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O Colégio das Artes … fora criado em 1547 com o objetivo de garantir a preparação para as disciplinas maiores que se lecionavam na Universidade.
…. As aulas começaram em 1548, provisoriamente instaladas nos Colégios de S. Miguel e de Todos-os-Santos, na Rua da Sofia.
…. Entregue à Companhia de Jesus em 1555 foi transferido para a Alta em 1565 de modo a integrar o complexo colegial jesuíta a erguer naquela parte da cidade.
… Menos de dois meses depois de ter sido instalado na Alta, já se lidava em preparativos remotos para a edificação do novo Colégio das Artes, que havia de erguer-se junto ao Colégio de Jesus.
A primeira pedra foi lançada em 1568 … A reconstituição de Francisco Rodrigues é bastante esclarecedora: "A traça do colégio tinha sido anteriormente delineada. Havia de erguer-se perto do Colégio de Jesus naquela mesma elevação. Mas … quando já tinham começado as obras (1569), ainda se lhe introduziram outras alterações”. Dispôs-se de modo que a porta principal abrisse para um terreiro de 302 palmos
…. A construção do Colégio das Artes processava-se de modo efetivo já no ano de 1569 e em 1572 já se ensinava na vasta sala de atos e noutra mais pequena que se acabara. Em 1573, no entanto, cessava a obra do colégio por falta de dinheiro.
…. Só em 1611 se retomaram as obras, com dinheiro do orçamento da Universidade … Em 1616, apesar de ainda não estar completa a obra, foram iniciadas as aulas do novo edifício… O vão media na direção de norte a sul, cerca de quarenta metros, e de leste a oeste quarenta e quatro. Rodeavam-no interiormente nos quatro lados, varandas ou pórticos de colunas de pedra inteiriças, para os quais se iam abrindo por toda volta as aulas … Excediam às demais na vastidão a nobre aula de Teologia, capaz de receber muitos teólogos e doutores para as disputas, e a sala dos atos.
O conjunto de levantamentos efetuados por Elsden em 1772 inclui também uma planta do piso de entrada do Colégio das Artes.
Planta do piso superior do Colégio das Artes. Reconstituição correspondente à situação da gravura de 1732. Op. cit., pág. 49
Guilherme Elsden, 1772. Planta do piso térreo do Colégio das Artes. Op. cit., pág. 49
Nessa planta podem-se identificar claramente as duas grandes salas às quais se faz referência na descrição anterior, ambas no lanço norte do edifício. Do lado nascente tem-se a grande sala dos atos, com uma tribuna destinada aos lentes encostada à parede lateral. No lado poente existe uma sala identificada. Como capela, que serviria certamente como a aula de Teologia mencionada.
…. Em redor de uma quadra monumental – sem o carater claustral de um mosteiro – dispõem-se quatro lanços com salas de aulas racionalmente concebidas quanto à área, alçados, iluminação e higiene … O primeiro andar era ocupado pelas celas dos noviços.
…. as colunas toscanas que circundavam o pátio do Colégio das Artes suportavam um entablamento reto e não uma arcaria.
Inferiormente, as colunas assentavam em pedestais de cerca de um metro de altura, composição que hoje se mantém. Paradoxalmente, a situação atual apresenta uma arcaria em redor do claustro. Trata-se, contudo, de uma intervenção do início deste século derivada da adaptação do edifício ao Hospital da Universidade.
…. As intervenções apontadas são, no entanto, pouco profundas, reduzindo-se praticamente a dois lanços de escadas novos.
…. Exteriormente …. sobressaíam apenas no tratamento dos alçados, para além das aberturas factuais, os frontões rematados por pináculos que assinalavam os corredores das alas e a entrada principal do colégio no lanço sul. O lanço norte não era coroado por estes frontões dada a sua particularidade na estrutura formal do conjunto. Albergava as duas grandes salas do colégio e o sistema de acessos verticais que interligava os vários pisos: o andar superior das celas, o pavimento do claustro e das aulas e ainda os pisos subterrâneos que ligavam ao colégio de Jesus e às cozinhas e ao refeitório que serviam o complexo edificado da Companhia. No lanço nascente sobressaía na leitura exterior do edifício o corpo de uma capela que existia no piso superior, assente sobre a plataforma que cobria a cisterna do rés-de-chão. Atualmente não é percetível a existência da capela do exterior, uma vez que ficou completamente afogada pela massa edificada resultante das intervenções do princípio deste século. Ficou por isso sem iluminação direta. A sua cobertura erguia-se acima do telhado que corria sobre o lanço nascente, facto que salientava a sua presença na perceção geral do edifício. O plano da capela é retangular, abrindo-se nas paredes quatro janelas, agora sem luz direta. A capela-mor está demarcada por um arco de alvenaria sendo o teto formado por uma abóbada semicircular. Anteriormente à capela, conserva-se o pequeno átrio quadrado, com abóbada de aresta, à direita do qual se encontra a sacristia, situação que não corresponde à original, já que esta inicialmente ocupava o compartimento à esquerda. A porta da capela está datada de 1720.
Gravura de 1732. Pormenor com o Colégio das Artes, cuja construção foi iniciada em 1568. Op. cit., pág. 51
Na gravura de 1732, no entanto, a capela ainda não aparece representada, sendo possível identificar apenas a plataforma que cobre a cisterna. Provavelmente estaria ainda em construção na altura. Tendo em conta a decoração interior com azulejos e talha dourada, trata-se certamente de uma intervenção ainda da primeira metade do Séc. XVIII. O portal da face sul do colégio é também deste século, mais propriamente de 1715. Falta-lhe o remate superior que deveria ter contido o escudo nacional.
