado ou um local onde pudesse ser construído de raiz o imóvel destinado a instalar autonomamente, a agência daquele Banco e, para tal, fez deslocar a Coimbra o diretor Castanheira Neves.
O local de implantação do edifício e a escolha do estilo podem inserir-se dentro das decisões mais importantes a tomar quando, na época, se procurava erguer uma infraestrutura destinada a instituição bancária.
A primeira encontra-se diretamente ligada à preocupação em situar o Banco num local onde existisse uma atividade económica forte, facto que pressupunha e existência de uma elite social que, obviamente, permita exercer uma influência significativa sobre o comércio local. Esta decisão, que se inseria na chamada centralidade económica, conduzia à aquisição de terrenos ou imóveis situados estrategicamente.
A segunda, relacionava-se com a escolha de um estilo arquitetónico que correspondesse às necessidades complexas dos estabelecimentos bancários e que passava, também, pela criação de uma imagem de marca capaz de individualizar e valorizar a instituição. O estilo arquitetónico e a decoração utilizada deviam ser adequados e escolhidos de forma a agradar tanto aos utentes do Banco, como à população. Mais à frente, e no que respeita à agência mondeguina, iremos deter-nos mais pormenorizadamente sobre este assunto.
Fig. 2 - Localização do Colégio de Santo António da Estrela
A casa de José Guilherme, sita na zona da Sé Velha, merecia consenso, pois erguia-se num local de, ao tempo, reconhecida movimentação comercial. Posteriormente, também se perfilou como opção para a construção do imóvel o terreno do antigo Teatro Académico ou ainda o local outrora ocupado pelo Colégio de Santo António da Estrela; esta última escolha, onde mais tarde foi construída a casa do dr. Ângelo da Fonseca, posteriormente (até à sua extinção) ocupada pelo Governo Civil, acabou por ser abandonada devido a dificuldades relacionadas com a implantação do edifício.
ORIENTAÇÃO BIBLIOGRÁFICA
OBRAS DE CONSULTA
DAMÁSIO, Diogo Filipe Monteiro, Arquitetura do Banco de Portugal. Evolução dos projetos para a sede, filial e agências do Banco de Portugal (1846-1955), Coimbra, 2013. [Policopiado]
http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2011/11/banco-de-portugal-em-coimbra.htmll
https://pt.wikipedia.org/wiki/Banco_de_Portugal
https://www.bportugal.pt/page/historia
Relatorio do Conselho de Administração do Banco de Portugal. Gerencia do anno de 1905. Balanço, documentos e parecer do Conselho Fiscal, Lisboa, Imprensa Nacional, 1906, p. 21.
https://www.bportugal.pt/sites/default/files/anexos/pdf-boletim/relatorioca1905.pdf.
PUBLICAÇÕES PERIÓDICAS
Architectura Portugueza (A), 4, Ano VI, Lisboa, 1913.04.00.
Gazeta de Coimbra, Coimbra, 1912.10.26; 1912.11.02.
Jornal de Coimbra, Coimbra, 1911.08.05; 1912.01.31; 1912.10.30.
Defeza, Coimbra, 1910.03.25.
Noticias de Coimbra, Coimbra, 1908.01.18; 1909.10.02.
Construcção Moderna (A), 273, Ano IX, n.º 9, Lisboa, 1908.10.10.
Resistencia, Coimbra, 1903.05.03; 1906,07,01; 1907.07.02; 1907.08.25; 1907.09.20; 1907.10.03; 1907.10.06; 1908.11.15.
Conimbricense (O), Coimbra, 1906.07.05.
Tribuno Popular (O), 4893; 5211, 6907, Coimbra, 1903.05.06; 1906.06.30; 1907.06.08
... Ao longo dos anos passaram pelo Avenida e lá atuaram muitas e famosas companhias, mas o velho teatro também teve papel de relevo na vida académica. No entanto, logo em 1894, se verificou uma tentativa de mudança de donos, que não sabemos se realmente veio a concretizar-se e em 1902 o Sr. António Jacob Júnior passou a ser o novo proprietário do imóvel, embora se falasse no surgimento de uma empresa que passaria a explorá-lo». Anacleto, R. O fim do Teatro Avenida?, In Domingo, Coimbra.
