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A' Cerca de Coimbra


Quinta-feira, 11.11.21

Coimbra: Apropriação e conversão do Mosteiro de Santa Cruz 3

Entretanto, em 1872, com o avultar das obras relativas à viação municipal e pretendendo encetar a reforma de toda a frente ribeirinha, o município, encabeçado, por Lourenço de Almeida Azevedo, consciente do papel dos engenheiros nas reformas urbanas abriu um concurso para contratação do primeiro engenheiro municipal. No ano seguinte foi contratado António José de Sá, responsável pelo Plano de Melhoramentos do Largo da Portagem e das margens, mas que abandonou o lugar no ano seguinte.

Dois anos depois, novamente com Lourenço de Almeida Azevedo na presidência, deliberou-se contratar um novo engenheiro municipal, Alexandre Simões da Conceição a fim de estudar o projeto para um novo edifício dos Paços do Concelho, demolindo parte do antigo Mosteiro de Santa Cruz. A obra foi muito contestada pela imprensa local que reclamava contra o seu elevado custo e contra a destruição de um edifício histórico, mas para além das polémicas teve um processo problemático, com as obras a iniciarem-se antes da aprovação do projeto e com sucessivas alterações que aumentaram em muito os custos e as dificuldades da obra. Não obstante, no dia 13 de agosto de 1879, a vereação reuniu pela primeira vez no novo edifício, mas as obras arrastam-se até 1886.

No entanto esta intervenção, quer pela contestação que enfrentou, quer pelos avultados empréstimos que requereu, preconizou uma mudança de atuação do município, consciente da necessidade de se apoiar em técnicos para conduzir corretamente o desenvolvimento da cidade.

Plano de Melhoramentos da Quinta de Santa Cruz

Na mesma época, e firmando a consciência de planear com recurso aos novos meios e conhecimentos técnicos, foi mandada elaborar a Planta Topographica da Cidade de Coimbra. Executada entre 1873 e 1874 e desenhada à escala 1:500 em 19 lâminas de grandes dimensões (0,80x 1,25), constituiu o primeiro trabalho de cartográfica científica de Coimbra (Fernandes, 2011: 7), e até à década de 30 do século XX foi a base de todo o planeamento e intervenção na cidade.

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Fig. 8.  Composição da autora de 8 das 19 folhas que compõem a Planta Topographica da Cidade deCoimbra, por Francisco e Cesar Goullards

Como referimos, em 1843, a abertura da rua de ligação entre a Alta e a Baixa, atravessando o Pátio de Santa Cruz e o Vale da Ribela, ultrapassou pela primeira vez os limites seculares do antigo Mosteiro Crúzio. Depois desta rua foi implantado o Cemitério na Quinta da Conchada, para lá da cinta das antigas cercas e começou timidamente a urbanização do Montearroio em direção ao cemitério, mas à parte deste reduzido crescimento a cidade mantinha-se densamente concentrada na Baixa e na Alta. A referida estrada, aberta com 24 palmos para a circulação de carruagens entre a Baixa e a Alta, mantinha-se limitada pela Quinta de Santa Cruz, adquirida por um particular e pela cerca dos Jesuítas, entregue aos Hospitais da Universidade, não deixava antever qualquer possibilidade de crescimento urbano.

Foi o Presidente Lourenço de Almeida Azevedo quem anteviu a importância estratégica que a Quinta de Santa Cruz detinha, articulando a Alta e a Baixa, com uma área superior a qualquer um dos antigos bairros, e iniciou o processo para a compra e urbanização da Quinta.

Lourenço Almeida Azevedo.jpg

Lourenço Almeida Azevedo

Para além da ligação entre a Alta e a Baixa, o plano esboçado pelo presidente previa o alargamento do mercado D. Pedro V, a construção do novo matadouro, a construção do troço da estrada real nº 48 entre Celas e a Baixa, a criação de um Jardim público e de um jardim-de-infância, um espaço para a Feira de Santa Clara e para a feira anual de S. Bartolomeu e, finalmente, aproveitar as águas da Quinta para o abastecimento de água da cidade.

