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A' Cerca de Coimbra


Quinta-feira, 26.07.18

Coimbra: O Pelourinho e as suas peregrinações pela cidade 2

Orgulhoso e altaneiro, bem cioso dos direitos que representa, o pelourinho não desvenda com facilidade a sua origem, mas verificamos que a sua existência se estendeu a toda a Europa ocidental, cronologicamente até à implantação das ideias liberais e que, nalguns países, ultrapassou mesmo esta época. Sabemos também que atravessou os mares e se implantou no Novo Mundo por influência de portugueses, espanhóis e ingleses.

Herculano pretende ver a sua origem associada ao direito itálico (jus italicum) que consignava uma total organização municipal e permitia levantar no forum a estátua de Marsyas ou de Sileno com a mão erguida, símbolo da liberdade burguesa.

Pinho Leal, filia a origem destes monumentos na columna moenia, colocada pelo cônsul romano Moenio na praça, isto é, no forum que se estendia frente à sua casa, onde se realizavam os julgamentos feitos pelos magistrados (triumviros), se aplicavam os castigos públicos e se faziam as festas populares.

Teófilo Braga vê no pelourinho a representação do Genius Loci romano, patrono da independência municipal.

Luís Chaves filia o aparecimento do pelourinho na antiga imagem do poste pessoal ou coletivo de um clã, de um povoamento ou de um agrupamento religioso.

Mas a sua origem, provavelmente, tem de se ir buscar em tempos ainda mais recuados.

Todas as picotas, mais ou menos esbeltas, mais ou menos ricas na sua decoração, têm um elemento comum: a coluna.

… Monsenhor Nunes Pereira, nos idos de Quarenta, escrevia que os pelourinhos “testemunham a autonomia (jurisdicional, digo eu) que a terra goza ou gozou noutros tempos. Devem ser estimados, conservados e reconstituídos onde isso possa fazer-se”.

*

 O pelourinho de Coimbra transferiu-se do adro da Sé Velha, onde se encontrava junto à Casa do "Vodo" (casa da audiência da Câmara que se erguia frente à igreja da Sé [Velha] para a praça do Comércio nos finais do século XV (1498).

Retirado deste lugar, deslocou-se para o Largo da Portagem (1611), tendo então sido adaptado a fontanário. Aí permaneceu até 1836, ano em que o desmontaram e armazenaram até 1894. 

Grimpa do pelourinho de Coimbra, original.jpg

Grimpa do pelourinho de Coimbra, original

 Do original resta apenas a grimpa, conservada no acervo do Museu Nacional de Machado de Castro.

*

Da sua reconstrução, ocorrida nos anos oitenta do século passado, posso dar testemunho.

Eu era, ao tempo, Chefe de Serviços de Turismo aos quais estava adstrito o Gabinete de Salvaguarda do Património, de que era responsável o arquiteto António José Monteiro.

Tendo sido determinado pelo então Presidente da Câmara, Dr. Mendes Silva, a recuperação da Praça do Comércio, na altura mais conhecida por Praça Velha, entendeu-se reinstalar ali uma reconstituição do Pelourinho, até porque ele, outrora, já estivera erguido naquele local.


Pelourinho de Coimbra na Portagem.jpg

 Pelourinho de Coimbra na Portagem

 

Baseado em desenhos que se pensam ser fidedignos, o arquiteto António José Monteiro riscou uma proposta reconstrutiva e o saudoso Mestre Pompeu Aroso bateu as partes metálicas, copiando-as do original, existente no Museu Machado de Castro. 

 

Pelourinho de Coimbra c.JPG

 Pelourinho de Coimbra reconstituição

 

Praça Velha com reconsituição do pelourinho.jpg

 

Praça Velha com reconstituição do pelourinho

 

 

Bibliografia

. Anacleto, R. 2008. Para que servem os pelourinhos? Conferência proferida nas I Jornadas de História local, Pampilhosa da Serra. Auditório Municipal, 2008.04.10 e 2008.04.11.

. Malafaia, E.B.A. 1997. Pelourinhos portugueses. Tentâmen de inventário geral. Col. Presenças de Imagens. Lisboa, Imprensa Nacional Casa da Moeda.

. https://pt.wikipedia.org/wiki/Pelourinho_de_Coimbra. Acedido em 2018.07.17

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por Rodrigues Costa às 19:03

Quarta-feira, 10.02.16

Coimbra e as suas personalidades: Pompeu Aroso

Antes de concluir apenas gostaria de prestar a minha singela homenagem a um grande mestre do ferro forjado, que foi José Pompeu Aroso (13.7.1910-26.2.1986). Trabalhou o ferro desde os 14 anos de idade e dedicou-se à arte do ferro forjado até ao fim dos seus dias. Em 1984 fora-lhe atribuída a Medalha de Ouro da cidade de Coimbra. Foi para mim uma experiência inesquecível ter visitado a sua oficina, tendo-o como guia, em Fevereiro de 1982. Ao tempo, o Mestre Pompeu Aroso ainda alimentava uma esperança, embora ténue, de os seus colaboradores poderem vir a manter a oficina em laboração, mesmo após o seu desaparecimento. Isso, infelizmente, não se verificou. Entretanto ofereceu-me, gentilmente, uma síntese da sua biografia, em verso, datada de 4-7-1978, à qual deu o título «É assim uma vida». É com esse testemunho, que considero de relevância para o conhecimento do homem e do artista, no seu percurso por este mundo, que termino este trabalho.

É ASSIM UMA VIDA

Sou de Coimbra de ferro torto
Tenho os brasões em pessoa

Mestres Machados e Gonçalves
Pioneiros de Belas Artes
Chaves de Almeida e Rodrigues
E saudoso Albertino Marques

Com amor e sacrifício
De muitos anos vincados
Este serralheiro de ofício
Aquém dos seus antepassados

Autor de vários cinzeiros
O carro de mão e o gato
É do signo dos caranguejos
E do bacalhau sem pataco

Ferro frio mal tratado
Quando se pensa em casa
Para ser bem forjado
Só obedece estando em brasa

Nada tenho nada valho
Por tudo aquilo que fiz
De bigorna martelo e malho
Neste século dos xis-xis

O’ Coimbra minha terra
Da cultura e da arte
Da tradição o que se espera
É deixar morrer a “Forjarte”
Eu trabalho sim senhor
Quando não tenho que fazer
Luto sempre com amor
Sempre e sempre até morrer

4-7-78
José Pompeu Aroso

Mendes, J.A. 2000. O Ferro na História: Das Artes Mecânicas às Belas-Artes. In Gestão e Desenvolvimento, 9 (2000), 301-318. Pg. 312 e 313

Uma nota pessoal.
Tive ocasião de conviver com Pompeu Aroso e de visitar diversas vezes a sua oficina. Aquando da homenagem que lhe foi prestada pela Cidade e da consequente organização da exposição "Serralharia Artística. Homenagem da CMC a José Pompeu Aroso", esse conhecimento transformou-se em amizade. Fui, também, testemunha da sua esperança que a Forjarte continuasse.
Tinha já adquirido os atrás referidos cinzeiros “O carro de mão … o signo dos caranguejos … e o bacalhau sem pataco”. Um dia, menos de uma semana antes da sua morte, fui surpreendido no meu gabinete por Mestre Aroso que me disse que fazia questão de me oferecer uma peça.
A peça – uma simples mas muita bela candeia – ainda hoje está em local destacado em minha casa.

 

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por Rodrigues Costa às 11:16


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