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A' Cerca de Coimbra


Quinta-feira, 04.04.19

Coimbra: Edifício na Alameda Júlio Henriques

Um leitor do blogue A’Cerca de Coimbra questionou-me acerca do edifício onde atualmente funciona a Administração Regional de Saúde do Centro. Indagando, consegui reunir algumas informações relacionadas com o mesmo.

Elemento destacado no largo de São João, a que se junta a fachada da igreja de São João de Almedina, o paço episcopal é digno de referência em diferentes autores nos finais do século XIX, que enaltecem a sua qualidade estilística maioritariamente assente no período maneirista. No «Roteiro Illustrado do Viajante em Coimbra», publicado nos finais de 1894 António Augusto Gonçalves … aponta os efeitos negativos de uma «moderna e insensata renovação do lanço norte», e aponta [o] preocupante estado de conservação do edifício, aludindo-o nos seguintes termos «O palácio está em ruína; parte do interior inhabitavel e a reforma é instante»

Paço episcopal. Finais do XIX.JPG

Paço episcopal, fotografia do Álbum de Jorge Oliveira

A presente citação de Gonçalves revela uma alusão, ainda que de modo subtil, às vicissitudes do recinto nos finais de oitocentos, alvo de uma polémica reforma que marcou de forma irreversível o bloco norte do paço episcopal. A referida centúria trouxe períodos conturbados ao referido edifício … Após a saída de D. Joaquim de Nossa Senhora da Nazaré, a 7 de Maio de 1834, a residência episcopal sofreu as intempéries de um espaço desocupado, como mais tarde historiou António de Vasconcelos: «A soldadesca e a populaça invadiram o paço episcopal desabitado, e principiaram a roubar e a estragar tudo, arrombando portas, escalando janelas, etc.

Paço episcoal e arco.jpgPaço episcopal. Finais do XIX

… O Estado tomou posse do imóvel … e um regimento de cavalaria chegou a usufruir dos seus espaços até aos primeiros anos da década de 1850, época em que a mitra voltou aos antigos aposentos, através dos esforços levados a cabo pelo bispo D. Manuel Bento Rodrigues da Silva.

D. Manuel Correia de Bastos Pina (O Occidente, 190

D. Manuel Correia de Bastos Pina

No início da vigência do prelado D. Manuel Correia de Bastos Pina foi tomada a decisão de desocupar o palácio episcopal e reconstruir um novo edifício, destinado às mesmas funções, nas proximidades do mosteiro de Santa Ana. Esta solução apresenta-se no periódico «O Conimbricense», a 21 de outubro de 1873, como uma ideia salutar. Adjetivando o paço de «indecoroso pelo estado em que encontra».
… No mesmo sentido, foi levada a cabo uma proposta de lei, apresentada, a 20 de fevereiro de 1874, pelo governo à câmara dos deputados, consentindo ao prelado diocesano a venda do velho paço episcopal e a aplicação dos lucros obtidos nas expensas necessárias à edificação do novo.
… A edificação do novo edifício na cerca do mosteiro de Santa Ana iniciou-se nos finais da década de 1870, a partir de um projeto de Matias Cipriano Pereira Heitor de Macedo. A constante paragem das obras por falta de verba e o desagrado de D. Manuel Correia de Bastos Pina em relação a diversos aspetos do plano (1) levaram à desistência por parte do antístite, da ocupação do novo paço e, mais tarde, à consequente reconversão deste, sob expensas do Estado, no intuito de albergar um hospital para coléricos.

Edificio a ARS.JPGEdifício da Administração Regional de Saúde do Centro. Fachada principal

Nos dias-de-hoje são visíveis as marcas da função original, através das insígnias do citado bispo insculpidas no frontão triangular da fachada principal do edifício que alberga a Administração Regional de Saúde do Centro.

Frontão com as armas episcopais.JPGEdifício da Administração Regional de Saúde do Centro. Fachada principal, frontão com as armas epicopais de D. Manuel Correia de Bastos Pina

XXX

Porque o governo se tinha apoderado do paço episcopal, que viria a ser ocupado como museu, foi no seminário que se instalou o prelado quando, no final de 1912, voltou a Coimbra.

