Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]

A' Cerca de Coimbra


Quinta-feira, 24.10.24

Coimbra: Abastecimento de água ao domicílio 2

Concluímos a divulgação de um trabalho do Professor Doutor José Amado Mendes. sobre a história do abastecimento de água ao domicílio em Coimbra.

Finalmente, após mais de duas décadas de avanços e recuos, em 1887, a Câmara Municipal da cidade do Mondego abriu concurso para o abastecimento domiciliário de água à cidade, ao qual concorreram três empresas, uma portuguesa e duas estrangeiras:

…. A adjudicação foi feita à segunda concorrente [ Albert Nillus & C.ª, de Paris, representada por E. Béraud, residente em Lisboa (pelo preço de 83 700$réis].

 ….  Os trabalhos terão começado pouco depois da adjudicação (em 05 de janeiro de 1888), pelo que, após cerca de ano e meio, “provavelmente na segunda quinzena de Maio de 1889, Coimbra vê chegar o extraordinário melhoramento, que é o abastecimento de água pelos métodos modernos”.

…. Cerca de dois meses depois, foi igualmente iniciado o processo de instalação do sistema de saneamento, confirmando assim a justeza da mencionada proposta, então recusada, do eng.º James Easton.

O sistema de abastecimento domiciliário de água processa-se sequencialmente

em várias fases, das quais se destacam a elevação e o tratamento, o armazenamento e a distribuição. O processo já foi assim descrito: “A instalação dos serviços de abastecimento da cidade de Coimbra compreende successivamente: poços de captação, tubos aspiradores e impulsores accionados mechanicamente; reservatório de contenção e aprovisionamento; rêde de distribuição pública”.

…. [Em] Coimbra aproveitou-se a proximidade do rio Mondego, que tem oferecido água de boa qualidade, com origem na Serra da Estrela. Entre 1889 e 1953, a captação da água fez-se junto ao Parque Dr. Manuel Braga, próximo do centro da cidade.

…. Como descreve José Cid: «Em primeiro logar a agua é tomada no leito do rio em dois poços de captação, abertos na margem direita numa chanfradura da mota-dique, uma centena de metros a montante da ponte … Esses poços, cujo diâmetro é de 3m,5, penetram 9m,0 abaixo da estiagem e assentam sobre camadas alternadas

de sexo branco e areia, dispostas em substituição das camadas naturaes do leito do rio, com o fim de realizar uma filtração mais perfeita […]. No interior de cada poço penetra um tubo aspirador, de ferro fundido, com o diâmetro de 0m, 30, descendo 3m abaixo da estiagem ou da superfície filtrante. A agua, entrando pela parte inferior do poço faz pois um trajecto de 6m, através das camadas filtrantes até ser absorvida pelo tubo de aspiração».

À medida que foi sendo necessário reforçar o sistema e aumentar a sua eficiência, foi também aumentando o número de furos e deslocado o ponto de captação para a Boavista – onde, a partir de 1953, passaria a estar instalado o centro nevrálgico do sistema –, a montante do local inicial, para evitar contaminação da água suscetível de ocorrer, devido à proximidade do centro urbano.

ETA_da_Boavista.webp

Estação de tratamento de águas da Boavista. Imagem em https://www.aguasdocentrolitoral.pt

Já em 1902 se aludia aos procedimentos que poderiam impedir ou, pelo menos, mitigar a contaminação da água captada no local inicial: “Transferindo a lavagem das roupas para juzante, ou instalando nas proximidades da cidade lavadouros sujeitos a rigorosas condições hygienicas; afastando do rio os esgotos da cidade e, suprimindo assim as causas apontadas, a riqueza microbiana das aguas poderia descer, pelo menos, ao numero de 600 germens, numero que a analyse encontra nas Torres [do Mondeego] e a Montante” (Cid, 1902, p. 153).

