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É tão surpreendente a igreja de planta redonda do mosteiro cisterciense de Celas que quase ofusca a beleza do claustro e a originalidade da sua fonte central, cavada e escondida.
Convento de Celas, claustro
Mas neste quadrado ao ar livre, pouco estudado e ainda menos visitado, surge-nos, na fonte, o fascínio renascentista pela geometrização dos espaços. A disposição em planta do claustro, que se liga à igreja redonda, é o resultado criativo deste esforço de arrumação dos elementos construídos, deixados pela Idade Média neste ermo distanciado de Coimbra, conhecido por Vimarães.
Uma vez dentro do próprio claustro votamos a ter novo atrativo que desvia a atenção da fonte central: são os extraordinários capitéis, minuciosamente esculpidos e pintados com as cenas da vida de Cristo, cuja datação dos séculos XIII a XIV é insegura, mas que vieram do Paço Real da Coimbra, oferecidos por volta de 1533, por D. João III.
Convento de Celas, fonte do claustro
... A originalidade da fonte reside no facto de ela estar afundada e mal se ver, apesar de respeitar a quadripartição por eixos e se encontrar no centro exato do claustro. De facto, a fonte redonda está abaixo do plano do claustro e a ela se acede por escadas que descem cerca de 1,5 metros «Ao centro do jardim cava-se um tanque circular para onde se desce por quatro escadas de sete degraus dispostas segundo os eixos do claustro. Uma inscrição esclarece: ESTE . CHAFERIS . MANDOU / REIDIFECAR . A ILMª . SNRª . D / THEREZA . LUIZA . RANGEL . / SENDO . SGDª . VES . ABBADESA / DESTE MOSTRº . NO ANNO / DE 1761».
O espaço criado forma um cilindro e isola-se visualmente de quem está no claustro, oferece bancos redondos de pedra em circunferência assim criada, que escondem ainda mais quem neles se senta. A taça de água redonda com cerca de 40 centímetros de altura é cilíndrica e, do seu centro, a que corresponde também o centro geométrico do claustro, sai um repuxo. O conjunto não tem um único ornamento. Esta invenção pode ser uma simples resposta ao nível da água que se encontra, de facto, a 1,5 metro abaixo da cota do claustro com uma mina visível numa das paredes em arco deste cilindro vazio.
Esta simplicidade revelou-se esteticamente genial: o desenho afundado, num claustro tão pequeno, aduziu-lhe a terceira dimensão, mas em negativo; conseguiu dar o efeito de espaço redobrado e, sem qualquer ornamento, consegue animar as paredes e as formas com efeitos de sombra projetadas nos degraus e nas paredes concavas. Interrogamo-nos, então, se este jogo de geometria a três dimensões e a total ausência de ornamento chegarão para confirmar o traço de um bom artista do Renascimento?
... Resta-nos assim apresentar – reconhece-se que um pouco a medo – a hipótese de poder ter sido João de Ruão o imaginário da fonte do claustro de Celas.
Castel-Branco. C. Os jardins de Coimbra. Um colar verde dentro da cidade. In: Monumentos. Revista Semestral de Edifícios e Monumentos. N.º 25, Setembro de 2006. Lisboa, Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, pg. 175- 177
A Fonte de Celas, também designada antigamente por “Fonte d’El Rei”, é uma das mais belas fontes construídas na cidade de Coimbra e seus arredores.
Encontra-se situada à entrada do antigo burgo de Celas, na estrada que lhe dá servidão da parte da cidade, Rua Bernardo de Albuquerque, contra a parte sul. A obra arquitetónica é do séc. XVIII, do tempo de D. José.
Ficava em plano inferior ao da rua, sendo necessário descer duas escadas paralelas, de dezoito degraus (três de acrescento posterior, em virtude dum rebaixe do terreno), com guardas plenas, da mesma época.
Composição arquitetónica simples: quatro pilastras lisas (com maior avanço as centrais e o plano intermédio); frontão curvilíneo sobre a parte medial, e acrotérios na perpendicular das pilastras. Tem a meio um grande escudo com as armas da nação portuguesa, envolvido em largos ornatos.
Num grande rótulo, imediatamente abaixo, está gravada a seguinte epígrafe:
HUNC POPULO JUSSIT MANARE JOSEPHUS:
HOCQUE EMOR PATRIAE TOLLERE JUSSIT OPUS.
QUALIS ALIT SPARSO PELICANUS SANGUINE PULLOS
SPARSIS SIC OPIBUS NOS BEAT IPSE JOSEPH.
ANNO REGNI XI ER CRISTI.MDCCLXI
Já no basamento ficam dois mascarões por onde, originariamente, era lançada a água ... “A água provém de uma mina que tem a sua origem numa propriedade contígua e são três as ramificações que alimentam a fonte. Os sobejos dessa água, quando os havia, eram canalizados para a cerca pertencente ao “Real Mosteiro de Santa Maria de Celas, de Vimarães, da Ordem de S. Bernardo”
Lemos, J.M.O. 2004. Fontes e Chafarizes de Coimbra. Direção de Arte de Fernando Correia e Nuno Farinha. Coimbra, Câmara Municipal de Coimbra. Pg. 46 a 49
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