Mas o processo não foi linear. O município, perante um investimento tão avultado, solicitou a expropriação da Quinta em fevereiro, mas no mês seguinte temendo que a mesma não fosse enquadrada no decreto de lei de 11 de maio de 1872, requereu antes autorização para aumentar o valor do empréstimo a contratar e concorrer à compra da Quinta.

Calveiro, M.R. Apropriação e conversão do Mosteiro de Santa Cruz. Ensejo e pragmatismo na construção da cidade de Coimbra. In: Cescontexto, n.º 6, Junho 2014. Coimbra, Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Pg. 227-240. Acedido em

https://estudogeral.sib.uc.pt/bitstream/10316/80969/1/Apropria%c3%a7%c3%a3o%20e%20convers%c3%a3o%20do%20Mosteiro%20de%20Santa%20Cruz.pdf 

 

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por Rodrigues Costa às 16:36

Quinta-feira, 28.01.21

Coimbra: Alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. 4

O complexo crúzio no contexto citadino (continuação)

 

As repartições públicas ali acomodadas deviam manter-se e a edilidade poderia gerir aqueles espaços como lhe aprouvesse.

Complexo crúzio.jpg

Complexo crúzio

 Contudo, o referido documento impunha à Câmara a obrigatoriedade de abrir duas vias de comunicação com o Bairro Alto, uma que conduzisse ao caminho da Fonte Nova e outra ao de Montarroio. Coloco a hipótese, fundamentada numa outra documentação não muito explícita, de este último caminho vir a ligar a Rua de Montarroio com a zona de Celas, desenvolvendo-se na periferia poente-sul da cerca (ou quinta, se se preferir) crúzia.

A autarquia ficou na posse de um vasto espólio que lhe permitia ceder assento a todas as instituições que se julgassem com direito a essa benesse, mas viu-se confrontada com a necessidade de manter e conservar edifícios antigos e degradados que tinham passado a integrar o seu património.

Nas estruturas foram-se acomodando ou confirmaram a sua instalação diversos serviços públicos: cadeia, esquadra da polícia, roda dos expostos, hospício dos abandonados, creche, maternidade, Instituto Industrial e Comercial de Coimbra,

A edilidade, depois de haver alojado os serviços administrativos e de utilidade pública, ainda alugou espaços monacais para tudo quanto se possa imaginar: bairro de gente modesta, celeiro, matadouro e até cedeu a ‘Porta Fidalga’ para nela se abrir um talho.

A construção de uma praça de touros no terreiro fronteiro ao local onde esteve instalada a esquadra da polícia, dependência então conhecida pelo nome de “Casa Vermelha”, “Casa dos Meninos de Palhavã” ou “Casa dos Moços Fidalgos”, não se concretizou e parte do edifício, após a transferência dos presos da cadeia situada no Largo da Portagem, passou a funcionar como prisão da cidade.

Dando cumprimento às exigências estatais constantes da carta de lei de 30 de julho de 1839 que impunha à Câmara a obrigatoriedade de abrir duas ruas que comunicassem com a zona alta, em 1860, quando D. Pedro V visitou a cidade, a rua que ligava a Praça de Sansão à Fonte Nova, a Olímpio Nicolau Rui Fernandes, já havia sido aberta, rompendo a unidade do conjunto outrora pertencente aos frades agostinhos.

A Rua Olímpio Nicolau Rui Fernandes, já havia si

A Rua Olímpio Nicolau Rui Fernandes, já havia sido aberta.

Trata-se da primeira intervenção estrutural levada a cabo no complexo crúzio, dividindo-o em dois lotes completamente autónomos.

Alterações estruturais do complexo crúzio.jpg

Alterações estruturais do Complexo Crúzio

 A fim de satisfazer a segunda exigência, em 1890 a edilidade resolveu que se estudasse “a rua que há-de comunicar desde a cidade baixa com Celas” e encarregou o projeto a Estêvão Parada, condutor de Obras Públicas. Comentando este empreendimento, um jornal local referia: “vamos ver se serão atendidos os interesses públicos ou se lhes prefere os interesses particulares”.