2017-09-05 14.25.06.jpgResidência episcopal no Seminário de Coimbra

(1) Segundo Milton Pedro Dias Pacheco, «Paira ainda hoje na memória dos eclesiásticos diocesanos … que Dom Manuel recusara o edifício por um simples motivo: o facto de lhe ter sido sempre negada a participação na traça arquitetónica do edifício, principalmente na organização interna das várias dependências e que viria a culminar na inadequação para receber os vários serviços da chancelaria episcopal.»

Freitas, D.M.R. 2014. Memorial de um complexo arquitectónico enquanto espaço museológico: Museu Machado de Castro (1911-1965). Tese de doutoramento em Letras, área de História … apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Vol. I, pg. 208-210 [policopiado]
Ramos, A.J. 1995. O Bispo de Coimbra D. Manuel Correia de Bastos Pina. Dissertatio ad Doctoratum in Facultate Historiae Ecclesiasticae. Ponttificiae Universitatis Gregorianae. Coimbra, Gráfica de Coimbra

Nota: Temos memória de neste edifício ter funcionado, durante muitos anos a Maternidade dos HUC e, posteriormente, o serviço de Ortopedia e simultaneamente ou posteriormente, algumas outras enfermarias, uma das quais a de Urologia.

 

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por Rodrigues Costa às 18:40

Sexta-feira, 13.05.16

Coimbra: As plantas em azulejo da reconstrução pombalina da Universidade

Notáveis exemplares de Cerâmica Coimbrã … Trata-se do revestimento azulejar, setecentista, da época pombalina, de uma sala do antigo Paço Episcopal, edifício onde … 1911 se instalou o Museu Nacional Machado de Castro.

… Representam as cartelas destes painéis de azulejos os alçados dos edifícios universitários mandados fazer aquando da Reforma do Marquês de Pombal … são importantes estes azulejos: para a história do Paço Episcopal … para a história da Universidade, para a história de Coimbra, para a história da Arte.

… Situa-se a sala onde se encontram estes azulejos no 1.º andar do Museu, no ângulo Nascente-Norte do edifício antigo … Esta sala seria de «curiosidades» aquando da instalação do Museu.

… Havia numa sala do paço, feitos em azulejos todos os planos de todos os edifícios que mandou edificar em Coimbra para Universidade o marquês de Pombal …

… Estes azulejos, obra portuguesa, obra das olarias de Coimbra valiam para a história da arte em Portugal, eram um documento histórico de uma grande reforma … Supunha-se já então que os desenhos dos edifícios dos azulejos tinham sido copiados dos próprios projetos que serviram às obras pombalinas.

… Os desenhos das plantas e alçados dos vários edifícios da reforma pombalina são da autoria do então Tenente-coronel engenheiro Guilherme Elsden, o inglês diretor das obras da Universidade de Coimbra.

Encontram-se colocados em nove painéis de azulejos …

… a planta n.º IV do álbum representa a «Elevação Geométrica do Edifício destinado para as Sciencias Naturaes – Lado principal»…

… a planta n.º 5 representa o «Prospecto da obra nova do Museu, e edifício velho do Hospital na frente do lado septentrional…

…a planta n.º VII intitula-se «Spaccato cortado pelo meio de todo o edifício, e olhando para a frente principal» …

… a planta n.º XI designa-se «Elevação Geométrica do Laboratório Chymico. Lado principal» …

… na planta n.º XIX … representa-se a «Eelevação Geométrica da frente principal do Observatório Astronómico da Universidade de Coimbra».

… a planta n.º XXVIII, com a data de 1773, representa a Elevação Geométrica do Cabido da Sé.

 

Figueiredo, M.P. Da Cerâmica Coimbrã. Uns notáveis azulejos do Museu Nacional de Machado de Castro. In A Cerâmica em Coimbra. 1982. Coimbra, Comissão de Coordenação da Região Centro. Pg. 53 a 60.

 

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por Rodrigues Costa às 10:01


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