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O problema do alojamento das classes mais carenciadas, maioritariamente residentes na Baixa, onde … se verificavam os maiores problemas de insalubridade, gerou várias tentativas de reforma urbanística, contudo sempre infrutíferas.
D. Manuel Correia de Bastos Pina
A construção de um bairro, especificamente destinado ao alojamento operário, começou a ser equacionada pelo município pouco depois da compra da Quinta de Santa Cruz. Em 1868 reservou-se alguns dos terrenos adquiridos para construção de um bairro operário, mas à semelhança de outros projetos também este foi sendo protelado.
Foi pela iniciativa do Bispo Conde, D. Manuel Corrêa de Bastos, que o desejo de um bairro para as classes mais carenciadas foi concretizado. Em 1897, quando se assinalavam os 25 anos do seu episcopado, o bispo recusou a oferta de uma valiosa cruz que lhe pretendiam oferecer e “pediu que ella fosse traduzida n’um pensamento mais levantado” e o seu valor aplicado na construção de um bairro para os operários mais carenciados.
Localização do Bairro Operário
Neste sentido, a 20 de Maio de 1897, solicitou ao município a cedência de um terreno na Quinta de Santa Cruz, entre o matadouro e o antigo caminho de Montarroio. Não estando a câmara legalmente habilitada para a cedência gratuita de terrenos cedeu a sua utilização por 19 anos.
O projeto, apresentado em Setembro desse mesmo ano, propunha a construção de um conjunto de 15 casas e uma capela. Agrupadas em duas bandas, uma de sete casas com frente para o antigo caminho de Montarroio e outra de seis casas com frente para atual rua Trindade Coelho. As casas de piso térreo ou com aproveitamento da cave onde o desnível do terreno permitia, possuíam um pequeno quintal para o cultivo de alimentos.
s/a, Tipo médio das habitações do Bairro Operário, 1897
As obras começaram no mês seguinte e no dia de Natal de 1898 as primeiras casas começaram a ser ocupadas. Por iniciativa do Bispo Conde, o novo e moderno Bairro de Santa Cruz passou a albergar o primeiro bairro operário da cidade.
s/a, Planta térrea das habitações do Bairro Operário,1987
No dia 12 de Novembro de 1911, ou seja, 5 anos antes do prazo previsto, o Bispo Conde entregou o Bairro ao município que a partir desta data assumiu a gestão do pequeno bairro. Contudo os edifícios apresentavam graves problemas de conservação e exigiam uma série de obras de conservação que “foram lentamente exgotando … os magros reditos provenientes das casas”.
Capela e casas do Bairro Operário
Em Outubro de 1955, face ao mau estado de conservação dos edifícios, o bairro começou a ser demolido pelo município ficando o espaço abandonado até há poucos anos, quando foi transformado num pequeno jardim e parque infantil.
Calmeiro, M.I.B.R. 2014. Urbanismo antes dos Planos: Coimbra 1834-1924. Vol. I. Tese de doutoramento em Arquitetura, apresentada à Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, pg. 353-356
A construção da rede de caminho-de-ferro foi uma das principais obras do século XIX o que explica as acesas discussões que provocou em Coimbra, debatendo o traçado adotado e a localização das estações que serviam a cidade.
O traçado das linhas, apesar de ter inflamado a opinião pública por quase 50 anos … interessa-nos antes analisar o processo e as consequências da implantação da estação da cidade, junto ao cais das Ameias.
Estação da zona do Padrão [Alexandre Ramires, Revelar Coimbra,22]
Quando se construiu a Linha do Norte, implantou-se a Estação de Coimbra nas imediações da cidade, na zona do Padrão. Na época discutia-se o traçado da Linha da Beira Alta, que segundo alguns estudos deveria partir de Coimbra pela margem do Mondego, prevendo a construção de uma nova estação dentro da cidade. A decisão de iniciar a linha da Beira Alta na Pampilhosa, muito contestada pela população de Coimbra, obrigou pela desconformidade com a lei de 26 de Janeiro de 1876, à criação de um ramal entra estação do Padrão e o centro da cidade. Depois de muito protelado o ramal foi construído, mas reequacionando-se a possibilidade de uma linha para a Beira pelas margens do Mondego implantou-se uma estação provisória, junto ao Cais das Ameias e lateralmente à via, o que permitia a possibilidade da linha ser prolongada anos depois.
O caráter provisório foi-se prolongando e as próprias dimensões da estação tornaram-se insuficientes para o afluxo de passageiros e de mercadorias, obrigando à construção de um conjunto de edifícios anexos em madeira. O que conduziu, a partir de 1899, a uma incessante campanha da Associação Comercial que reclamava a construção de um novo edifício. Apesar da urgência da melhoria deste equipamento, muito defendido na imprensa local, esta iniciativa não foi secundada pelo presidente do município, Manuel Dias da Silva, que procurava na época encetar os estudos para um Plano de Melhoramentos da cidade baixa, cujos resultados poderiam condicionar a construção da nova estação.
