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Desde 1338, pelo menos, existia, porém, uma outra judiaria, intramuros, cuja existência foi revelada por J. Pinto Loureiro … Chamava-se Judiaria da Pedreira. Aquele investigador, citando documentos de 1338 a 1414, localizou-a, com muitas dúvidas, no troço superior da rua do Loureiro, entre a igreja de S. Salvador e o beco do Loureiro. Parece-nos, porém, que a pedreira que deu nome a esta judiaria era a de S. Sebastião. Esta ficava na área onde no século XVI se ergueu o Colégio das Artes e tomava seu nome de uma capela que aí havia dedicada àquele mártir e que foi demolida para se construir o colégio.
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A delimitação dos bairros judaicos suscita-nos uma questão: seriam tais bairros circunscritos por algum muro, ainda que fraco e só simbólico?
Um documento de 1357 … a judiaria da rua do Corpo de Deus …(os judeus estavam) morando “em sa Cerca apartada e sso chave e guarda d’El-Rey”
J. Alarcão. As Judiarias de Coimbra. In Coimbra Judaica. Actas. 2009. Coimbra, Câmara Municipal de Coimbra, pg. 25 e 26
Se D. Fernando, na década de 1370, demarcou uma outra judiaria na Rua Direita – bairro que na bibliografia coimbrã é conhecido como Judiaria Nova -, o antigo bairro judaico da Rua de Corpo de Deus não foi, porém, inteiramente abandonado … O Livro do Almoxarifado mostra que, em 1395, havia aí casas «derrubadas» … Mas havia ainda muitas casas habitadas, umas por Judeus, outras por Cristãos … regista também uma «albergaria» e uma «carniçaria» dos Judeus
… revela a existência de várias ruas na Judiaria … Quem sobe a rua atual, encontra à sua esquerda um curto beco. Este é, possivelmente, tudo quanto resta de uma antiga rua … Mas havia ainda, em 1395, uma rua da Moreira … outra da Marçaria (isto é de pequeno comércio), outra do Pintosinho, além das «azinhagas» que seriam becos sem saída.
A primitiva torre dos sinos de Santa Cruz, construída antes de 1166 em terrenos adquiridos a Judeus, ficava possivelmente nessa rua hoje desaparecida mas designada em 1395 como “caminho público que vai para a ermida do Corpo de Deus”.
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Se é certo que ainda havia moradores na judiaria do Corpo de Deus em 1395, não é menos verdade que D. Fernando delimitou na rua Direita uma outra judiaria, que os historiadores da cidade de Coimbra designam por Judiaria Nova, mas a que documentos do século XV chamam “judiaria do arravalde”, “judiaria de Sansam” ou “judiaria acerca de Sansam”. Desta judiaria que D. Fernando mandou instalar do lado norte da rua Direita não são conhecidos os limites exatos. Talvez tenha sido demarcada pelas ruas que hoje se chamam Nova … Direita e do Arco do Ivo, bem como pelo Terreiro do Marmeleiro e pela travessa do mesmo nome
… Documentos do século XV (desde 1405) falam da Porta Mourisca para a Judiaria … Esta “porta” que já existia no século XII … ficava, talvez, na confluência das atuais ruas Direita e João Cabreira … A Judiaria de Sansão tinha a sua sinagoga.
J. Alarcão. As Judiarias de Coimbra. In Coimbra Judaica. Actas. 2009. Coimbra, Câmara Municipal de Coimbra, pg. 21, 22, 24
No século XII, os Judeus de Coimbra viviam num bairro fora das muralhas, na encosta que tem hoje, como arruamento principal, a Rua do Corpo de Deus … O bairro tinha cemitério próprio, o seu almocávar … E tinha sinagoga no local (ou perto do local) onde, na década de 1360, se ergueu a ermida do Corpo de Deus
… Fora de Coimbra, mas no aro da cidade, também havia Judeus. Em 950 o Conde Ximeno Duas e sua mulher, Adosinda Guterres, doaram ao Mosteiro de Celanova (Galiza), prédios que haviam comprado a Judeus em Quites (Taveiro)
… Um documento de 968 refere-se ao Outeiro de illa Senoga, que parece corresponder a Cioga do Monte (Souselas)
… Antes de 1080, D. Sesnando autorizou o estabelecimento, em S. Martinho do Bispo, de colonos vindos do sul … mas com eles poderão ter vindo alguns Judeus, porque parece ter sido erguida, a par com a Igreja, uma sinagoga. Aliás, no livro antigo de matrizes prediais de S. Martinho do Bispo existe o microtopónimo Sioga ou Cioga. Os microtopónimos Cioga e Vale dos Judeus encontram-se também na freguesia de Santa Clara
… Em 1099, a aldeia de Enxofães (hoje freguesia de Murtede, concelho de Cantanhede) “é dita villa que est de illos Hebreus”
… Quanto à comunidade judaica urbana, é certamente muito anterior à data da sua primeira atestação documental, em 1139.
J. Alarcão. As Judiarias de Coimbra. In Coimbra Judaica. Actas. 2009. Coimbra, Câmara Municipal de Coimbra, pg. 21 e 22
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