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Surgiu, recentemente, nas redes sociais esta bela fotografia:
Av. Navarro com comboio a chegar à Estação nova. 1910-1917. Acedida em: http://arquivomunicipal2.cmlisboa.pt/xarqdigitalizacaocontent/Documento.aspx?DocumentoID=1634678&AplicacaoID=1&Value=13c2034062824bf375d7c03644adbdb93f8b0298073a5a6a&view=1
Trata-se de uma fotografia do espólio do Arquivo Municipal de Lisboa, onde foi identificada, em 2014 por Paulo Mestre, membro da Associação Portuguesa dos Amigos dos Comboios que a divulgou no blogue LusoCarris fórum.
Tendo solicitado ajuda para a datação da imagem ao meu filho Pedro Rodrigues Costa – um estudioso da temática dos comboios e carros elétricos – ele juntou o seu saber ao de outros dois conhecedores desta matéria, Jorge Oliveira e Fernando Pedreira, que acabaram por propor o período compreendido entre 1910 e 1917.
A proposta teve por base os seguintes pressupostos:
- A locomotiva que se vê na fotografia é da série CP 17 a 22 e foi construída em 1862.
Esquema das locomotivas da série CP 17 a 22. In: Nomenclatura das Máquinas a vapor
Segundo Fernando Pedreira este tipo de locomotivas fez parte do parque de Coimbra/Alfarelos até, pelo menos, meados dos anos 40 do século passado, devendo a sua utilização ter-se iniciado entre 1911 e 1919, ou mesmo antes. Entre 1916 e o fim de 1919 devem ter andado a queimar lenha, sendo que no «tender» não se vê nem lenha nem os acrescentos que lá colocavam para a conter, não tendo a chaminé para-fagulhas, tipo «faroeste» que muitas tiveram nessa altura. No entanto, já vi uma foto de uma delas, dos anos da 2ª Guerra mundial, no Largo da Portagem, a rebocar um vagão.
Pedro Rodrigues Costa, acrescentou ainda que a fotografia terá de ser posterior a 1911 porque nela se vêm os postes da rede de elétricos de Coimbra e porque num deles se vêm dois belos candeeiros de iluminação pública a gás que só em 1919 foram substituídos por iluminação elétrica, aproveitando para o efeito a infraestrutura dos carros elétricos.
Pormenor da fotografia acima publicada
Jorge Oliveira salientou ainda que no edifício da esquina se vê, uma pala ou para-sol em ferro, similar ao do edifício Chiado e ao da Havaneza ao fundo da Rua Visconde da Luz, representativo do estilo Arte Nova.
Ali funcionava, na minha meninice, a firma Júlio da Cunha Pinto, que vendia tabaco, jogos de lotaria, perfumes, edição de postais ilustrados. E, acrescento eu, papel selado e selos fiscais, um imposto encapotado para quem fazia algum contrato ou tinha que se dirigir a uma entidade oficial.
Deste edifício existe uma outra fotografia bem elucidativa.
Edifício na esquina da Av. Navarro com o Largo das Ameias. Postal ilustrado.
Por último, Jorge Oliveira socorrendo-se de um texto de Carlos Ferrão, identifica o edifício que se vê na fotografia seguinte como sendo o mais luxuoso hotel da cidade no princípio do séc. XX, o Palace Hotel, que viria a ser devorado pelo fogo em 30 de Abril de 1917.
Postal ilustrado, onde é visível uma placa publicitária do Palace Hotel
No primeiro andar do edifício que o substituiu funcionou um local onde as artes musicais e dança passaram a ser rainhas. A abertura solene e inauguração da Academia de Música de Coimbra foi a 10 de Fevereiro de 1929.
Edifício onde funcionou a Academia de Música de Coimbra. Foto do espólio fotográfico de Jorge Oliveira
Posteriormente, neste edifício, de acordo com as minhas memórias, funcionou o Hotel Internacional e um Café com o mesmo nome, muito frequentado pelos estudantes de então.
