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Folheando, tempos atrás, dois catálogos impressos aquando da realização de exposições de fotografias antigas de Coimbra, pertencentes à coleção de Alexandre Ramires, escolhi, de entre muitas que ali observei, três que me pareceu interessante divulgar.
A primeira diz respeito à Sé Velha e foi retirada de Revelar Coimbra. Os inícios da imagem fotográfica em Coimbra. 1842-1900, Lisboa, Instituto Português de Museus, 2001, imagem 48.
Sé Velha antes do restauro
A vetusta catedral conimbricense encontrava-se em franca deterioração e António Augusto Gonçalves, a alma, o mestre, o mentor da Escola Livre das Artes do Desenho tudo fez para que uma intervenção de fundo, capaz de preservar as velhas pedras de séculos, se viesse a concretizar.
As obras iniciaram-se a 30 de janeiro de 1893 e o portal principal foi intervencionado, já em 1898, por José Barata, que se encarregou de esculpir as colunas e por João Machado que tomou sob a sua responsabilidade o trabalho das almofadas. Eram dois artistas formados pela referida Escola e que integravam aquela “plêiade de rapazes que começavam a fazer lembrar a idade áurea da Coimbra artística do século XVI”.
A imagem leva-nos ainda a reparar na atual falta de harmonia existente no edifício, resultado do desaparecimento do terraço. Gonçalves reduziu a área desta plataforma e os Monumentos Nacionais, na reforma levada a cabo em meados da centúria de XX, sumiram-na. Filosofias de restauro mais do que discutíveis que não cabe aqui analisar.
Uma chamada de atenção para a torre sineira, um acréscimo à construção primitiva, que albergava o chamado sino balão, levado para a Sé Nova e a existência de dois janelões laterais também abertos nas grossas paredes dos inícios. No interior da Sé acolhiam-se indivíduos fugidos à justiça régia, os homiziados, pois ali, tal como na zona das lajes, isto é no terraço que circundava o templo, existia o chamado “direito de asilo”.
A segunda imagem refere-se à Praça de Sansão, atual Praça 8 de maio e foi retirada de Passado ao espelho. Máquinas e imagens das vésperas e primórdios da photographia, Coimbra, Museu de Física da Universidade de Coimbra, Coimbra, 2006, p. 60.
Praça de Sansão mercado
A Praça de S. Bartolomeu, Praça Velha ou Praça do Comércio era um dos locais onde, em Coimbra, se realizavam as trocas e a venda de produtos. A partir do momento em que este espaço se tornou exíguo para responder às necessidades da população aeminiense, a comercialização, sobretudo de aves e de grãos, transferiu-se, num primeiro momento, para a Praça de Sansão, atual 8 de maio. Posteriormente este “mercadinho” deslocou-se para a zona fronteira à esquadra da PSP e, e depois de 1867, instalou-se definitivamente mercado D. Pedro V.
À direita, a igreja de S. João, paroquial da freguesia de Santa Cruz (atual café), já se encontrava desativada, fora desamortizada e ali funcionava, ao tempo, um Armazem de Tecidos.
A fotografia é anterior a 1876, porque nesse ano se iniciou a construção do edifício da Câmara Municipal de Coimbra que aniquilou a parte esquerda do mosteiro, ainda intacta na imagem.
A terceira imagem que nos chamou a atenção é uma “Panorâmica de Coimbra” e encontra-se no catálogo Revelar Coimbra…, imagem 14.
Vista geral, 1860 c.
A foto, da autoria de Alfred Fillon, foi tirada c. de 1860. Numa rápida amostragem diremos que nela se pode ver, à direita, a ponte de pedra sobre o rio Mondego, o Largo da Portagem, a zona da Universidade com o Observatório Astronómico, riscado por Manuel Alves Macomboa, erguido na extremidade do Pátio e o complexo que pertencera outrora aos Jesuítas; mais para a esquerda fica a Torre de Anto, o Colégio da Sapiência e a Torre dos Sinos do mosteiro de Santa Cruz.
Visível ainda na imagem a Rua da Sofia com alguns dos seus muitos colégios e, mais em cima, uma estranha estrutura que deve ser constituída por muros da cerca de alguns colégios e suportes murados a formar socalcos que suportavam um frondoso olival outrora ali existente.
Depois de bastantes hesitações sobre a escolha do terreno para o cemitério de Coimbra, a câmara adotou o alto da Conchada na quinta do Pio por indicação de peritos, nomeados em comissão pelo governo civil em 12 de Agosto de 1851. Outra comissão demarcou o terreno, que deveria ser expropriado, em 25 de Setembro do mesmo ano.
...“As nove freguesias da cidade tem nas suas igrejas, nos claustros da Sé Nova, e nos péssimos cemitérios de S. Pedro e Salvador, 972 sepulturas; e, tendo sido de 302 por ano o termo médio dos óbitos nos últimos dez anos, devem ter-se aberto as sepulturas com intervalos de 38 meses e meio (Costa Simões – Relatório da gerência municipal de Coimbra nos dois annos decorridos desde o 1.º de janeiro de 1856 até ao último de dezembro de 1857).
... Com todos estes trabalhos do meu plano do cemitério, começou a construção no cunhal SO, do mesmo cemitério em 30 de Setembro de 1852.
Cemitério da Conchada, planta primitiva
... Entrando, mais tarde ... na presidência da Câmara, para o biénio de 1856 e 1857, encontrei construída uma porção e muro do mesmo cunhal SO, a maior parte da muralha que sustenta o tabuleiro norte e os alicerces em quase todo o perímetro do cemitério.
Durante a minha gerência ativei os trabalhos; e, no fim do primeiro ano, tinha já concluído toda a muralha que sustenta o tabuleiro inferior, quase toda a que devia sustentar o tabuleiro imediato, grande parte dos muros de topo daquele primeiro tabuleiro, parte dos muros do tabuleiro sul e o respetivo movimento de terras. Estavam construídos os alicerces da capela e de todo o perímetro do cemitério, e ainda outras obras de menor custo por todos os tabuleiros e alameda contígua. A estrada ficou aberta ao transito em toda a sua extensão, desde o largo da Fonte Nova, por Montarroio, cerca da Graça, até ao cemitério.
Nestas alturas uma grande trovoada, em Dezembro de 1856, fez desabar uma parte da muralha norte; e arruinou quase todo o paredão do segundo tabuleiro.
Coincidiu este facto com desinteligências que, pouco antes, se tinham levantado entre a câmara e o governador civil ... e daí por diante as influências políticas ... procuravam por todos os meios o descrédito de tudo o que se tinha feito em favor do cemitério.
Pretendeu-se que a fosse a câmara responsável por todos os prejuízos causados por aquele desabamento.
... Malogrado este meio de agressão à câmara, recorreu-se ao descrédito do plano do cemitério ... o presidente da nova câmara propôs que se abandonasse o cemitério em construção, e que se adotasse novo plano em novo local.
Contra o cemitério em construção alegou-se: 1.º que era absurdamente grande e mal colocado; 2.º que ficaria excessivamente caro.
Simões, A.A.C. 1882. Dos Hospitaes da Universidade de Coimbra. Coimbra. Imprensa da Universidade, pg. 112-113, 119-122
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