…. Em 1759, no reinado de D. José, foi proscrita a Companhia de Jesus e os jesuítas foram expulsos do país… Em carta régia de 1760, mandava-se separar este edifício do que fora o Colégio da Companhia, o Colégio de Jesus. Ordenava-se obviamente a destruição do passadiço de ligação entre os dois colégios.
Lobo, R.P.M. Os Colégios de Jesus, das Artes e de S. Jerónimo. Evolução e Transformação no Espaço Urbano. 1999. Coimbra, Departamento de Arquitetura da Faculdade de Ciências e Tenologias.
Tags: Coimbra sec. XVI, Coimbra séc. XVII, Coimbra séc. XVIII, Colégio das Artes, Colégio de S. Miguel, Colégio de Todos-os-Santos, Companhia de Jesus, Rua da Sofia, Francisco Rodrigues, Guilherme Elsden, D. José,
Terceira e última entrada dedicada ao trabalho da Doutora Ana Margarida Dias da Silva, intitulado Inventário do Arquivo da Venerável Ordem Terceira da Penitência de S. Francisco da Cidade de Coimbra (1659-2008).
A Ordem Terceira conimbricense entrou na posse da igreja do Carmo em 1837 e pelo artigo 17º da Carta de Lei de 15 de setembro de 1841 foi-lhe cedida a igreja e mais pertenças do extinto Colégio do Carmo Calçado na rua da Soia para nela celebrar os ofícios divinos. Pela Carta de Lei de 23 de abril de 1845 foi também concedido o edifício daquele colégio a fim de se estabelecer um hospital para curativo dos enfermos pobres da mesma Ordem.
Vista das arcadas e fonte com escultura de Santo António, no claustro do extinto colégio do Carmo, sito na rua da Sofia, n.º 114, Coimbra, hoje pertença da Ordem Terceira de Coimbra. Op. cit., pg. 66
A extinção das ordens religiosas, em 1832 e 1834, causou grandes embaraços no governo habitual das diversas ordens terceiras. Com o desaparecimento dos comissários religiosos apagar-se-ia o espírito franciscano tradicional.
Salvaguardaram-se as detentoras de instituições úteis aos professos: lar/asilo, hospital, creche, escolas primárias ou cemitério privativo.
Depois da implantação República, em sessão de Assembleia Geral de 28 de dezembro de 1911 foi decidida a revisão dos Estatutos da Ordem tendo por base as disposições, quer prescritivas quer proibitivas, da Lei da Separação do Estado das Igrejas de 20 de abril de 1911, que no seu artigo 25º proibia o relacionamento com qualquer religioso regular, tolerando-as, contudo, no artigo 17º, na qualidade de corporações ou irmandades de assistência ou beneficência. Os irmãos terceiros conimbricenses enfatizam o carácter assistencial e de beneficência da instituição particularmente exercidos no hospital e asilo, em esmolas pecuniárias e em assistência médica e farmacêutica que concede aos irmãos pobres, procurando demarcar-se, assim, do carácter religioso que a Ordem outrora tivera.
Brasão da Ordem Terceira na fachada principal do edifício do Carmo, hoje sede da Ordem Terceira de Coimbra, sito na rua da Sofia, n.º 114 Coimbra. Op. cit., pg. 60
A Venerável Ordem Terceira da Penitência de S. Francisco da Cidade de Coimbra é hoje titular de um lar para idosos denominado “Lar da Venerável Ordem Terceira de S. Francisco”, que funciona nas dependências da sua sede, na rua da Soia, n.º 114, na cidade de Coimbra.
Atualmente, a Venerável Ordem Terceira da Penitência de S. Francisco, canonicamente ereta, confirmada por D. João Alves, Bispo da Diocese de Coimbra, em 7 de novembro de 1997, e … [está] registada como Instituição Particular de Solidariedade Social.
Pormenor de gravura que encima uma carta patente de irmão da Ordem Terceira de Coimbra (SR: Patentes; código de referência: PT-OTFCBR/A/08). Op. cit., pg. 40
Carta Patente do irmão Joaquim da Conceição, 17 de agosto de 1756, liv. A16 (SR: Bulas Estatutos e Memórias; código de referência: PT-OTFCBR/A/01/16). Op. cit., pg. 71
O governo da Fraternidade, suas obras e serviços, está dividido pelos seguintes órgãos: Conselho da Fraternidade, Assembleia Geral e Conselho Fiscal. Os mandatos duram três anos, e a tomada de posse deve ser feita dentro de trinta dias posteriores à eleição.
Para além das atividades específicas da vida da fraternidade e de culto comunitário, com o fim de alargar o seu campo de apostolado, a fraternidade inclui nos seus objetivos, além de outros, a prestação de serviços de segurança social.
Neste âmbito, propõe-se prosseguir dinâmicas como sejam, lar da terceira idade, centro de dia, centro de acolhimento temporário e apoio à infância e juventude.
Depende organicamente da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica.
Ilustração do livro de registo das receitas e despesas da Ordem Terceira de Coimbra que introduz a rubrica dos róis das freguesias da cidade, 1719-1739, liv.G2, l.66 (SR: “Caixa” – Receitas e Despesas; código de referência: PT-OTFCBR/A/B/02/02). Op. cit., pg. 56
… O Cartório encontrava-se organizado no século XIX, disso são prova os livros de inventário do cartório da Venerável Ordem Terceira, um de 1828 e outro de 1887, que segue, com ligeiras alterações, o antecedente.
