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Dado o destino que os seus Colégios tiveram, os Crúzios logo pensaram em edificar um Colégio que substituísse aqueles … Melhor local não poderia escolher que o vasto planalto, levemente inclinado para poente, sobranceiro aos Mosteiro de Santa Cruz, dentro da Muralha, onde os Crúzios ocupavam uma Torre onde tinham os sinos do Mosteiro, conhecida por Torre de Santa Madalena, ou Torre Velha dos Sinos … alguns casebres e terras de cultura, tudo vizinho da oficina de canteiros de João de Ruão, que agora se sabe ali vivia num beco que tinha o seu nome. Aquela torre, entre a Torre do Prior do Ameal e a Torre de Preconeo, é referida no desenho de Moefnagel, e tinha próximo a capela de Santa Madalena, propriedade dos Crúzios, e que dava o nome à Torre … entre os terrenos que os Crúzios adquiriram estava um confinante com a conhecida Torre do Prior do Ameal … Em Julho de 1552 é assinado o primeiro contrato de escambo entre a Câmara e o Mosteiro, contrato em que este cedia àquela o domínio direto de duas casas na Rua do Coruche ‘que he das boas da cidade’, recebendo em troca um ‘pedaço de chão à Porta Nova’, com seu muro e barbacã, e o domínio direto das torres e muros aforados ao licenciado João Vaz.
… Ultrapassadas as dificuldades da aquisição dos terrenos … logo no dia 30 de Março de 1593 se iniciaram as obras, sob traça do arquiteto Filipe Tércio … é naquele dia que é feito solenemente o assento da primeira pedra do novo Colégio … A construção, não obstante rápida dado o volume enorme que tinha, foi sofrendo sobressaltos. Para darem um pouco mais de largura à construção, os Crúzios apropriaram-se de boa parte da rua medieval conhecida por rua ‘que ia da Porta Nova à Sé’, com a projeção aproximada da hoje Rua do Colégio Novo, e assim em domínios da Sé. O Cabido logo interpôs embargos … acabando a contenda por ser solucionada com a transferência para o Cabido de uma propriedade na Beira, pertença dos Crúzios,
Silva, A.C. 1992. A Criação e Levantamento do Colégio da Sapiência (vulgo Colégio Novo). Coimbra, Santa Casa da Misericórdia de Coimbra. Pg. 16 a 20
Algum tempo depois da extinção do mosteiro, ocorrida em 1834, resolveu a Câmara, em 13 de Junho de 1840, que as vendedeiras de cereais de Sansão passassem para o então denominado Pátio de Santa Cruz, situado no local que é hoje o início da Rua Olímpio Nicolau Rui Fernandes, entre a atual fachada lateral dos Paços do Concelho e o edifício fronteiro, onde se encontra instalada a P.S.P. Este último estava ligado à esquina do mosteiro, que a sede da edilidade veio substituir, por um edifício que mais tarde foi demolido, sendo a entrada para o pátio feita através de um arco nele existente … Não tardaria muito que o edifício de ligação fosse demolido, facto ocorrido em 1856 … nova alteração surgiu, com a mudança do mercado dos cereais para a antiga horta do mosteiro, pertença da Câmara.
… A horta de Santa Cruz estava longe de tudo (não nos esqueçamos que na época não existiam a atual Avenida Sá da Bandeira, a Praça da República e todas as ruas que nela convergem, constituindo todas essas artérias a antiga Quinta de Santa Cruz, então propriedade particular); o Bairro de Montarroio era então um pequeno aglomerado; o acesso à Alta era feito por um apertado caminho que ia dar à Rua do Colégio Novo. E a própria comunicação com a Baixa fazia-se por uma estreita ligação, que só mais tarde viria a ser alargada com a demolição do lanço norte do Claustro da Manga e do arco que o ligava ao edifício que é hoje a Escola Jaime Cortesão.
… No ano de 1882, é apresentada na sessão de 23 de Agosto uma proposta do Barão de Matosinhos, em que este solicita a concessão de um ascensor para acesso à Alta, construído a expensas suas. O referido ascensor, que facilitaria o acesso do público, ligaria o local junto à Fonte Nova até a Couraça dos Apóstolos. A ideia de então não iria avante, mas veio a ser concretizada nos nossos dias, quase 120 anos depois, com a construção do atual elevador.
… Os acessos da Baixa são em 1888 facilitados com o alargamento, já atrás referido, da então denominada Rua do Mercado, com a demolição das construções que fechavam pelo lado norte o Claustro da Manga, e do chamado Arco do Correio, que lhe ficava adossado, e que permitiria mostrar o Jardim, tal como hoje acontece.