Após a captação, a água era elevada para a central elevatória, então localizada a cerca de 300m, na Rua da Alegria, e daí era de novo impulsionada para os reservatórios do Jardim Botânico e da Cumeada.

Reservatório do Botânico.jpgReservatório do Jardim Botânico. Imagem

Reservatório de Cumeada 01.jpg

Reservatório da Cumeada. Imagem

Em 1922, a estação elevatória foi deslocada para as proximidades da captação, na margem direita do rio Mondego, para edifício próprio onde atualmente se encontra instalado o Museu da Água.

Edificio da estação elevatória do Parque.jfifEdifício da estação elevatória do Parque Dr. Manuel Braga. Imagem acedida em: https://www.cm-coimbra.pt/wp-content/uploads/2018/11/linha-do-botanico_18_720x720_acf_cropped.jpg

Também foi nos anos de 1920 que o sistema começou a ser eletrificado, tornando-se progressivamente menos dependente da energia a vapor.

…. Com a expansão da área urbana e o abastecimento de água a freguesias rurais do Município …  os reservatórios totalizavam, no dealbar do século XXI, 14 enterrados e cinco elevados.

 Mendes, J.A. 2024. Abastecimento de água ao domicílio a Coimbra: “o milagre da torneira”1, 1889-2019. In: La gestión del agua en la Península Ibérica (siglos XIX y XX). Madrid. Pg. 353-379.

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Rodrigues Costa às 17:09

Quinta-feira, 25.05.23

Coimbra: A arte do ferro forjado 5, O coreto do Passeio Público

A serralharia artística de Coimbra renasceu com António Augusto Gonçalves e com o Dr. Joaquim Martins Teixeira de Carvalho, na intimidade Mestre Gonçalves e Mestre Quim Martins, como lhe chamava a plêiade de artistas do ferro que foram seus discípulos: António Maria da Conceição (Rato), Albertino Marques, António Craveiro, Daniel Rodrigues, Lourenço Chaves de Almeida, Manuel Pedro de Jesus, José Domingues Baptista e Filhos, José Pompeu Aroso, e tantos outros. Das mãos dos ‘ferreiros’ saíram obras notáveis, capazes de marcar o ressurgimento daquela arte rude e maravilhosa que, em Coimbra, a partir de meados do século XIX, tanto tinha decaído, limitando-se, a bem dizer, ao fabrico de camas e de lavatórios, como se verificou na exposição, realizada em 1869, no salão da Associação dos Artistas.

Joaquim Martins Teixeira de Carvalho 01.jpegJoaquim Martins Teixeira de Carvalho

Nesse renascimento, para além dos citados Gonçalves e Quim Martins, podem ainda referir-se os nomes de Manuel Pedro de Jesus e de João Augusto Machado, este também a tentar o ferro e o primeiro que, a partir de certo momento, lhe dedicou todo o seu saber e criatividade; por isso, os podemos apelidar de precursores da serralharia artística aeminiense.

A Câmara Municipal, logo em 1903, entendendo que devia encorajar a nova indústria, abriu concurso para a construção de um coreto destinado a ser colocado no novo Passeio Público que se iniciava no Largo das Ameias. Manuel José da Costa Soares, o artista que emprestara os utensílios a João Machado e o ensinara a bater o ferro, concorreu, a par com algumas firmas industriais sediadas no Porto.

Passeio Público. Coreto 1.jpg

Coreto no Passeio Público

Costa Soares era dono de uma alquilaria, sita à Rua da Sofia, na inacabada igreja de S. Domingos, onde, ao fundo, um pouco afastado da entrada, montara a forja. Mas os seus trabalhos de ferro já eram conhecidos, porque foi ele que arrematou a parte metálica do então Teatro-Circo e também é da sua autoria a cúpula metálica da Penitenciária, feita em 1887.