Postal ilustrado, onde são visíveis os para-sol do Café Internacional
Café Internacional da minha juventude, hoje loja de moda
Saliente-se, como conclusão, que ao pretender datar uma fotografia, a análise da mesma e o saber de Alguns tornaram possível recordar diversos e interessantes factos da história coimbrã.
Rodrigues Costa
No dia 6 de dezembro de 1985, com a presença do então Presidente da República, General Ramalho Eanes foi inaugurado o Museu Militar instalado em parte do dormitório da Convento de Santa Clara-a-Nova, onde tinha funcionado primeiro o Regimento de Artilharia Ligeira n.º 2 e depois o Centro de Seleção e recrutamento do exército.
Museu Militar em Coimbra, extinto. Imagem acedida em https://www.portugalfinest.pt/pt/cr1s7wSjG/nr1iefEWyyuC/
Carro de combate pesado, de lagartas, “M 47 Patton” exposto à entrada do Museu. Imagem acedida em https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/f1/Museu_Militar_de_Coimbra_-_Portugal_%282516675164%29.jpg
Carro de combate de rodas, Saladin exposto na área lateral de exposição de viaturas do Museu. Imagem acedida em https://www.portugalfinest.pt/pt/cr1s7wSjG/nr1iefEWyyuC/
Segundo o site https://www.igogo.pt/museu-militar-de-coimbra o museu era constituído por salas de exposição no rés-do-chão e 1º andar, parque de armas pesadas, oficina de restauro e arrecadação de material.
O património ali exposto era descrito da seguinte forma em https://www.portugalfinest.pt/pt/cr1s7wSjG/nr1iefEWyyuC/.
O Museu Militar de Coimbra tem exposto o material que, ao longo dos tempos, foi utilizado pelo exército português. Seis salas dão a conhecer a história militar de Portugal. Fotografias de painéis de azulejos antigos e de vitrais. Uma carroça de transportes de munições. Uma exposição temática sobre trincheiras. Estes são apenas alguns dos temas que o Museu Militar de Coimbra aborda e que dão a conhecer um pouco mais da história militar portuguesa.
Mas existe uma outra fonte que nos permite melhor conhecer esse património. Trata-se de um vídeo acessível em https://www.youtube.com/watch?v=CRBUnvkd-20 que nos revela, nomeadamente, imagens do primeiro computador a ser utilizado em Portugal.
A extinção deste Museu foi assim relatada por Cátia Santos em https://catiasantos.wordpress.com/137-2/
Em Dezembro de 2009, o Museu Militar de Coimbra fechou portas ao público, por questões económicas. No dia 31, do presente mês, a chave é entregue aos responsáveis.
Depois de 14 anos a mostrar carros de combate, armas e fardas, de acordo com o desenvolvimento do exército português, o local turístico vai encerrar.
Os materiais expostos estão a ser distribuídos por unidades Militares de todo o país, desde Bragança a Elvas.
O património ali existente, segundo informações fidedignas, foi maioritariamente deslocado para o Museu Militar de Elvas e, ainda, para o Museu Militar de Bragança e outras unidades militares.
Carro de combate pesado, de lagartas, “M 47 Patton” que pertenceu ao Museu Militar de Coimbra e agora exposto no Museu Militar de Elvas. Foto Pedro Rodrigues Costa
Peças de artilharia que integraram o Museu Militar de Coimbra e agora expostas no Museu Militar de Elvas. Foto Pedro Rodrigues da Costa
Ou seja, no espaço de cinco anos, em Coimbra, e se bem me lembro perante um silêncio de chumbo, viu encerrar em 2004 as portas do Museu dos Transportes Urbanos e depois, em 2009, as do Museu Militar.
Triste sina a da minha terra no que concerne à perda do seu património multisecular.
Rodrigues Costa
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