Por quantas vicissitudes passou o septacentenário complexo fradesco!

Não pode deixar de se acentuar que a edilidade, ao modificar, arrasar, substituir, alterar as estruturas monacais e ao transformar a quinta anexa, destruiu, no bom e no mau sentido, possivelmente mais neste do que naquele, o património existente e transfigurou mesmo a fisionomia da urbe.

A 18 de março de 1875, a Câmara pede licença ao rei para demolir uma parte do mosteiro crúzio, a fim de aí construir os novos Paços do Concelho e, a 22 de junho de 1876, sob a presidência de Lourenço de Almeida Azevedo (1833-1891), votou, por entre o ruído feito por uma parte da imprensa local que vivamente se insurgiu contra este e outros atos da administração municipal, a primeira verba para custear a demolição parcial do mosteiro, justamente a zona em que se deviam erguer os novos paços municipais. A casa da Câmara, inaugurada a 13 de agosto de 1879, ostenta, a coroar a fachada principal, as armas da cidade que, certamente devido à pouca confiança depositada pela vereação nos canteiros da cidade e na recém-iniciada formação destes na Escola Livre das Artes do Desenho, fundada no ano anterior, foram encomendadas a Joaquim Castelo, artista lisboeta com oficina na Rua do Arsenal. Mas, mal as colocaram, logo o diretor de O Conimbricense, notando o erro existente no escudo, afirma que elas serão para os vindouros “o padrão do desleixo, incúria e ignorância” da vereação citadina de 1879.

Fig. 06. O edifício da Câmara Municipal integra

Fig. 06 – O edifício da Câmara Municipal integra o complexo dos frades crúzios. [Bilhete Postal].

Diversos incêndios também se encarregaram de desfigurar o complexo monacal dos crúzios, neste caso as alas claustrais da Manga; em 1917 a zona onde se encontravam instaladas as oficinas da Escola Industrial Brotero e, em 1926, a parte do nascente, ocupada pelos serviços dos correios.

Anacleto, R. Coimbra: alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. In: Belas-Artes: Revista Boletim da Academia  Nacional de Belas Artes.

Lisboa 2013-2016. 3.ª série, n.ºs 32 a 34. Pg. 127-186. Acedido em https://academiabelasartes.pt/wp-content/uploads/2020/02/Revista-Boletim-n.%C2%BA-32-a-34.pdf

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por Rodrigues Costa às 11:49

Terça-feira, 08.01.19

Coimbra: História dos Paços Municipais

Na página web do Município está à disposição de todos nós um excelente texto do Dr. Carlos Santarém Andrade intitulado Paços do Concelho - História dos Paços Municipais.
Desse texto que bem merece ser divulgado, publicamos a parte inicial e as gravuras que o ilustram. O texto restante, cuja leitura se recomenda, pode ser consultado em:

https://www.cm-coimbra.pt/index.php/municipio/municipio/historia-dos-pacos-do-concelho 

