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A burguesia citadina instala-se no Bairro de Santa Cruz (Continuação)
A autarquia ia levando à praça, a fim de aí serem construídos imóveis, lotes de terreno situados no Bairro de Santa Cruz. Aquando da hasta pública realizada a 29 de agosto de 1889, o Doutor Daniel de Matos comprou vários lotes na zona que se localiza, à esquerda de quem sobe a Rua Alexandre Herculano, justamente no ângulo superior do cruzamento desta com a Venâncio Rodrigues.
O assento permaneceu desocupado até 1940, altura em que os irmãos Hermínia e Álvaro Pratas Inácio, então donos do terreno, quiçá por compra, decidiram ali construir um prédio de rendimento. O requerimento deu entrada na Câmara a 12 de agosto de 1940, acompanhado de um projeto assinado pelo arquiteto Edmundo Tavares.
Ao receber o requerimento dos irmãos Pratas, o presidente de Câmara de Coimbra, Ferrand Pimentel de Almeida, provavelmente por lhe haverem surgido algumas dúvidas, pediu parecer sobre o assunto a Étienne de Gröer. O urbanista assinou o documento em setembro do mesmo ano, dando um parecer negativo à construção, porque esta violava o artigo 46 do “Regulamento das Zonas” que estipulava a impossibilidade de se erguer um edifício que apresentasse uma área coberta superior a 40% da superfície do quarteirão.
Fig. 31 – Casa dos irmãos Pratas. 1.º Projeto. Edmundo Tavares. [AOCMC. Proc. 01-2055/1940].
Edmundo Tavares alterou o projeto inicial, diminuindo a área em causa, mas, mesmo assim, ultrapassando o permitido. Contudo, como o quarteirão se encontrava quase desprovido de construções, De Gröer, em novembro, assinava um parecer favorável à autorização da feitura do imóvel em causa.
O prédio, até pela data em que foi riscado e por ser assinada por Edmundo Tavares, arquiteto que não pertencia ao apertado círculo citadino, foge dos parâmetros usuais e já não se enquadra nos imóveis que têm a marca Arquitetura Escola Livre.
Fig. 32 – Casa dos irmãos Pratas. [Foto RA].
Um pouco mais acima e do mesmo lado, “nas extremidades das ruas Alexandre Herculano e de Tomar” ou seja, no atual Largo João Paulo II (Arcos do Jardim), em 18 de dezembro de 1890, a viscondessa de Seabra, residente em Mogofores, próximo de Anadia, comprou dois lotes de terreno, a fim de ali construir uma casa de habitação.
Dois anos mais tarde, depois de ter encarregado o projeto ao arquiteto Hans Dickel, ajusta a construção do imóvel com o mestre-de-obras Joaquim Augusto Ladeiro. Exteriormente, o edifício reveste-se de uma enorme simplicidade e apenas a sua fachada mostra um certo movimente que o artista aproveitou e valorizou pelo facto de o imóvel ocupar o ângulo formado pelas duas ruas.
Casa dos irmãos Pratas, pormenor. Foto RA
Casa dos irmãos Pratas, pormenor. Foto RA
A decoração, muito simples, insere-se no gosto Arquitetura Escola Livre.
Anacleto, R. Coimbra: alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. In: Belas-Artes: Revista Boletim da Academia Nacional de Belas Artes. Lisboa 2013-2016. 3.ª série, n.ºs 32 a 34. Pg. 127-186. Acedido em https://academiabelasartes.pt/wp-content/uploads/2020/02/Revista-Boletim-n.%C2%BA-32-a-34.pdf
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