Teatro Avenida em 1962
Sarau da Tuna Académica em 1959, cartaz
Filme 1964, cartaz
Espetáculo 1964, cartaz
Bilhete, fevereiro de 1964
Nos finais dos anos 70 do século XX, o “Teatro Avenida” é demolido e no início dos anos 80 foi construído um edifício que albergou o Centro Comercial “Galerias Avenida”.
Galerias Avenida
O espaço que tinha sido preservado do antigo “Teatro Avenida”, inserido no edifício do Centro Comercial, abriria em 12 de Novembro de 2010 com cara e nome novos, o “Theatrix”, um espaço noturno e sala de espetáculos, vocacionada sobretudo para a música, com concertos e sessões de DJ, stand-up comedy, novo circo, dança e também cinema. Viria a encerrar, creio que em 2014.
“Theatrix” (foto do espetáculo Opsis, realizado pela Tuna Académica)
Nota – Para completar e corrigir estas informações, consultar a entrada publicada neste blogue em 2016.12.26, com o título Coimbra: o desaparecido Teatro Avenida.
Restos de Colecção (blogue). Teatro Avenida em Coimbra. Acedido em 2018.04.12, em
http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2017/11/teatro-avenida-em-coimbra.html
O “Teatro-Circo do Principe Real D. Luiz Filipe”, [num primeiro momento apenas Theatro-Circo] após 5 de outubro de 1910 renomeado de Teatro Avenida, na Avenida Sá da Bandeira em Coimbra, propriedade de António Jacob Júnior, Moraes Silvano e Mendes d'Abreu [e outros], foi projetado pelo arquiteto Hans Dickel, e inaugurado em 20 de janeiro de 1892.
Teatro-Circo a seguir à sua inauguração
Enquadramento do Teatro na Avenida Sá da Bandeira
A sua construção, em terrenos cedidos pela Câmara Municipal de Coimbra, teve início em 1891 e nela trabalharam cerca de 100 operários. Dos estuques encarregou-se Francisco António Meira. As grades dos camarotes, as colunas que os sustentam e as cadeiras para a prateia foram fundidas na oficina de Manuel José da Costa Soares.
Este Teatro, oferecia: 28 camarotes de uma só ordem, 8 frisas, 28 lugares de balcão, 450 cadeiras e 450 lugares de geral.
A inauguração do, então, “Teatro Circo do Principe Real D. Luiz Filipe”, contou com a atuação de uma «companhia equestre, gymnástica, acrobática, cómica e mimíca, do Real Coilyseo, de Lisboa, de que é director o sr. D. Henrique Diaz»
A sala de espetáculos, com um «pano de boca» pintado por mestre António Augusto Gonçalves, tinha capacidade para 1.700 espectadores e o seu custo ultrapassou os 20 000$000 réis. Podiam lá realizar-se espetáculos equestres, de declamação e canto. Embora os espaços de receção e hall de entrada fossem construídos em alvenaria de pedra, o espaço central e cúpula tinham estrutura metálica, vinda de um Teatro mais antigo, o «Teatro-Circo Do Arnado». [Esta informação não nos foi confirmada por uma historiadora deste período]
Projecionista do “Teatro Circo do Principe Real D. Luiz Filipe”, em 1902
«Para qualquer companhia é o theatro alugado por 80$000 réis. O actual emprezario, que procura sempre variar os espectaculos com peças escolhidas das melhores companhias e que é fiel cumpridor dos seus deveres, é o sr. Manoel Francisco Esteves. Tem o theatro orchestra e banda, sob a direcção do habil e intelligente professor Dias Costa. É esta casa de espectaculos muito elegante e tem commodidades. Na epocha propria é muito frequentado pelos academicos.» in: “Diccionario do Theatro Portuguez” - Sousa Bastos - 1908.