Brasão de Coimbra b.jpg

Brasão de Coimbra

Os Paços Municipais da Cidade de Coimbra estão situados na Praça 8 de Maio, data que evoca a entrada das tropas liberais em Coimbra, no ano de 1834.
A sede da Edilidade Coimbrã conheceu vários locais desde a Idade Média, nomeadamente num edifício muito próximo da fachada poente da Sé Velha, instalando-se pelo menos desde o século XIV na Torre de Almedina, cuja feição atual resulta de beneficiações que, por duas vezes, nela foram efetuadas no decorrer do século XVI. Nela poderemos observar, ainda hoje, no piso superior, um brasão antigo da cidade, bem como a palavra “Senado”, e a data de 1541. No piso inferior funcionava o Tribunal da Relação, pelo que o monumento aparece designado em diversos documentos por “Torre da Vereaçom” ou “Torre da Rellaçom”.
No século XVIII mudou-se para casas junto à Igreja de Santiago, com frente para a Praça de São Bartolomeu e para a Calçada, tendo regressado à velha torre, por algum tempo, após o terramoto de 1755, e de novo em 1810, depois de aquelas instalações terem sido incendiadas, durante as invasões francesas, pelas tropas gaulesas.
Extinta a Inquisição em 1821, a Vereação transferiu-se no ano seguinte para parte dos seus edifícios, concretamente para a chamada Casa da Bica, com entrada pela Rua da Sofia, onde por pouco tempo se mantém, dado ter sido vendida pelo Estado, regressando à centenária torre em 1826.
Com a extinção das Ordens Religiosas em 1834, um novo capítulo se iria abrir. Assim, a vereação dirigiu aos Deputados da Nação Portuguesa, em janeiro de 1835, uma petição em que solicitava para a Câmara “uma parte do extinto Mosteiro de Santa Cruz, no qual há todas as convenientes disposições para Jurados, da Câmara, da secretaria e competente arquivo”. Várias vezes insistiu no pedido, sem resultado, até que, em resposta a mais um requerimento da edilidade, em junho de 1836, o Governador Civil interino consentiu que a Câmara ocupasse a parte pedida, desde que se obrigasse “a largar mão dela quando, por qualquer circunstância, o Governo a destinasse para outros fins”.

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Mosteiro de Santa Cruz, parte onde se construíram os Paços do Concelho

A parte do mosteiro cedida à Câmara tinha a frontaria voltada para o então denominado Terreiro de Sansão, topónimo que ainda hoje a memória citadina conserva, derivado do facto de ter aí existido um chafariz encimado por uma estátua daquela figura bíblica. Essa frontaria era constituída por três corpos. Um, imediatamente a seguir à Igreja de Santa Cruz, alinhado com esta. Outro, mais recuado, onde se encontrava a designada Porta Fidalga, principal acesso ao mosteiro, bem como um cruzeiro e uma capela do Senhor dos Passos, uma das várias que existiam espalhadas pela cidade, e de que se conserva ainda hoje uma, à ilharga da igreja de São Bartolomeu. Mais a norte, também saliente em relação à fachada central, um outro corpo encimado por um dormitório, chamado de São Francisco, que se prolongava ao longo do mosteiro, até à denominada horta, junto ao atual edifício dos Correios.
A parte do mosteiro cedida estava edificada à volta de um claustro, em cujo centro de situava um lago, com quatro leões de pedra de cujas bocas jorrava água, tendo aos cantos umas limeiras, que davam o nome ao claustro, também referido como Claustro da Porta Fidalga. Tinha ainda algumas capelas, numa das quais, chamada do Espírito Santo, se encontrava o célebre quadro representando o Pentecostes, da autoria de Grão Vasco, e que hoje se encontra na sacristia da Igreja de Santa Cruz.
Tendo-lhe sido cedida, embora a título precário, essa parcela do mosteiro, a Câmara efetuou os consertos necessários para efetuar a mudança e instalar-se naquele espaço. Finalmente, por portaria do Ministério dos Negócios da Fazenda, de 17 de novembro de 1836, foram concedidos à Câmara todos os edifícios que haviam pertencido ao mosteiro, com a condição de neles serem estabelecidas as várias repartições públicas estatais. E, durante décadas, a Câmara Municipal ocupou as velhas acomodações monásticas, que foram sofrendo sucessivas alterações para se adaptarem às exigências de uma instituição que, com o decorrer dos tempos, tinha a seu cargo cada vez mais obrigações e finalidades.

Câmara Municipal de Coimbra.jpg

Os Paços do Concelho nos meados do século passado

Andrade, C.S. Paços do Concelho - História dos Paços Municipais. Acedido em 2018.11.23, em
https://www.cm-coimbra.pt/index.php/municipio/municipio/historia-dos-pacos-do-concelho 

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por Rodrigues Costa às 11:22

Quinta-feira, 01.11.18

Coimbra: Construção do edifício dos Paços do Concelho

Quando em 1835 foi solicitada a cedência do antigo mosteiro de Santa Cruz para albergar as várias repartições públicas pretendia-se, com pragmatismo resolver os problemas práticos da necessidade de instalação das várias repartições publicas, não só da Administração do Concelho e da Câmara Municipal, mas também das repartições judiciais e distritais.

