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A' Cerca de Coimbra


Quinta-feira, 17.10.24

Coimbra: Arzila, uma freguesia que tem memória 2

Na entrada anterior já nos referimos ao projeto que o Grupo Folclórico e Etnográfico de Arzila, “50 anos, 50 eventos”, está a concretizar no ano em curso e que pretende constituir-se como ponto de partida para um caminho ainda mais exigente e rigoroso. No âmbito das iniciativas deste projeto encontra-se inserida a atividade que foi rotulada como “Casa do Lavrador”. Trata-se da instalação de peças recolhidas pelo Grupo ao longo dos anos, relacionadas com o mobiliário existente na habitação de um lavrador arzilense, com alguns haveres, na primeira metade do século XX.

Se a instalação foi conseguida, a casa onde foi efetivada – em conjunto com uma outra que lhe é vizinha e se encontra em adiantado estado de ruína – merecem, por si só, uma visita.

Estamos perante casas muito antigas que nos possibilitam o conhecimento da tipologia das habitações de Arzila, construídas com recurso a materiais que ali abundavam, ou seja, seixos rolados e argila. Estes elementos asseguravam não só uma grande durabilidade do imóvel, como uma adequada qualidade de vida, pois no verão tornavam o seu interior fresco e seco e, no inverno, retinham o calor e absorviam a humidade.

Arzila. Casa do lavrador. Foto Manuela Gabriel 1a.Arzila. “Casa do Lavrador”, fachada virada a sul

Arzila. Casa do lavrador. Foto Manuela Gabriel 1b.Arzila. “Casa do Lavrador”, fachada virada a sul, pormenor. Foto Manuela Gabriel

Arzila. Casa do lavrador. Foto Manuela Gabriel 1f.Arzila. “Casa do Lavrador”, parede lateral virada a nascente. Foto Manuela Gabriel

Arzila. Casa do lavrador. Foto Manuela Gabriel 1c.

Arzila. “Casa do Lavrador”, tardoz, virado a norte. Foto Manuela Gabriel

Arzila. Casa do lavrador. Foto Manuela Gabriel 2a.

Arzila. Casa em ruína, fachada virada a norte. Foto Manuela Gabriel

Arzila. Casa do lavrador. Foto Manuela Gabriel 2b.

Arzila. Casa em ruína, parede lateral virada a poente. Foto Manuela Gabriel

Na construção utilizavam a técnica da taipa, também designada por taipa de pilão, que, de acordo com a revista “História”, n.º 19, da National Geographic, começou a ser usada na Mesopotâmia há 7.500-5.500 AC.

A técnica referida também foi identificada pela Sr.ª Dr.ª Helena Moura, da Divisão de Salvaguarda, Gestão e Conhecimento do Património Cultural da CCRC, como sendo utilizada em casas antigas, localizadas na freguesia de S. Martinho do Bispo.

Se tomarmos como referência, por permitir uma mais fácil leitura, a parede virada a poente da casa em ruína já atrás referida, na análise de um leigo na matéria, o construído poderá ser descrito como se segue.

A parede, constituída por camadas sobrepostas de argila e de seixos, estes com diferentes dimensões, mostra uma espessura da ordem dos 44-45 cm, tem cerca de três metros de altura e cerca de 4 metros de largura.

Na zona superior ainda são visíveis os buracos que, no decurso da construção, serviam para fixar as taipas. Contudo, na parte inferior da parede esses orifícios não são percetíveis e, por isso, provavelmente será de se aceitar que a construção ou seria executada sem recurso à taipa ou esta seria escorada.

Os materiais utilizados na construção desta casa devem ter sido recolhidos em barreiros situados em Arzila, nos lugares conhecido por “Mortal” e “Cova dos Cortiços”. Através de referências que chegaram aos nossos dias sabemos que o barro seria, previamente, amassado no exterior, a fim de se conseguir uma maior homogeneização.

Neste imóvel ainda se torna possível caracterizar três tipos de camadas construtivas.

- Caboucos e camada inferior da parede, esta com cerca de 60 cm de altura, onde foram utilizados seixos rolados com maior dimensão e os espaços intersticiais preenchidos com barro.

- Camada intermédia, com cerca de 50 cm de altura, constituída, predominantemente, por seixos miúdos, aglutinados por argila.

- Camada(s) superior(es), com cerca de 50 cm de altura, utilizando seixos de dimensão um pouco superior aos da camada intermédia e em menor número.

Deve assinalar-se, ainda, a existência de dois outros tipos de camadas.

- Camadas horizontais, separando faixas construtivas, com cerca de 7 cm de espessura e 44-45 cm de comprimento, que utilizam na construção um material branco, muito presumivelmente, cal.

