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A' Cerca de Coimbra


Quinta-feira, 25.05.23

Coimbra: A arte do ferro forjado 5, O coreto do Passeio Público

A serralharia artística de Coimbra renasceu com António Augusto Gonçalves e com o Dr. Joaquim Martins Teixeira de Carvalho, na intimidade Mestre Gonçalves e Mestre Quim Martins, como lhe chamava a plêiade de artistas do ferro que foram seus discípulos: António Maria da Conceição (Rato), Albertino Marques, António Craveiro, Daniel Rodrigues, Lourenço Chaves de Almeida, Manuel Pedro de Jesus, José Domingues Baptista e Filhos, José Pompeu Aroso, e tantos outros. Das mãos dos ‘ferreiros’ saíram obras notáveis, capazes de marcar o ressurgimento daquela arte rude e maravilhosa que, em Coimbra, a partir de meados do século XIX, tanto tinha decaído, limitando-se, a bem dizer, ao fabrico de camas e de lavatórios, como se verificou na exposição, realizada em 1869, no salão da Associação dos Artistas.

Joaquim Martins Teixeira de Carvalho 01.jpegJoaquim Martins Teixeira de Carvalho

Nesse renascimento, para além dos citados Gonçalves e Quim Martins, podem ainda referir-se os nomes de Manuel Pedro de Jesus e de João Augusto Machado, este também a tentar o ferro e o primeiro que, a partir de certo momento, lhe dedicou todo o seu saber e criatividade; por isso, os podemos apelidar de precursores da serralharia artística aeminiense.

A Câmara Municipal, logo em 1903, entendendo que devia encorajar a nova indústria, abriu concurso para a construção de um coreto destinado a ser colocado no novo Passeio Público que se iniciava no Largo das Ameias. Manuel José da Costa Soares, o artista que emprestara os utensílios a João Machado e o ensinara a bater o ferro, concorreu, a par com algumas firmas industriais sediadas no Porto.

Passeio Público. Coreto 1.jpg

Coreto no Passeio Público

Costa Soares era dono de uma alquilaria, sita à Rua da Sofia, na inacabada igreja de S. Domingos, onde, ao fundo, um pouco afastado da entrada, montara a forja. Mas os seus trabalhos de ferro já eram conhecidos, porque foi ele que arrematou a parte metálica do então Teatro-Circo e também é da sua autoria a cúpula metálica da Penitenciária, feita em 1887.

A comissão nomeada para apreciar as propostas que haviam sido apresentadas acabou por dar o seu aval à do referido industrial, porque, para além do mais, o seu projeto não era uma obra de catálogo, de fabrico em série, mas tratava-se de uma construção inédita. Contudo, foi “o modesto artista sr. João Gaspar, que na officina do sr. Manoel José da Costa Soares forjou as peças do corêto que a camara municipal mandou construir na Avenida Emygdio Navarro”.

Passeio Público. Coreto 2.jpgCoreto. Manuel José da Costa Soares com desenho de Silva Pinto

 A estrutura, posteriormente transferida para o Parque Dr. Manuel Braga, foi adjudicada a 18 de fevereiro do ano seguinte, e sabe-se, apenas através do que se encontra escrito em jornais publicados na cidade, que o arquiteto Silva Pinto, “um dos mais calorosos apóstolos do novo culto”, executara o seu desenho e que a edilidade tinha todo o interesse em entregar a obra a um artista da cidade, porque podia, deste modo, implementar a indústria nascente.

Coreto 09.jpgO coreto depois de transferido para a Parque Dr. Manuel Braga

Anacleto, R. A arte do ferro forjado na cidade do Mondego, primeira metade do século XX.  In: História, Empresas, Arqueologia Industrial e Museologia. 2021. Edição Imprensa da Universidade de Coimbra, pg. 259-290.

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por Rodrigues Costa às 11:09

Quinta-feira, 03.05.18

Coimbra: Queima das Fitas de 1931

Começa hoje à meia-noite mais uma Queima da Fitas, esta envolta em alguma polémica. Para melhor compreender esta tradição académica apresentam-se algumas notas sobre a sua génese, assentes na recordação da Queima de 1931.

 

A Tradição Académica encontra-se associada a diversas celebrações que pontuam o calendário estudantil. Em Coimbra, as primeiras manifestações deste tipo remontam aos festejos do centenário da sebenta, aos que marcavam o início e o fim das aulas, aos do enterro do grau, etc.

Contudo, ao longo dos tempos foram ganhando raízes toda uma série de iniciativas relacionadas com o desenrolar do calendário académico e que, obviamente passaram a integrar a Tradição. Refira-se sem qualquer preocupação exaustiva, a queima das “Fitas” dos Quartanistas surgida por volta de 1896; a prática da Pastada na década de 1920; a introdução da Garraiada em 1929/30; a missa de Bênção das Pastas, em 1930; a invenção das Cartolas e Bengalas por 1931; a introdução da Venda da Pasta pelos finalistas de Medicina da UC, em 1932; o Baile de Gala das Faculdades, em 1933; a Imposição de Insígnias dos Quartanistas Grelados em 1946; a inclusão da Monumental Serenata no programa da Queima das Fitas, em 1949; as latadas de abertura do ano escolar inventadas nos inícios da década de 1950; a adoção do ritual da compra/roubo do grelo às vendedeiras do Mercado Municipal, costume adotado a partir da Revolta do Grelo acontecida em 1903.