Silva, A.M.D. 2013. Inventário do Arquivo da Venerável Ordem Terceira da Penitência de S. Francisco da Cidade de Coimbra (1659-2008). Fotografias Ana Margarida Dias da Silva e Sérgio Azenha. Lisboa. Edição do Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa - Lisboa e da Venerável Ordem Terceira da Penitência de S. Francisco.
Segunda entrada dedicada ao trabalho da Doutora Ana Margarida Dias da Silva, intitulado Inventário do Arquivo da Venerável Ordem Terceira da Penitência de S. Francisco da Cidade de Coimbra (1659-2008).
Além da santificação pessoal, os irmãos terceiros dedicaram-se a tarefas diversificadas, muitas de cariz social. A ação piedosa e de beneficência da Ordem Terceira esteve sempre patente ao longo dos séculos manifestando-se de diversas formas, como por exemplo, a decisão em Mesa de 3 de maio de 1832 de dar esmola de bacalhau, arroz, pão, laranjas e dinheiro a todos os presos das cadeias da Portagem, Universidade e Aljube e a todos os irmãos pobres da Ordem; com a fundação do Hospital e Asilo, inaugurado em 1851 e 1852,
Pormenor da fachada principal do edifício do Carmo, hoje sede da Ordem Terceira de Coimbra, sito na rua da Sofia, n.º 114, Coimbra. Op. cit. 68
com o Patronato Masculino de Santo António e, mais recentemente, com a criação da Casa Abrigo Padre Américo (fundada em 1994).
Casa abrigo Padre Américo, sita na Azinhaga Carmo. Imagem acedida em https://entenderosemabrigo.webnode.pt/products/casa-abrigo-padre-americo/
Situando-se primitivamente no Convento de S. Francisco da Ponte da mesma cidade,
Convento de S. Francisco, já adaptado a fábrica. Acervo RA
em 5 de janeiro de 1659 foi feita a primeira eleição com os oficiais na forma estipulada pelo Papa Nicolau IV, estando presentes D. Frei António de Trejo, bispo de Cartagena e vigário geral da Ordem, e o padre frei Jerónimo da Cruz, comissário da Ordem, e com assistência e votos dos irmãos terceiros. Os primeiros Estatutos da Ordem Terceira de São Francisco de Coimbra determinam que esta seja governada por um Ministro, um Secretário, seis ou oito Definidores, um Síndico, um Vigário do Culto Divino, os Zeladores em número dependente da cidade, vila ou lugar ou o número de irmãos, seis Sacristães e um Vice visitador.
Em 1740 iniciou-se a construção da capela de Nossa Senhora da Conceição da Ponte e Casa do Despacho onde se reunia a Mesa do Conselho. O novo edifício foi construído em terreno anexo ao convento de S. Francisco da Ponte e ainda hoje é propriedade da Ordem Terceira de Coimbra. Em 1784 a Mesa da Venerável Ordem Terceira reuniu na igreja paroquial e colegiada de S. Cristóvão, uma vez que fora expulsa da Casa do Despacho e capela ereta no convento de S. Francisco da Ponte e em novembro de 1785 reuniu pela primeira vez na Sé Velha.
Capela de Nossa Senhora da Conceição, contigua ao Mosteiro de S. Francisco. Acervo RA
Silva, A.M.D. 2013. Inventário do Arquivo da Venerável Ordem Terceira da Penitência de S. Francisco da Cidade de Coimbra (1659-2008). Fotografias Ana Margarida Dias da Silva e Sérgio Azenha. Lisboa. Edição do Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa - Lisboa e da Venerável Ordem Terceira da Penitência de S. Francisco.
A Doutora Ana Margarida Dias da Silva, publicou em 2013, um trabalho intitulado Inventário do Arquivo da Venerável Ordem Terceira da Penitência de S. Francisco da Cidade de Coimbra (1659-2008), no qual traça a história daquela Instituição multisecular desta Cidade. É desse trabalho que extraímos uma série de três entradas, da qual esta é a primeira.
Inventário do Arquivo da Venerável Ordem Terceira … Op. cit., capa
A Venerável Ordem Terceira da Penitência de São Francisco de Coimbra é uma Fraternidade da Ordem Franciscana Secular, fundada em 1659 como pessoa moral eclesiástica canonicamente ereta, com sede em Coimbra, na rua da Sofia, 114,
Vista da fachada principal do extinto colégio do Carmo, hoje sede da Ordem Terceira de Coimbra, sito na rua da Soia, n.º 114, Coimbra, no dia da cidade de Coimbra, 4 de Julho de 2012. Op. cit., pg. 49
tem por fim principal contribuir para que todos os irmãos e irmãs, impelidos pelo Espírito à perfeição da caridade a atingir no seu estado secular, vivam o Evangelho à semelhança de S. Francisco de Assis, mediante a profissão da Regra da Ordem Franciscana Secular, na qual a Fraternidade se integra.
Sendo essencial à sua Regra a vida de fraternidade, promove-se, em espírito de comunhão, todo o possível auxílio aos irmãos, incluindo o auxílio material.
Para além das atividades específicas da vida de fraternidade e de culto comunitário, com o fim de alargar o seu campo de apostolado, a Fraternidade inclui também nos seus objetivos a prestação de serviços de segurança social e atividades culturais preferencialmente e em igualdade de circunstâncias aos seus irmãos, estendendo-as a outras pessoas, indistintamente e na medida das suas possibilidades.
O âmbito de ação da Fraternidade é o concelho de Coimbra.
