Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Ficou a dever-se a Octaviano de Sá, um historiador de Coimbra, uma visão da tricana na vivência coimbrã bem diferente daquela que nos é dada por A Soares na “Illustração Portugueza” e que temos vindo a publicar.
O artigo A Tricana no Folclore Coimbrão, inicialmente publicado em O Instituto, edição de 1942, deu lugar, ainda no mesmo ano e por iniciativa da Comissão Municipal de Turismo, a uma separata.
Estamos perante um trabalho de investigação histórica, em que o autor faz uma recolha e uma análise profunda do tema, despido de opiniões que as não decorrentes da investigação realizada.
Imagem acedida em http://www.livro-antigo.com/autor/sa-octaviano/
Desse texto aguçamos o interesse dos nossos leitores, através dos seguintes trechos do mesmo.
«A Tricana», figura característica para o chamado «panorama coimbrão»; as cantigas os versos de inspiração vindos às suas gargantas • de oiro; e o bailar, inquieto, vivo e gracioso, interpretativo das canções próprias dos folguedos sãojoaninos.
Daqui resulta, naturalmente, um aspeto próprio, a caracterizar um povo ou um sector duma região.
Tricana de Coimbra. Imagem não identificada
A figura singular da Tricana e os seus cantares são, pois, tema agradável e impressionante, para o qual procuro certa largueza sem a pretensão de esgotar um assunto de si dilatadamente vasto, mas simples contributo, por sinal de mera curiosidade, uma expressão bem admirável, bem distinta, desse ambiente popular.
Procuro fixar como seu determinante aqueles pontos que constituem alguns fundamentos do «folclore». Na definição de Saintyves, no seu magnífico livro «Manual de Folclore», este «é a ciência da tradição popular».
Será, pois, baseado nessa tradição e nos muitos depoimentos daqueles que se lhe referiram, que vão ser tratados os seguintes aspetos do folclore coimbrão ligados com a etnografia e a canção popular:
- O trajo das Tricanas.
- As Fogueiras de S. João.
Como subsídios para tais factos, indicarei algumas produções literárias, prosa e verso, de inspiração dessas moças, e trabalhos artísticos onde se admira o vestuário das Tricanas, o modelo maravilhoso que tem sido para pintores e escultores.
As Fogueiras de S. João são também o melhor e mais completo e sempre admirado aspeto da tradição popular desta terra.
Assim orientado este programa, começarei por apreciar a indumentária da nossa Tricana.
Borges de Figueiredo, no livro - «Coimbra antiga e moderna» - dá-nos uma impressão do trajo feminino nesta cidade pelas alturas de 1858 para 1859.
Usavam então mantilha as mulheres da classe média, com este feitio, no seu dizer: — «Cumpunha-se duma tira de papelão grosso arqueada e convenientemente coberta de fazenda preta, colocada sôbre a cabeça e segura sob o queixo por fitas, caía o pano preto exterior pelas costas e peito a modo de manteo».
Por essa época havia, no entanto, outro trajo mais do povo, porque este era das damas do high-life — quem não trajava mantilha, tinha de pôr o capote de cabeção e o lenço de cambraia muito branco e muito gomado. O bico formado atrás da cabeça pelo lenço era a perfeita antítese do bico da mantilha.
O professor e arqueólogo ilustre sr. dr. Vergílio Correia, em quatro artigos - «Sôbre o trajo regional» - no «Diário de Coimbra», trata o caso com admirável ciência e conhecimento.
…. Comenta tão erudito Mestre - «Que diferença entre a mulher, do campo e da cidade, de mantilha e tricana, e a tricana do século XIX!».
E na sua opinião - «Indubitavelmente mais graciosa, esta última, o exemplo pode servir para mostrar que a evolução do trajo popular se tem feito, em geral, no sentido da perfeição e da simplificação».
Sá, O. 1942. A Tricana no Folclore Coimbrão. In: O Instituto, vol. 101, pg. 361-632. Coimbra, Imprensa da Universidade. Acedido em: http://webopac.sib.uc.pt/search~S17*por?/tinstituto/tinstituto/1,291,309,E/l856~b1594067&FF=tinstituto&1,1,,1,0
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.