Por outro lado, anos antes, em Novembro de 1888, tinha sido concessionada à empresa Fonseca, Santos & Viana uma linha entre Coimbra e a Covilhã que acarretaria alterações na estação da cidade. Porém as dificuldades financeiras da companhia retardavam o início dos trabalhos e adiavam a necessidade de alargamento da Estação. Só no inicio do século XX, depois da Companhia Real de Caminho de Ferro Portugueses ter assumido a construção desta linha foi possível dar andamento e ao mesmo tempo encetar os estudos para nova estação nas Ameias.
Estação primitiva
Inaugurada a linha para a Lousã a 16 de Dezembro de 1906 o problema da nova estação ganhou mais acuidade mas só começou a ser resolvido em 1918, no entanto o processo não foi pacifico. À data o município tinha em estudo um novo plano para a reforma da Baixa e depois de informado por via não oficial da aprovação pelo governo de um projeto para a nova estação, diligenciou junto da Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses lembrando a necessidade de licenciamento municipal de todos os edifícios com fachada para a rua. Pese embora as diligências a referida companhia iniciou a compra dos terrenos necessários.
“A Companhia Portuguesa entendeu, porém, que a Cidade de Coimbra, quer pela categoria de 3.ª Cidade de Portugal, quer como centro da mais interessante região de turismo, era merecedora de um edifício mais vasto e de mais nobre aspeto do que o existente, e dispôs-se ao pesado sacrifício da sua construção, … visto tratar-se de um melhoramento de grande interesse para essa Cidade.”
Quatro anos depois, embora alegando que a “Companhia não se julga … na obrigação legal de submeter os seus projetos à apreciação de qualquer outra entidade, que não seja a Direção Fiscal dos Caminhos de Ferro” enviava à Câmara Municipal o respetivo projeto pela consideração que devo a V. Ex.ª e à Câmara da sua digna presidência para que V. Ex.ª e os munícipes de Coimbra possam apreciar a forma porque esta Companhia deseja contribuir para o embelezamento dessa cidade.
O engenheiro Abel Augusto Dias Urbano, na época chefe interino e como referimos responsável pelo Projeto para os novos arruamentos da cidade baixa contestou a implantação do ramal ao mesmo tempo que enaltecia a vontade de “substituir … a antiga Estação, acanhada, mal localizada, de aspeto sórdido e mesquinho de pequena Estação sertaneja” e propôs uma nova implantação para o edifício cerca de seis a dez metros para norte.
Desenho de reconstituição da implantação da antiga estação
O objetivo era deixar entre a estação e o limite do cais uma distância mínima de dez metros para a construção de uma marginal, ao mesmo tempo que propunha que a fachada principal ficasse perpendicular ao eixo da Avenida Emídio Navarro.
Em resposta a Companhia comprovou a impossibilidade de satisfazer as exigências do município, pela exiguidade de terenos, mas comprometeu-se a minorar os problemas apontados e, com esta promessa o município, presidido por Mário de Almeida aprovou o projeto, esperando que “o mais breve possível, seja um facto o importante melhoramento que para a cidade representa a construção da projetada estação de caminho de ferro.”
Planta de implantação da nova estação inaugurada a 15 de março de 1931
… Apesar destes intentos as obras só tiveram início cinco anos depois e suscitando novamente grande contestação.
s/a, Estação de caminho de ferro,1954
Os diferendos subsistiram e o projeto aprovado e apresentado pela Companhia em 1923 foi construído sem fazer qualquer das alterações propostas … O edifício da autoria dos arquitetos Cottinelli Telmo e Luís Cunha, apesar da qualidade arquitetónica, em grande medida condicionada pelas limitações do espaço, descurou a inserção urbana e a almejada avenida marginal que ligaria o parque da cidade ao Choupal foi inviabilizada.
Étienne de Gröer. Esboço da reforma da Baixa, no canto inferior esquerdo visível a nova estação. 1940
… Com efeito uma das principais críticas do urbanista Etiénne De Gröer à Baixa correspondia à implantação da Estação Nova … Este novo edifício devia servir de interface entre o transporte ferroviário e o novo transporte rodoviário … propunha a substituição do Ramal da Lousã por carreiras de camionetas de forma a relacionar a cidade com o rio sem o obstáculo da via férrea a atravessar o Largo da Portagem, principal entrada na cidade.
Calmeiro, M.I.B.R. 2014. Urbanismo antes dos Planos: Coimbra 1834-1924. Vol. I. Tese de doutoramento em Arquitetura, apresentada à Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, pg. 393-400
Em Coimbra a reforma pombalina da Universidade, implicou a transformação ou a construção de novos edifícios, exigindo a produção de vários documentos cartográficos, quer desenhos de levantamento, quer de projeto, incidindo não só na Alta mais intervencionada, mas também nos espaços mais importantes da Baixa, como o Largo da Portagem e o Largo de Sansão.