Mas, no século passado, a festa de maior impacto realizada em Coimbra e que assinalava, grosso modo, o final do ano letivo era a “Queima das Fitas”.

Em 1931 integrava o cortejo um carro de bois que transportava alguns caloiros, dois deles identificados pela pessoa que nos facultou a fotografia.

Queima das Fitas. 1931 ou 32.tif

 Data desse mesmo ano de 1931 o cartaz da Queima das Fitas que, deteriorado pelo passar dos anos, não permite uma leitura integral.

No entanto, face ao interesse do documento, apresentamos a transcrição possível e pedimos que nos auxiliem na sua leitura integral. Permitimo-nos chamar a atenção não só para estilo da escrita, como para o aliciante programa nele anunciado.

Queima das Fitas 1931.jpg

 Coimbra da tradição e da lenda

QUEIMA DAS FITAS

As mais bizarras festas académicas que se realizam na Europa

De 24 a 27 de maio de 1931

 

Domingo, 24

Imponente garraiada, no Colizeu de Coimbra, em homenagem aos Quartanistas de todas as Faculdades «Diestros» dos mais afamados de Coimbra.

À NOITE Maravilhoso festival no Parque da Cidade

 

Segunda Feira, 25

À TARDE Grandioso desafio de foot-ball no campo de Santa Cruz entre… de Lisboa

À NOITE Na Associação Académica conferência sobre … académicos do passado

 

Terça Feira, 26

À TARDE Entram os caloiros em Coimbra. Grande … caloiral no Largo da Feira e entrega das insígnias e mais atributos

À NOITE Imponente Sarau no Teatro Avenida promovido pelo nosso Orfeon

 

Quarta Feira, 27

A Queima das Fitas

Grandioso cortejo burlesco que sairá da Universidade pelas 14 horas. Queima dos Grêlos no Largo da Feira, desfile do imponente cortejo pelas ruas da Cidade.

Carros….

À NOITE … no Parque da Cidade. Maravilhoso fogo de artificio dos … de Viana do Castelo

….

 

Uma breve nota informativa para dizer que o Colizeu de Coimbra referido no cartaz era a praça de touros, inaugurada em 26 de julho de 1925, e destruída por um grande incêndio no dia 4 de abril de 1935. Estava erguida no atual Parque Verde do Mondego, justamente no local da Praça da Canção.

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por Rodrigues Costa às 09:06

Terça-feira, 17.11.15

Coimbra na Revolução Industrial 2

… No sector da moagem, massas alimentícias e bolachas, destacaram-se as fábricas Miranda, Ld.ª e Triunfo … A primeira (de massas alimentícias e bolachas) foi fundada em 1887, por José Victorino Botelho de Miranda, tendo sido inicialmente também instalada no … Convento de São Francisco, em Santa Clara. Em 1900, foi transferida para a Avenida do Porto da Pedra (para o belo edifício, felizmente recuperado, que se encontra junto à Ponte Açude).
A Sociedade de Mercearias, Ld.ª, criada em 1913, viria posteriormente a dar origem à Fábrica Triunfo, cujo progresso foi evidente, no final do primeiro conflito mundial … A posterior deslocação das instalações, da Rua dos Oleiros para a Pedrulha, possibilitou a sua expansão, até ao seu recente fecho.
No que concerne a bebidas, saliente-se a sociedade por quotas Cervejas de Coimbra, Ld.ª, criada em 1920, posteriormente designada Companhia de Cervejas de Coimbra, Ld.ª (1924), que instalou a sua fábrica e cervejaria junto ao Parque Dr. Manuel Braga e produzia a conhecida cerveja Topázio … viria a ter uma vida útil de apenas cerca de três décadas, até à sua transferência para as novas instalações, na zona industrial da Pedrulha, onde também não teria vida longa.
… Deve ainda ser recordada a Fábrica dos Curtumes, instalada na Rua Figueira da Foz, em plena I Guerra Mundial, isto é, em 1915. Esta era propriedade da firma “Raposo, Amado & Godinho.
… No sector dos serviços, mais propriamente nas artes gráficas, também Coimbra tem uma longa tradição, que passa pela Imprensa da Universidade (criada pelo Marquês de Pombal, em 1772, encerrada em 1934 e refundada há pouco…)
… No período em foco … devemos assinalar …:
a) Gráfica Conimbricense Ld.ª (30-7-1920);
b) Coimbra Editora, Ld.ª (7-8-1920).

Mendes, J. A. 2010. Coimbra Rumo à Industrialização. 1888-1926. In Caminhos e Identidades da Modernidade. 1910. O Edifício Chiado em Coimbra. Actas. Coimbra, Câmara Municipal de Coimbra, pg. 143 e 144

 

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por Rodrigues Costa às 12:38


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