Foi S. Francisco de Assis quem deu forma às ordens terceiras seculares (existindo igualmente ordens terceiras regulares) designadas desta forma pois foram fundadas a seguir à dos frades menores e à das irmãs clarissas. Foi pela Regra do Papa Nicolau IV, seguindo a Bula de 18 de agosto 1289, e alterada com melhoramentos de vários papas, que os terceiros franciscanos se regeram até à importante reforma de Leão XIII que promoveu e promulgou a reforma da sua Regra através da constituição «Misericors Dei Filius» de 20 de maio de 1883,
Regra que Nicolau IV deu aos irmãos terceiros e terceiras, 1774[?]) - liv.A20 (SR: Bulas, Estatutos e Memórias; código de referência: PT-OTFCBR/A/01/20). Op. cit., pg. 26
Regra essa que vigorou até à data da sua revogação e substituição pelo atual texto de 24 de junho de 1978, aprovado pelo Breve «Seraphicus Patriarchus» do Papa Paulo VI.
Primeiro livro dos Estatutos da V. Ordem Terceira da Penitência de S. Francisco da Cidade de Coimbra, 1659-1739, liv.A1 (SR: Bulas, Estatutos e Memórias; código de referência: PT OTFCBR/A/01/01). Op cit., pg. 26
As ordens terceiras seculares são definidas atualmente pelo Código do Direito Canónico de 1983 como “associações cujos membros participando no século do espírito de algum instituto religioso e sob sua alta orientação, levam uma vida apostólica e tendam à perfeição cristã”. Têm um enquadramento jurídico diferente das irmandades e das confrarias e aproximam-se das ordens religiosas pela sua orgânica aprovada pela Santa Sé e porque os seus membros fazem noviciado e profissão, podendo usar hábito especial, substituível por insígnias, como o escapulário, medalha ou cordão.
Braçadeiras de irmão terceiro usadas nas procissões. Op. cit., pg. 67
Em assento da junta geral dos irmãos terceiros de 5 de janeiro de 1699 determina-se “o uso de hábito de terceiro comprido a todos os irmãos, assim eclesiásticos como seculares, para assistirem a funções públicas em que forem em comunidade e se ostentam filhos do padre S. Francisco como seja a procissão de Quarta-feira de Cinzas, Razoulas e acompanhamentos de irmãos defuntos e não os tendo não serão a eles admitidos”.
Nota: Não encontramos o significado da palavra «razoulas» em nenhum dos dicionários consultados. No entanto, no Elucidário das palavras de Viterbo, surge o verbo «razoar», significando relatar alguma coisa. Assim, somos levados a concluir que, no contexto, «razoulas» deverá referir-se à Celebração da Paixão que na igreja católica tem lugar na tarde da Sexta-feira Santa.
Silva, A.M.D. 2013. Inventário do Arquivo da Venerável Ordem Terceira da Penitência de S. Francisco da Cidade de Coimbra (1659-2008). Fotografias Ana Margarida Dias da Silva e Sérgio Azenha. Lisboa. Edição do Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa - Lisboa e da Venerável Ordem Terceira da Penitência de S. Francisco.
Dos festejos dos Carnaval de 1854 e dos incidentes então ocorridos, existem, como refere a publicação do Arquivo Histórico Municipal de Coimbra a que aludimos na entrada anterior, outras narrativas menos jocosas, mas mais rigorosas e minuciosas.
Tanto esta entrada, como as outras duas que se lhe seguem, servem-se da informação saída da pena de Joaquim Martins de Carvalho.
Joaquim Martins de Carvalho. Imagem acedida em: https://arepublicano.blogspot.com/2018/09/joaquim-martins-de-carvalho-1822-1898.html
Pelo entrudo de 1854 houve em Coimbra alguns acontecimentos muito deploráveis. Essas tristes ocorrências eram tanto mais para lamentar, quanto todas as pessoas prudentes reconhecem, que muito convém que entre os habitantes desta cidade e a academia reine a harmonia mais cordial.
Nos dias do carnaval os académicos entregavam-se aos costumados folguedos dos mais anos, arremessando ovos às pessoas que das janelas das suas casas presenciavam as mascaradas que transitavam pelas ruas. Aos habitantes da cidade desagradava este género de divertimento pelo incómodo e prejuízos que lhes causavam.
No domingo gordo, 26 de fevereiro, houve por tal motivo principio de desordem na praça de S. Bartolomeu, pelo que o prelado da Universidade, o sr. conselheiro José Manuel de Lemos, atual bispo de Coimbra, deliberou mandar rondar de dia, na segunda feira, pelas ruas da cidade, os empregados de policia académica, recomendando-lhes que usassem de todos os meios suaves e persuasivos para evitar as cenas do dia anterior.
Praça de S. Bartolomeu, hoje Praça do Comércio. Inícios do séc. XX. Col. RA
Os desejos do prelado foram em parte atendidos, dando-se, contudo, nesse dia a circunstância de ser a ronda académica recebida por alguns estudantes com vozerias e apupos.
Á noite um grupo numeroso de estudantes percorreu as ruas da cidade, dando vivas á independência académica e gritos contra os archeiros. Chegando as coisas a este estado, entenderam as autoridades que convinha como medida preventiva distribuir a pequena guarnição militar pelos principais pontos da cidade, a fim de acudir a qualquer conflito que pudesse aparecer, visto que os habitantes mostravam desagradar-lhes o procedimento dos estudantes.