José Carlo Magne, Mapa da Alta de Coimbra, c.1780
Embora estes desenhos tenham ainda hoje uma importância fundamental para o conhecimento da cidade do final do século XVIII, no período liberal estavam na posse da Universidade e por isso não eram utlizados pelo município no planeamento da cidade.
Da mesma forma, existem hoje no Instituto Geográfico Português, três plantas do século XVIII representando a cidade, mas aparentemente nenhumas delas seria do conhecimento da Câmara Municipa
s/a, Planta de Coimbra e seus Contornos sobre o Rio Mondego, [final do século XVIII]
s/a, esboço Mapa topográfico da cidade com a divisão das freguesias, final século XVIII]
s/a, Mappa Thopografico da cidade de Coimbra com a Divizão das Antigas Freguezias, final do século XVIII
A primeira referência que encontramos a uma planta da cidade data de 1857, quando o município presidido por António Augusto da Costa Simões viu rejeitado o pedido para Izidoro Emílio da Expectação Baptista rever e retificar a planta que tinha sido desenhada em 1845.
A Planta Topográfica da cidade e arrabalde tinha sido desenhada pelo futuro lente da Escola Politécnica, quando ainda era estudante de Matemática em Coimbra. Este documento, para além da planta apresenta uma série de dados complementares muito interessantes para o estudo da cidade. Como a relação das casas religiosas da cidade indicando a Ordem, localização, data de fundação e nome dos fundadores, bem como o nome das principais, a altimetria quer de algumas ruas, quer do rio Mondego, a latitude e a longitude em relação às principais cidades europeias. Ainda um quadro da população da cidade entre os anos de 1834 e 1839, indicando o número de fogos e o número de indivíduos divididos por sexo, estado civil e idade.
Embora imprescindível para o planeamento de qualquer cidade, a Câmara Municipal de Coimbra só no dia 13 de Outubro de 1865, impelida pela recém formada comissão do plano de melhoramentos, mandou fazer duas cópias da Planta Topográfica da cidade e arrabalde.
Izidoro Emílio Baptista, Planta Topográphica da cidade e arrabalde, 1845.
… Na década seguinte, depois de cimentado o conhecimento da forma de projetação apreendida pelo contacto com as múltiplas obras das estradas municipais começou a surgir uma nova consciência do planeamento urbano. Neste sentido, o presidente Lourenço Almeida Azevedo … defendia como «uma imperiosa necessidade [a existência de] … uma planta topográfica», para o estudo e planeamento da cidade. O concurso para o levantamento atualizado a cidade pelos novos métodos de cartografia foi aberto a 11 de Julho de 1872 e o contrato assinado com Francisco e Cesar Goullard, em Outubro desse mesmo ano.
… Os trabalhos decorreram em 1873 e a Planta Topographica da Cidade de Coimbra foi apresentada em 1874, constituindo o primeiro trabalho de cartografia científica da cidade.
Francisco e Cesar Goullard, “Planta Topographica da Cidade de Coimbra”, montagem da cópia das 17 lâminas, 1874
Desenhada à escala 1:500 em 19 lâminas de grandes dimensões (0,80x1,25 metros) denota o rigor e a minúcia da cartografia urbana oitocentista, mas ficou incompleta, sem curvas de nível, que a Câmara Municipal dispensou devidos aos alteamentos projetados para as margens.
Calmeiro, M.I.B.R. 2014. Urbanismo antes dos Planos: Coimbra 1834-1924. Vol. I. Tese de doutoramento em Arquitetura, apresentada à Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, pg. 228-237
O alteamento das margens do Mondego … por razões de salubridade e saúde pública, apontado como uma das maiores necessidades da cidade desde o início do século [XIX]. Apesar das várias obras empreendidas, todas se revelavam incapazes de conter as águas do Mondego que continuava a invadir as ruas da Baixa.
Em 1872, Lourenço de Almeida Azevedo, pouco tempo depois de tomar posse, solicitou ao Governo a reconstrução da Ponte, no cumprimento da carta de lei de 10 de Setembro de 1861 e suspendeu as obras no cais, quer das Ameias quer do Cerieiro, até que se elaborasse um plano em harmonia com a Direção de Obras de Melhoramento do Mondego e Barra da Figueira que estava a desenvolver um projeto de defesa da cidade contras as inundações.
Adolpho Loureiro “Projecto da rectificação da margem direita do Mondego…” 1872
Direcção de Obras do Mondego e Barra da Figueira “Projecto do encanamento do Rio Mondego …”1869
O projeto de retificação da margem direita do Mondego entre Coimbra e o porto de Pedra e defesa da mesma cidade contras as inundações, mandado executar pela portaria … de 3 de Outubro desse mesmo ano, +revia a construção de “2 diques insubmersíveis” mas, embora as obras fossem da responsabilidade da direção de obras do Mondego, o município tinha de comparticipar parte das obras e proceder a um conjunto de obras, como o alteamento da Rua Direita.