… Segundo a portaria da Comissão Interina do Crédito Público de 30 de Novembro de 1835, o velho mosteiro foi posto à disposição do Administrador-geral do Distrito para Casa da Audiência do Júri, Cadeia, Câmara e Administração do Correio e, no dia 17 de Dezembro seguinte foi entregue ao município. No mesmo dia a vereação fez a vistoria e a divisão do conjunto edificado pelas várias repartições, reservando o restante para arrendar e assim custear as obras de conservação.

Esta distribuição previa a simples apropriação dos espaços, supondo apenas intervenções pontuais, como a abertura de portas ou a construção de escadas de madeira, o que parece ter conduzido a que algumas repartições acabassem por se implantar noutros locais. Por outro lado, foram-se instalando outros serviços como a Roda dos Expostos no antigo Dormitório do Pilar, a Mala-Posta e a Escola Mutua, junto à horta de Santa Cruz e a cadeia junto ao antigo pátio.

Em 1856, o presidente … propôs uma nova divisão entre a Câmara Municipal e as várias Repartições Distritais.


p. 215 a [escolha].jpg

Planta com esquema das ocupações do antigo Mosteiro (c.1856)

 A primeira referência à necessidade de «reconstruir a casa das Sessões da Câmara e suas dependências… segundo as regras da Arte», data de 1845… mas provavelmente por falta de verbas o assunto foi esquecido.

… Vinte anos depois [18 Janeiro de 1869], [a Câmara] solicitou a colaboração da Rainha alegando que: «esta vereação não tem pessoal technico de que possa dispor para os estudos que demanda aquella obra.»

Em resposta … o Governo clarificou que … devia ser encarregado o engenheiro … da Repartição Distrital as Obras Públicas.

… em Março de 1875 a Câmara voltou a alegar que: «Para que estas obras se emprehendam com um bom resultado são necessários estudos importantes, feitos por pessoa de competência e que conheça as necessidades de cada uma das repartições».

… Novamente este pedido não foi atendido e a vereação que se seguiu, presidida por Lourenço de Almeida Azevedo, determinada neste empreendimento, contratou o engenheiro da Academia Politécnica do Porto, Alexandre Simões da Conceição, encarregando-o dos referidos estudos.

 

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 Cópia do desenho da fachada dos Paços do Concelho de Coimbra, adaptação do Mosteiro de Santa Cruz. Século XIX

 As obras iniciaram-se ainda neste ano, mas não sem antes se ter enfrentado uma acesa polémica levantada pelo jornal “O Conimbricense”.

 

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 Alçado do velho mosteiro. 1.ª metade séc XIX

 … Em causa estaria a alegada destruição do antigo mosteiro e a perda do seu valor artístico e monumental, mas o município [argumenta] que «É metade d’um dormitório que nada recomenda… É uma mole de alvenarias sem gosto, sem comodidade, sem arte, sem elegância, enfim sem titulo algum que justifique a sua conservação».


Paços do Concelho na atualidade.jpg

 Paços do Concelho na atualidade

 … No dia 13 de Agosto de 1879, a vereação reuniu pela primeira vez no novo edifício e em Abril de 1881 foi inaugurado o tribunal instalado no piso inferior, todavia as obras arrastaram-se até 1886.

 Calmeiro, M.I.B.R. 2014. Urbanismo antes dos Planos: Coimbra 1834-1924. Vol. I. Tese de doutoramento em Arquitetura, apresentada à Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, pg. 212-218

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por Rodrigues Costa às 09:33

Terça-feira, 20.12.16

Coimbra: as casas da Câmara

A Casa da Câmara não foi sempre no mesmo sítio, e à Casa do Concelho medieval não se lhe conhece local exato, avançando alguns autores várias hipóteses, junto da alcáçova, ou da Sé Velha.

Desde o século XIV está seguramente documentado que a Vereação reunia na Torre de Almedina, também designada por Torre da Relação. Aí se manterá até ao século XIX.

