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A' Cerca de Coimbra


Quinta-feira, 15.03.18

Coimbra: As Escolas da Sé e de Santa Cruz

Antecedendo o movimento de fundações universitárias que caracterizou o “Renascimento Medieval” e se estendeu a Portugal nos finais do século XIII, verifica-se a existência mais ou menos constante e conseguida, de um sistema de ensino que, durante largo período de tempo, garantiu a transmissão do saber.

Substancialmente ligadas à Igreja, na sua génese, no seu quadro orgânico e nos objetivos programáticos, as instituições escolares apresentavam-se sob duas modalidades fundamentais: as escolas catedralícia e as escolas monásticas.

De entre umas e outras, importa salientar aquelas que manifestaram mais estreita ligação à Universidade. Sã elas a Escola da Sé de Coimbra e as Escolas de Santa Cruz e de Alcobaça e ainda a Colegiada de Guimarães. 

Filósofo medieval, Grandes Chroniques de France.j

Filósofo medieval In: Grandes Chroniques de France

 A Escola da Catedral de Santa Maria de Coimbra – embora a data da sua fundação não possa ser estabelecida com rigor – terá sido criada entre 1082-1086, por iniciativa do bispo conimbricense, D. Paterno. Um documento de doação datado de 1008 traz a subscrição de um tal Petrus Grammaticus e, mais tarde, em pedra tumular conservada hoje no Museu Machado de Castro, uma inscrição com a data de 1102, fez chegar até nós o nome de João «mestre-escola» - o prebendado que superentendia na lecionação relativa ao trivium e quadrivium. Esta escola, onde se trabalhava a Gramática e a Dialética e, obviamente, a matéria teológica, tradicionalmente designada por «sacra pagina», destinava-se institucionalmente à preparação dos candidatos às ordens sacras. Os estudantes, reunidos em regime de vida comum, debaixo da regra de S.to Agostinho, habitavam em casas da dependência da sé ou do cabido.

Honorius of Autun’s Imago Mundi in a private col

 Honorius of Autun’s Imago Mundi

 ... A Escola de Santa Cruz, implantada no mosteiro do mesmo nome, que data da 2.ª metade do século XII, cedo se transformou num centro de formação e irradiação cultural, cujo papel foi decisivo para a consolidação da consciência da nacionalidade. É interessante notar que, no grupo de fundadores, figura o nome de D. João Peculiar, cónego e mestre da Escola da Sé conimbricense.

Relativamente ao quadro curricular, muito pouco se conhece ao certo; não andaria, porém, longe do esquema delineado, no seu «Didascalion», por Hugo de S. Vítor, de quem existiam diversas obras no «armarium» de Santa Cruz.

Seja como for, o ensino parece ter atingido grande amplitude e projeção funcionando as disciplinas profanas como propedêuticas do acesso à Teologia; é mesmo verosímil que as próprias ciências fossem abordadas, nomeadamente a medicina. De resto, a existência de um hospital na dependência do mosteiro recomendaria o estudo daquela ciência.

Conhecem-se alguns dos mestres que funcionaram nesta escola e alcançaram renome, como D. Frei João, teólogo, D. Frei Raimundo, profundo conhecedor em ciências diversas, D. Frei Pedro Pires, eminente na Gramática, Lógica, Medicina e Teologia. Para falar também de estudantes, basta citar Fernando de Bulhões, o futuro Frei António, já então frade franciscano, canonizado e declarado Doutor da Igreja Universal.  

 Arquivo da Universidade de Coimbra. Boletim do Arquivo da Universidade de Coimbra. Vol XI e XII.1989/1992. Coimbra, Arquivo da Universidade de Coimbra, pg. 10-21

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por Rodrigues Costa às 09:52

Terça-feira, 14.06.16

Coimbra: Primórdios da Universidade 1

Depois da “Reconquista Cristã” de Coimbra e ainda no tempo de Fernando Magno, cerca do ano de 1070, surgiu a primeira escola catedralícia instituída em Portugal, fruto da vontade do Conde Dom Sisnando e do Bispo Dom Paterno. Esta “Escola de Santa Maria”, funcionando à sombra da Catedral (hoje a Sé Velha), destinava-se a jovens que pretendessem seguia a carreira eclesiástica. E, na esteira desta, outras escolas episcopais se fundaram até finais do século XI, nomeadamente em Braga e Lisboa.

A este primeiro surto do ensino no território que hoje é Portugal, seguiram-se, desde logo... as escolas monásticas, de que se destacam as escolas de Santa Cruz de Coimbra, dos cónegos regrantes de Santo Agostinho... que havia sido fundado pelo nosso primeiro rei, ela em pouco tempo se transformou num verdadeiro difusor de cultura. Foi efetivamente do Mosteiro dos Crúzios que saíram alguns dos maiores expoentes da intelectualidade portuguesa naquela época, como são os casos de Fernando de Bulhões, o nosso Santo António, que se tornou um dos maiores teólogos do seu tempo e que levou a sua sabedoria até Montpellier, Pádua e Tolosa, e Frei Gil de Santarém.

Poderá dizer-se que neste período pré-universitário o Real Mosteiro de Santa Cruz funcionou como uma autêntica universidade, continuando a atuar nesse sentido ao longo de vários séculos, mesmo depois da fundação da universidade portuguesa.

Desde muito cedo começaram os monges de Santa Cruz a enviar os seus religiosos mais distintos à Universidade de Paris e, estes, ou ficavam por aquelas paragens ensinando, ou regressavam especializados em várias ciências, desde a Teologia à Medicina.

... D. Sancho I tinha estabelecido a sua corte em Coimbra e haveria nesta cidade, naquela época, “Mestres de boas artes e ciências” ... É neste sentido mesmo sentido que se orienta a carta de doação de 14 de Setembro de 1192, onde D. Sancho I afirma: “Dou e concedo ao Mosteiro de Santa Cruz quatrocentos morabitinos da minha fazenda para sustentação dos cónegos do dito mosteiro que estudam em França”.

Assim, não será de admirar que, nesta nossa Idade Média, o Mosteiro de Santa Cruz se constituísse como o grande aglutinador da cultura e da intelectualidade, podendo ombrear, ao nível do ensino que ministrava e dos seus Mestres, com algumas das universidades que gradualmente iam surgindo na Europa. E, para um melhor aproveitamento do ensino, criou a sua própria escola de calígrafos que produziu e reproduziu muitas obras de valor, num tempo em que os códices eram tidos como coisa valiosa e rara.

Ribeiro, A. 2004. As Repúblicas de Coimbra. Coimbra, Diário de Coimbra. Pg. 13 a 15

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por Rodrigues Costa às 22:23


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