Ainda nesse ano o engenheiro Mathias Cypriano Heitor Macedo … apresentou o projeto definitivo da nova ponte e no ano seguinte iniciaram-se os trabalhos de demolição do tabuleiro manuelino.
Adolpho Loureiro, “Projecto da rectificação da margem direita do Mondego entre Coimbra … . Perfis transversais”. 1872.
… Com efeito, este grande aterro permitiu transformar a marginal entre as Ameias e a Ponte, num verdadeiro Passeio Público devidamente ajardinado, para além de permitir criar o Parque Público, entre a Estrada da Beira e o rio.
s/n, “Projecto do alargamento do Caes de Coimbra, Hipotese 2”
… implicou o aterro de um pilar da ponte, aproximadamente 35 metros.
Acresce que como forma de compensação pela implantação dos carris ao longo do cais, o governo comparticipou o projeto delineado pelo município de prolongamento do parque público até ao Porto dos Bentos, contribuindo para a expropriação e para o aterro da Ínsua entre o referido porto e o [do] Cerieiro. Em resposta e como forma de agradecimento pela colaboração do Ministro das Obras Públicas Comércio e Indústria responsável por estas obras, o município denominou o primeiro troço da Estrada da Beira, convertido numa ampla avenida arborizada, Avenida Emídio Navarro.
Calmeiro, M.I.B.R. 2014. Urbanismo antes dos Planos: Coimbra 1834-1924. Vol. I. Tese de doutoramento em Arquitetura, apresentada à Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, pg. 238-247
Quando em 1835 foi solicitada a cedência do antigo mosteiro de Santa Cruz para albergar as várias repartições públicas pretendia-se, com pragmatismo resolver os problemas práticos da necessidade de instalação das várias repartições publicas, não só da Administração do Concelho e da Câmara Municipal, mas também das repartições judiciais e distritais.
… Segundo a portaria da Comissão Interina do Crédito Público de 30 de Novembro de 1835, o velho mosteiro foi posto à disposição do Administrador-geral do Distrito para Casa da Audiência do Júri, Cadeia, Câmara e Administração do Correio e, no dia 17 de Dezembro seguinte foi entregue ao município. No mesmo dia a vereação fez a vistoria e a divisão do conjunto edificado pelas várias repartições, reservando o restante para arrendar e assim custear as obras de conservação.
Esta distribuição previa a simples apropriação dos espaços, supondo apenas intervenções pontuais, como a abertura de portas ou a construção de escadas de madeira, o que parece ter conduzido a que algumas repartições acabassem por se implantar noutros locais. Por outro lado, foram-se instalando outros serviços como a Roda dos Expostos no antigo Dormitório do Pilar, a Mala-Posta e a Escola Mutua, junto à horta de Santa Cruz e a cadeia junto ao antigo pátio.
Em 1856, o presidente … propôs uma nova divisão entre a Câmara Municipal e as várias Repartições Distritais.
Planta com esquema das ocupações do antigo Mosteiro (c.1856)
A primeira referência à necessidade de «reconstruir a casa das Sessões da Câmara e suas dependências… segundo as regras da Arte», data de 1845… mas provavelmente por falta de verbas o assunto foi esquecido.
… Vinte anos depois [18 Janeiro de 1869], [a Câmara] solicitou a colaboração da Rainha alegando que: «esta vereação não tem pessoal technico de que possa dispor para os estudos que demanda aquella obra.»
Em resposta … o Governo clarificou que … devia ser encarregado o engenheiro … da Repartição Distrital as Obras Públicas.
… em Março de 1875 a Câmara voltou a alegar que: «Para que estas obras se emprehendam com um bom resultado são necessários estudos importantes, feitos por pessoa de competência e que conheça as necessidades de cada uma das repartições».
… Novamente este pedido não foi atendido e a vereação que se seguiu, presidida por Lourenço de Almeida Azevedo, determinada neste empreendimento, contratou o engenheiro da Academia Politécnica do Porto, Alexandre Simões da Conceição, encarregando-o dos referidos estudos.
Cópia do desenho da fachada dos Paços do Concelho de Coimbra, adaptação do Mosteiro de Santa Cruz. Século XIX
As obras iniciaram-se ainda neste ano, mas não sem antes se ter enfrentado uma acesa polémica levantada pelo jornal “O Conimbricense”.
Alçado do velho mosteiro. 1.ª metade séc XIX
… Em causa estaria a alegada destruição do antigo mosteiro e a perda do seu valor artístico e monumental, mas o município [argumenta] que «É metade d’um dormitório que nada recomenda… É uma mole de alvenarias sem gosto, sem comodidade, sem arte, sem elegância, enfim sem titulo algum que justifique a sua conservação».
