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O problema da instituição e administração das estalagens ou «estaos», era antigo e frequentemente levantado pela administração municipal junto do poder régio. É assim que D. Duarte numa sua carta de 1436, «mandamos que taes pessoas pousem nos Estaos que há pelo caminho, ou da dita cidade [de Coimbra] e não nas aldeias e casais que estão fora das estradas».
Estalagem de caminho. De salientar os diferentes tipos de meios de transporte
Estalagem de caminho em Espanha
Nas Cortes de Lisboa de 1440 pediu-se o «estabelecimento de estaos para pousadas nas cidades, vilas e aldeias e a taxa dos mantimentos, camas e mais serviços presentes neles».
…. Há notícia da existência na cidade, nos princípios do século XVI de três estalagens, da sua localização e nomes dos proprietários:
- Estalagem Nova
Capela do Senhor do Arnado que se situava cerca do local onde hoje se encontra o monumento a Cindazunda
Situar-se-ia na entrada da cidade para quem viesse do norte, próximo da «goleta» [Então o «porto dos oleiros», teria algum pequeno canal que ligava ao rio, e assim o topónimo «goleta»], próximo do local onde existia um crucifixo em pedra, a céu aberto, que levou à edificação da Capela do Arnado no meado do século passado [século XIX]
Aquela zona era desde a Idade Média domínio dos oleiros, até que no século XVIII se mudaram para a zona do Terreiro de Santa Justa e foram ali substituídos pelos cordeeiros vindos da sirgaria de Santa Clara, destinada a outros fins.
- Estalagem do Pintor
A quinhentista estalagem do Pintor, que no século XIX era estalagem da Donata
[Situava-se] na, na Rua de Tinge-Rodilhas, depois Rua da Louça … que muito anos depois seria conhecida pela «estalagem da Donata», alojada em edifício ainda hoje existente, muito degradado, e que merecia recuperação para fins turísticos.
Nota 1
Quando era muito jovem, as camponesas que vinham vender à praça – ao Mercado D. Pedro V – guardavam neste edifício os burros onde transportavam os legumes, as galinhas, os ovos e a fruta destinados a serem ali comercializados. Atualmente, e depois de obras de recuperação, com entradas pela Rua da Moeda e pela da Louça, funciona no edifício um estabelecimento que vende, entre outras vitualhas, leguminosas, batatas e rações para animais.
Nota 2
De assinalar que esta estalagem na parte inicial do texto é designada por «Pintor» e na parte final do mesmo texto por «Prior».
- Estalagem do Paço do Conde
No centro do casario quinhentista, o gravador [Hoefnagel] fez ressaltar o Paço do Conde de Cantanhede com seu claustro, depois Estalagem do Paço do Conde.
Em 1662 estabeleceu-se uma das melhores estalagens do país no que fora o rico paço do Conde de Cantanhede, D. Pedro de Menezes, no centro mais vivo da cidade, próximo da praça, da Câmara, dos açougues, da «casa-do-ver-do-peso», ponto de reunião obrigatório a mercadores e vendeiros, por ali chegarem e estacionarem os carros e azémolas que vinham do sul, do norte e das Beiras com a maior parte dos géneros de que se alimentava a cidade. Era o terminal dos grandes carroções, já que eles, por disposição camarária não podiam ir até à Praça.
O edifício magnífico, fora construído nos anos do meado do século XVI …. Parece que a ocupação do edifício por tão nobre família não chegou a efetivar-se … nos primeiros meses do ano de 1622, escreveu a Filipe III … «que fizera uma estalagem para agasalhar os passageiros e caminhantes e almocreves com muitos aguazalhados [quartos] e camaras fechadas para fidalgos e pessoas graves que fica sendo dos melhores deste reino por estar na melhor passagem da cidade e junto da praça dela…».
Silva, A.C. As Estalagens Coimbrãs e do seu termo. Separata da Munda. 1988.
Localização |
Número de propriedades |
Madalena (corresponde a parte da atual Fernão de Magalhães … troço delimitado a Norte pela Rua da Moeda e a Sul pelo Largo das Ameias) |
8 |
Rua da Moeda |
7
|
Rua dos Tanoeiros (troço da atual Rua Adelino Veiga) |
3 |
Rua dos Caldeireiros (troço da atual Rua Direita) |
1 |
Rua dos Piliteiros (entre a igreja de S. Tiago e o rio Mondego) |
1 |
Montarroio
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2 |
Rua de Coruche (atual Rua Visconde de Luz) |
1 |
Judiaria Velha (atual Rua Corpo de Deus) |
24 |
Rua Nova da Ferraria (“rua que se começa aa porta dalmedina e se vai finir na rua da moreira” … corresponderia à atual Rua Fernandes Tomás) |
20 |
Rua da Almedina (… na bibliografia consultada não existe qualquer referência à Rua da Almedina) |
15 |
Da sota, acima da Porta de Almedina ao adro da Sé
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4 |
Do adro da Sé aos Paços do Rei
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22 |
Dos Paços do Rei ao Castelo
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10 |
S. Gião (atual Rua das Azeiteiras) |
1 |
Total das propriedades inventariadas |
119 |
Composição das propriedades régias |
|
Tipo de bem |
Número |
Casas |
87 |
Tendas |
9 |
Pardieiros |
8 |
Chãos |
9 |
Cortinhais |
4 |
Casa de falcoaria e pombais |
2 |
Total dos bens arrolados |
119 |
… verifica-se que a totalidade dos chãos referidos se situam extramuros: seis na Judiaria Velha, os restantes três dispersos pelas Ruas da Moeda, dos Tanoeiros e de Coruche. De cinco deles sabemos que foram casas, noutro teria existido uma tenda. O mesmo acontece com o grosso dos pardieiros contabilizando-se seis no Arrabalde e dois na Almedina … concluímos que à exceção de dois casos, todas as propriedades régias que nessa data se encontravam em ruína têm em comum a mesma situação geográfica: o arrabalde. Se procurarmos as causas da degradação destes imóveis surge-nos invariavelmente a mesma explicação: «… derrubados cando el rey Dom Anrique veio a este regno», que «jaz ora em campo por que foy destruída pola guerra» ou «… que queimarom os castelaaõs…»
O tombo descreve-nos que o raio de ação do exército castelhano por ocasião do cerco de Coimbra. A ausência de muralhas no arrabalde facilitou certamente o avanço do inimigo cujo rasto de destruição deixou vestígios desde a zona ribeirinha, na Madalena e Rua da Moeda, até aos muros da cidade, na Judiaria Velha.
Trindade, L. 2002. A Casa Corrente em Coimbra. Dos finais da Idade Média aos inícios da Época Moderna. Coimbra, Câmara Municipal de Coimbra. Pg. 118 a 119, 124 e 125
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