- Camadas verticais e/ou oblíquas, separando faixas construtivas, com cerca de 7 cm de espessura, e 44-45 cm de comprimento.

A constatação da existência deste tipo específico de casas em Arzila constitui uma descoberta que, em nossa opinião, carece necessariamente de uma intervenção de emergência por parte dos serviços municipais e de um estudo mais aprofundado por entidades com competência para tal.

Fica o alerta na esperança de que estes testemunhos do passado e da nossa cultura não sejam rapidamente destruídos, tal como tem acontecido a tantos outros bens culturais do povo que fomos e que somos.

Rodrigues Costa

Agradeço ao Senhor Professor Doutor José António Gabriel e à sua Esposa, Sr.ª D.ª Manuela Gabriel - um dos casais fundadores do Grupo de Arzila -, a ajuda na recolha de informações e de imagens.

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por Rodrigues Costa às 22:07

Terça-feira, 06.02.24

Coimbra: Viola toeira, na Miami University, em Oxford, Ohio, EUA 3

No início desta pequena série de três entradas, dedicadas à viola toeira de Coimbra, escrevemos que a mesma seria terminada recordando “o que, em 1983, quando era Vereador da Cultura da Câmara Municipal de Coimbra o saudoso Fausto Correia e eu tinha a honra de chefiar o Departamento de Cultura, se implementou relativamente a este instrumento”.

Começo por citar uma notícia publicada no Diário de Coimbra de 9 de maio de 1983 – que Rui Marques, a quem agradeço, me disponibilizou – e onde se pode ler o seguinte:

Câmara cedeu violas toeiras a grupos folclóricos do Concelho

Viola toeira 5.jpeg

Viola toeira construída por Raúl Simões. Imagem acedida em: https://www.muralsonoro.com/mural-sonoro-pt/2014/3/4/viola-toeira 

A Câmara Municipal de Coimbra entregou anteontem sete violas toeiras a grupos folclóricos do concelho.

O vereador do Pelouro, Fausto Correia, disse ao nosso jornal que esta medida vem na sequência de um processo de recuperação do instrumento musical, tradicional de Coimbra.

«O processo – salientou – iniciou-se com a aquisição dos instrumentos e da técnica, a Raul Simões, último fabricante, em Coimbra, da viola toeira».

Raul Simões fotografado por Benjamin Pereira em 1

Raul Simões, construtor e exímio tocador de viola toeira

«A partir daí – acrescentou – o professor Luís Filipe construiu 10 violas, sete das quais foram cedidas a grupos folclóricos, duas ficaram ao cuidado a Câmara e uma foi doada ao Instituto Português do Património Cultural».

Na sessão, que decorreu nos Paços do Concelho sob a presidência de Mendes Silva, presidente da Câmara, ficou ainda decidida a organização de um curso de aprendizagem de viola toeira.

O curso vai realizar-se no edifício Chiado em Coimbra, na próxima semana.

Viola toeira, notícia do DC.jpgIn: Diário de Coimbra, de 9 de maio de 1983

Uma outra notícia, saída no mesmo periódico, informa que no ato atrás referido estavam ainda presentes as Pessoas que então integravam a Comissão de Análise dos Grupos Folclóricos, constituída pelo Presidente da Federação do Folclore Português, Sr. Augusto Gomes dos Santos, pelo Doutor Nelson Correia Borges e pelo Dr. Francisco Faria responsáveis pelo reconhecimento “de interesse folclórico” dos grupos do Concelho de Coimbra.

O jornal O Despertar de 13 de maio do mesmo ano deu a conhecer o nome dos grupos a quem foi oferecida uma vila toeira: Camponeses do Mondego, de Ribeira de Frades; Típico da Palheira; Rancho de Vila Nova de Cernache; Vigor da Mocidade, de Fala, S. Martinho do Bispo; Rancho Típico do Bordalo; Rancho de Assafarge; e Casa do Povo de Ceira.

De memória, acrescento ainda as seguintes notas:

- O Município de Coimbra adquiriu aos herdeiros de Raul Simões, o último construtor de violas da cidade e homem que também tocava viola toeira, todo o material existente na sua oficina. Seguidamente, estabeleceu um acordo com o Museu Nacional de Etnologia, a fim de este levar a cabo a identificação e a catalogação dessas peças, cedendo-lhe, como contrapartida, alguns artefactos. Na altura, esse material destinava-se a reconstituir, no âmbito do projetado Museu da Cidade, a oficina do mestre violeiro.

- Algum tempo depois, cessei as minhas funções na Câmara de Coimbra e, por isso, desconheço o destino dado a esse precioso material. É evidente que o projeto da sua musealização, tal como a instalação do Meseu da Cidade, foram abandonados. Parece-me premente saber onde se encontra esse material, do qual faziam parte madeiras, moldes, ferramentas e produtos químicos que eram utilizados na sua oficina pelo último violeiro de Coimbra.