…Procedera-se, entretanto, no ano de 1924, à mudança da Fonte Nova para junto do mercado, encostada ao muro da rua que tem o seu nome. Até então, encontrava-se no início da Avenida Sá da Bandeira, no local onde seria construído o prédio em que viria a funcionar o posto das Caixas de Previdência.
… Era então presidente da Câmara o Dr. Mendes Silva, que entre 1984 e 1986 viria a proceder a significativas alterações na zona envolvente do mercado. Foi o caso da colocação de painéis de azulejo, com reproduções de monumentos da cidade, da autoria de Amílcar Martins, no muro da cerca da Escola Jaime Cortesão, da construção duma escadaria no local em que se erguera a Torre de Santa Cruz, para onde foi transferida a Fonte Nova, o ajardinamento do espaço em frente do pavilhão do peixe.
Andrade, C.S. 2001. Mercado D. Pedro V. Uma História com História Texto publicado em suplemento especial no Jornal de Coimbra de 14 de Novembro de 2001
No princípio do século XX … mais um novo impulso iria ser dado com a elaboração do plano de um pavilhão para a venda de peixe … projeto da autoria do Arq.º Silva Pinto … Depois de alguns contratempos, viria a estar pronto em 1907, tendo um regulamento próprio.
... em 25 de Agosto de 1928: "As obras que se estão fazendo no mercado são mais importantes do que se supõe" … "Desaparecerão todas as tendas, barracas e alpendres que ali há. Será feita uma marquise sobre o mercado e outra sobre o recinto reservado à fruta e hortaliça na encosta da barreira, fazendo uma entrada para o mercado pelo lado do Colégio Novo" … em 17 de Dezembro … "Foram já postas a funcionar as barracas para venda de carneiro, miudezas, etc."
Desapareciam assim as decrépitas barracas que tantas críticas tinham merecido ao longo dos anos …durante o ano de 1930, continuam as obras, com a construção de um portão de ferro, uma nova cobertura do pavilhão do peixe e a abertura de mais um pavilhão.
… O certo é que o velho mercado a tudo ia resistindo, com a merecida fama de ser uma praça farta, com produtos cuja excelência era comummente reconhecida, desde as frutas e legumes dos férteis campos do Mondego, ao peixe que diariamente aí chegava vindo da Figueira da Foz …
… o Mercado do Calhabé, inaugurado em 1942, pela sua exiguidade, não contribuíra significativamente para atenuar a pressão que se fazia sentir no mercado principal.
… Chegados a 1982, o estado da velha praça suscita ao diretor do Centro de Saúde Distrital um ofício-exposição que envia à Câmara Municipal, documento analisado na sessão de 13 de Setembro, em que se alertava para que a edilidade atentasse "muito seriamente na transformação, remodelação ou melhor localização do Mercado D. Pedro V, cuja degradação se vem a verificar desde há anos".
Tornava-se, pois, imperiosa a necessidade da solução do problema. E, como resultado de estudos prévios, é apresentado, em 19 de Março de 1999, um plano de intervenção para a remodelação do Mercado D. Pedro V. Após uma introdução do presidente, Dr. Manuel Machado, o vereador Dr. Henrique Fernandes expôs o novo projeto, delineado pela Arq.ª Teresa Freitas … O empreendimento previa a demolição do muro da Rua Olímpio Nicolau Rui Fernandes, o recuo da superfície do mercado, estabelecimentos para o exterior, a construção de dois pisos e parques de estacionamentos subterrâneos, conservando-se apenas a estrutura existente do pavilhão do peixe … As obras …iniciaram-se em Outubro de 2000, tendo sido o mercado, nessa data, transferido provisoriamente para o edifício da antiga Fábrica Triunfo, na Rua dos Oleiros.
… em Outubro de 2000, fecharam-se pela última vez as portas do mais que centenário mercado. … o novo mercado … transformou o espaço num funcional e moderno local de comércio, num enquadramento que valoriza a área e os edifícios circundantes, atrativo e de acordo com as atuais exigências, pronto a receber de novo os vendedores e o ruidoso e colorido formigueiro humano tão característico, ontem como hoje, do Mercado D. Pedro V.
Andrade, C.S. 2001. Mercado D. Pedro V. Uma História com História.Texto publicado em suplemento especial no Jornal de Coimbra de 14 de Novembro de 2001.
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