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A notícia da nova tentativa de criar uma unidade de lanifícios no antigo convento de Sâo Francisco da Ponte foi divulgada com regozijo pelo periódico «O Conimbricense», no dia 17 de março de 1888, invocando a oportunidade criada pela junção de «tres activos e habeis industriaes, todos de Sadadell, provincia de Catalunha, no visinho reino».
… A escritura de constituição da sociedade de comércio e indústria Peig, Planas & C.ª foi lavrada, em 24 de julho de 1888 … apresentando como finalidade «a fiação e manufactura de toda a espécie de tecidos de lã e estambre no edifício de São Francisco da Ponte».
... O período de montagem da estrutura fabril iniciou-se logo em abril de 1888, com a vinda de máquinas a vapor, caldeiras e teares mecânicos do estrangeiro, que, depois de montados nas salas do antigo complexo conventual, foram alvo de um período de testes para aferir o seu correto funcionamento, Finalmente, no dia 7 de dezembro, o periódico O Conimbricense anuncia «que se acha em plena laboração a fabrica de lanificios dos srs. Peig, Planas & C.ª, no edifício de S. Francisco além, da ponte. Estão trabalhando os differentes teares, fiações e cardas, e em geral todos os machinismos. Ainda bem que vemos em Coimbra a funccionar uma importante fabrica de lanificios, que pode vir a ser um forte incentivo para a creação de outras».
Pessoal da Fábrica em visita à Exposição Têxtil, no Porto. Fotografia de Lara Seixo Rodrigues, acedido em https://www.acabra.pt/2019/03/convento-sao-francisco-aborda-memorias-a-cores/
… Na aproximação da data comemorativa dos 50 anos de atividade (1938), os responsáveis pela empresa relembraram, em comunicado, a odisseia percorrida até então, enaltecendo a papel fundamental daqueles que nela labutaram e, em particular, as diligências iniciais dos sócios fundadores: «Se atendermos à vida difícil que têm atravessado as realizações industriaes portuguesas, particularmente nos lanifícios, o cincoentenário da Fábrica de Coimbra representa uma invulgar afirmação do valor conjunto dos seus dirigentes e dirigidos, pois todos se esforçaram atravez dos anos nem sempre fáceis e das circunstâncias quasi nunca propícias, por elevar sem descanso o progresso e o prestígio deste estabelecimento fabril».
… As mortes de Jaime Castanhinha Dória, em 9 de junho de 1956 e, no ano seguinte, de Vitorino Planas Dória (30 de junho) provocaram alterações significativas na direção da unidade fabril, a que se juntou o afastamento total de Luís Elias Casanovas, por já antever as dificuldades que o futuro dos lanifícios em Portugal, e da fábrica de Santa Clara em particular, teria com a emergência das unidades de confeção e do pronto-a-vestir. Entre saídas e decessos, podemos afirmar que se fechou um ciclo na gerência do estabelecimento fabril. Os novos tempos trarão novos donos, selecionados, uma vez mais, no seio familiar.
Complexo industrial da Fábrica de Lanifícios em Santa Clara. Finais da década de 70 do século. Fotografia do arquivo particular de Pedro Planas Meunier, acedida, em https://www.publico.pt/2019/07/08/local/noticia/ascensao-queda-fabrica-coimbra-1878945
… Após o período fatídico de sucessivos falecimentos, a sociedade concentrou-se nas mãos dos herdeiros de Vitorino Planas Dória, dividindo-se pelas suas filhas Maria Irene Dória de Aguiar Planas Leitão, Maria Emília Dória de Aguiar Planas Raposo e Maria Vitorino Dória de Aguiar Planas Meunier, casada com o engenheiro George Greenwood Meunier (1926-1996). Este último tomará o comando da gestão da unidade fabril e, a 14 de dezembro de 1962, ascendeu ao estatuto de sócio a partir da compra das quota-partes pertencentes às irmãs da sua esposa.
Freitas, D. M., Meunier, P.P. e Mendes, J. A. (Cordenação e Prefácio). 2019. O Fio da Memória. Fábrica de Janfícios de Santa Clara de Coimbra. 1888.1994. S/loc, s/ed. Pg. 37-59
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