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A' Cerca de Coimbra


Terça-feira, 27.03.18

Coimbra: Cidade bela, mas também cidade vandalizada

Há dias realizamos um curto passeio pela zona do Jardim Botânico e verificámos que a maior parte dos muros e dos portões, muitos deles recentemente recuperados, apresentavam uma enorme degradação decorrente dos escritos que lhe haviam sido apostos.

Concluímos que estávamos perante atos de puro vandalismo, pois trata-se apenas de destruir ou danificar a propriedade alheia, pública ou privada, de forma intencional e sem qualquer outro motivo aparente que não seja o propósito de, sem permissão do dono, causar prejuízos e desfigurar o existente.

A denominação “vandalismo” foi, num primeiro momento, atribuída pelos romanos às ações praticadas por um povo bárbaro germânico, oriundo da Europa Central, que se caracterizava por atuar de maneira selvagem, descontrolada e sem respeito para com nada. Na sequência, essas gentes, acabaram por ser formalmente chamados de Vândalos. Não é por acaso que esse nome, com o tempo, tivesse sido transferido para nossa língua, a fim de denominar as pessoas ou os grupos que se comportam de maneira caótica e, por vezes, violenta.

A comunidade acaba por ser a mais afetada pela destruição referida, na medida em que a situação atinge diretamente os lugares públicos que fazem parte do cotidiano de todos nós.

Estes grupos atuam, na maioria dos casos, pela calada da noite, altura em que a segurança não é tão eficaz, permitindo-lhes uma maior liberdade e dando-lhes a possibilidade de não serem apanhados em flagrante delito.

As inscrições feitas em paredes são vulgarmente chamadas de grafite, grafito ou grafíti, pois trata-se de uma inscrição caligrafada ou de um desenho pintado ou gravado sobre um suporte que não se destina a essa finalidade.

Os grafitos foram olhados durante muitos anos como assunto irrelevante ou como mera infração considerada de pequena gravidade, mas a sua significação tem variado, ao longo dos tempos de acordo com a evolução da sociedade e, atualmente, nalguns casos, já os consideram como uma forma de expressão incluída no âmbito das artes visuais, mais especificamente, da street art ou “arte urbana”, em que o artista aproveita os espaços públicos, criando uma linguagem intencional destinada a interferir na cidade.

Contudo, há quem não concorde e equipare os grafitos à pichação, ou seja, ao ato de escrever ou rabiscar sobre muros, fachadas de edificações, asfalto de ruas ou monumentos, usando tinta em spray aerossol, dificilmente removível, marcadores ou mesmo rolo de tinta. Regra geral escrevem frases de protesto ou de insulto, assinaturas pessoais ou mesmo declarações de amor. Para transmitir a sua mensagem podem utilizar grupos de letras que funcionam como abreviaturas, símbolos e logotipos.

A praga é velha e até já foi pior.

Mas, lentamente, vai voltando e trata-se de uma praga que – em nosso parecer – para ser combatida carece de trabalho persistente levado a cabo, nomeadamente pelas escolas, destinado a alertar os mais jovens para a salvaguarda de um património que é de todos.

Embora o rápido apagar destes “escritos” deva ser uma preocupação das Autoridades, julgamos que a resolução do problema passa, num primeiro momento e primordialmente, pela formação cívica a que deve ser incutida em todos os cidadãos e que estes têm a obrigação de vivenciar.

Aqui fica o nosso protesto acompanhado de elucidativas imagens. 

Ladeira das Alpendurada casa recentemente recupera

 Rua dos Combatentes/Ladeira das Alpenduradas, casa recentemente recuperada

 

Alameda Júlio Henriques.JPG

 Alameda Júlio Henriques

 

Alameda Júlio Henriques, muro do jardim dos patos

 Alameda Júlio Henriques, muro do jardim dos patos

 

Jardim Botânico, muros exteriores.JPG

 Jardim Botânico, muros exteriores

Rua dos Combstentes portão de garagem.JPG

 Rua dos Combatentes, portão de garagem

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por Rodrigues Costa às 10:20

Terça-feira, 02.05.17

Coimbra: origem do topónimo Calhabé

Encontra-se também próximo da estrada da Beira (hoje Rua do Brasil, junto ao entroncamento com a Rua dos Combatentes) um pequeno lugar, o «Calhabé», que foi formado pela aglomeração de algumas casitas ao pé de uma antiga taberna.

Vem-lhe o nome de um consciencioso sacerdote de Baco, muito nomeado nos finais do último (séc. XVIII), e do qual nos deixou memória um dos autores da «Macarronea», no «Calhabeidos». Vejamos.

O Calhabé, o famoso Calhabé, entra na taverna, e é calorosamente recebido; alguém o apostrofa, com umas reminiscências virgilianas:

Ó Calhabee, Deus nobis haec otia fecit;

Sejas bem vindo; nobis communia sejant

Gaudia; nam boa pinga temos, boa pinga bibatur,

Tantas pelas nossas corrat vinhaça goellas,

Quantum ferre solet Inverni mensibus augam,

Monda, Coimbrenses cobris qua turbidus agros.

Ferte siti alqueires, almudes, ferte canadas,

Et pipae, ceu Monda, fluant: date procula, tripas

Tempestas vermelha reguet ; Calhabee, bebamus.

O Calhabé não se fez rogar; escancara a boca como um forno; bebe da torneira do tonel, bebe, bebe; e não fica farto, Vendo que os outros não acompanham, incita-os às libações:

Bibe plus, bibe, quaeso:

Sume canadinham saltem hanc: engole copinhum

Saltem hunc.

E bebe sem descanso; mas finalmente a cabeça se lhe transtorna; e por fim cai bêbado «como uma canastra».

Então todos os companheiros aplaudem, dizendo-lhe um tanto admirados:

Tu quoque, magne, cadis, Calhabee!

 

 Nota

A designação Calhabé foi aqui muito popular pois era a que figurava nos elétricos da linha 5. Quando foram substituídos pelos troleicarros estes passaram a ostentar a designação S. José e o topónimo foi-se perdendo.

Figueiredo, A. C. B. 1996. Coimbra Antiga e Moderna. Edição Fac-similada. Coimbra, Livraria Almedina, pg. 311

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por Rodrigues Costa às 09:58


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