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A' Cerca de Coimbra


Quinta-feira, 25.10.18

Coimbra: Largo da Portagem e Cais do Cerieiro 2

Ponte de Santa Clara.jpg

 Ponte de Santa Clara

 …. Com a construção da nova ponte a uma cota mais elevada e o aterro de defesa da cidade contra as inundações, o município pôde finalmente projetar o almejado plano de embelezamento da cidade a partir da sua principal entrada, o Largo da Portagem. O projeto apresentado pelo primeiro engenheiro municipal, contratado especialmente para esta obra previa a construção de um Passeio Público entre o cais das Ameias e a Ponte e, a regularização do Largo da Portagem. Implicou não só um grande aterro, como a expropriação e demolição total de dois quarteirões de edificações. O projeto esboçava uma praça triangular, limitada a norte por um novo edifício a construir no alinhamento da ponte e alargava a entrada da rua da Calçada.

 

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  António José de Sá, “Projecto de uma nova praça a abrir no sitio da antiga portagem …” 1874

 

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 António José de Sá, “Projecto dos melhoramentos a fazer no Largo da Portagem”. 1874

A vermelho os novos edifícios que regularizariam a praça triangular, visível ainda o cais e do lado direito o arranque do parque público

 O resultado não foi o projetado pelo engenheiro António José de Sá que, entretanto, tinha abandonado os quadros da edilidade.

O edifício a marcar o alinhamento da ponte não foi construído e o largo limitado, do lado norte, por um tosco gradeamento servindo de guarda corpos para a rua da Saboaria que se encontrava na cota original quase cinco metros abaixo do novo largo. Só no início do século XX, graças à iniciativa do Banco de Portugal, foi construído o alçado norte mas que, apesar da qualidade do projeto do arquiteto Adães Bermudes, resultou num conjunto de edifícios sem qualquer unidade, marcado por cérceas completamente distintas. Já a marginal abundantemente arborizada, criando o desejado passeio público que permitiu ultrapassar a falta de um projeto de conjunto para os edifícios, que aliás tardaram a ser construídos, só se completando a frente ribeirinha já no início do século XX.

Calmeiro, M.I.B.R. 2014. Urbanismo antes dos Planos: Coimbra 1834-1924. Vol. I. Tese de doutoramento em Arquitetura, apresentada à Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, pg. 205-211, 241-243

 

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por Rodrigues Costa às 22:02

Terça-feira, 23.10.18

Coimbra: Largo da Portagem e Cais do Cerieiro 1

Também no final desse ano se principiou o alteamento do Largo da Portagem junto à ponte, demolindo a capela, o pelourinho e a devoluta torre de portagem.

(Nota de rodapé: Na sessão de câmara de 28 de Novembro de 1836 deliberou-se a “demolição do torre sobre a ponte em razão de serem necessários os entulhos della para altear o largo da Portagem”)

p. 206 a [para digitalizar. Passado ao Espelho].jp

Largo da Portagem [sendo visível a cadeia demolida em 1857]

p. 206..jpg

 José Carlos Magne, Mapa de ruas desde a Portagem até à capela de St. António da Estrela, último quartel do século XVIII

Verifica-se assim que estas obras, já projetadas e orçadas em 1835, se articulavam com um plano mais vasto que incluía o alargamento da principal rua da cidade e troço da estrada de Lisboa-Porto, bem como a regularização das margens do Mondego e do Largo da Portagem, para além da imprescindível ponte nova a uma cota mais alta.

De forma concertada, mas muito morosa, este primeiro conjunto de intervenções de reforma urbana marcou de forma indelével a paisagem urbana da cidade junto ao rio e materializou o primeiro plano de embelezamento promovido pelo município.

…. Pese embora a boa vontade do município para a execução deste plano, as obras das margens, bem como a ponte, estavam dependentes do poder central, não só pelas debilidades financeiras que caracterizavam as contas municipais, mas porque todas intervinham em domínios de tutela governamental. Os cais, do domínio da Superintendência do Encanamento do Mondego e a Rua de Coruche tal como a ponte, enquanto troço de uma estrada de 1.ª ordem, dependiam do Ministério do Reino. Esta dupla tutela embora vantajosa por permitir a comparticipação dos cofres centrais no custo das intervenções, geralmente retardava as intervenções, dependentes de estudos e da disponibilidade financeira central.