Sarau académico
Nota – Para completar e corrigir estas informações, consultar a entrada publicada neste blogue em 2016.12.26, com o título Coimbra: o desaparecido Teatro Avenida.
Restos de Colecção (blogue). Teatro Avenida em Coimbra. Acedido em 2018.04.12, em
http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2017/11/teatro-avenida-em-coimbra.html
António Augusto Gonçalves, que fora, como se referiu, o responsável pelas hospedarias e que trabalhava com o prelado na intervenção da Sé Velha, incumbiu-se de projetar a nova fábrica eclesial.
Senhor da Serra. Hospedarias
A construção do templo, que se processou em duas fases, iniciou-se em 1900 ... Quatro anos depois (Agosto de 1904), a nave e o campanário já se encontravam concluídos. O antigo templo setecentista permaneceu no meio da nave e só quando esta se finalizou é que o demoliram ... em 1907, Gonçalves desloca-se ao Senhor da Serra, a fim de, in loco, observar a obra que se andava a fazer; tratava-se da conclusão da capela-mor e dos anexos.
... Caracterizar estilisticamente a igreja que se ergueu nos primeiros anos de Novecentos no Senhor da Serra, torna-se tarefa difícil, direi mesmo quase impossível, porque ela não apresenta unidade. Mas, quem melhor a descreveu foi o seu autor quando disse que “não houve nunca o propósito de construir uma Capela que fosse escrava dum estilo. Teve-se apenas em vista uma construção agradável. Quem olhar para o esguio da torre supor-se-á em frente dum gótico flamejante; quem examinar os capitéis e cachorros julgar-se-á em frente duma construção românica. O forro do corpo da capela é dum certo sabor românico mas já o da capela-mor, apainelado como é, parece do século XVII”.
Capela do Divino Senhor da Serra
Construiu-se a capela, mas estava despida, nua e fria: sem mobiliário. Ornamentá-la e inserir-lhe retábulos tornava-se imperioso. Em Coimbra procedia-se, na altura, à demolição da igreja da Misericórdia velha ... Os dois retábulos laterais existentes no templo deixaram de ter serventia, ficaram desativados, acabando por ser comprados para o Senhor da Serra ... Um dos retábulos ficou povoado com o seu orago, o Cristo Redentor, mas para o outro, João Machado, “que tantas e tão repetidas vezes tem assinalado o prestígio da escola coimbrã com produções geniais e de verdadeiro triunfo para o seu conceituado nome” esculpiu uma imagem da Senhora da Piedade ... na abside faltava o retábulo-mor. Mais uma vez, António Augusto Gonçalves é o responsável pelo projeto e, em 1908, durante o tempo em que decorreu a romaria (Agosto), o esboço aguarelado esteve exposto, a fim de ser ratificado por todos quantos passavam pelo Senhor da Serra.
... Lateralmente, em dois nichos de maior envergadura, aparecem, cada um por banda, S. Pedro e S. Paulo que se encontram, respetivamente, ladeados por uns outros menores povoados por Santo Agostinho e São Jerónimo e por Santo Ambrósio e São Gregório Magno.
Capela do Divino Senhor da Serra. Retábulo-mor
... No novo templo, a erguer-se lá no píncaro da serra, havia que tentar imitar os tempos de outrora; por isso, nas oficinas da Escola Brotero, o químico Charles Lepierre, então professor naquele estabelecimento de ensino, tentava produzir, com os seus alunos, as vidraças brilhantes capazes de tornar intimista a igreja e de lhe conferir espiritualidade. Deparam-se com inúmeros problemas impeditivos de concretizar a empresa, mas, mesmo assim, ainda colocam nas ventanas os vitrais que representam os quatro evangelistas e no óculo o do “Divino Salvador”.
