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A' Cerca de Coimbra


Terça-feira, 30.01.18

Coimbra: Capela de S. Antoninho dos porcos

A existência de uma feira dos porcos, em Coimbra, poderá ter resultado de uma determinação municipal que proibia estes animais de vaguearem pelas ruas da cidade fazendo estragos e causando sujidades.

Outrora, essa feira, segundo Nelson Correia Borges, realizava-se nas imediações do atual local da capela, um pouco mais a montante na direção do Penedo da Saudade. Ali teria existido uma capela da invocação de Santo António, protetor destes animais na doença.

Quando, nos finais do século XIX e inícios do XX a cidade se começou a alargar e o Bairro de S. José iniciou a sua expansão foi construída no início da Rua dos Combatentes da Grande Guerra uma casa com risco neomanuelino que acoplou uma capela substitutiva da do largo da feira, entretanto demolida.

De acordo com o mencionado autor, o nome de “Bairro de S. José” deve-se à proximidade do colégio dos carmelitas descalços, isto é, ao colégio de S. José dos Marianos, mais comummente chamado de colégio das Ursulinas. E é assim conhecido, porque depois da desamortização de 1834 o edifício, a partir de 1850, foi ocupado pelas freiras Ursulinas do Real Colégio das Chagas que deixaram a sua casa de Pereira devido aos problemas de paludismo e, até 1910, ali fizeram funcionar um colégio destinado à educação de meninas.

 

S. Antonio dos porcos casa.jpg

 Casa neomanuelina

 A casa, propriedade que foi (ou ainda atualmente é) da família Ferreira D’Araújo, parece ter sido riscada por um dos proprietários e a sua construção, que se arrastou por alguns anos, aconteceu na década de vinte do século passado.

Adossada à casa, mas sem com a mesma comunicar, foi igualmente construída a atual capelinha popularmente designada por Santo Antoninho dos Porcos.

S, Antoninho dos porcos capela.jpg

 Capela de Santo Antoninho dos porcos

 Recordo-me de, nos anos oitenta do século XX, me terem mostrado um registo, daqueles que os homens, nas romarias, costumavam colocar debaixo da fita do chapéu, com uma gravura da imagem do santo e relacionada com a feira. Desconheço o destino do dito registo, mas o seu sumiço é mais do que provável e poderá ter tido o “eterno descanso” num qualquer caixote de lixo.

No interior da capela existe um pequeno nicho retabular, trabalhado, provavelmente, em pedra de Ançã, mas atualmente dealbado, onde se insere a imagem de Santo António.

S, Antoninho dos porcos altar.jpg

 Nicho-retábulo da capela

 Não se conhece qualquer documento que aponte para o nome do artista que lavrou a decoração pétrea do edifício da Rua dos Combatentes. Apenas fontes orais, transmitidas pelos proprietários e que merecem credibilidade, indicam o nome de José Barata. Este artista, ligado à Escola Livre das Artes do Desenho, foi o grande mestre do trabalho neomanuelino existente na cidade de Coimbra e não só. Sabe-se que a cantaria ornamental existente na casa neomanuelina que se ergue na Rua do Corpo de Deus, mandada construir pela família Ferreira D’Araújo, saiu do seu cinzel. 

As colunas que se podem visualizar no nicho-retábulo da capela de Santo Antoninho dos Porcos apresentam grande similitude com as da porta axial da Sé Velha, esculpidas por José Barata, aquando do restauro levado a efeito naquele templo, nos finais do século XIX, sob a orientação de António Augusto Gonçalves. 

S. Antoninho dos Porcos colunas do nicho-retábulo

 Colunas do nicho-retábulo

 As colunas que ladeiam o nicho-retábulo são diferentes entre si. O fuste da esquerda mostra uma decoração fitiforme com flores de quatro pétalas a preencher os espaços livres e a da direita apresenta um esquema geométrico, formando “losangos” com uma bola no centro. Os fustes rematam com capitéis de motivos vegetalistas.

Algumas destas informações sobre esta pequena jóia de Coimbra, escondida dos olhares de tantos que por ali passam, foram-me transmitidas por Regina Anacleto.

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por Rodrigues Costa às 09:55

Terça-feira, 24.11.15

Coimbra, o Bairro de S. José, a capelinha de Santo Antoninho dos porcos e a Estrada da Beira

A partir da segunda metade de Oitocentos projetaram-se e começaram a crescer os bairros de S. José e de S. Sebastião; o primeiro encostava-se à cerca do Seminário e abrangeria, outrora, a zona que ia da esquina do Jardim Botânico ao começo da ladeira das Alpenduradas; tirara o seu nome do colégio conventual de S. José dos Marianos (hospital militar). O segundo desenvolvia-se à sombra do aqueduto, quiçá confundindo-se parcialmente com o bairro de S. Martinho.
… O Bairro de S. José, que outrora servia de cenário à feira dos porcos, prolongou-se pela Rua de S. José, posteriormente dos Combatentes da Grande Guerra, até ao Calhabé que, em meados do século XIX, não passava de uma quinta com uma única casa.
… Entre as direções apontadas como possíveis para responder à necessidade do alargamento do espaço urbano pode referir-se o Bairro da Estrada da Beira que, desde 1887, vinha ganhar forma. Nessa data, a conhecida via iniciava-se no Largo Príncipe D. Carlos (Portagem) e estendia-se até ao Calhabé, mais ou menos ao local onde se encontra a passagem de nível; mas nem sempre assim foi, porque, na verdade, a Estrada da Beira partida da parte alta, da porta do Castelo, baixava ao longo do aqueduto, passava sob o arco principal, atravessa o “jardim dos patos” e seguia até à capela de Santo Antoninho dos porcos, cruzava o bairro de S. José e metia pela ladeira calçada das Alpenduradas. No fundo da descida, depois de desenrolar um pouco, subia à Portela da Cobiça, caminhava pelo vale transverso até ao rio que era atravessado numa zona situada um pouco acima das Torres do Mondego.


Anacleto, R. 2010. Coimbra Entre os Séculos XIX e XX. Ruptura Urbana e Inovação Arquitectónica. In Caminhos e Identidades da Modernidade. 1910. O Edifício Chiado em Coimbra. Actas. Coimbra, Câmara Municipal de Coimbra, pg. 169 e 170

 

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por Rodrigues Costa às 10:43


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