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O problema do alojamento das classes mais carenciadas, maioritariamente residentes na Baixa, onde … se verificavam os maiores problemas de insalubridade, gerou várias tentativas de reforma urbanística, contudo sempre infrutíferas.
D. Manuel Correia de Bastos Pina
A construção de um bairro, especificamente destinado ao alojamento operário, começou a ser equacionada pelo município pouco depois da compra da Quinta de Santa Cruz. Em 1868 reservou-se alguns dos terrenos adquiridos para construção de um bairro operário, mas à semelhança de outros projetos também este foi sendo protelado.
Foi pela iniciativa do Bispo Conde, D. Manuel Corrêa de Bastos, que o desejo de um bairro para as classes mais carenciadas foi concretizado. Em 1897, quando se assinalavam os 25 anos do seu episcopado, o bispo recusou a oferta de uma valiosa cruz que lhe pretendiam oferecer e “pediu que ella fosse traduzida n’um pensamento mais levantado” e o seu valor aplicado na construção de um bairro para os operários mais carenciados.
Localização do Bairro Operário
Neste sentido, a 20 de Maio de 1897, solicitou ao município a cedência de um terreno na Quinta de Santa Cruz, entre o matadouro e o antigo caminho de Montarroio. Não estando a câmara legalmente habilitada para a cedência gratuita de terrenos cedeu a sua utilização por 19 anos.
O projeto, apresentado em Setembro desse mesmo ano, propunha a construção de um conjunto de 15 casas e uma capela. Agrupadas em duas bandas, uma de sete casas com frente para o antigo caminho de Montarroio e outra de seis casas com frente para atual rua Trindade Coelho. As casas de piso térreo ou com aproveitamento da cave onde o desnível do terreno permitia, possuíam um pequeno quintal para o cultivo de alimentos.
s/a, Tipo médio das habitações do Bairro Operário, 1897
As obras começaram no mês seguinte e no dia de Natal de 1898 as primeiras casas começaram a ser ocupadas. Por iniciativa do Bispo Conde, o novo e moderno Bairro de Santa Cruz passou a albergar o primeiro bairro operário da cidade.
s/a, Planta térrea das habitações do Bairro Operário,1987
No dia 12 de Novembro de 1911, ou seja, 5 anos antes do prazo previsto, o Bispo Conde entregou o Bairro ao município que a partir desta data assumiu a gestão do pequeno bairro. Contudo os edifícios apresentavam graves problemas de conservação e exigiam uma série de obras de conservação que “foram lentamente exgotando … os magros reditos provenientes das casas”.
Capela e casas do Bairro Operário
Em Outubro de 1955, face ao mau estado de conservação dos edifícios, o bairro começou a ser demolido pelo município ficando o espaço abandonado até há poucos anos, quando foi transformado num pequeno jardim e parque infantil.
Calmeiro, M.I.B.R. 2014. Urbanismo antes dos Planos: Coimbra 1834-1924. Vol. I. Tese de doutoramento em Arquitetura, apresentada à Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, pg. 353-356
Matadouro
Dos vários equipamentos apontados como essenciais para o funcionamento da cidade, o primeiro a ser criado foi o matadouro municipal. Antes mesmo de cedido o edifício, o município deliberou ocupar o antigo edifício do palheiro da Quinta de Santa Cruz “na esperança de que pelo governo não seria negado à camara aquele pequeno recinto”. Não foi de facto, instalando-se o matadouro municipal neste velho edifício até à construção de um novo na década de 1890.
Nota: O matadouro construído em 1890 estava localizado no terreno hoje ocupado pela igreja de Nossa Senhora de Lurdes e jardim que lhe está junto. Posteriormente este segundo matadouro municipal foi substituído por um terceiro, localizado na Pedrulha, num terreno hoje devoluto.
Matadouro construído em 1890
Planta com a implantação do matadouro
Iluminação Pública
Introduzida em Lisboa, no ano de 1802 pelo intendente de polícia Pina Manique, que mandou colocar candeeiros a azeite em todas as esquinas das principais ruas da cidade, constituía um acréscimo de segurança e conforto, permitindo prolongar “o dia pela noite dentro”. Um ano depois de solicitada, na noite de 17 de Novembro de 1836, as principais ruas e praças da cidade [de Coimbra] começaram a ser iluminadas com candeeiros alimentados a azeite
…. Neste mesmo ano, na capital, começavam os primeiros esforços para a introdução da iluminação a gás e para a construção da primeira fábrica de gás.
…Neste contexto, dezoito anos depois de instalada a primeira iluminação pública nas ruas de Coimbra, presidente Cesário de Augusto de Azevedo Pereira defendeu a substituição pelo novo sistema a gás, utilizado em Lisboa e no Porto e em várias cidades europeias. Além da melhoria da qualidade da iluminação pública, o novo sistema permitia a distribuição de gás aos domicílios. Ainda em 1854 foi assinado o contrato do exclusivo do abastecimento de gás iluminação pública e usos particulares com o empresário inglês Hardy Hislop, concessionário da iluminação na cidade do Porto.
Alçado do gasómetro 1854
Dois anos depois, a fábrica de gás implantada na Rua de Fora de Portas foi inaugurada e Coimbra tornou-se a terceira cidade portuguesa a ser iluminada por este tipo de energia. Apesar de algumas reclamações pontuais, este sistema de iluminação foi amplamente difundido pela cidade e dez anos depois de inaugurado contava com 220 candeeiros públicos e uma ampla rede de canalizações que abastecia a maioria das habitações. Em 1894 o contrato de iluminação foi revisto garantindo o aumento de 130 candeeiros públicos.
Planta de reconstituição da rede de gás e com a implantação da fábrica de gás
Calmeiro, M.I.B.R. 2014. Urbanismo antes dos Planos: Coimbra 1834-1924. Vol. I. Tese de doutoramento em Arquitetura, apresentada à Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, pg. 189-190, 200-202.
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