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A' Cerca de Coimbra


Quinta-feira, 25.02.16

Coimbra, origens 3

O Mondego era na Antiguidade navegável até Coimbra, e mesmo até à foz do Dão; constituía uma importante via fluvial, de oeste a leste, largamente praticada ainda na Idade Média; no sentido norte-sul, a via, agora terrestre, não podia encontrar melhor cruzamento do rio que em Coimbra: para poente, os terrenos eram alagadiços, o rio muito caudaloso e largo; para o interior, as vias tornavam-se ásperos caminhos de montanha. Coimbra era, pois, ponto de passagem obrigatório entre o norte e o sul, centro onde naturalmente se podiam trocar os produtos da serra pelos da planície e do mar.

A existência de uma ponte de pedra romana em Coimbra é mais do que provável. Ficaria sensivelmente no sítio da atual, sítio que corresponde, com ligeira diferença, ao das pontes de D. Afonso Henriques e D. Manuel. Aliás, terão sido estas fábricas novas ou simples restauros da ponte romana?
Atravessado o rio, a estrada romana seguiria a linha das atuais rua de Ferreira Borges (antigamente chamada de Calçada), Visconde da Luz e Direita. Esta última, chamada na Idade Média rua da Figueira Velha, constituiu a saída da cidade até à abertura, no século XVI, da Rua da Sofia.
Na atual Praça 8 de Maio, a via cruzava a torrente, já referida, de ‘balneis Regis’. Foi Vergílio Correia quem sugeriu a existência de umas termas romanas no local onde, em 1131, se deu início à construção do mosteiro de Santa Cruz. E Nogueira Gonçalves … admitiu que a porta mourisca mencionada em documento de 1137 fosse último resto desta construção. De tais termas, porém, nada ficou.

... De outros monumentos romanos de Coimbra, infelizmente desaparecidos, conserva-se mais segura memória. São eles o arco da Estrela e o aqueduto.
… Hefnagel, na gravura de Coimbra, incluída na obra ‘Civitates orbis terrarum’, atribuída tradicionalmente a Braunio, desenhou, no ângulo entre a Couraça de Lisboa e a Couraça da Estrela, três colunas que na legenda aparecem designadas: ‘colunnae antiquae Romanorum’. As colunas assentam sobre um estilóbato baixo e são coroadas por arcos.
Que as colunas romanas não podiam estar situadas exatamente no local onde Braunio as representou, é indiscutível. Daí até negar a existência do monumento é passo grande … não nos deixam dúvidas sobre a existência do monumento, que a Câmara da cidade deixou demolir em 1778 … Era um monumento tão notável, que deu nome à porta da muralha situada ao fundo da Couraça de Lisboa. Com efeito, o nome que esta teve – de Belcouce – significa «no arco» ou «junto ao arco»

… O aqueduto de S. Sebastião foi construído sobre as ruínas de um idêntico cano, muito mais antigo e provavelmente romano …Provam-no as lápides que, em 1570, se colocaram no aqueduto restaurado por D. Sebastião … «… mandou reedificar de novo todo este aqueduto, mais nobremente do que fora feito havia muitos anos…»

Alarcão, J. 1979. As Origens de Coimbra. Separata das Actas das I Jornadas do Grupo de Arqueologia e Arte do Centro. Coimbra, Edição do GAAC. Pg. 28 a 34

 

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por Rodrigues Costa às 10:36

Quarta-feira, 24.02.16

Coimbra, origens 2

A ocupação pré-romana da cidade é provável, ainda que não provada.

… Na área da cidade, mesmo da cidade alargada do nosso tempo, não se encontraram nunca vestígios pré-romanos. Os mais próximos são os da Caverna dos Alqueves.
Fica situada entre as aldeias da Póvoa e Bordalo, a poente de Coimbra, nas traseiras do mosteiro novo de Santa Clara. Descoberta pelo Dr. Santos Rocha, que aí fez explorações em 1898, foi escavada também por A. Mesquita de Figueiredo, em 1900 e 1901. O espólio encontrado é neolítico.