A comissão nomeada para apreciar as propostas que haviam sido apresentadas acabou por dar o seu aval à do referido industrial, porque, para além do mais, o seu projeto não era uma obra de catálogo, de fabrico em série, mas tratava-se de uma construção inédita. Contudo, foi “o modesto artista sr. João Gaspar, que na officina do sr. Manoel José da Costa Soares forjou as peças do corêto que a camara municipal mandou construir na Avenida Emygdio Navarro”.

Passeio Público. Coreto 2.jpgCoreto. Manuel José da Costa Soares com desenho de Silva Pinto

 A estrutura, posteriormente transferida para o Parque Dr. Manuel Braga, foi adjudicada a 18 de fevereiro do ano seguinte, e sabe-se, apenas através do que se encontra escrito em jornais publicados na cidade, que o arquiteto Silva Pinto, “um dos mais calorosos apóstolos do novo culto”, executara o seu desenho e que a edilidade tinha todo o interesse em entregar a obra a um artista da cidade, porque podia, deste modo, implementar a indústria nascente.

Coreto 09.jpgO coreto depois de transferido para a Parque Dr. Manuel Braga

Anacleto, R. A arte do ferro forjado na cidade do Mondego, primeira metade do século XX.  In: História, Empresas, Arqueologia Industrial e Museologia. 2021. Edição Imprensa da Universidade de Coimbra, pg. 259-290.

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Rodrigues Costa às 11:09

Quinta-feira, 03.05.18

Coimbra: Queima das Fitas de 1931

Começa hoje à meia-noite mais uma Queima da Fitas, esta envolta em alguma polémica. Para melhor compreender esta tradição académica apresentam-se algumas notas sobre a sua génese, assentes na recordação da Queima de 1931.

 

A Tradição Académica encontra-se associada a diversas celebrações que pontuam o calendário estudantil. Em Coimbra, as primeiras manifestações deste tipo remontam aos festejos do centenário da sebenta, aos que marcavam o início e o fim das aulas, aos do enterro do grau, etc.

Contudo, ao longo dos tempos foram ganhando raízes toda uma série de iniciativas relacionadas com o desenrolar do calendário académico e que, obviamente passaram a integrar a Tradição. Refira-se sem qualquer preocupação exaustiva, a queima das “Fitas” dos Quartanistas surgida por volta de 1896; a prática da Pastada na década de 1920; a introdução da Garraiada em 1929/30; a missa de Bênção das Pastas, em 1930; a invenção das Cartolas e Bengalas por 1931; a introdução da Venda da Pasta pelos finalistas de Medicina da UC, em 1932; o Baile de Gala das Faculdades, em 1933; a Imposição de Insígnias dos Quartanistas Grelados em 1946; a inclusão da Monumental Serenata no programa da Queima das Fitas, em 1949; as latadas de abertura do ano escolar inventadas nos inícios da década de 1950; a adoção do ritual da compra/roubo do grelo às vendedeiras do Mercado Municipal, costume adotado a partir da Revolta do Grelo acontecida em 1903.

Mas, no século passado, a festa de maior impacto realizada em Coimbra e que assinalava, grosso modo, o final do ano letivo era a “Queima das Fitas”.

Em 1931 integrava o cortejo um carro de bois que transportava alguns caloiros, dois deles identificados pela pessoa que nos facultou a fotografia.

Queima das Fitas. 1931 ou 32.tif

 Data desse mesmo ano de 1931 o cartaz da Queima das Fitas que, deteriorado pelo passar dos anos, não permite uma leitura integral.

No entanto, face ao interesse do documento, apresentamos a transcrição possível e pedimos que nos auxiliem na sua leitura integral. Permitimo-nos chamar a atenção não só para estilo da escrita, como para o aliciante programa nele anunciado.

Queima das Fitas 1931.jpg

 Coimbra da tradição e da lenda

QUEIMA DAS FITAS

As mais bizarras festas académicas que se realizam na Europa

De 24 a 27 de maio de 1931

 

Domingo, 24

Imponente garraiada, no Colizeu de Coimbra, em homenagem aos Quartanistas de todas as Faculdades «Diestros» dos mais afamados de Coimbra.