Paços do Concelho na atualidade
… No dia 13 de Agosto de 1879, a vereação reuniu pela primeira vez no novo edifício e em Abril de 1881 foi inaugurado o tribunal instalado no piso inferior, todavia as obras arrastaram-se até 1886.
Calmeiro, M.I.B.R. 2014. Urbanismo antes dos Planos: Coimbra 1834-1924. Vol. I. Tese de doutoramento em Arquitetura, apresentada à Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, pg. 212-218
Ponte de Santa Clara
…. Com a construção da nova ponte a uma cota mais elevada e o aterro de defesa da cidade contra as inundações, o município pôde finalmente projetar o almejado plano de embelezamento da cidade a partir da sua principal entrada, o Largo da Portagem. O projeto apresentado pelo primeiro engenheiro municipal, contratado especialmente para esta obra previa a construção de um Passeio Público entre o cais das Ameias e a Ponte e, a regularização do Largo da Portagem. Implicou não só um grande aterro, como a expropriação e demolição total de dois quarteirões de edificações. O projeto esboçava uma praça triangular, limitada a norte por um novo edifício a construir no alinhamento da ponte e alargava a entrada da rua da Calçada.
António José de Sá, “Projecto de uma nova praça a abrir no sitio da antiga portagem …” 1874
António José de Sá, “Projecto dos melhoramentos a fazer no Largo da Portagem”. 1874
A vermelho os novos edifícios que regularizariam a praça triangular, visível ainda o cais e do lado direito o arranque do parque público
O resultado não foi o projetado pelo engenheiro António José de Sá que, entretanto, tinha abandonado os quadros da edilidade.
O edifício a marcar o alinhamento da ponte não foi construído e o largo limitado, do lado norte, por um tosco gradeamento servindo de guarda corpos para a rua da Saboaria que se encontrava na cota original quase cinco metros abaixo do novo largo. Só no início do século XX, graças à iniciativa do Banco de Portugal, foi construído o alçado norte mas que, apesar da qualidade do projeto do arquiteto Adães Bermudes, resultou num conjunto de edifícios sem qualquer unidade, marcado por cérceas completamente distintas. Já a marginal abundantemente arborizada, criando o desejado passeio público que permitiu ultrapassar a falta de um projeto de conjunto para os edifícios, que aliás tardaram a ser construídos, só se completando a frente ribeirinha já no início do século XX.
Calmeiro, M.I.B.R. 2014. Urbanismo antes dos Planos: Coimbra 1834-1924. Vol. I. Tese de doutoramento em Arquitetura, apresentada à Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, pg. 205-211, 241-243
Também no final desse ano se principiou o alteamento do Largo da Portagem junto à ponte, demolindo a capela, o pelourinho e a devoluta torre de portagem.
(Nota de rodapé: Na sessão de câmara de 28 de Novembro de 1836 deliberou-se a “demolição do torre sobre a ponte em razão de serem necessários os entulhos della para altear o largo da Portagem”)
Largo da Portagem [sendo visível a cadeia demolida em 1857]
José Carlos Magne, Mapa de ruas desde a Portagem até à capela de St. António da Estrela, último quartel do século XVIII
Verifica-se assim que estas obras, já projetadas e orçadas em 1835, se articulavam com um plano mais vasto que incluía o alargamento da principal rua da cidade e troço da estrada de Lisboa-Porto, bem como a regularização das margens do Mondego e do Largo da Portagem, para além da imprescindível ponte nova a uma cota mais alta.
De forma concertada, mas muito morosa, este primeiro conjunto de intervenções de reforma urbana marcou de forma indelével a paisagem urbana da cidade junto ao rio e materializou o primeiro plano de embelezamento promovido pelo município.
…. Pese embora a boa vontade do município para a execução deste plano, as obras das margens, bem como a ponte, estavam dependentes do poder central, não só pelas debilidades financeiras que caracterizavam as contas municipais, mas porque todas intervinham em domínios de tutela governamental. Os cais, do domínio da Superintendência do Encanamento do Mondego e a Rua de Coruche tal como a ponte, enquanto troço de uma estrada de 1.ª ordem, dependiam do Ministério do Reino. Esta dupla tutela embora vantajosa por permitir a comparticipação dos cofres centrais no custo das intervenções, geralmente retardava as intervenções, dependentes de estudos e da disponibilidade financeira central.
Exemplo desta morosidade é o processo de construção da nova ponte metálica em substituição da antiga ponte manuelina assoreada pelo rio. Os primeiros estudos datam de 1859, mas só três anos depois foi publicado o decreto autorizando o seu projeto e construção e, finalmente, em 1873 teve início a sua construção. O caso da rua de Coruche, embora também tenha sido um processo moroso, ilustra as vantagens desta dupla tutela, consagrada pela alteração da sua toponímia para Rua Visconde de Luz em agradecimento ao Diretor-Geral das Obras Públicas. Apesar de incluída no plano delineado em 1935 só vinte e dois anos depois, sob a presidência de António Augusto da Costa Simões, foi solicitado e aprovado o traçado da rua, proposto pelo Diretor das Obras Públicas do Distrito, João Ribeiro da Silva Araújo.