... As oficinas da Brotero, relativamente à igreja do Divino Senhor da Serra, funcionaram como verdadeiros laboratórios, pois também foi aí, nas de cerâmica, que António Augusto Gonçalves deu corpo ao lambril de azulejos que reveste a nave, historiados com a vida de Cristo. Parece-me poder deduzir, através da consulta do seu acervo e da da imprensa local, que eles foram assentes em duas etapas. A primeira, e mais vasta, decorreu até cerca de 1913 e a segunda, em 1919-1920.
E penso assim, porque na Gazeta de Coimbra se pode ler: “com destino à capela do Senhor da Serra acabam de sair das oficinas de cerâmica da Brotero dois belos paneaux representando os quadros “Ecce Homo” e “Flagelato pro nobis” cujo desenho se deve ao notável artista conimbricense António Augusto Gonçalves. É mais uma produção que honra sobremaneira as oficinas da Escola Brotero e também a arte coimbrã”.
Anacleto, R. 2011. O Senhor da Serra: arte e património, In: Santuário do Divino Senhor da Serra de Semide. História, devoção e espiritualidade, Semide, Senhor da Serra, p. 9-47.
A partir de uma data indeterminada, mas que se pode situar em torno da primeira metade do século XVII, em Ceira, terra que se situa nas proximidades de Coimbra, o casal Martim (ou Martinho) Avô e sua mulher Maria Guilhalme detinham a posse de um Cristo que passou a ser alvo de grande devoção.
Devido a conflitos e desaguisados acontecidos entre os muitos que acorriam a sua casa para venerar e implorar graças à imagem, ou por qualquer outra razão, os possuidores resolveram desfazer-se dela e esconderem-na num local ermo.
Na vizinhança da zona onde o casal vivia localizava-se o mosteiro de Semide, ocupado por monjas beneditinas e um certo dia, quando os seus criados andavam a apanhar lenha, encontraram a imagem e levaram-na para o cenóbio, a fim de ali ser cultuada. O local do achamento parece que ficava dentro da área de jurisdição do mosteiro e as religiosas fizeram aí erguer uma cruz que passou a ser conhecida pelo nome de “Cruz de Longe”.
Divino Senhor da Serra registo
A comunidade, para que a Cruz pudesse continuar a ser venerada pelos muitos que persistiam em acorrer ali, a fim de pedir a proteção do Senhor, acabou por mandar construir um pequeno coberto abobadado no cimo do monte que ficava sobranceiro ao complexo monástico. O alpendre, posteriormente, e no contexto de uma evolução habitual, deve ter visto fechados três dos seus lados e virado capela numa data que se situa entre 1553-1563; mas, ao longo dos tempos, foi recebendo acrescentos e modificações feitos a esmo. Também se lhe iam apondo casas destinadas a dar pousada aos, cada vez mais numerosos, romeiros que acorriam ao Santuário.
A capela do Divino Senhor da Serra em 1882. Desenho a lápis de António Augusto Gonçalves (ABMC)
... A relação do Bispo-conde (Manuel Correia de Bastos Pina) com Mestre Gonçalves, a desenvolver-se no campo artístico e não no ideológico, levou-o a encarregá-lo de, em 1898, riscar um “albergue” destinado a dar guarida aos romeiros, a erguer-se junto da “velha” capelinha do Senhor da Serra e pago pelas esmolas oferecidas ao Santuário. A fim de tomar contacto com o local, para melhor dar corpo à obra, António Augusto Gonçalves deslocou-se ao Senhor da Serra na companhia de Monsenhor José Maria dos Santos. No ano seguinte, em Julho, antes da romaria, as hospedarias (afinal parece que se construiu mais do que uma) já se encontravam concluídas e uma delas tinha capacidade para acomodar 200 pessoas.
Mas, lá no cimo do monte, onde céus e terra quase se tocam, o prelado não se quedou por estes edifícios. Constatando que o pequeno templo não servia para dar resposta a uma romaria tão concorrida como a que acontecia em Agosto de cada ano, pensou em fazer construir uma igreja condigna.