Todavia, teve outros locais esporádicos, nomeadamente durante as épocas de peste, quando a cidade ficava impedida. Os vereadores reuniam fora de portas, no Convento de São Francisco da Ponte, em Condeixa, ou nas casas e quintas dos membros da vereação.

A Casa da Cidade, na Praça de São Bartolomeu, durante o final do século XVII e XVIII, foi um espaço muito apreciado, pois permitia também assistir, das suas varandas, às festas e touradas, que se desenrolavam na Praça Velha, (atual Praça do Comércio). As Invasões Francesas incendeiam e destroem este espaço em 1810. E a Vereação retorna à velha Torre. 

A extinção do Tribunal da Inquisição, no espaço da cidade que ainda hoje mantém a designação de Pátio da Inquisição, fornecer-lhe-á um novo local para reuniões. Mas não é o adequado.

Em 1834, surge uma nova oportunidade: com a extinção das ordens religiosas, a Câmara solicita parte do Mosteiro de Santa Cruz, que lhe será concedido. Durante vários anos decorreram obras de adaptação do espaço conventual a Paço do Concelho, endividando-se o município por causa dessa obra. 

O edifício será finalmente inaugurado em 13 de Agosto de 1879. Além deste espaço físico, sede do poder e cartório do município, existe toda a vasta região envolvente, o chamado “arrabalde” que mais tarde é designado por “termo da cidade de Coimbra”, composto por muitos concelhos e povoações que estavam submetidos à jurisdição da cidade.  

Em tempos mais recuados, a cidade assegurava a todas essas populações a defesa e proteção das suas muralhas, recebendo em troca a prestação de serviços e tributos diversos. Este espaço envolvente foi-se modificando e reduzindo ao longo do tempo, fruto de variadas reformas administrativas e fiscais, estando hoje limitado às 31 freguesias do atual concelho de Coimbra.

França, P. 2011. O Poder, o Local e a Memória, 1111-2011. Catálogo da Exposição. Coimbra, Arquivo Histórico Municipal de Coimbra/ Câmara Municipal de Coimbra . Pg. 7-8

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por Rodrigues Costa às 18:26

Quinta-feira, 28.04.16

Coimbra: os Paços do Concelho ao longo dos tempos

A Câmara funcionara naquele local (Torre de Almedina) desde tempos roçando pela fundação da monarquia, donde transitou para a chamada Casa da Audiência, defronte da porta principal da Sé Catedral (modernamente denominada Sé Velha).

E, em virtude de transação com o prelado diocesano no fim do séc. XV, passou para a «casa da cidade da praça pública», onde funcionou, por cima dos açougues da cidade, dando para a Praça de S. Bartolomeu (modernamente Praça do Comércio) e para a Calçada (modernamente Rua Ferreira Borges), e que servia também de «paaço dos taballiães».

Este «paaço» tinha-o a Câmara mandado edificar para nele estarem os tabeliães da cidade, tanto os de notas como os do judicial, servindo os seus cargos das 7 às 10 da manhã e da 1 às 5 da tarde, e ocupava o espaço onde atualmente se encontram as primeiras casas a sul das Escadas de Santiago, com as frentes ocidental para a atual Praça do Comércio e oriental para a Rua Ferreira Borges.

Porém, pouco depois do terramoto de 1755, por essa casa ser excessivamente alta e a «fugida lhe não poder ser fácil», as vereações voltaram a fazer-se no segundo pavimento da Torre de Almedina … até que, em 1755 … feitas umas indispensáveis reparações, voltasse a Câmara para a Casa da Cidade.

Mas, o incêndio provocado pelos soldados de Massena, a 3 de Outubro de 1810 … forçou a Câmara a regressar à Torre de Almedina.

Informação adicional

Na Torre de Almedina funcionaram os Paços do Concelho no período que vai de Outubro de 1810 até à inauguração do atual edifício, a qual teve lugar a 13 de Agosto de 1879.