João Ribeiro Silva, Projeto da estrada entre as ruas da Calçada e da Sofia, 1857
Pela dimensão das expropriações e dos consequentes realojamentos, esta obra só se tornou possível pelo auxílio do governo que, comparticipou um terço do valor do seu custo, para além de ter aprovado o empréstimo contraído pela Câmara de Coimbra.
A intervenção assume um caráter exemplar porque, dentro do espirito da época, para além de definir os alinhamentos, procurou traçar uma rua moderna garantindo a qualidade estética do conjunto através de regras que definiam o tipo e altura das cantarias, de portas e janelas, os remates da fachada e a forma e prazos da construção.
Neste sentido, veja-se o plano traçado, na mesma época, para o Cais do Cerieiro, a montante de ponte, mas que por falta de apoio governamental e de verbas do município foi adiado. Previa a construção de um cais e de um passeio público sobre o rio para recreio da população.
“Ao deplorável estado em que actualmente se acha o sítio denomonado – Logar do Cerieiro – prestou atenção esta Camara, deliberando unanimente proceder alli à construção d’uã doca, e d’um caes em continuação do que já existe, e resguarda a cidade das inundações do Mondego, sendo do mesmo tempo um dos nossos mais bellos passeios … O estrangeiro que visitar Coimbra não encontrará um sitio lúgubre, qual hoje é, em perfeito contraste com tantas bellezas, que aformozeam este lado da cidade, gozará de uma vista aprazível e harmónica que se desenrola em toda esta linha, que banha as aguas do Mondego. Não data de hoje, nem sae de nós o pensamento da obra projectada. A todas as administrações camarárias se tem apresentado a ideia da constinuação do caes, assim abaixo das Ameias, como acima da Ponte, no logar do Cerieiro a terminar na ínsua de João Gomez Vianna; e se ate hoje não foi lavada a efeito esta última parte, as cauzas independente da vontade dos ilustres vereadores, que nos precederam, deram a isso logar. A construcção do caes, como a obra de mais vulto deste municipio, tem sido sempre uã questão económica, que umas vezes a necessidade adiou, outras a proporção dos recursos deixou mesquinha, e acanhada, mas em todas as epochas desde mil oitocentos trinta e quatro fói reconhecida a sua necessidade, e importância, andou sempre na ordem do dia dos melhoramentos municipais de maior alcance e o orçamento traria anualmente para ella a verba d’um conto de reis”.
Apesar da pertinência deste plano, a construção do Passeio Público entre as Ameias e a ponte, o alteamento e regularização do Largo da Portagem e a construção da nova ponte foram adiados até 1873.
Calmeiro, M.I.B.R. 2014. Urbanismo antes dos Planos: Coimbra 1834-1924. Vol. I. Tese de doutoramento em Arquitetura, apresentada à Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, pg. 205-211, 241-243
A obra de maior impacto na beneficiação da cidade era, sem dúvida, a construção do cais ao longo do rio, com vista a proteger a Baixa das invasões do Mondego. Implicava obras de alteamento e regularização do cais das Ameias e a construção de um paredão que conseguisse limitar as cheias do rio, além de permitir dispor de um amplo e aprazível passeio público à beira rio.
Melhoramento reclamado desde o seculo XVIII, “presentemente desejaõ muitos, e requerem, que por todo o comprimento da Cidade, e ainda mais adiante se levante alto muro, o qual defenda das inundações todas as ruas baixas” foi sendo sucessivamente adiado, até que em junho de 1837 começaram timidamente as obras do aterro do Cais das Ameias, provavelmente sem um plano devidamente delineado que quatro anos depois, foi alargado até à ponte.
Efetivamente, só em agosto de 1856 foram decretadas as obras do encanamento do rio desde a ponte de Coimbra até ao mar encarregando o Diretor de Obras do Mondego de elaborar o respetivo projeto, apresentado só em 1872. Segundo conseguimos apurar, as obras de alteamento efetuadas entre 1837 e 1872 revelaram-se ineficazes para conter as cheias, em grande parte pela carência de meios financeiros, mas também técnicos, criando mesmo sérios problemas de salubridade pela entrada da água do rio na canalização do esgoto da cidade. Reclamava-se também o imprescindível alteamento da velha ponte, processo iniciado em 1859 e decretado pela Carte de Lei de 10 de setembro de 1861, mas que permaneceu até 1873 em estudo.