Largo de Sansão, hoje Praça 8 de Maio. Desenho de José Carlos Magne. In: Monumentos, 25, p. 147. Praça de Sansão, 1796.
Ás três horas da tarde desse dia uma mascarada dava no largo de Sansão uma corrida de touros em caricatura. Estavam algumas famílias ás suas janelas, e nessa ocasião dos grupos dos estudantes partiram ovos para várias casas. Daí resultou que um individuo clamasse contra os estudantes, e, insistindo estes, arremessou-lhes da varanda uma panela de barro, não resultando, contudo, daí nenhum mal para ninguém. Os estudantes julgaram-se ofendidos por tal motivo; e os habitantes da cidade, pela maior parte artistas, que presenciavam o espetáculo na rua, tomaram logo um aspeto ameaçador, e daí resultou travar-se entre uns e outros altercação, que redundou prontamente em vias de facto.
Por maiores que fossem os esforços que algumas pessoas empregaram para apaziguar a desordem, o conflito continuou, as portas e janelas fecharam-se, e o terror espalhou-se por toda a cidade. Acudiu então o posto militar da antiga porta fidalga de Santa Cruz, que foi envolvido pela multidão, e não pode empregar a força para restabelecer a ordem.
Imagem onde são visíveis as portarias do Mosteiro.Pormenor do desenho de José Carlos Magne. In: Monumentos, 25, p. 147. Praça de Sansão, 1796.
Apareceu pouco depois o governador civil, que então era o sr. conselheiro António Luiz de Sousa Henriques Seco. S. Ex.ª empregando todos os esforços, conseguiu restabelecer a ordem naquele ponto, tranquilizando-se os paisanos, retirando-se os académicos para a Calçada, e entrando em formatura os soldados que tinham ali acorrido.
A desordem agravou-se de novo, quando pouco depois correram da Calçada a Sansão muitos estudantes, bradando vingança contra os paisanos. O tumulto prolongou-se logo pela rua da Sofia, a despeito dos gritos de ordem que soavam por parte das autoridades e outras pessoas.
A força militar do posto de Santa Cruz, vendo que o tumulto tomava um aspeto medonho, correu a marche-marche pela rua da Sofia, para separar os grupos dos tumultuários. Fazendo, porém, alto, foi logo envolvida pelos académicos.
Neste momento chegou o resto da guarnição disponível, que com a que estava não chegaria a 50 praças, e formou toda em linha. Conseguiu-se finalmente apaziguar a desordem na Sofia e Sansão pelos esforços do administrador do concelho, bacharel António dos Santos Pereira Jardim, e outras pessoas de influência que ali estavam, empregando-se particularmente o meio de mandar recolher os paisanos a suas casas, e dirigir para a Calçada os estudantes.
Parecia terminada a desordem, da qual tinham resultado alguns ferimentos, posto que leves; mas os estudantes, reunindo-se novamente na Calçada, continuavam a agredir os paisanos, deixando-se arrastar pela excitação, e não cedendo aos conselhos de algumas pessoas, entre as quais se contavam vários académicos, que tratavam de restabelecer o sossego.
Foi ainda necessário que o sr. governador civil marchasse com a força toda para a Calçada, para onde tinha já ido o sr. administrador do concelho, achando-se também aí o sr. presidente da camara, dr. Cesário Augusto de Azevedo Pereira, Aires Tavares Cabral, e outras pessoas, que tentavam dispersar os estudantes antes da chegada da tropa. Junto desta tinha o sr. governador civil exigido que marchassem também dois bedéis e alguns archeiros, a fim de reconhecer os estudantes que "estavam envolvidos na desordem”.
Logo que apareceu a tropa na Calçada, o ajuntamento académico, que estava defronte do Arco de Almedina, começou a gritar — fora os soldados! As pessoas empenhadas na pacificação correram para os soldados, rogando que se retirassem: e daí resultou que, aproximando-se os tumultuados da tropa, esta calou instintivamente baioneta, mas sem avançar, retida pelas instâncias do sr. governador civil, a fim de evitar derramamento de sangue; e pela mesma razão a fez recuar para o principio da rua do Coruche.
Alguns estudantes bateram então palmas, e a esta demonstração parou a tropa, por ordem do sr. Governador civil, para não ser exautorada a força publica.
Graças aos esforços pacificadores o tumulto dissipou-se, recolhendo a tropa a quartéis.
Carvalho, J. M. Graves conflitos em Coimbra pelo entrudo de 1854. In: Apontamentos para a História Contemporânea, 1868: Coimbra, Imprensa da Universidade, pp. 241-248. Acedido em: https://drive.google.com/file/d/1v-_FRydFPXvB6h6mwq3J2w75ylFmkMsd/view?fbclid=IwAR3I0Zqi_2y3soFLcZe6r5fLsX-Q2qn4McLYJbRj10EtL39pkTqs53l7Oys.
Continuando a debruçar-nos sobre a obra Coimbra e a República. Da propaganda à proclamação, de Carlos Santarém Andrade, abordaremos de seguida o último capítulo, dedicado à Proclamação da República em Coimbra. Primeira parte.
No dia 4 de Outubro, o jornal "Defeza", de Coimbra, dá-nos uma curta, embora destacada, notícia sob o título "Revolução em Lisboa?", sem adiantar desenvolvimentos.