Exemplo desta morosidade é o processo de construção da nova ponte metálica em substituição da antiga ponte manuelina assoreada pelo rio. Os primeiros estudos datam de 1859, mas só três anos depois foi publicado o decreto autorizando o seu projeto e construção e, finalmente, em 1873 teve início a sua construção. O caso da rua de Coruche, embora também tenha sido um processo moroso, ilustra as vantagens desta dupla tutela, consagrada pela alteração da sua toponímia para Rua Visconde de Luz em agradecimento ao Diretor-Geral das Obras Públicas. Apesar de incluída no plano delineado em 1935 só vinte e dois anos depois, sob a presidência de António Augusto da Costa Simões, foi solicitado e aprovado o traçado da rua, proposto pelo Diretor das Obras Públicas do Distrito, João Ribeiro da Silva Araújo.

p. 209.jpg

 João Ribeiro Silva, Projeto da estrada entre as ruas da Calçada e da Sofia, 1857

 Pela dimensão das expropriações e dos consequentes realojamentos, esta obra só se tornou possível pelo auxílio do governo que, comparticipou um terço do valor do seu custo, para além de ter aprovado o empréstimo contraído pela Câmara de Coimbra.

A intervenção assume um caráter exemplar porque, dentro do espirito da época, para além de definir os alinhamentos, procurou traçar uma rua moderna garantindo a qualidade estética do conjunto através de regras que definiam o tipo e altura das cantarias, de portas e janelas, os remates da fachada e a forma e prazos da construção.

Neste sentido, veja-se o plano traçado, na mesma época, para o Cais do Cerieiro, a montante de ponte, mas que por falta de apoio governamental e de verbas do município foi adiado.  Previa a construção de um cais e de um passeio público sobre o rio para recreio da população.

“Ao deplorável estado em que actualmente se acha o sítio denomonado – Logar do Cerieiro – prestou atenção esta Camara, deliberando unanimente proceder alli à construção d’uã doca, e d’um caes em continuação do que já existe, e resguarda a cidade das inundações do Mondego, sendo do mesmo tempo um dos nossos mais bellos passeios … O estrangeiro que visitar Coimbra não encontrará um sitio lúgubre, qual hoje é, em perfeito contraste com tantas bellezas, que aformozeam este lado da cidade, gozará de uma vista aprazível e harmónica que se desenrola em toda esta linha, que banha as aguas do Mondego. Não data de hoje, nem sae de nós o pensamento da obra projectada. A todas as administrações camarárias se tem apresentado a ideia da constinuação do caes, assim abaixo das Ameias, como acima da Ponte, no logar do Cerieiro a terminar na ínsua de João Gomez Vianna; e se ate hoje não foi lavada a efeito esta última parte, as cauzas independente da vontade dos ilustres vereadores, que nos precederam, deram a isso logar. A construcção do caes, como a obra de mais vulto deste municipio, tem sido sempre uã questão económica, que umas vezes a necessidade adiou, outras a proporção dos recursos deixou mesquinha, e acanhada, mas em todas as epochas desde mil oitocentos trinta e quatro fói reconhecida a sua necessidade, e importância, andou sempre na ordem do dia dos melhoramentos municipais de maior alcance e o orçamento traria anualmente para ella a verba d’um conto de reis”.

Apesar da pertinência deste plano, a construção do Passeio Público entre as Ameias e a ponte, o alteamento e regularização do Largo da Portagem e a construção da nova ponte foram adiados até 1873.

 Calmeiro, M.I.B.R. 2014. Urbanismo antes dos Planos: Coimbra 1834-1924. Vol. I. Tese de doutoramento em Arquitetura, apresentada à Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, pg. 205-211, 241-243

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por Rodrigues Costa às 09:16


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