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Terceira e última entrada dedicada ao trabalho da Doutora Ana Margarida Dias da Silva, intitulado Inventário do Arquivo da Venerável Ordem Terceira da Penitência de S. Francisco da Cidade de Coimbra (1659-2008).
A Ordem Terceira conimbricense entrou na posse da igreja do Carmo em 1837 e pelo artigo 17º da Carta de Lei de 15 de setembro de 1841 foi-lhe cedida a igreja e mais pertenças do extinto Colégio do Carmo Calçado na rua da Soia para nela celebrar os ofícios divinos. Pela Carta de Lei de 23 de abril de 1845 foi também concedido o edifício daquele colégio a fim de se estabelecer um hospital para curativo dos enfermos pobres da mesma Ordem.
Vista das arcadas e fonte com escultura de Santo António, no claustro do extinto colégio do Carmo, sito na rua da Sofia, n.º 114, Coimbra, hoje pertença da Ordem Terceira de Coimbra. Op. cit., pg. 66
A extinção das ordens religiosas, em 1832 e 1834, causou grandes embaraços no governo habitual das diversas ordens terceiras. Com o desaparecimento dos comissários religiosos apagar-se-ia o espírito franciscano tradicional.
Salvaguardaram-se as detentoras de instituições úteis aos professos: lar/asilo, hospital, creche, escolas primárias ou cemitério privativo.
Depois da implantação República, em sessão de Assembleia Geral de 28 de dezembro de 1911 foi decidida a revisão dos Estatutos da Ordem tendo por base as disposições, quer prescritivas quer proibitivas, da Lei da Separação do Estado das Igrejas de 20 de abril de 1911, que no seu artigo 25º proibia o relacionamento com qualquer religioso regular, tolerando-as, contudo, no artigo 17º, na qualidade de corporações ou irmandades de assistência ou beneficência. Os irmãos terceiros conimbricenses enfatizam o carácter assistencial e de beneficência da instituição particularmente exercidos no hospital e asilo, em esmolas pecuniárias e em assistência médica e farmacêutica que concede aos irmãos pobres, procurando demarcar-se, assim, do carácter religioso que a Ordem outrora tivera.
Brasão da Ordem Terceira na fachada principal do edifício do Carmo, hoje sede da Ordem Terceira de Coimbra, sito na rua da Sofia, n.º 114 Coimbra. Op. cit., pg. 60
A Venerável Ordem Terceira da Penitência de S. Francisco da Cidade de Coimbra é hoje titular de um lar para idosos denominado “Lar da Venerável Ordem Terceira de S. Francisco”, que funciona nas dependências da sua sede, na rua da Soia, n.º 114, na cidade de Coimbra.
Atualmente, a Venerável Ordem Terceira da Penitência de S. Francisco, canonicamente ereta, confirmada por D. João Alves, Bispo da Diocese de Coimbra, em 7 de novembro de 1997, e … [está] registada como Instituição Particular de Solidariedade Social.
Pormenor de gravura que encima uma carta patente de irmão da Ordem Terceira de Coimbra (SR: Patentes; código de referência: PT-OTFCBR/A/08). Op. cit., pg. 40
Carta Patente do irmão Joaquim da Conceição, 17 de agosto de 1756, liv. A16 (SR: Bulas Estatutos e Memórias; código de referência: PT-OTFCBR/A/01/16). Op. cit., pg. 71
O governo da Fraternidade, suas obras e serviços, está dividido pelos seguintes órgãos: Conselho da Fraternidade, Assembleia Geral e Conselho Fiscal. Os mandatos duram três anos, e a tomada de posse deve ser feita dentro de trinta dias posteriores à eleição.
Para além das atividades específicas da vida da fraternidade e de culto comunitário, com o fim de alargar o seu campo de apostolado, a fraternidade inclui nos seus objetivos, além de outros, a prestação de serviços de segurança social.
Neste âmbito, propõe-se prosseguir dinâmicas como sejam, lar da terceira idade, centro de dia, centro de acolhimento temporário e apoio à infância e juventude.
Depende organicamente da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica.
Ilustração do livro de registo das receitas e despesas da Ordem Terceira de Coimbra que introduz a rubrica dos róis das freguesias da cidade, 1719-1739, liv.G2, l.66 (SR: “Caixa” – Receitas e Despesas; código de referência: PT-OTFCBR/A/B/02/02). Op. cit., pg. 56
… O Cartório encontrava-se organizado no século XIX, disso são prova os livros de inventário do cartório da Venerável Ordem Terceira, um de 1828 e outro de 1887, que segue, com ligeiras alterações, o antecedente.
Silva, A.M.D. 2013. Inventário do Arquivo da Venerável Ordem Terceira da Penitência de S. Francisco da Cidade de Coimbra (1659-2008). Fotografias Ana Margarida Dias da Silva e Sérgio Azenha. Lisboa. Edição do Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa - Lisboa e da Venerável Ordem Terceira da Penitência de S. Francisco.
Segunda entrada dedicada ao trabalho da Doutora Ana Margarida Dias da Silva, intitulado Inventário do Arquivo da Venerável Ordem Terceira da Penitência de S. Francisco da Cidade de Coimbra (1659-2008).