Margem do rio entre o Largo das Ameias e a ponte, visível as escadas para o largo já alteado, c. 1860
A par da regularização do Cais das Ameias … em 1835 o município apontava também a necessidade do alargamento da Rua de Coruche. Com efeito, depois de ter estudado e orçado as obras de regularização da rua da Calçada que ligava a ponte à Rua de Coruche e que pretendia iniciar a breve prazo, instava para que o Governo participasse no alargamento desta última rua alegando que; “Além de central a toda a Cidade, serve demais ao transito de todo Norte do Reino para a Capital, e acha-se tão disforme, que apezar de não ser muito longa, tem tortuosidades em varias direcções, que impedem a vista de uma extremidade à outra, e é sobre tudo tão estreita, que em quasi toda ella não pode passar um Cavalleiro apar d’um carro: e em consequência é sempre húmida, e doentia, e que apenas em alguns pontos lhe penetrão os raios do sól em certos momentos ficando o resto inteiramente inacessível: de sorte q estabelecendo-se deligencias entre Porto e Lisboa virão encontrar um grandíssimo obstáculo no meio da terceira Cidade do reino, por que dificilmente lhes dará passagem! Esta obra tão necessária como útil para o aformoseamento da Cidade, viria a fazer a rua o centro de commercio, e certamente é esta epoca em que mais afoitamentese devera empreender por que há um recurso para a indemnização do alojmento interino dos seus moradores, nos extintos Collegios da rua da Sofia, que pela maior parte não acharão compradores.”
Planta com a indicação dos melhoramentos almejados: regularização das margens, alargamento da Rua de Coruche, calcetamento da Rua da Calçada e Nova Ponte
As obras de regularização dos passeios da Rua da Calçada iniciaram-se no ano seguinte
Calmeiro, M.I.B.R. 2014. Urbanismo antes dos Planos: Coimbra 1834-1924. Vol. I. Tese de doutoramento em Arquitetura, apresentada à Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, pg. 202-207
Matadouro
Dos vários equipamentos apontados como essenciais para o funcionamento da cidade, o primeiro a ser criado foi o matadouro municipal. Antes mesmo de cedido o edifício, o município deliberou ocupar o antigo edifício do palheiro da Quinta de Santa Cruz “na esperança de que pelo governo não seria negado à camara aquele pequeno recinto”. Não foi de facto, instalando-se o matadouro municipal neste velho edifício até à construção de um novo na década de 1890.
Nota: O matadouro construído em 1890 estava localizado no terreno hoje ocupado pela igreja de Nossa Senhora de Lurdes e jardim que lhe está junto. Posteriormente este segundo matadouro municipal foi substituído por um terceiro, localizado na Pedrulha, num terreno hoje devoluto.
Matadouro construído em 1890
Planta com a implantação do matadouro
Iluminação Pública
Introduzida em Lisboa, no ano de 1802 pelo intendente de polícia Pina Manique, que mandou colocar candeeiros a azeite em todas as esquinas das principais ruas da cidade, constituía um acréscimo de segurança e conforto, permitindo prolongar “o dia pela noite dentro”. Um ano depois de solicitada, na noite de 17 de Novembro de 1836, as principais ruas e praças da cidade [de Coimbra] começaram a ser iluminadas com candeeiros alimentados a azeite
…. Neste mesmo ano, na capital, começavam os primeiros esforços para a introdução da iluminação a gás e para a construção da primeira fábrica de gás.
…Neste contexto, dezoito anos depois de instalada a primeira iluminação pública nas ruas de Coimbra, presidente Cesário de Augusto de Azevedo Pereira defendeu a substituição pelo novo sistema a gás, utilizado em Lisboa e no Porto e em várias cidades europeias. Além da melhoria da qualidade da iluminação pública, o novo sistema permitia a distribuição de gás aos domicílios. Ainda em 1854 foi assinado o contrato do exclusivo do abastecimento de gás iluminação pública e usos particulares com o empresário inglês Hardy Hislop, concessionário da iluminação na cidade do Porto.
Alçado do gasómetro 1854
Dois anos depois, a fábrica de gás implantada na Rua de Fora de Portas foi inaugurada e Coimbra tornou-se a terceira cidade portuguesa a ser iluminada por este tipo de energia. Apesar de algumas reclamações pontuais, este sistema de iluminação foi amplamente difundido pela cidade e dez anos depois de inaugurado contava com 220 candeeiros públicos e uma ampla rede de canalizações que abastecia a maioria das habitações. Em 1894 o contrato de iluminação foi revisto garantindo o aumento de 130 candeeiros públicos.
Planta de reconstituição da rede de gás e com a implantação da fábrica de gás
Calmeiro, M.I.B.R. 2014. Urbanismo antes dos Planos: Coimbra 1834-1924. Vol. I. Tese de doutoramento em Arquitetura, apresentada à Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, pg. 189-190, 200-202.
