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Carlos Santarém Andrade, cerca de um mês antes da sua partida, apresentou aquele que foi o seu último livro, Coimbra e a República. Da propaganda à proclamação.
Carlos Santarém Andrade ( .Coimbra, 2022). Op. cit., badana
Coimbra e a República. Da propaganda à proclamação.
Op. cit., capa
O livro assenta num aturado trabalho investigativo que honra o seu Autor e que representa um muito digno fecho de uma vida dedicada à cidade de Coimbra.
Carlos Santarém analisa, na obra em apreço e ao longo de nove capítulos, o percurso do ideal republicano em Coimbra. No primeiro aborda o tema Da Patuleia à Geração de 60 e dele destacamos o que se segue:
À Universidade de Coimbra, em meados do século XIX, afluía a geração dos filhos dos revolucionários liberais de 1820, muitos dos quais deram a sua vida ao serviço da causa da liberdade, nos batalhões académicos da Guerra da «Patuleia» em 1844 e 1846, e que viriam a mostrar o seu desapontamento contra os termos da Convenção de Gramido, imposta por potências estrangeiras.
Era então Coimbra como que uma placa giratória, a que convergiam jovens de Lisboa e do Porto, onde as ideias liberais estavam mais difundidas, que aqui conviviam com outros jovens vindos dos mais variados pontos do país e que, no regresso às suas terras ou regiões levavam, a par do canudo de bacharel, o conhecimento dessas ideias, amplamente discutidas durante os anos do seu curso, quer em acaloradas reuniões e assembleias no Teatro Académico, quer nas mesas de pinho das tascas coimbrãs.
1848 é uma data importante nas lutas pela liberdade na Europa. Em 23 de Fevereiro é proclamada a II República Francesa, que levaria à abdicação do rei
Luís Filipe, a que se seguiu em Março a revolução liberal em Viena, que poria fim ao governo autoritário do príncipe Metternich. Ainda em Março desse ano tem lugar a revolução demo-liberal de Berlim, havendo igualmente levantamentos nacionalistas em Itália, então ainda não unificada. Todos estes factos se iriam repercutir na Europa de então.
Na sequência dos acontecimentos, surge em Coimbra uma mensagem dos estudantes da Universidade, datada de 9 de Abril de 1848, subscrita por mais de
400 assinaturas (sensivelmente metade da população académica), dirigida aos seus colegas de Paris, Viena, Berlim e Itália.
Texto da mensagem dos estudantes de Coimbra aos seus colegas de Paris, Viena, Berlim e Itália. Op. cit., pg. 10
Não podendo ser considerado um manifesto republicano é, porém, um hino à democracia, à luta contra a tirania, lembrando que eles próprios se sentiram traídos “pela santa aliança dos reis" que acabaria por "ingerir-se na nossa causa, arrancaram-nos as armas e atar o pobre Portugal ao poste dos vencidos para continuar a escarnecê-lo", e em que os princípios da Revolução Francesa - Liberdade, Igualdade, Fraternidade - estão bem patentes.
Não deixa de ser significativo o aparecimento, em 25 de Abril de 1848, de um jornal clandestino, em Lisboa, intitulado "A República".
Significativa é também a existência de uma participação policial, datada de 16 de Agosto de 1849, que nos dá conta de dois indivíduos, numa tasca da baixa coimbrã, terem dado vivas à república, sendo levados para a cadeia da Portagem, tidos por elementos das forças rebeldes e apodados de vadios.
Participação oficial de 16 de Agosto de 1849. (Cópia cedida pelo Dr. Paulino Mota Tavares). Op. cit., pg. 11
Na década de 60 do século XIX aflui a Coimbra uma geração a vários títulos notável. É fundada em 1861 a «Sociedade do Raio» que contava, entre os seus membros, além de outros, com Antero de Quental, figura maior dessa geração.
Andrade, C.S. Coimbra e a República. Da propaganda à proclamação. 2022. Coimbra, Edição Lápis da Memória.
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