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Inicia-se na próxima 6.ª feira dia 26, às 18h00, na sala D. João III, do Arquivo da Universidade de Coimbra, a primeira das Conversas Abertas 2024, uma série de sete palestras, a decorrerem nas últimas 6.ªs feiras dos próximos meses, até junho, sempre à mesma hora, onde os assistentes são convidados a participar e nas quais serão abordados os seguintes temas: evolução das freguesias da cidade, o mikved e a comunidade judaica na Cidade, as habitações coimbrãs no século XV, a história do Instituto, a fotografia na cidade no século XIX e a Bio-Reserva do Senhora da Alegria.
Folha de sala da primeira Conversa Aberta 2024
Esta série, será iniciada pelo P. Doutor Nuno Santos que abordará o tema “Seminário Maior de Coimbra”.
Seminário Maior de Coimbra. Imagem da coleção RA
Seminário Maior de Coimbra. Capela. Teto e órgão
Seminário Maior de Coimbra. Corredor
Ao convidar a participar todos os que gostam de se debruçar sobre a história de Coimbra, também pedimos a sua ajuda na divulgação destes eventos.
Rodrigues Costa
As Conversas Abertas reiniciam-se, na 6.ª feira, dia 26 de janeiro, às 18h00, tendo como palestrante o P. Doutor Nuno Santos.
Como ocorreu nos últimos anos, as Conversas decorrerão nas últimas sextas feiras, dos meses de janeiro a junho, sempre à mesma hora, com entrada livre, na sala D. João III, do Arquivo da Universidade de Coimbra.
Eis o cartaz desta Conversa.
Relembro que após a intervenção do Palestrante, é usual abrir um período de debate onde todos poderão colocar as suas questões.
Para os que costumam assistir e para os que nunca participaram aqui fica o convite para estarem presentes.
Rodrigues Costa
Anteontem, terça-feira, dia 14 de junho, nos baixos do Seminário Maior de Coimbra, local onde Monsenhor Nunes Pereira teve a sua última oficina, foi inaugurada mais uma exposição temporária, a décima, relacionada maioritariamente com a obra do artista, subordinada ao tema “Santos da Casa [não] Fazem Milagres”.
Op. cit., capa
Op. cit., contracapa
“Tu és o início de um grande santo”, frase retirada do poema “Conselhos” que se encontra no seu livro de versos “Pedra d’Ara”, ao integrar o subtítulo da mostra, dá-lhe o mote.
A pequena brochura, com a reprodução de 19 das peças apresentadas, releva também os quatro padroeiros de Coimbra: S. Teotónio, S. António, Sto. Agostinho e a Rainha Santa.
Obviamente que no dia dedicado a Santo António, o Taumaturgo não podia deixar de estar presente, nem se podia olvidar que Fernando de Bulhões fez toda a sua formação no Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, nem que foi nesta cidade que ele mudou o seu nome para António, com tudo o que esses dois episódios significam.
Op. cit., pg. 8
Op. cit., pg. 13
De entre as peças expostas, face à sua raridade no contexto da obra de Nunes Pereira, destacamos a que representa S. José a ensinar ao Menino Jesus a sua profissão de carpinteiro.
Op. cit., pg, 13
E uma outra que evoca o Rei David como santo e profeta.
Op. cit., pg. 17
A exposição teve como curadora a responsável pela Oficina-Museu Nunes Perira, Dr.ª Cidália Maria dos Santos, e foi apresentada pelo Reitor do Seminário, Padre Doutor Nuno Santos.
No ato inaugural estiveram presentes cerca de trinta pessoas, com destaque para o Senhor Presidente da Câmara Municipal da Pampilhosa da Serra que, em breves palavras, manifestou, em seu nome e em nome dos munícipes do concelho, o regozijo por ver mais uma personalidade nascida naquelas terras serranas ser justamente homenageada.
Contrariamente, e tanto quanto nos apercebemos, não esteve presente nem se fez representar nenhuma Entidade oficial de Coimbra, cidade onde Monsenhor Nunes Perira viveu a maior parte da sua vida e onde, a par com o múnus apostólico, desenvolveu o seu engenho artístico.
Confirma-se, infelizmente, a velha afirmação: Coimbra é uma cidade madrasta para os seus filhos.