 

Loureiro, J. P. 1967. Coimbra no Século XIX. Separata do Arquivo Coimbrão, Vol. XXIII. Coimbra, Câmara Municipal de Coimbra. Pg.8 e 9

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por Rodrigues Costa às 10:01

Quarta-feira, 25.11.15

Coimbra, Mosteiro de Santa Cruz e a demolição das suas dependências 1

Face ao aumento da população e às novas condições, quer de mobilidade, quer económicas e sociais, a cidade tinha, forçosamente, de romper os seus limites … Em 1856, quando D. Pedro V visitou a cidade, já havia sido aberta, rompendo a unidade do conjunto outrora pertencente aos frades agostinhos, a rua Olímpio Nicolau Rui Fernandes, que passou a consentir a ligação da baixa à zona alta da cidade, até então apenas possível pela rua de Montarroio.
Por quantas vicissitudes passou o sexacentenário complexo fradesco!
Não se pode deixar de acentuar que a edilidade, ao modificar, arrasar, substituir, alterar as estruturas monacais e ao transformar a quinta anexa, destruiu, no bom e no mau sentido, possivelmente mais neste do que aquele, o património existente, transfigurando, mesmo a fisionomia da urbe.
A 18 de Março de 1875, a Câmara pede ao Rei licença para demolir uma parte do mosteiro crúzio, a fim de aí construir os novos Paços do Concelho e, a 22 de Junho de 1876, sob a presidência de Lourenço Almeida Azevedo, votou, por entre o ruído feito por uma parte da imprensa local que vivamente se insurgiu contra este e outros atos da administração municipal, a primeira verba para custear a demolição parcial do mosteiro, justamente a zona em que se deviam erguer os novos paços municipais. A casa da Câmara, inaugurada a 13 de Agosto de 1879, ostenta, a coroar a fachada principal as armas da cidade … Mas, mal as colocaram, logo o diretor de O Conimbricense, notando o erro existente no escudo, afirma que elas serão para os vindouros “o padrão do desleixo, incúria e ignorância” da vereação citadina de 1879.

A partir dos inícios da década de oitenta de Oitocentos, a Câmara começou a pensar seriamente em adquirir os terrenos fradescos, então já hipotecados pelo seu proprietário. Pretendia abrir aí vários arruamentos, construir um passeio público e um matadouro … O processo arrasta-se, mas a edilidade acaba por via a adquirir a quinta … No mesmo dia em que a Câmara toma conhecimento da compra da antiga cerca encarrega o engenheiro Adolfo Ferreira Loureiro de elaborar, sob a direção do presidente, um plano de benfeitorias (ou seja, de urbanização) da quinta, trabalho que aquele apresenta a 23 de Julho de 1885; apesar de só tardiamente vir a ser cumprido, até porque a Sá da Bandeira, antes de virar avenida foi rua, a verdade é que o produto final tem por base o plano de Loureiro, dado que este “traçou a partir do mercado uma grande avenida de 50 metros de largo que termina à entrada do jogo da bola da quinta por uma grande praça. Da praça partem simetricamente duas avenidas para Celas e para Sant’Ana e outras duas em direção aos arcos de S. Sebastião”.
… Em 1889 inicia-se o loteamento do Vale da Ribela e em Junho desse ano são postos em praça diversos espaços destinados à construção de moradias … Os trabalhos desenvolveram-se a bom ritmo e no mês de Dezembro, antes do Natal … inauguraram-se os arruamentos de Sá da Bandeira, de Alexandre Herculano, da Escola Industrial (Oliveira Matos), de Castro Matoso, de Tomar e de Almeida Garrett … “À noite foram pela primeira vez acessos os candeeiros de gaz na Praça D. Luís I (Praça de República), nas ruas Marquês de Sá da Bandeira e Alexandre Herculano”.


Anacleto, R. 2010. Coimbra entre os Séculos XIX e XX. Ruptura Urbana e Inovação Arquitectónica. In Caminhos e Identidades da Modernidade. 1910. O Edifício Chiado em Coimbra. Actas. Coimbra, Câmara Municipal de Coimbra, pg. 153, 155 a 158

 

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por Rodrigues Costa às 11:23


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