É provável que o festo da colina onde, no nosso tempo, se instalou a cidade universitária, tenha sido ocupado desde épocas recuadas. O sítio é excelente. Dois vales profundos cavam um fosso natural em redor da colina. O primeiro corresponde à atual Avenida de Sá da Bandeira. Por ele corria um ribeiro chamado ‘torrente de balneis Regis’ no documento de 1137 demarcatório da freguesia de Santa Cruz. O ribeiro, que tomava a direção da Rua da Moeda, tinha caudal suficiente para moer, na Idade Média, as azenhas instaladas nesta rua … O segundo vale corresponde ao Jardim Botânico e à sua mata. Uma rampa natural, que o aqueduto de S. Sebastião, ou dos Arcos do Jardim acompanha, separa os dois vales … Este morro é ainda fendido a meio por aquilo que Fernandes Martins chamou expressivamente uma «cutilada»: um valeiro que, saindo do antigo Largo da Feira, «e seguindo pelo Rego de Água em direção à Rua das Covas, ganha declive cada vez mais rápido, para se despenhar por Quebra-Costas, a caminho da Porta de Almedina». Em 14 de Junho de 1411, segundo revela Nogueira Gonçalves, uma enxurrada de tal sorte se precipitou por este córrego, que arrancou as portas chapeadas de ferro da cidade…
Um sítio naturalmente defendido e cómodo para assento de povoado fica assim definido entre a Couraça de Lisboa e o córrego da Rua das Covas ou de Borges Carneiro. Se nenhuns vestígios de épocas pré-históricas foram aí encontrados, isso se deve, certamente, ao facto de os trabalhos para a instalação da cidade universitária não terem sido acompanhados por arqueólogos.

Na área da atual cidade, outro ponto que os povos pré-históricos poderiam ter ocupado, é o morro da Conchada; não se conhecem aqui, porém, vestígios arqueológicos. Uma «necrópole com sepulturas antropomórficas abertas em rocha», provavelmente medieval, foi descoberta no vale de Coselhas.


Alarcão, J. 1979. As Origens de Coimbra. Separata das Actas das I Jornadas do Grupo de Arqueologia e Arte do Centro. Coimbra, Edição do GAAC. Pg. 25 a 27

 

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por Rodrigues Costa às 10:10

Terça-feira, 23.02.16

Coimbra, origens 1

Plínio, na sua ‘História Natural’, descrevendo a fachada atlântica da Península Ibérica, fala de ‘Aeminium’ e do rio que banhava o ‘oppidum’, rio a que chama Aeminiun num passo e ‘Munda’ em outro. Esta é a mais antiga referência à cidade; e se o nome dela não põe problemas, porque se encontra confirmado por Ptolomeu, pelo ‘Itinerário Antonino’ e por diversas inscrições (para citar apenas fontes da época romana, excluindo as visigóticas e medievais), o nome do rio suscita uma dúvida: seria o Mondego conhecido indistintamente por ‘Aeminium’ e ‘Munda’? Este último nome aparece igualmente em Mela e Ptolomeu, sob as formas, respetivamente, de ‘Monda’ e ‘Munda’ … Estrabão não menciona a cidade; refere-se apenas ao rio …

… Borges de Figueiredo viu em ‘Aeminium’ um elemento céltico, ‘meneiu’, que significaria elevação, altura, e que se encontraria também em ‘Herminiu (mons)’ … O nome de ‘Munda’ é também pré-romano, segundo Leite de Vasconcelos. Dele, ou da sua forma equivalente ‘Monda’, derivou, pela adjunção de um sufixo também pré-romano, - aec – e de uma desinência latina, - us -, o nome de ‘Mondaecus’.

… o ‘Itinerário de Antonino’ situa ‘Aeminium’ a dez milhas de ‘Conimbriga’, na estrada de ‘Olisipo’ a ‘Bracara Augusta’. A situação exata … foi muito discutida … o problema, porém, ficou definitivamente resolvido com o achado, em Abril de 1888, de uma lápide que servia de cantareira numa casa então demolida em Coimbra, ao fundo da Couraça dos Apóstolos. A lápide, fazendo menção da ‘civitas aeminiensis’, demonstrou ser este o nome antigo de Coimbra. Calaram-se então as vozes que identificavam a antiga ‘Aeminium’ com Águeda, Macinhata do Vouga ou Montemor-o-Velho.

Alarcão, J. 1979. As Origens de Coimbra. Separata das Actas das I Jornadas do Grupo de Arqueologia e Arte do Centro. Coimbra, Edição do GAAC. Pg. 23 a 25

 

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por Rodrigues Costa às 10:27


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