Com efeito, a romaria, tal como o periódico Resistencia, em 1902, a refere era viva e pitoresca: “Anda a cidade [de Coimbra] desde o dia 15, cheia dos ranchos dos romeiros, que vão ou voltam do Senhor da Serra, cuja romaria anual acaba hoje.
Chegada dos romeiros ao apeadeiro de Trémoa. Cerca de 1906
“A estrada da Beira anda animada daqueles grupos, que vão de merendas á cabeça, ou voltam com a imagem do Senhor, cuidadosamente metida na fita do chapéu.
“Quando chegam á Portela, se levam animais, atravessam o rio a vau, sem se importarem com os risos e os ditos, que lhes gritam de cima os que vão pela ponte, ao verem as mulheres levantarem cuidadosamente, e bem alto, as saias para lhas não molhar o rio.
Subindo para o Senhor da Serra. 1901
“Depois lá vai tudo até às Vendas de Ceira, e daí, ladeira acima, até ao alto do monte, donde se avista o telhado alegre da hospedaria da capela, e começa a sentir-se a carícia do vento fresco.
“Param a ouvir um sermão, depois outro.
“Lino da Assunção descreve o efeito cómico dos sermões pregados ao mesmo tempo, em pleno ar e pleno sol.
“Ainda hoje a fama do púlpito é para quem mais berra.
“O quadro não deixaria de ser singularíssimo, e digno dum pincel cáustico.
“O céu límpido e azul, o sol claro e abrasador e a planura do cômoro apinhado de homens, suando dentro nos grossos jaquetões de briche, e de mulheres com saias de seriguilha pela cabeça deixando cair sobre as testas deprimidas as farripas dum cabelo empastado como linho antes de ser cardado. Aqui, no púlpito do adro o pregador confundindo a sua voz com o eco de outra que lhe vem lá de dentro de junto do altar. Mais além outro, na beira dum carro, encostado a uma pipa, e a quem o festeiro abriga com um enorme chapéu vermelho, que mais vermelhas torna as bochechas luzidias do pregador. Debaixo dum toldo de barraca e sobre uma mesa, vê se outro gesticulando, alagado em água que lhe encharca a sobrepeliz e estola, procurando dominar com a voz as metáforas do vizinho, que sobre uma cadeira á sombra dos pinheiros conta dezenas de milagres acontecidos em favor dos devotos que mandam pregar sermões. E, acabado um sermão, retira-se o grupo que o encomendou e aproxima-se outro que o prometeu. E todas estas vozes já roucas procurando dominar o ruído confuso dos descantes, das guitarras, das algazarras dos beberrões, das altercações das rivalidades estimuladas pelo álcool e até das injúrias e grosserias das rixas travadas pela posse duma mulher, ou pela liquidação de velhas contas que vieram abertas lá desde as aldeias. E o sol de Agosto dardejando inclemente sobre os largos chapéus e tornando escuros os rostos luzidios e afogueados e ainda mais negros os beiços enegrecidos pelo vinho e pelo pó; e como comentário às palavras dos padres quase áfonos, que clamam pela justiça e misericórdia divinas, as vozes vibrantes das tricanas de Coimbra, menos devotas e mais alegres, bailando e cantando ao som das violas o Manuel ceguinho ou o Oh ladrão! ladrão!
“Por fim entram na capela onde o Cristo agoniza numa cruz de pedra, deixando cair a cabeça para mostrar o cabelo negro que cresce, como diz a lenda, todos os anos.
“Pelas paredes, pregadas em ripas de madeira, vêem-se tranças de cabelo de todas as cores, votos que fazem os doentes, por saberem que é este o sacrifício que mais gosto dá ao Senhor da Serra”.
Anacleto, R. 2011. O Senhor da Serra: arte e património, In: Santuário do Divino Senhor da Serra de Semide. História, devoção e espiritualidade, Semide, Senhor da Serra, p. 9-47
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