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A' Cerca de Coimbra


Terça-feira, 20.02.18

Rainha Santa Isabel: um quadro quase desconhecido

Na Catedral de Nossa Senhora dos Remédios, localizada em San Cristobal de la Laguna, na ilha de Tenerife (Canárias, Espanha), existe uma representação da Rainha Santa quase desconhecida da generalidade dos portugueses e da maior parte dos conimbricenses.

Catedral de Nuestra Señora de los Remedios. La La

 Catedral de Nossa Senhora dos Remédios

 O referido quadro destinava-se a ser colocado na nova catedral de La Laguna (Tenerife) ao lado do de São Fernando, ambos declarados, a par com São Cristóvão, antigo orago, padroeiros do templo. As telas foram encomendadas ao pintor sevilhano António Quesada e chegaram à ilha ao mesmo tempo.

Maria Isabel de Bragança era filha de D. João VI e de D. Carlota Joaquina, irmã mais velha de Fernando VII que, ao casar-se em segundas núpcias com a sobrinha, a converteu em rainha de Espanha. Estes monarcas solicitaram insistentemente ao Papa Pio VII a criação da nova diocese canária com sede em La Laguna.

Na antiga catedral dos Remédios existia a capela de Nossa Senhora do Carmo que possuía um retábulo ornamentado com diversas pinturas, cuja temática, na atualidade, se desconhece.

Quando, no século XIX, a cidade se tornou sede da nova diocese e o templo alcançou a dignidade de catedral começaram a venerar-se novos santos levando a que as pinturas de António Quesada, ao chegarem à ilha, fossem montadas na capela de Nossa Senhora do Carmo, substituindo as anteriores telas.

 

Catedral de Nuestra Señora de los Remedios. Retá

 Retábulo atual da capela de Nossa Senhora do Carmo

 A escolha da Rainha Santa Isabel e de São Fernando para co-padroeiros da catedral de La laguna decorre da interferência régia no aparecimento da nova diocese e a opção pela primeira encontra-se reforçada através da devoção da rainha, princesa de Portugal, a Isabel de Aragão, a Rainha Santa.

Isabel de Bragança, rainha muito acarinhada pelo povo espanhol e responsável pela criação de um museu real, o futuro Museu do Prado que foi inaugurado em 1819, um ano após a sua morte, reinou escassos dois anos e foi mãe de uma menina que viveu cerca de quatro meses. Engravidou de novo e, em dezembro de 1818, durante um parto difícil e prolongado, já debilitada pelo grande esforço, teve um ataque de epilepsia e entrou em coma. Os médicos não se aperceberam da situação e, desejosos de retirar o bebé ainda com vida, iniciaram uma cesariana funesta, porque a rainha recobrou os sentidos e lançou enormes gritos de dor; mãe e filha acabaram por morrer poucas horas depois.

 

Rainha Santa 02.jpg

 Santa Isabel. António Quesada. Óleo sobre tela. 1834

 No quadro em questão Santa Isabel é representada coroada, com vestes medievais, segurando o cetro com uma mão e apoiando a outra no peito. Toda a tela aponta para a sua dignidade régia.

No segundo plano, de um dos lados pode ver-se representada uma montanha, possível referência ao Teide e, no outro, um edifício que reproduz a fachada remodelada da catedral.

A tela que representa a Rainha Santa mostra bastante originalidade e uma técnica aceitável. O artista utiliza no fundo um colorido escuro a contrastar com os tons cálidos apostos na figura, de modo a captar a atenção do observador para além da própria personagem. O sevilhano mostra-se preocupado com a expressão e procura que a obra transmita serenidade e doçura através do rosto de Santa Isabel.

La Huella y la Senda, Islas Canarias, 2004, p. 661-662. [Catálogo]

 

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por Rodrigues Costa às 09:43

Sexta-feira, 16.10.15

Coimbra, morte de Inês de Castro e factos relevantes ocorridos no Mosteiro de Santa Clara-a-Velha

… D. Pedro e D. Inês viveram em vários locais do Reino e permaneceram algum tempo no Paço da Rainha junto ao Mosteiro de Santa Clara de Coimbra. Inês veio a ser executada no Paço, por ordem do rei, a 7 de Janeiro de 1355, sendo sepultada na igreja das Clarissas. Já depois de assumir a coroa portuguesa, D. Pedro afirmou que se tinha casado em segredo com D. Inês e determinou que o seu corpo fosse tresladado para o Mosteiro de Alcobaça.