Rodrigues Costa
No ano de 1751 chega a Coimbra, vindo de Lisboa, o bolonhês Guiseppe Antonio Landi que ali se fixou de junho a novembro de 1751, altura em que foram retomadas a grande velocidade as obras do Seminário (existindo registos semanais para esses meses). Fontes divulgadas por Rui Lobo e Giuseppina Raggi sustentam a teoria de que este arquiteto italiano tenha “ganhado muito dinheiro com a revisão e remodelação do projeto da fábrica do seminário e a sua subsequente construção”. Landi terá sido apresentado a Nicola Giliberti por Giovanni Angelo Brunelli, um cónego que possivelmente terá conhecido Giliberti ainda em Itália. Numa carta de 20 de junho de 1751 Brunelli escreve: “Ho mandato al Landi a Coimbra, dove è andato per una visita di una fabrica, la lettera che mi inviate per lui”. Assim podemos afirmar que Landi terá vindo para Coimbra a convite de Brunelli e que terá participado numa obra “per una mia reccomandazione”. Outra carta que faz sustentar a tese que Landi tenha trabalhado para Giliberti é a forma de como o arquiteto saúda o reitor do seminário numa carta datada de 12 de novembro de 1776: “questo suo antico servitore (…) Suo umilissimo e obbligat. Servitore Antonio Giuseppe Landi”.
A presença bolonhesa no edifício faz-se sentir especialmente na da Igreja da Sagrada Família uma vez que a planta da Igreja do Seminário apresenta algumas semelhanças à da Igreja de Santa Maria della Vita, precisamente, em Bolonha.
Fig. 11. Retábulo da capela-mor da Igreja da Sagrada Família
Guiseppe Landi parte para o Brasil no dia 2 de junho de 1753, mas antes pode ter sido o próprio a ter sugerido a Giliberti a contratação do mestre-de-obras João Francisco Tamossi, pessoa de confiança pessoal de Landi, para a execução do seu projeto para o Seminário Maior de Coimbra. A verdade é que Tamossi pode não ter acrescentado em muito no traçado do edifício uma vez que teve um final trágico ao cair de uma das torres acabando por falecer no local no dia 6 de outubro de 1755.
Fig. 4. Escadas em caracol
Fig. 9. Lavatório ao lado da porta da Biblioteca Velha
Fig. 12. Cúpula do Seminário
Fig. 13. Órgão da Igreja da Sagrada Família
Após a morte funesta de Tamossi foi designado Giacomo Azollini para terminar a construção do Seminário. A Azollini é atribuída “(…) a conclusão das escadas em espiral, (…) a Capela de São Miguel (…); desenhou e fez o portal da igreja (…)”. Rui Lobo e Giuseppina Raggi atribuem também a Azzolini o lavabo junto à Biblioteca Velha e o «trompe-l’oeil» ao fundo do corpo oeste.
Claudino, L.M.G. Seminário Maior de Coimbra. História, património e museologia. Relatório de Estágio do Mestrado em Património Cultural e Museologia no ramo de Gestão e Programação. 2018. Coimbra, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
Os custos da construção do Seminário começaram de acordo com o «Processo de Isenção do Seminário», com o «aere próprio» do Bispo fundador D. Miguel da Anunciação, mas também contribuíram para esta obra os cofres da Mitra e as esmolas dos fiéis. Na Pastoral de 25 de abril de 1749 o Bispo exortava aos párocos para que:
«(…) no tempo do recolhimento dos frutos, e ainda nos dias santos e domingos do ano, hajam de pedir esmolas e, quando houverem de remeter os seus róis de confessados, farão conta, com individualização, da importância delas, tanto das que tiraram pelas suas freguesias, como daquelas com que concorreram as Confrarias, as Irmandades e as que voluntariamente quiser dar cada um dos mesmos párocos».
Fig. 6. Vista para o claustro da Capela de S. Miguel
Fig. 7. Aposentos episcopais
Fig. 8. Biblioteca velha do Seminário Maior de Coimbra
Para o incentivo à esmola, o Bispo requereu à Nunciatura que deferisse indulgências a quem auxiliasse na construção do Seminário. Do mesmo modo D. Miguel da Anunciação pede a isenção da Diocese de Coimbra do pagamento da terceira parte das suas rendas à Patriarcal. Também a coroa patroneou a obra oferecendo madeiras do Pinhal de Leiria e do Brasil.
