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O Prof. Doutor Manuel Lopes de Almeida, ilustre Diretor da Biblioteca Geral da Universidade, propôs-se publicar o ‘Índice Ideográfico de «O Conimbricense»', organizado pela Biblioteca Municipal de Coimbra, da minha direção, já há anos a servir em volume datilografado.
Era sem dúvida um passo acertado, o da divulgação de um tal índice por assuntos, que a tantos estudiosos interessa manusear, para não ficar perpetuamente um exclusivo dos frequentadores da Biblioteca Municipal e dos que nela trabalham com permanência. Mas a esta biblioteca não tem sido possível acudir a tudo quanto deseja, obrigada a vazar em confinados moldes as suas ambições publicitárias.
Prontamente anuiu, portanto, e muito me honro de vir agora apresentar este trabalho que faz aparecer em público, e pela primeira vez, na realização de um ato de apreciável alcance cultural, as duas instituições bibliotecárias coimbrãs.
… Já noutro lugar tive ocasião de descrever a formação deste e de outros trabalhos congéneres a propósito dos índices de ‘O Instituto’, publicados em 1937, em condições análogas. Estas duas publicações periódicas, de géneros bem diversos, mereceram à Biblioteca Municipal um tratamento de exceção, mas igual para ambas, por terem a ligá-las traços comuns: publicações coimbrãs de destacada utilidade, contendo numerosos trabalhos de grande interesse. Por essa razão se organizaram os respetivos índices ideográficos, facultando-os ao público frequentador em volumes datilografados, enquanto não chegasse a hora de se poderem apresentar impressos.
… Produto de trabalho fragmentário de equipa em período de desemprego endémico, que permitiu chamar ao serviço numerosos assalariados … o ‘Índice’ agora trazido a público havia de ressentir-se desse mal de origem, logo exigindo um esforço de uniformização que não deixou de ser empreendido. Os anos foram correndo e em notas marginais se foram corrigindo inexatidões, aditando, suprimindo e alterando rubricas, e nele se fizeram transposições e se foram introduzindo todos os melhoramentos que a longa experiência foi aconselhando. E ainda agora, antes de se iniciar a impressão, para corresponder à boa vontade de quem a promoveu, foi novamente submetido a uma revisão severa e laboriosa.
É de justiça declarar que tanto aquele esforço unificador como a última revisão foram confiados à competência do 1.º bibliotecário José Branquinho de Carvalho, que dessa incumbência se desempenhou de bom grado, com aplicação e carinho dignos de apreço.
Loureiro, J.P. 1953. Prefácio de Índice Ideográfico de “O Conimbricense”. Suplemento ao vol. XXI do Boletim da Biblioteca da Universidade. Coimbra, Universidade de Coimbra. Pg. V e VIII
…Na busca que fizemos, durante bastante tempo, com o fito de encontrarmos a génese do fado-de-Coimbra, chamou-nos a atenção de modo especial um caderno de música escrito à mão e encadernado com sinais evidentes de ter sido muito utilizado, que existe na secção de manuscritos musicais da Biblioteca da Universidade de Coimbra, ainda por catalogar. Eis os primeiros dizeres: «Caderno de Múzica – Piano e Canto – J.D.C.».
Este caderno começou a ser escrito em 1862, segundo parece por um Costa Vasconcelos Delgado (o autor das primeiras músicas ali registadas) e em 1927 pertencia a Tomaz da Costa Paiva, do Zambujal.
O facto de nele estar copiado, com a data de 7-12-62 o conhecido «Hino Académico» que fora composto em 1853, exatamente para a Academia Coimbrã, legitima a nossa suposição de que as obras ali recolhidas eram cantadas e tocadas em ambientes frequentados por estudantes daquela época.
Um dos géneros musicais ali representados é o da «modinha» - «romança ou ária sentimental de fundo amoroso muito vulgarizada em todo o País e no Brasail pelos séculos XVIII e XIX», na definição de Francisco de Freitas.
Sucede que um dos cultores daquele género musical foi o P. José Maurício (1752-1815) que, entre outras coisas, foi professor da Cadeira de Música da Universidade de Coimbra e tinha o bom hábito de reunir em sua casa amadores para executar música, em saraus que tiveram grande fama na cidade.
Sobre a possível ligação entre a modinha e a serenata, já em 1895, se pronunciou César das Neves, no preâmbulo do II Volume do Cancioneiro …Referindo-se expressamente às modinhas, diz que elas «faziam as delícias nos serões das famílias mais ilustres» no fim do século XVIII e princípios do século XIX.