O casamento do príncipe real D. Duarte veio a ser celebrado na igreja de Santa Clara de Coimbra, em 22 de Setembro de 1428 tendo o templo sido decorado com ricos tapetes e panos. Após os esponsais, o casal pernoitou no Paço da Rainha.

Foi em Santa Clara que professou D. Joana de Castela, a Excelente Senhora, ou Beltraneja, sua segunda mulher (de D. Afonso V que foi obrigado pelo Papa a repudiá-la).

D. Pedro, duque de Coimbra, escolheu a igreja de Santa Clara para fazer as suas preces antes do confronto fatal de Alfarrobeira (1449) e aqui foi sepultada sua filha D. Catarina, em arca tumular colocada na sala do Capítulo.

D. Manuel demonstrou igualmente interesse por Santa Clara de Coimbra, tendo sido o motor do processo da beatificação de D. Isabel (15 de Abril de 1516) e tendo dado obras de arte para adornar o mosteiro, designadamente o «Tríptico da Paixão de Cristo», obra flamenga de Quentim Metsys.

Em 1669, Cosme de Médicis, grão-duque da Toscana, deslocou-se a Portugal e, na sua passagem por Coimbra, visitou as “Freiras de S., Francisco, onde está o corpo de S. Isabel, Rainha de Portugal. Ali permaneceu junto às grades e ouviu cantar pelas Monjas alguns motetes”

Trindade, S. D. e Gambini, L. I., Mosteiro de Santa Clara-a-Velha. Coimbra, Direção Regional de Cultura do Centro, pg. 27 e 28

 

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por Rodrigues Costa às 09:57

Quinta-feira, 15.10.15

Coimbra, o Convento de Santa Clara-a-Velha 2

… o interesse da Rainha D. Isabel no projeto de D. Mor subsistiu, tendo solicitado ao Papa a devida autorização para fundar uma casa da Ordem de Santa Clara, em Coimbra. A licença foi concedida, por carta datada de 10 de Abril de 1314, juntamente com a autorização para requisitar algumas freiras da Ordem a fim de “povoar” o referido cenóbio.
A Rainha adquiriu, então, algumas propriedades confinantes com o terreno onde D. Mor havia erguido o seu mosteiro, dispondo, assim, de uma área maior onde fosse possível construir um novo edifício, “amplo e grandioso”. Ocupou-se, igualmente, na aquisição de bens que doou ao convento, no sentido de assegurar a sua subsistência.
Em 24 de Julho de 1317, o mosteiro acolhia já algumas clarissas vindas de Zamora.
… Em 7 de Janeiro de 1325 morria, em Santarém, D. Dinis. A Rainha vestiu o hábito de Santa Clara como símbolo do seu estado de “viuvez, luto, tristeza e humildade”, afirmando que este gesto não correspondia a um voto religioso. No ano seguinte, adquiriu, ao Mosteiro de Santa Ana, um paço e uma vinha, contíguos à cerca de Santa Clara, para aí fixar residência.
Em 12 de Março de 1328 mandou redigir um documento, conhecido como “codicillo”, no qual fazia doação, ao convento, dos referidos paço e vinha. Determinava, ainda, que aquele fosse constituído por “cinquoeenta donas me(n)oretas” e criava um hospital para recolhimento e assistência, o qual ocuparia a parte dianteir do paço e seria habitado por “trynta pobres” (15 homens e 15 mulheres).
O carinho de D. Isabel por este projeto levou-a a alterar o seu testamento, no que dizia respeito ao local de sepultura: em detrimento do Mosteiro de Alcobaça, optou por Santa Clara, tendo encomendado a Mestre Pêro, escultor vindo de Aragão, um túmulo monumental em pedra.
A sagração da nova igreja do mosteiro … realizou-se a 8 de Junho de 1330, na presença da Rainha. No ano seguinte, a 18 de Fevereiro, uma grande cheia do Mondego, inundava o templo e submergia o túmulo, que já ali se encontrava. Por esse motivo D. Isabel mandou construir um piso sobrelevado … Ao centro do lado da igreja, mandou colocar a sua arca tumular e ainda o túmulo de sua neta, a infanta D. isabel, filha de D. Afonso IV, falecida em criança.