À NOITE Maravilhoso festival no Parque da Cidade

 

Segunda Feira, 25

À TARDE Grandioso desafio de foot-ball no campo de Santa Cruz entre… de Lisboa

À NOITE Na Associação Académica conferência sobre … académicos do passado

 

Terça Feira, 26

À TARDE Entram os caloiros em Coimbra. Grande … caloiral no Largo da Feira e entrega das insígnias e mais atributos

À NOITE Imponente Sarau no Teatro Avenida promovido pelo nosso Orfeon

 

Quarta Feira, 27

A Queima das Fitas

Grandioso cortejo burlesco que sairá da Universidade pelas 14 horas. Queima dos Grêlos no Largo da Feira, desfile do imponente cortejo pelas ruas da Cidade.

Carros….

À NOITE … no Parque da Cidade. Maravilhoso fogo de artificio dos … de Viana do Castelo

….

 

Uma breve nota informativa para dizer que o Colizeu de Coimbra referido no cartaz era a praça de touros, inaugurada em 26 de julho de 1925, e destruída por um grande incêndio no dia 4 de abril de 1935. Estava erguida no atual Parque Verde do Mondego, justamente no local da Praça da Canção.

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Rodrigues Costa às 09:06

Terça-feira, 17.11.15

Coimbra na Revolução Industrial 2

… No sector da moagem, massas alimentícias e bolachas, destacaram-se as fábricas Miranda, Ld.ª e Triunfo … A primeira (de massas alimentícias e bolachas) foi fundada em 1887, por José Victorino Botelho de Miranda, tendo sido inicialmente também instalada no … Convento de São Francisco, em Santa Clara. Em 1900, foi transferida para a Avenida do Porto da Pedra (para o belo edifício, felizmente recuperado, que se encontra junto à Ponte Açude).
A Sociedade de Mercearias, Ld.ª, criada em 1913, viria posteriormente a dar origem à Fábrica Triunfo, cujo progresso foi evidente, no final do primeiro conflito mundial … A posterior deslocação das instalações, da Rua dos Oleiros para a Pedrulha, possibilitou a sua expansão, até ao seu recente fecho.
No que concerne a bebidas, saliente-se a sociedade por quotas Cervejas de Coimbra, Ld.ª, criada em 1920, posteriormente designada Companhia de Cervejas de Coimbra, Ld.ª (1924), que instalou a sua fábrica e cervejaria junto ao Parque Dr. Manuel Braga e produzia a conhecida cerveja Topázio … viria a ter uma vida útil de apenas cerca de três décadas, até à sua transferência para as novas instalações, na zona industrial da Pedrulha, onde também não teria vida longa.
… Deve ainda ser recordada a Fábrica dos Curtumes, instalada na Rua Figueira da Foz, em plena I Guerra Mundial, isto é, em 1915. Esta era propriedade da firma “Raposo, Amado & Godinho.
… No sector dos serviços, mais propriamente nas artes gráficas, também Coimbra tem uma longa tradição, que passa pela Imprensa da Universidade (criada pelo Marquês de Pombal, em 1772, encerrada em 1934 e refundada há pouco…)
… No período em foco … devemos assinalar …:
a) Gráfica Conimbricense Ld.ª (30-7-1920);
b) Coimbra Editora, Ld.ª (7-8-1920).

Mendes, J. A. 2010. Coimbra Rumo à Industrialização. 1888-1926. In Caminhos e Identidades da Modernidade. 1910. O Edifício Chiado em Coimbra. Actas. Coimbra, Câmara Municipal de Coimbra, pg. 143 e 144

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Rodrigues Costa às 12:38


Mais sobre mim

foto do autor


Pesquisar

Pesquisar no Blog  

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

calendário

Dezembro 2024

D S T Q Q S S
1234567
891011121314
15161718192021
22232425262728
293031

Posts mais comentados