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Já em 1549 tinham os «Monges de S. Jerónimo» adquirido um terreno, a norte do castelo de Coimbra, não longe da porta oriental da cidade (chamada «porta do castelo»), para ali construírem o seu Colégio Universitário. Havia nesse terreno umas casas, onde em 1550 se instalaram provisoriamente, principiando então a viver vida colegial.
Era muito deficiente tal instalação... projetaram então construir um edifício condigno no seu terreno junto da muralha, não longe do castelo, procurando para isso ampliar essa sua propriedade com a aquisição de terrenos contíguos.
... Em 1562 achavam-se os pobres universitários jerónimos em situação extremamente aflitiva, não tenho onde residir... Conseguiram, em 1565, o terreno de que para isso precisavam, junto do castelo.
Colégio de S. Jerónimo, fachada ocidental
... as obras do edifício realizaram-se então, mas ainda com incidentes embargatórios em 1566 e 1568 ... Ficou um grandioso edifício colegial que, bastante modificado, ainda hoje existe ... A sua fachada oriental erguera-se sobre a muralha da cidade, desde a porta do castelo, à qual ficou encostada a igreja, e continuando-se o dormitório em direção ao Norte. Ainda hoje se reconhece bem delimitado o edifício, com os seus cubelos de reforço na fachada oriental, onde assentam terraços, e ainda se admira a grandiosidade do portal, a majestosa escadaria de acesso ao 1.º andar, assim como o formoso claustrim, infelizmente desfigurado pelas infelizes construções, que modernamente lhe sobrepuseram.
Colégio de S. Jerónimo, escada nobre
Os monges adquiriram também, em 1587, por compra aos padres da Companhia (de Jesus), uma boa cerca na encosta do monte, ou «Ribela», sobre a qual abriram as janelas de toda a fachada oriental do edifício, e que descia até à rua que veio a denominar-se de «Entre-muros», ladeante da quinta de Santa Cruz.
... Horrivelmente se fez sentir neste Colégio o terramoto de 1 de novembro de 1755. As paredes abriram grandes brechas, e houve desabamentos parciais, que obrigaram os monges a fugir ...Em 1834 foi este edifício abandonado ... em ... 21 de novembro de 1848 ... destinou-o para hospital ... 21 de junho de 1851 ... o hospital dos Lázaros ... em fins de 1853 ... o hospital da Convalescença.
Vasconcelos, A. 1987. Escritos Vários Relativos à Universidade de Coimbra. Reedição preparada por Manuel Augusto Rodrigues. Volume I e II. Coimbra, Arquivo da Universidade de Coimbra, pg. 236-240, do Vol.
Na quinta da Ribela (atual Av. Sá da Bandeira), no tempo do Prior D. Jerónimo da Cruz (eleito em 22 de Abril de 1557), foram construídas três azenhas que giravam com a água previamente recolhida num grande tanque. A água era conduzida do depósito às rodas das azenhas «por canais levantados em arcos de pedra». Nos três meses do Estio, o trigo de Santa Cruz podia moer-se em duas atafonas da quinta mandadas fazer pelo mesmo Prior. Estas moendas, quase dentro da cidade, deviam constituir uma exceção. (O mosteiro de Celas tinha também uma atafona).
…
Os moinhos situavam-se mais longe (da cidade), a começar nos subúrbios, e sobretudo junto dos rios e ribeiros do termo (e de fora dele).
… Os moleiros, como quaisquer outros mecânicos, não podiam exercer o ofício sem prestar juramento … Considerando como tais (moleiros) todos os que explicitamente não se destinam apenas a trazer e a levar o pão ao moinho, encontramos um mínimo de 306 unidades.
… O abastecimento de Coimbra exigia uma constante azafama dos moleiros, um vai-e-vem entre a cidade e os moinhos.
… Os moleiros de Coimbra não se podiam recusar a moer «segunda» (Por «segunda» neste parágrafo, entende-se milho, centeio e cevada»), nem a transportar taleigos de qualquer tamanho que fosse. Uma vez saído o pão da casa do dono, devia ser levado, diretamente, à Casa do Peso da Farinha. Aí ficava registada, em livro próprio e segundo as formas legais, a farinha que devia ser recebida.
… o Peso da Farinha estava na Praça «à porta dos açougues desta cidade debaixo dos arcos que aí estão»
Oliveira, A. 1971. A Vida Económica e Social de Coimbra de 1537 a 1640. Primeira Parte. Volume I. Coimbra, Universidade de Coimbra, pg.491 a 497.
O «campo» começava dentro da própria cidade, sob a forma de quintais onde cresciam hortas, parreiras e árvores que tornavam risonho o aglomerado ao altearem-se por entre as casas empilhadas em ruas estreitas. Topónimos como Rua das Parreiras e Rua da Videira parecem inculcar o facto.
Da sua presença, no burgo de Celas, populoso já em 1608, não se pode duvidar.
… A Porta do Castelo dava para olivais ou vinhas. Junto dela laboravam lagares de moer e espremer a azeitona
… Para lá dos muros da cerca dos Bentos, a sua quinta, até junto ao rio, com um salgueiral plantado nas margens … As quintas da Alegria, que se continuavam ao longo do rio, para montante, até encontrar «o aprazível e cheiroso das hortas da Arregaça»
… A Porta Nova conduzia, por sua vez à Ribela. Neste vale, o longo dos anos, é fácil encontrar referências a vinhas, hortas, olivais, nogueiras, laranjeiras e sinceiros; a lugares devassos para pasto do gado da cidade, «grosso, miúdo ou bestas»; ao curral do concelho, a «engenhos» de fazer azeite ou moer pão, movidos a água pelo menos durante uma parte do ano.
… As outras saídas da cidade, todas elas, conduziam, igualmente a paisagens semelhantes, logo que terminavam as casas.
Oliveira, A. 1971. A Vida Económica e Social de Coimbra de 1537 a 1640. Primeira Parte. Volume I. Coimbra, Universidade de Coimbra, pg.321 a 325
O trânsito, para Sul ou para Norte do País, obrigatoriamente, devia passar pela cidade e por dentro da cerca: almocreves, mercadores, caminhantes e «outros quaeesquer que levarem cargas». A pena era grave: perda das bestas e do que levassem.
O trânsito que vinha do sul entrava, como é óbvio, pela ponte. Daqui passava pelo Arrabalde em direção à porta de Almedina. Em vez de seguir adiante, penetrava na cerca por esta porta e ia sair pela do Castelo. Descia depois pela Ribela, pelo caminho que passava atrás da torre do mosteiro de Santa Cruz. Uma vez de novo no Arrabalde, o tráfego apanhava o caminho de saída: por Montarroio, «assy como se vay sair per cima dos paacos da gafaria»; daqui em diante, «per sob onde esta a forca, assy se vay sair aa ponte da Auga de Maios». Chegado a este ponto, seguia «pelas stradas direitas».
O caminho do trânsito norte-sul não foi indicado. Talvez fosse o mesmo, agora, descendo a colina.
No Arrabalde, «a par de Sam Bertolameu e a par de Santiago» ficaram as estalagens. Mas não podiam vender outra coisa que não fosse palha.
Oliveira, A. 1971. A Vida Económica e Social de Coimbra de 1537 a 1640. Primeira Parte. Volume I. Coimbra, Universidade de Coimbra, pg.156 e 157
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