"A Tribuna", do dia 5, dá mais pormenores, no artigo "A revolução de Lisboa", sobre os sucessos na capital, descrevendo vários episódios da luta travada no dia anterior, mas cujo desfecho era ainda desconhecido. Sobre o assassínio de Miguel Bombarda, no dia 3, por um dos seus doentes do foro psiquiátrico, tenente do exército, informa-nos ser o seu autor natural de Coimbra, onde fez os Preparatórios para a Escola do Exército, tendo prestado serviço como alferes no Regimento de Infantaria 23, aquartelado nesta cidade. Sem conhecimento do rumo dos acontecimentos, os republicanos viveram horas de angústia e ansiedade, decidindo enviar a Lisboa um emissário para se inteirar do que se passava.
Jornal “Defeza”, de Coimbra. Op. cit., pg. 147
No dia 5, à noite, corre em Coimbra que a República fora proclamada, o que provoca que, na Praça do Comércio (onde se situava o Centro José Falcão) se juntasse muita gente. E quando, cerca das 3 horas da manhã do dia 6 de Outubro, um emissário do governo republicano, entretanto formado, confirma a proclamação da República, há grandes manifestações de regozijo, acompanhadas do lançamento de foguetes, sendo arvorada no edifício da Câmara e na Universidade a bandeira republicana, como nos informa o "Notícias de Coimbra", do dia 8 de Outubro. O mesmo jornal descreve que "a filarmónica «Boa União» toca a «Portugueza», formando-se um cortejo em direcção ao Governo Civil, aonde se encontra já o novo Governador Sr. Dr. Fernandes Costa".
O alferes medico sr. João Augusto Ornellas, falando ao povo das janellas da Camara de Coimbra, após a notificação da proclamação da Republica. In: Illustracção Portugueza, II-1910, n.º 224, Lisboa, 1910.10.24, p.539.
Dr. Fernandes Costa. 1.º Governador Civil de Coimbra após a implantação da República-Op- cit., pg. 148
Na sede do Governo Civil (então, na Rua Larga, onde hoje se encontra a Faculdade de Medicina) a passagem do testemunho do até então governador, Dr. José Jardim, faz-se com toda a urbanidade, sendo mesmo cumprimentado à saída do edifício. O extenso cortejo regressa à Baixa, ao som de vivas à Liberdade e à República, terminando na Praça do Comércio, cerca do meio-dia.
À uma da tarde desse dia 6 de Outubro estava prevista a proclamação da República nos Paços do Concelho. E essa tem lugar perante o Dr. Fernandes Costa e a vereação que até aí gerira o município, e que então pede a demissão. Como informa o mesmo jornal, no Salão Nobre completamente cheio, "esta cerimónia termina por constantes vivas à Pátria, a Portugal, ao exército e armada e à República, no meio do maior e mais indiscritível entusiasmo", que acrescenta: "Duas bandas de música, a «Boa União» e a «Conimbricense», tocam em frente, no largo, formando-se, em seguida novo cortejo, composto por milhares de pessoas que percorre, com as duas filarmónicas, várias ruas da cidade".
O povo depois do discurso do sr. João Ornellas a caminho do quartel de infantaria 23. In: Illustracção Portugueza, II-1910, n.º 224, Lisboa, 1910.10.24, p.539.
Auto da Proclamação da República em Coimbra em 6 de Outubro de 1910. Op. cit., pg. 150
Também o quartel do Regimento de Infantaria 23, então na Rua da Sofia, pelas quatro da tarde, se associa à proclamação, hasteando no seu mastro a bandeira do novo regime. Momento registado pelo referido periódico: "Há então um indiscritível entusiasmo, a que se associam os soldados, erguendo vivas à República e confraternizando com o povo. Ouvem-se pouco depois os primeiros acordes da «Portugueza»”. É a banda militar que a toca. Novas manifestações, igualmente calorosas, se ouvem, com vivas ao exército e à armada". À noite seriam iluminados os edifícios públicos e mesmo casas particulares, percorrendo as ruas da cidade grupos de populares em marchas «aux flambeaux». No dia seguinte novas manifestações de alegria teriam lugar em vários pontos de Coimbra.
Uma nota muito curiosa é-nos ainda revelada pelo jornal: "É agora cumprida a disposição testamentária do falecido Dr. Inácio Roxanes, em virtude da qual, no dia da implantação da República, devia ser distribuída a quantia de 100$000 réis pelos pobres da freguesia de Santa Cruz, desta cidade. O respectivo testamenteiro anda cumprindo já a referida disposição".
Andrade, C.S. Coimbra e a República. Da propaganda à proclamação. 2022. Coimbra, Edição Lápis da Memória.
A obra que hoje divulgamos ressalta de um estudo académico que se debruça sobre a vida do Hospital e Asilo da Ordem Terceira, atualmente Lar de Idosos, no período balizado entre 1851 e 1926, e que nos permite um conhecimento da realidade daquela Instituição.
No edifício, que se encontra adstrito à igreja de Nossa Senhora do Carmo, funcionou o Colégio dos Carmelitas Calçados, um dos vários colégios universitários da Rua da Sofia e que já tivemos ocasião de abordar neste blog.
Do referido trabalho académico transcrevemos o que se segue.
Imagem da capa da obra citada
A Venerável Ordem Terceira da Penitência de S. Francisco de Coimbra foi fundada a 5 de janeiro de 1659 como pessoa moral canonicamente ereta, no convento de S. Francisco da Ponte, com a prática dos seus exercícios espirituais na capela colateral da parte do Evangelho da igreja do referido convento.
Desde cedo promoveu a assistência espiritual e material aos seus membros, com o acompanhamento à sepultura e a atribuição de esmolas, por exemplo. O Hospital e Asilo, fundados respetivamente em 1851 e 1884, são a prova maior da assistência material prestada aos membros da Ordem Terceira de Coimbra, que desta forma garantiu o socorro na doença e na velhice aos irmãos franciscanos seculares conimbricenses.