José de Matos Sobral Cid (1877-1941)
In: http://memoria.ul.pt/index.php/Ficheiro:Cid-Jose_Matos_Sobral.jpg
«O primeiro problema higiénico fundamental, que se levanta em Coimbra, é o que deriva da implantação geográfica da cidade na margem direita do Mondego, no ponto preciso em que à bacia alta torrencial do rio se sucede o cone de dejeção sedimentar do estuário inferior. Traduz‐se na vida histórica da Coimbra ribeirinha por um esforço constante de adaptação mecânica da população a um solo acessível ás inundações do rio, ameaçado de ser subvertido pela elevação progressiva do álveo e dos campos marginais. Exprime-se nas condições atuais da cidade baixa, na sua configuração topográfica em goteira de fundo inferior ao nível das aguas do Mondego, na natureza do seu solo artificial formado de entulhos e terras removidas e na humectação constante do seu substrato telúrico. Reflete‐se na patologia da cidade pelo paludismo, que durante muito tempo foi uma característica da nosografia coimbrã e que ainda hoje o é na nosografia dos campos de Coimbra». (José Sobral Cid, Coimbra. Demografia e Higiene. 2º volume Coimbra: Imprensa da Universidade, 1902).
No início do século XIX, Coimbra implantada na margem do rio Mondego era uma cidade de reduzida dimensão, dividia entre a colina da Alta onde se localizavam a Universidade e os Colégios, e a Baixa implantada no vale do rio, concentrando as atividades comerciais e manufatureiras. Na margem esquerda do Mondego em torno do Mosteiro de Santa Clara a Velha e do Convento de S. Francisco e na encosta junto ao novo Mosteiro de Santa Clara implantavam‐se alguns edifícios, mas sem grande expressão no conjunto da cidade.
A implantação estratégica na colina de transição entre o Alto e o Baixo Mondego favoreceu o desenvolvimento da cidade como entreposto mercantil, no ponto de intersecção dos percursos entre a serra e o mar e entre o norte e o sul do país, a cidade floresceu no ponto de intersecção da antiga estrada romana Olisipo‐Bracara Augusta com o rio.
Planta de Coimbra e seus Contornos sobre o Rio Mondego, final do século XVIII
Se por um lado o rio era, com as suas barcas serranas, a principal via de circulação e transporte dos produtos hortícolas e das manufaturas vindos da Beira, por outro, obrigava a um esforço constante das populações da Baixa para evitar as inundações frequentes e a elevação progressiva do álveo. [nota de rodapé: Segundo Adolpho Loureiro em 600 anos teria sido de 4,96m, ou seja, cerca de 8mm por ano]. Com efeito, desde o século XVI que se procurava regularizar as margens do Mondego e elevar as mesmas, mas todas as intervenções se revelavam ineficazes.
A antiga Ponte de Pedra, profundamente remodelada por D. Manuel I em 1513, foi sendo paulatinamente assoreada e no início do século XIX era recorrentemente galgada pela subida da cota das águas. O seu tabuleiro, construído a cerca de 21,46 metros acima do zero hidrográfico da Figueira da Foz, estaria em 1872 apenas a cerca de 4,41 metros acima do nível da cota de estiagem, o que deixaria apenas cerca de 2,65 metros de passagem entre o arco mais alto e o nível médio das águas, tornando‐se um óbvio obstáculo à passagem das águas. Acresce que na estação invernosa para cheias normais o nível das águas subiria entre dois a três metros, podendo atingir, em cheias excecionais, seis metros como sucedeu em 1872.
Ponte em toda a sua extensão e altura, com as sondas de água que levava o Rio em o Mez de Dezembro de mil sete centos e oitenta e hum
Para além dos inconvenientes para a cidade, esta situação afetava a circulação da principal estrada nacional, a estrada Lisboa-Porto, tornando urgente a construção de uma nova ponte. Efetivamente, já em 1871, enquanto se estudava o melhoramento desta estrada e o encanamento do rio Mondego, Manuel Caetano de Sousa tinha efetuado o levantamento da ponte, o que nos leva a crer que na altura se planeasse a sua reforma ou mesmo substituição. Anos mais tarde em 1848 por ocasião de uma grande cheia foi feito um segundo levantamento, mas a ponte só foi substituída em 1875.
Ponte de Coimbra levantada a 3 de Septembro de 1848 na occazião do maior abatimento das Agôas
Para além dos inconvenientes da falta de atravessamento, as cheias que recorrentemente invadiam a zona ribeirinha criavam péssimas condições sanitárias, conduzindo frequentemente a epidemias de cólera, febre tifoide e malária. Esta situação precária era agravada pela elevada concentração de população atraída à zona baixa pela facilidade de acesso e circulação. Efetivamente, apesar de sujeita à fúria das aguas e de estar implantada sobre camadas sucessivas de entulhos arrastados pelo rio, era na Baixa que se localizavam as principais atividades comerciais e artesanais da cidade.
Calmeiro, M.I.B.R. 2014. Urbanismo antes dos Planos: Coimbra 1834-1924. Vol. I. Tese de doutoramento em Arquitetura, apresentada à Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, pg. 160-164.
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