Continuando a historiar a evolução da música nos salões oitocentistas, diz que «vem depois João de Lemos e os Dórias com os seus fados e baladas, e as inúmeras romanzas brasileiras», para destacar, finalmente, o aparecimento de Augusto Hilário «com os seus fados-serenatas de uma contextura nova, cuja nota dominante reside na riqueza de modulações, na emotividade, ora apaixonada e sensual, ora patética e romântica».
Este testemunho de César das Neves afoita-nos a afirmar aquilo que já tínhamos deduzido do estudo comparado dalgumas modinhas com as baladas integradas nas récitas estudantis do fim do século passado (séc. XIX) e com o «fado-serenata» (parece ser esta a mais correta designação para o que se vai chamando fado-de-Coimbra): a modinha deixa o piano para se agarrar à viola; sai dos salões, despojando-se de arrebiques poeirentos; vem para a rua onde se refresca, simplifica e se torna expansiva; é assumida pela virilidade da voz masculina; por fim, chama a guitarra, deixa-se influenciar um pouco pelo fado lisboeta – transforma-se no «fado-de-Coimbra».
Faria, F. 1980. Fado de Coimbra ou Serenata Coimbrã? Coimbra, Comissão Municipal de Turismo, pg. 12 e 13
Elaboramos o texto abaixo apresentado … tendo por base um trabalho de investigação realizado aquando da nossa participação na criação do Museu dos Transportes Urbanos de Coimbra – de que tivemos a honra de ser o primeiro Diretor -, iniciativa que se pretendia como o primeiro núcleo de um projeto, ainda tão necessário: o da criação de um Museu de Coimbra, polinucleado, que abranja as múltiplas facetas de que o passado da nossa Cidade se reveste.
Duas imagens marcam a minha meninice. A primeira – uma das minhas mais antigas memórias – é a de, pela mão de meu Pai, ir à Portagem ver passar o «pantufas» alcunha com que os troleicarros, à boa maneira de Coimbra, foram alcunhados aquando do seu surgimento. A segunda é de menino moço ver uns “ Senhores Engenheiros Suíços” a montar a linha aérea que iria realizar a circulação da Cidade, indo da Baixa, passando pelo Calhabé e pelos Arcos do Jardim.
… Os primórdios dos transportes urbanos em Coimbra
A história dos transportes urbanos em Coimbra, inicia-se em Fevereiro de 1873 quando “Evaristo Nunes Pinto e Camilo Mongeon, concessionários do caminho-de-ferro americano, da estação do caminho-de-ferro do Norte a Coimbra, requerem que os carros passem através das ruas da Cidade apresentando planta do projeto”… a 17 de Setembro de 1874 a empresa entretanto criada – a Rail Road Conimbricense – comunica ao Município “a abertura da linha desde a Calçada (Rua Ferreira Borges) à estação de caminho-de-ferro do Norte”. A inauguração teve lugar em 15 de Setembro de 1874 e foi assim noticiada.
“Partiram da Calçada 3 carros americanos. No primeiro seguiam os diretores, as autoridades de Coimbra e demais convidados. No segundo carro seguia na Imperial (pelo que pelo menos um carro americano tinha segundo piso, a chamada Imperial) a Filarmónica Conimbricense que tocava o hino da Carta. Muita gente a assistir. Muitos foguetes. Pelas 3 horas da tarde foi servido um opíparo jantar na sala da Sociedade Terpshicore”.
… Com a abertura do ramal de ligação da linha do Norte ao centro da Cidade, a empresa de carros americanos, depressa entrou em declínio tendo deixado de circular em 1887.
Uma segunda fase foi iniciada em 30 de Outubro de 1902 quando “Augusto Eduardo Freire de Andrade pede a concessão de uma linha férrea, sistema americano, nas ruas da Cidade, para tração animal” … iniciativa concretizada – pela Companhia de Carris de Ferro de Coimbra, entretanto criada – em 1 de Janeiro de 1904 – com o “estabelecimento da ligação da atual estação de Coimbra-B com o Largo da Portagem, a que se seguiu, em 4 de Fevereiro a abertura de um novo traço entre a Praça 8 de Maio e a Rua Infante D. Augusto (atual Rua Larga, junto à Universidade).
As últimas notícias referenciadas sobre os carros americanos em Coimbra datam … de 3 de Fevereiro de 1916.
… A título de curiosidade refere-se a efémera existência – com início em Janeiro de 1907 – da primeira carreira de autocarros em Portugal, a qual ligava a Baixa à Alta, numa iniciativa da Empresa de Automóveis Tavares de Mello Coimbra que para o efeito utilizava carros de “4 cylindros com a força de 4 cavalos e transportavam 20 pessoas”.
Costa, A. F. R. 2007. Troleicarros: Um Património de Coimbra. In Troleicarros de Coimbra. 60 Anos de História. Coordenação de João d’Orey. Coimbra, Ordem dos Engenheiros – Região Centro, pg. 59 a 61
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