Após ter partilhado com os leitores estas informações talvez seja possível compreender melhor o espanto e a tristeza, para não dizer a revolta, que expressei na primeira destas entradas.

Rodrigues Costa

 

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por Rodrigues Costa às 10:59

Terça-feira, 09.03.21

Coimbra: Av. Navarro no dealbar do séc. XX

Surgiu, recentemente, nas redes sociais esta bela fotografia:

Av. Emídio Navarro. Coimbra AML a.jpg

Av. Navarro com comboio a chegar à Estação nova. 1910-1917. Acedida  em: http://arquivomunicipal2.cmlisboa.pt/xarqdigitalizacaocontent/Documento.aspx?DocumentoID=1634678&AplicacaoID=1&Value=13c2034062824bf375d7c03644adbdb93f8b0298073a5a6a&view=1

Trata-se de uma fotografia do espólio do Arquivo Municipal de Lisboa, onde foi identificada, em 2014 por Paulo Mestre, membro da Associação Portuguesa dos Amigos dos Comboios que a divulgou no blogue LusoCarris fórum.

Tendo solicitado ajuda para a datação da imagem ao meu filho Pedro Rodrigues Costa – um estudioso da temática dos comboios e carros elétricos – ele juntou o seu saber ao de outros dois conhecedores desta matéria, Jorge Oliveira e Fernando Pedreira, que acabaram por propor o período compreendido entre 1910 e 1917.

A proposta teve por base os seguintes pressupostos:

- A locomotiva que se vê na fotografia é da série CP 17 a 22 e foi construída em 1862.

Esquena das locomotivas.jpg

Esquema das locomotivas da série CP 17 a 22. In: Nomenclatura das Máquinas a vapor

 Segundo Fernando Pedreira este tipo de locomotivas fez parte do parque de Coimbra/Alfarelos até, pelo menos, meados dos anos 40 do século passado, devendo a sua utilização ter-se iniciado entre 1911 e 1919, ou mesmo antes. Entre 1916 e o fim de 1919 devem ter andado a queimar lenha, sendo que no «tender» não se vê nem lenha nem os acrescentos que lá colocavam para a conter, não tendo a chaminé para-fagulhas, tipo «faroeste» que muitas tiveram nessa altura. No entanto, já vi uma foto de uma delas, dos anos da 2ª Guerra mundial, no Largo da Portagem, a rebocar um vagão.

Pedro Rodrigues Costa, acrescentou ainda que a fotografia terá de ser posterior a 1911 porque nela se vêm os postes da rede de elétricos de Coimbra e porque num deles se vêm dois belos candeeiros de iluminação pública a gás que só em 1919 foram substituídos por iluminação elétrica, aproveitando para o efeito a infraestrutura dos carros elétricos.

Pormenor Coimbra AML c.jpg

Pormenor da fotografia acima publicada

Jorge Oliveira salientou ainda que no edifício da esquina se vê, uma pala ou para-sol em ferro, similar ao do edifício Chiado e ao da Havaneza ao fundo da Rua Visconde da Luz, representativo do estilo Arte Nova.

Ali funcionava, na minha meninice, a firma Júlio da Cunha Pinto, que vendia tabaco, jogos de lotaria, perfumes, edição de postais ilustrados. E, acrescento eu, papel selado e selos fiscais, um imposto encapotado para quem fazia algum contrato ou tinha que se dirigir a uma entidade oficial.

Deste edifício existe uma outra fotografia bem elucidativa.

Av. Emídio Navarro. Frente à Estação Nova.jpgEdifício na esquina da Av. Navarro com o Largo das Ameias. Postal ilustrado.

Por último, Jorge Oliveira socorrendo-se de um texto de Carlos Ferrão, identifica o edifício que se vê na fotografia seguinte como sendo o mais luxuoso hotel da cidade no princípio do séc. XX, o Palace Hotel, que viria a ser devorado pelo fogo em 30 de Abril de 1917.

Av. Emídio Navarro antes da Estação Nova 02. Pa

Postal ilustrado, onde é visível uma placa publicitária do Palace Hotel

No primeiro andar do edifício que o substituiu funcionou um local onde as artes musicais e dança passaram a ser rainhas. A abertura solene e inauguração da Academia de Música de Coimbra foi a 10 de Fevereiro de 1929.

Edifício onde funcionou a Academia.jpg

Edifício onde funcionou a Academia de Música de Coimbra. Foto do espólio fotográfico de Jorge Oliveira

Posteriormente, neste edifício, de acordo com as minhas memórias, funcionou o Hotel Internacional e um Café com o mesmo nome, muito frequentado pelos estudantes de então.

