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Da Estrada dos Jesuítas à Rua Abílio Roque
Em junho de 1910, António Heitor, Chefe da Repartição das Obras Municipais e condutor, assinava um desenho com o loteamento da “rua n.º 2” da Sá da Bandeira e da que se desenvolvia pegada ao muro da Cerca dos Jesuítas; ou seja da via ascendente da Avenida e da Abílio Roque (atual Padre António Vieira).
Fig. 18 – Loteamento Sá da Bandeira e Abílio Roque. [AHMC. Repartição de obras municipais. Pasta 18. B-14].
Penso poder afirmar que este desenho, para além de apontar os lotes ainda disponíveis, serviu para confirmar a delimitação de parcelamentos preexistentes, dado que, em data anterior à apresentação do plano, já ali haviam sido construídos edifícios.
Mas a edilidade não se queda por aí e pensa abrir, quiçá em data mais ou menos simultânea ao loteamento apresentado por Heitor para os dois arruamentos, uma via destinada a unir a Abílio Roque à Praça de República. Como este projeto não se encontra nem datado nem assinado aponto para uma data posterior a 1910 dado que o Largo D. Luís já se transmutara em Praça da República, o que aconteceu apenas depois da queda da monarquia.
Fig. 19 – Projeto para ligação da Rua Abílio Roque com a Praça da Republica. [AHMC. Repartição de obras municipais. Posto de desinfestação e outros. Pasta 18. B-14].
Esta rua, projetada e nunca concretizada, iniciar-se-ia no local onde a Abílio Roque confluía com a Rua de Entre Muros, estender-se-ia nas traseiras do espaço onde funcionou o “Ninho dos Pequenitos”, integrado na obra assistencial do dr. Bissaia Barreto, e desembocava no início da Oliveira Matos, justamente na esquina fronteira à casa que João Francisco dos Santos construíra, nos finais do século XIX, na Praça da República.
Nas traseiras do espaço onde funcionou o “Ninho dos Pequenitos”.
O novo bairro e toda a zona envolvente ia-se pontuando com edifícios e a 29 de outubro de 1914, Joaquim Fernandes dos Santos submete à aprovação camarária um novo projeto (o primeiro fora rejeitado com base na simplicidade das fachadas), a fim de construir quatro casas nos lotes que havia comprado ao cimo da Abílio Roque. Curiosamente, o desenho apresentado mostra seis fachadas e não quatro. Esses edifícios foram construídos e até ao terceiro quartel do século XX mantiveram-se, tendo sido, mais ou menos nessa época, paulatinamente substituídos por prédios mais modernos e funcionais.
Outro tanto não aconteceu com a moradia que se ergue quase no início da rua, logo a seguir à curva e que ainda se mantém de pé. É verdade que a sua construção foi muito mais tardia, pois a 03 de junho de 1940 Albino Pereira da Costa fez dar entrada na devida repartição da edilidade o pedido de autorização para a construção de um edifício que ocuparia os lotes n.os 6 e 7 da referida artéria; esses lotes haviam sido comprados a Joaquim da Costa Neto que os adquirira em 1928.
Fig. 20 – Moradia de Albino Pereira da Costa. [Foto RA].
O requerimento, devidamente instruído, integrava o projeto do imóvel, a inserir-se, como se compreende numa outra linguagem arquitetónica e assinado pelo arquiteto Edmundo Tavares (1892-1983).
Anacleto, R. Coimbra: alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. In: Belas-Artes: Revista Boletim da Academia Nacional de Belas Artes. Lisboa 2013-2016. 3.ª série, n.ºs 32 a 34. Pg. 127-186. Acedido em https://academiabelasartes.pt/wp-content/uploads/2020/02/Revista-Boletim-n.%C2%BA-32-a-34.pdf
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