Igreja do Carmo, claustro. Imagem acedida em https://www.cm-coimbra.pt/areas/visitar/ver-e-fazer/roteiros-tematicos/coimbra-patrimonio-mundial#&gid=1&pid=29
Alcançado o edifício do extinto colégio dos Carmelitas Calçados, na rua da Sofia, em 1841, após a extinção das ordens religiosas masculinas, a preocupação dos diversos Definitórios foi garantir rendimentos que suportassem as obras de adaptação do imóvel às novas funções assistenciais; para isso, contaram com o apoio financeiro de ministros, benfeitores, irmãs e irmãos seculares.
… Na segunda metade do século XIX, aquando da fundação do hospital (1851) e asilo (1884) da Venerável Ordem Terceira, existiam na cidade de Coimbra, a Misericórdia, os Hospitais da Universidade de Coimbra, o Hospício dos Abandonados, o Asilo da Infância Desvalida e o Asilo de Mendicidade, para além das inúmeras confrarias espalhadas pela cidade.
…Pensado no ano de 1831, em sessão de 15 de Maio, e sob proposta do então ministro, o beneficiado Manuel José Ferreira, só com a doação do edifício do extinto Colégio do Carmo, na rua da Sofia, pela carta de lei de 23 de Abril de 1845, o Hospital da Venerável Ordem Terceira da Penitência de São Francisco de Coimbra teve um espaço para a sua fundação … Abriu portas, pela primeira vez, a 14 de maio de 1852 e deu-se ao hospital da Ordem o título de “Hospital de Nossa Senhora da Conceição” para aquiescer ao pedido do benfeitor Sebastião José de Carvalho.
… Anos depois, em abril de 1860, foi apresentada uma representação aos Deputados da Nação, pelo ministro conselheiro José Maria de Abreu, que visava obter a cerca do extinto Colégio do Carmo e um quintal junto à Casa do Noviciado, onde os doentes poderiam fazer os seus passeios higiénicos ... O pedido foi atendido e a cerca foi concedida por Carta de Lei de 11 de agosto de 1860.
Igreja do Carmo, painel de azulejos no claustro. Imagem acedida em https://ordemterceirasaofrancisco.pt/portfolio-item/colegioeigrejadocarmo/
… A fundação do asilo, em 1884, também só foi possível graças à herança legada ao Hospital pelo benfeitor e antigo ministro José Maria de Abreu (1857-1860) no valor de 6.715.870 réis. Com este legado, que aumentava bastante o capital destinado às despesas do hospital, seria possível, “muito em harmonia com a intenção do benfeitor”, criar uma enfermaria destinada aos irmãos inválidos … O Asilo foi inaugurado a 8 de junho de 1884, dia da Santíssima Trindade.
Silva, A. M. D. O Hospital e Asilo da Venerável Ordem Terceira da Penitência de S. Francisco de Coimbra (1851-1926). Dissertação de Mestrado em História, apresentada na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. 2014. Coimbra, Universidade de Coimbra, acedida em
Está a decorrer um conjunto de visitas guiadas à Igreja de Nossa Senhora da Graça que habitualmente está encerrada, só abrindo para as Celebrações Eucarísticas.
Estão ainda livres as seguintes datas: 3.ªs feiras, dias 7 e 14 de setembro; 5.ªs feiras, dias 2 e 9 de setembro; e sábados, dias 4 e 11 de setembro.
As visitas decorrem em dois horários, às 11h00 e às 15h00 e implicam a prévia inscrição para o telemóvel 924 448 266.
Folheto de divulgação
Realizamos ontem esta visita. Foi tempo bem empregue, foi a possibilidade de melhor conhecer uma das igrejas da Rua da Sofia, todas elas tão pouco conhecidas.
Igreja de Nossa Senhora da Graça, exterior
Igreja de Nossa Senhora da Graça, interior
Trata-se de uma igreja bela na sua sobriedade e despojamento, enriquecido que por retábulos de belo efeito,
Igreja de Nossa Senhora da Graça, Capela-mor
Igreja de Nossa Senhora da Graça, Retábulo do Senhor dos Passos. Foto Nelson Correia Borges
Quer, ainda, pela estatuária ali existente.
Imagem de Nossa Senhora da Graça
Imagem de S. Agostinho
Uma visita que se recomenda, enriquecida pelo trabalho bem informado e simpático da Guia,
Rodrigues Costa
Ao longo do texto de Carneiro da Silva As Estalagens Coimbrãs e do seu termo, para além das três estalagens mencionadas na entrada anterior, são ainda referidas:
- Estalagem de Santa Clara, primeira
… nas reuniões da Câmara de 22 de julho de 1642 e na de julho de 1644, se discutiram os problemas que o estalajadeiro … criava na sua «Estalagem de Santa Clara» … por estar notificado não usasse de venda nem de agasalho pessoa alguma em sua casa, de «mau viver», e ele fazia o contrário.
- Estalagem de Santa Clara, segunda
Panorâmica do bairro de Santa Clara. Notar a estrada para Lisboa, e no extremo esquerdo da gravura [não identificada] o que foi segunda estalagem de Santa Clara
Em 1674, Cosme Francisco Guimarães, morador em Sansão, pagava o foro de 200 reis de explorar aquela estalagem no Rossio de Santa Clara [a qual fora construída] «para substituir outras que se tinham arruinado com as cheias perto da ponte.»