Av. Emídio Navarro e Estação Nova 02.jpg

Postal ilustrado, onde são visíveis os para-sol do Café Internacional

Av. Emídio Navarro. Café Internacional 02.jpg

Café Internacional da minha juventude, hoje loja de moda

Saliente-se, como conclusão, que ao pretender datar uma fotografia, a análise da mesma e o saber de Alguns tornaram possível recordar diversos e interessantes factos da história coimbrã.

Rodrigues Costa

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por Rodrigues Costa às 19:07

Quinta-feira, 26.07.18

Coimbra: O Pelourinho e as suas peregrinações pela cidade 2

Orgulhoso e altaneiro, bem cioso dos direitos que representa, o pelourinho não desvenda com facilidade a sua origem, mas verificamos que a sua existência se estendeu a toda a Europa ocidental, cronologicamente até à implantação das ideias liberais e que, nalguns países, ultrapassou mesmo esta época. Sabemos também que atravessou os mares e se implantou no Novo Mundo por influência de portugueses, espanhóis e ingleses.

Herculano pretende ver a sua origem associada ao direito itálico (jus italicum) que consignava uma total organização municipal e permitia levantar no forum a estátua de Marsyas ou de Sileno com a mão erguida, símbolo da liberdade burguesa.

Pinho Leal, filia a origem destes monumentos na columna moenia, colocada pelo cônsul romano Moenio na praça, isto é, no forum que se estendia frente à sua casa, onde se realizavam os julgamentos feitos pelos magistrados (triumviros), se aplicavam os castigos públicos e se faziam as festas populares.

Teófilo Braga vê no pelourinho a representação do Genius Loci romano, patrono da independência municipal.

Luís Chaves filia o aparecimento do pelourinho na antiga imagem do poste pessoal ou coletivo de um clã, de um povoamento ou de um agrupamento religioso.

Mas a sua origem, provavelmente, tem de se ir buscar em tempos ainda mais recuados.

Todas as picotas, mais ou menos esbeltas, mais ou menos ricas na sua decoração, têm um elemento comum: a coluna.

… Monsenhor Nunes Pereira, nos idos de Quarenta, escrevia que os pelourinhos “testemunham a autonomia (jurisdicional, digo eu) que a terra goza ou gozou noutros tempos. Devem ser estimados, conservados e reconstituídos onde isso possa fazer-se”.

*

 O pelourinho de Coimbra transferiu-se do adro da Sé Velha, onde se encontrava junto à Casa do "Vodo" (casa da audiência da Câmara que se erguia frente à igreja da Sé [Velha] para a praça do Comércio nos finais do século XV (1498).

Retirado deste lugar, deslocou-se para o Largo da Portagem (1611), tendo então sido adaptado a fontanário. Aí permaneceu até 1836, ano em que o desmontaram e armazenaram até 1894. 

Grimpa do pelourinho de Coimbra, original.jpg

Grimpa do pelourinho de Coimbra, original

 Do original resta apenas a grimpa, conservada no acervo do Museu Nacional de Machado de Castro.

*

Da sua reconstrução, ocorrida nos anos oitenta do século passado, posso dar testemunho.

Eu era, ao tempo, Chefe de Serviços de Turismo aos quais estava adstrito o Gabinete de Salvaguarda do Património, de que era responsável o arquiteto António José Monteiro.

Tendo sido determinado pelo então Presidente da Câmara, Dr. Mendes Silva, a recuperação da Praça do Comércio, na altura mais conhecida por Praça Velha, entendeu-se reinstalar ali uma reconstituição do Pelourinho, até porque ele, outrora, já estivera erguido naquele local.


Pelourinho de Coimbra na Portagem.jpg

 Pelourinho de Coimbra na Portagem

 

Baseado em desenhos que se pensam ser fidedignos, o arquiteto António José Monteiro riscou uma proposta reconstrutiva e o saudoso Mestre Pompeu Aroso bateu as partes metálicas, copiando-as do original, existente no Museu Machado de Castro. 

 

Pelourinho de Coimbra c.JPG

 Pelourinho de Coimbra reconstituição

 

Praça Velha com reconsituição do pelourinho.jpg

 

Praça Velha com reconstituição do pelourinho

 

 

Bibliografia

. Anacleto, R. 2008. Para que servem os pelourinhos? Conferência proferida nas I Jornadas de História local, Pampilhosa da Serra. Auditório Municipal, 2008.04.10 e 2008.04.11.

. Malafaia, E.B.A. 1997. Pelourinhos portugueses. Tentâmen de inventário geral. Col. Presenças de Imagens. Lisboa, Imprensa Nacional Casa da Moeda.

. https://pt.wikipedia.org/wiki/Pelourinho_de_Coimbra. Acedido em 2018.07.17

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por Rodrigues Costa às 19:03


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