Fig. 10. Sala dos azulejos
Pela cronologia apresentada pelos vários estudiosos da história do Seminário podemos afirmar que o primeiro encarregado das obras da Casa Velha terá sido Frei João da Soledade. O primeiro reitor, Nicola Giliberti, assinou um contrato com esse arquiteto franciscano e com o mestre-de-obras Manuel Rodrigues, a 11 de junho de 1748, com o intuito de construir o Seminário. Um mês após esse contrato, no dia 16 de julho de 1748, por ocasião da solenidade de Nossa Senhora do Carmo, foi lançada a primeira pedra da igreja do Seminário.
Essa celebração foi presidida pelo Bispo Conde D. Miguel da Anunciação e terão comparecido nela todo o restante cabido da Sé, seminaristas e vários nobres da cidade. João da Soledade terá sido o responsável até 1750 altura em que o plano das obras entrou em crise forçando porventura a paragem das mesmas.
Claudino, L.M.G. Seminário Maior de Coimbra. História, património e museologia. Relatório de Estágio do Mestrado em Património Cultural e Museologia no ramo de Gestão e Programação. 2018. Coimbra, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
As primeiras intenções da construção de um seminário diocesano começaram em 1743 quando D. Miguel da Anunciação procurava um terreno onde se pudesse construir um colégio com regime de internato fora dos limites da cidade, e onde o ambiente fosse mais propicio ao estudo.
Fig. 2. Retrato de D. Miguel da Anunciação
Na cidade de Coimbra existiam algumas casas de aluguer que albergavam seminaristas. Porém, ao ver o crescente número de candidatos ao sacerdócio, D. Miguel da Anunciação sentiu a necessidade de se construir uma casa “ampla, onde pudessem estar á vontade Mestres, Ordinandos e Porcionistas”. A construção de um seminário reforçava o poder do Bispado relativamente à Universidade no que diz respeito à formação da teologia, competindo assim à Diocese a formação do seu clero secular.
A razão pela qual não se construiu um seminário na cidade de Coimbra após a decisão do Concilio de Trento é nos justificada numa carta do Bispo D. Frei Álvaro de São Boaventura datada de junho de 1675, onde podemos ler que nesta “Diocese não fizeram os Bispos Seminário por haver nella uma tão insigne Universidade onde se ensinam todas as ciências; mas ainda assim teem os Bispos duas cadeiras de Theologia Moral que pagam das suas rendas e leem os Padres da Companhia de Jesus no seu Colégio das Escolas Menores; e na claustra da Sé, uma cadeira de Gramática que paga o Mestre escola para aprenderem os moços do Coro…”.
A 14 de agosto de 1744, pedia o rei D. João V que se “visse e consultasse” no Tribunal da Mesa da Consciência e Ordem “a petição do Bispo Coimbrão em que se referia que o Antístite intentava erigir um Seminário que provesse às necessidades da Diocese. A Mesa deu parecer favorável a 6 de novembro de 1749”.
Os motivos pelas quais D. Miguel da Anunciação pretendia a criação de um seminário são explanados pelo próprio na Pastoral de 23 de maio de 1744:
«Considerando Nós a grande utilidade espiritual e temporal, que há-de resultar a este Bispado de nele se erigir um seminário, ou colégio para a educação dos meninos pobres e de pouca idade, que sendo a ele recolhidos possam ser bem instruidos em virtudes e letras, donde saindo nelas consumados e perfeitos nos possam ajudar na cultura da vinha…».
Miguel da Anunciação volta a defender a construção do Seminário de Jesus, Maria e José numa Carta Pastoral de 3 de janeiro de 1763 onde o Bispo escreve que:
«A ereção do nosso Seminário, para que educando-se nele os nossos súbditos destinados ao sacerdócio se nutrissem com as palavras da Fé, crescessem na sciencia de Deus, se instruissem nas máximas do Evangelho, e se enchessem dos frutos da justiça e da verdade; de modo que fossem, idóneos ministros do Novo Testamento, providos cooperadores da nossa ordem, na mencionada empreza da celebração do nosso sínodo diocesano, e capazes de os aplicarmos aos diferentes ministérios, que pedisse a sua execução, e a sua observancia, para maior honra, e glória de Deus, que é o Sagrado Centro, ao qual se devem dirigir todas as linhas que são as acções, que procedem do circulo da nossa vida, e do nosso governo».