Trindade, S. D. e Gambini, L. I., Mosteiro de Santa Clara-a-Velha. Coimbra, Direção Regional de Cultura do Centro, pg. 23 a 25

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por Rodrigues Costa às 18:21

Segunda-feira, 12.10.15

Coimbra, um perfil da Rainha Santa

… o casamento de D. Dinis com D. Isabel seria um laço de felicidade, porque não há quem duvide de que os dois se tenham amado intensamente.
Ela, «em suas palavras mui mansa – descreve o cronista – em suas obras mui conforme ha toda humildade, sem algum alevantamento de soberba, de maneira que a graça do Espirito Santo, de que era acesa de todo, causava em sua alma um louvado assossego …»
Se, quanto à formosura do corpo, apareceu pela primeira vez ao soberano, «como se fosse o sol» - tal foi a sua exclamação em Trancoso -, quanto às qualidades do espirito, atravessou um reinado como «aparição de mística transparência».
Também em D. Dinis não eram minguados os dotes. Baixo e másculo, já aos dezoito anos possuía numa formação excecional. Com precetores da melhor têmpera – Américo d’Ébrard, ilustradíssimo clérigo francês, e Domingos Anes Jardo – muito cedo tomou contacto com o mundo das ciências e das artes, na certeza que será o culto à lealdade, à justiça, e o amor à terra que lhe permitirão o cumprimento pleno do seu dever de monarca … Mas o Rei era poeta … E o coração dos poetas é volúvel … As endechas amorosas do Rei trovador, que ele próprio recitava nos célebres serões de amor realizados no paço, brotavam repassadas de tanta vida e enlevo e saudade, em acordes de tão estranha delicadeza, que bem testemunhavam as leviandades do seu autor … Murmúrios de escândalos corriam frequentemente pela Corte, com indicação de nomes e lugares … Nove filhos bastardos conheceu a Rainha Santa, cada qual de sua mulher.
E docemente, a esposa enganada inquiria da vida dessas mulheres que o Rei abandonava, procurando dar remédio à situação dos filhos de seu marido, com amas e casas perto do Paço.
Ela, cujo ventre Deus abençoara, concedendo-lhe dois filhos: D. Constança aos dezoito anos, e D. Afonso aos vinte, aos quais dava todo o seu coração, não esquecia os nascidos do pecado, amimando-os como aos seus … O próprio Rei, ao ver que ela dava valor tão diminuto aos seus desvarios … chegou a prestar atenção à voz do ciúme, interpretando a resignação como desamor. Elucidativa a lenda do escudeiro lançado ao forno de cal.

Duarte, U. 1983. Rainha Santa. Padroeira de Coimbra. Coimbra, Câmara Municipal de Coimbra, Caderno Municipal n.º 1, pg. 7 a 9.

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por Rodrigues Costa às 20:42

Sábado, 27.06.15

Coimbra, canonização da Rainha Santa

A beatificação de D. Isabel de Aragão, em 1516, constituiu o reconhecimento oficial do culto que de há muito o povo de Coimbra lhe tributava com o nome de Rainha Santa. Em 1556 tornou-se extensivo a todo o país e em 1616 ao reino de Aragão … a instauração do processo com vista à canonização, apoiado por vários soberanos mas só verdadeiramente desencadeado pelo empenhamento do bispo-conde D. Afonso de Castelo Branco. Foi assim que no dia 26 de Março de 1612, ao começo da tarde, se procedeu à primeira abertura do túmulo da rainha, já que o exame das relíquias era um dos requisitos processuais … “se achou mui são, inteiro, e sem corrupção”
...
Determinou logo D. Afonso de Castelo Branco expor à veneração dos fiéis os restos mortais incorruptos da Rainha Santa … o túmulo de prata branca mandado fazer na mesma ocasião (1613) por D. Afonso … apresenta-se com austera volumetria: de forma paralelepipédica, coberto por uma tampa retangular alongada … Mede de comprimento máximo 2,33 m e de largura 0,86 m … O conhecimento da tratadística está patente no tratamento das colunas coríntias, assentes em pedestal baixo, em avanço, e de harmoniosas proporções … O espaço entre as colunas é preenchido pelos cristais … tudo leva a crer que anteriormente Domingos Vieira tivesse vindo à cidade do Mondego para contratar “o sepulcro da Rainha Santa que o dito bispo manda fazer à sua custa”

A canonização, ocorreu em 1625.

Borges, N. C., 1996. O Tumulo de Prata da Rainha Santa Isabel, em Coimbra. Separata de In Memoriam: Carlos Alberto Ferreira de Almeida. Porto, Faculdade de Letras, Pg. 163 a 166

 

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por Rodrigues Costa às 10:27


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