- Estalagem na Rua da Sofia
Na passagem do século XVI existiu na Rua da Sofia, na vizinhança da entrada da Rua Nova [uma estalagem que] Diogo Marmeleiro de Noronha … fizera … para agasalho dos passageiros e caminhantes com muito gasalhos e camaras fechadas para fidalgos e pessoas graves.
- Estalagem da Quinta da Portela
Em 16 de Dezembro de 1624 «Diogo Marmeleiro de Noronha me enviou dizer por sua petição que ele queria fazer junto à sua Quinta e lugar da Portela uma estalagem que seria de grande comodidade dos passageiros que caminhavam por aquela estrada que era das mais seguidas da dita cidade por ser a de Madrid e por naquela paragem passar uma barca o rio Mondego, que quando no inverno com alguma cheia não podia passar a dita barca, e os que então caminhavam ficavam dormindo pelos pés das árvores sem terem nenhum agasalho pelo que me pedia lhe fizesse mercê de lhe privilegiar a dita estalagem e mandar passar seu privilégio».
Para além destas surgem, ainda, as seguintes outras referências a estalagens:
- Estalagem das Cardosas
No Paço do Conde … onde hoje está [esteve] uma casa de brinquedos, e onde serviu uma Mariana que há muito deve atender os viandantes do céu.
- Estalagem do Lopes ou Hospedaria do Caes Novo
Situava-se nas imediações do atual Banco de Portugal, visto que tinha outra entrada pela Rua do Sargento-Mor, e ter particularidade de ser pouso de estudantes endinheirados, acabados de chegar, até se mudarem para o seu território da Alta.
Na parte final do texto o Autor refere ainda que Camilo esteve hospedado na «Marquinhas do Leite Morno», na Rua Larga … e que pelos séculos XVII, XVIII e XIX existiram no burgo as estalagens «do Galego» … do «Fernando» mais conhecida pela «Estalagem do Inferno» a do «Raimundo da Teodora» … a do «Francisco Lopes de Carvalho», próximo da ponte, e a hospedaria do «João de Aveiro» que um incêndio destruiu em 1902.
Aqui e ali, muitas vezes nas proximidades das estalagens, existiam também as «albergarias».
Silva, A.C. As Estalagens Coimbrãs e do seu termo. Separata da Munda. 1988.
«Por 1850, Coimbra continuava ainda o velho burgo académico, iluminando-se a candeeiros de azeite, sem águas canalizadas, nem esgotos, nem vias férreas, nem estradas, nem escolas, dormitando letargicamente à sombra da Universidade e restabelecendo-se penosamente e com lentidão do enorme abalo sofrido com a extinção das congregações religiosas que mantinham aqui nada menos de 7 mosteiros e 22 colégios».
Assim escreve José Pinto Loureiro, em 1937, no preâmbulo dos «Anais do Município de Coimbra».
… Eram de facto estas as características da vida urbana. Mas Coimbra não era exceção nem caso isolado. Era a regra. Durante a primeira metade de oitocentos muitas cidades portuguesas e mesmo a capital do reino encontravam-se, quanto ao desenvolvimento urbano, tal como as da grande maioria dos países europeus, expectantes.
Cidade de Coimbra. Pinho Henriques. Séc. XIX
… A construção das infraestruturas é um tema caro às politicas liberais. Como resultado destas iniciativas, a partir da segunda metade do século, Coimbra ganha outro protagonismo dentro da rede urbana nacional. A mala-posta, em 1855, servindo-se de uma estrutura viária renovada, volta a ligar a cidade ao Carregado, retomando-se um serviço de transporte rápido e regular. Mas o tempo de comunicação da informação ainda mais se encurta quando, em 1856, no mesmo ano em que a cidade se ilumina a gás, se inaugura o telégrafo elétrico entre Lisboa e Coimbra, e depois Porto, anunciando a chegada do comboio. No entanto, é apenas em 1864 que a cidade passa a integrar a rede ferroviária com a inauguração do troço entre Taveiro e Vila Nova de Gaia, completando-se a linha do norte. Paralelamente a administração pública municipal vai-se modernizando, de acordo com a lei de 25 de novembro de 1854, reduzindo em número as freguesias e regularizando as suas fronteiras.
Criaram-se, assim, as condições para a implementação dos melhoramentos necessários a Coimbra.
Projecto para instalação de canos de abastecimento à cadeia da Portagem. Joaquim José de Miranda. Séc. XIX
Projecto da estrada entre as ruas da Calçada e da Sofia. João Ribeiro da Silva. 1857
Ponte de Santa Clara
…Como parte do programa de regularização e subida da cota dos cais incluiu-se o redesenho do largo da Portagem e a construção de uma nova ponte. O largo ganhou uma dimensão moderna como entrada urbana e como rótula de distribuição viária, depois de vagas de demolições e obras de regularização. A ponte construiu-se em ferro, no ano de 1875, depois da demolição da antiga ponde de pedra, em 1873,
…. Pela nova ponte continuou a conduzir-se o tráfego que ligava, pelo litoral, o norte ao sul do país, cruzando o largo da Portagem e percorrendo as ruas até Santa Cruz, e daí até à saída pela rua da Sofia, prolongada na rua Fora de Portas. Era este o caminho urbano da estrada real na ligação de Lisboa ao Porto e por aqui passavam as carruagens ao serviço da mala-posta.
Macedo, M.C. Coimbra na segunda metade do século XIX. In: Evolução do Espaço físico de Coimbra. Exposição. 2006. Câmara Municipal de Coimbra. Pg. 43-64.
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