Fig. 1. Vista geral para a Casa Velha do Seminário
O Seminário foi construído fora dos limites da cidade perto do Convento de Santana (atual Quartel Militar), e do Colégio de São José dos Marianos (atual Hospital Militar). Na área onde se instalou o Seminário eram, até aos finais da primeira metade do século XVIII, oito parcelas de olivais distribuídas por diferentes proprietários, sendo duas delas doadas por causa pia.
Claudino, L.M.G. Seminário Maior de Coimbra. História, património e museologia. Relatório de Estágio do Mestrado em Património Cultural e Museologia no ramo de Gestão e Programação. 2018. Coimbra, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
No Seminário Maior de Coimbra, que presentemente se encontra em obras de recuperação, justamente no local onde Monsenhor Nunes Pereira teve a sua última oficina
Nunes Pereira na sua oficina. Fotografia RA
e que atualmente se designa Museu Nunes Pereira, encontra-se patente ao público uma belíssima exposição intitulada “As Últimas Ceias de Nunes Pereira. Das Ceias à Ceia”, onde são apresentados alguns dos seus trabalhos relacionados com esta temática.
“As Últimas Ceias de Nunes Pereira. Das Ceias à Ceia”, cartaz
Trata-de de uma pequena mostra – a exiguidade do espaço não permite mais – apresentada com grande despojamento, mas respeitando com dignidade a personalidade do Artista. Centra-se na apresentação de uma interessante coleção de “Últimas Ceias” que se materializam em diversos tipos de suporte, das quais apresentamos as seguintes obras.
Nunes Pereira. Folha de sala. Última Ceia, 1
Nunes Pereira. Folha de sala. Última Ceia, 2
Nunes Pereira. Folha de sala. Última Ceia, 3
Para além da exposição, o visitante pode ainda visualizar a nossa Cidade a partir de um ângulo pouco conhecido, desfrutar de um pequeno espaço de lazer, deleitar-se com um gelado caseiro de qualidade e fruir de um baloiço que parece voar sobre o rio. Tudo sem problemas de estacionamento.
A folha de sala apresenta uma breve explicação sobre o significado da celebração da Última Ceia e apresenta-a como um local de encontro com a própria pessoa, de conversão e de perdão; onde o outro é mais importante, onde a vida é celebrada. Lugar de tomada de decisões e de tensão. Se pensarmos bem, a vida humana gira muito em torno deste lugar: a Mesa.
Refere ainda que as “Últimas Ceias de Nunes Pereira – Das Ceias à Ceia –“, constitui um percurso que mostra a forma como o artista plasmou, o Memorial – a Eucaristia – contido e inscrito em cada uma das suas obras: Jesus à mesa, ao centro, ladeado de seis apóstolos de cada lado, o pão e o cálice ao centro a serem abençoados e a ação de graças, evocada de vários modos, por parte de cada um dos apóstolos. Percurso que permite “saborear”, interiorizar e valorizar o significado da mesa, do alimento e da presença do outro na nossa vida. Lugar de gratidão, de conhecimento e de reconhecimento.
A exposição, promovida pelo Seminário Maior de Coimbra e que teve como curadora Cidália Santos, pode ser visitada, de Segunda a Sexta-feira, às 14h, 15h, 16h, 17h e, aos sábados, às 10h, 11h, 12h, 14h, 15h, 16h, 17h.
O uso de máscara é obrigatório e a marcação da visita deve ser feita com, pelo menos, 1 dia de antecedência, em:
https://www.seminariomaiordecoimbra.com/pt/visitar-seminario/
Em suma, não se pode deixar de visitar esta exposição, de relembrar essa personalidade ímpar da nossa cidade que foi Monsenhor Nunes Pereira e, simultaneamente, desfrutar a beleza do local.
Rodrigues Costa
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