Além da santificação pessoal, os irmãos terceiros dedicaram-se a tarefas diversificadas, muitas de cariz social. A ação piedosa e de beneficência da Ordem Terceira esteve sempre patente ao longo dos séculos manifestando-se de diversas formas, como por exemplo, a decisão em Mesa de 3 de maio de 1832 de dar esmola de bacalhau, arroz, pão, laranjas e dinheiro a todos os presos das cadeias da Portagem, Universidade e Aljube e a todos os irmãos pobres da Ordem; com a fundação do Hospital e Asilo, inaugurado em 1851 e 1852,
Pormenor da fachada principal do edifício do Carmo, hoje sede da Ordem Terceira de Coimbra, sito na rua da Sofia, n.º 114, Coimbra. Op. cit. 68
com o Patronato Masculino de Santo António e, mais recentemente, com a criação da Casa Abrigo Padre Américo (fundada em 1994).
Casa abrigo Padre Américo, sita na Azinhaga Carmo. Imagem acedida em https://entenderosemabrigo.webnode.pt/products/casa-abrigo-padre-americo/
Situando-se primitivamente no Convento de S. Francisco da Ponte da mesma cidade,
Convento de S. Francisco, já adaptado a fábrica. Acervo RA
em 5 de janeiro de 1659 foi feita a primeira eleição com os oficiais na forma estipulada pelo Papa Nicolau IV, estando presentes D. Frei António de Trejo, bispo de Cartagena e vigário geral da Ordem, e o padre frei Jerónimo da Cruz, comissário da Ordem, e com assistência e votos dos irmãos terceiros. Os primeiros Estatutos da Ordem Terceira de São Francisco de Coimbra determinam que esta seja governada por um Ministro, um Secretário, seis ou oito Definidores, um Síndico, um Vigário do Culto Divino, os Zeladores em número dependente da cidade, vila ou lugar ou o número de irmãos, seis Sacristães e um Vice visitador.
Em 1740 iniciou-se a construção da capela de Nossa Senhora da Conceição da Ponte e Casa do Despacho onde se reunia a Mesa do Conselho. O novo edifício foi construído em terreno anexo ao convento de S. Francisco da Ponte e ainda hoje é propriedade da Ordem Terceira de Coimbra. Em 1784 a Mesa da Venerável Ordem Terceira reuniu na igreja paroquial e colegiada de S. Cristóvão, uma vez que fora expulsa da Casa do Despacho e capela ereta no convento de S. Francisco da Ponte e em novembro de 1785 reuniu pela primeira vez na Sé Velha.
Capela de Nossa Senhora da Conceição, contigua ao Mosteiro de S. Francisco. Acervo RA
Silva, A.M.D. 2013. Inventário do Arquivo da Venerável Ordem Terceira da Penitência de S. Francisco da Cidade de Coimbra (1659-2008). Fotografias Ana Margarida Dias da Silva e Sérgio Azenha. Lisboa. Edição do Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa - Lisboa e da Venerável Ordem Terceira da Penitência de S. Francisco.
A Doutora Ana Margarida Dias da Silva, publicou em 2013, um trabalho intitulado Inventário do Arquivo da Venerável Ordem Terceira da Penitência de S. Francisco da Cidade de Coimbra (1659-2008), no qual traça a história daquela Instituição multisecular desta Cidade. É desse trabalho que extraímos uma série de três entradas, da qual esta é a primeira.
Inventário do Arquivo da Venerável Ordem Terceira … Op. cit., capa
A Venerável Ordem Terceira da Penitência de São Francisco de Coimbra é uma Fraternidade da Ordem Franciscana Secular, fundada em 1659 como pessoa moral eclesiástica canonicamente ereta, com sede em Coimbra, na rua da Sofia, 114,
Vista da fachada principal do extinto colégio do Carmo, hoje sede da Ordem Terceira de Coimbra, sito na rua da Soia, n.º 114, Coimbra, no dia da cidade de Coimbra, 4 de Julho de 2012. Op. cit., pg. 49
tem por fim principal contribuir para que todos os irmãos e irmãs, impelidos pelo Espírito à perfeição da caridade a atingir no seu estado secular, vivam o Evangelho à semelhança de S. Francisco de Assis, mediante a profissão da Regra da Ordem Franciscana Secular, na qual a Fraternidade se integra.
Sendo essencial à sua Regra a vida de fraternidade, promove-se, em espírito de comunhão, todo o possível auxílio aos irmãos, incluindo o auxílio material.
Para além das atividades específicas da vida de fraternidade e de culto comunitário, com o fim de alargar o seu campo de apostolado, a Fraternidade inclui também nos seus objetivos a prestação de serviços de segurança social e atividades culturais preferencialmente e em igualdade de circunstâncias aos seus irmãos, estendendo-as a outras pessoas, indistintamente e na medida das suas possibilidades.
O âmbito de ação da Fraternidade é o concelho de Coimbra.
Foi S. Francisco de Assis quem deu forma às ordens terceiras seculares (existindo igualmente ordens terceiras regulares) designadas desta forma pois foram fundadas a seguir à dos frades menores e à das irmãs clarissas. Foi pela Regra do Papa Nicolau IV, seguindo a Bula de 18 de agosto 1289, e alterada com melhoramentos de vários papas, que os terceiros franciscanos se regeram até à importante reforma de Leão XIII que promoveu e promulgou a reforma da sua Regra através da constituição «Misericors Dei Filius» de 20 de maio de 1883,
Regra que Nicolau IV deu aos irmãos terceiros e terceiras, 1774[?]) - liv.A20 (SR: Bulas, Estatutos e Memórias; código de referência: PT-OTFCBR/A/01/20). Op. cit., pg. 26
Regra essa que vigorou até à data da sua revogação e substituição pelo atual texto de 24 de junho de 1978, aprovado pelo Breve «Seraphicus Patriarchus» do Papa Paulo VI.
Primeiro livro dos Estatutos da V. Ordem Terceira da Penitência de S. Francisco da Cidade de Coimbra, 1659-1739, liv.A1 (SR: Bulas, Estatutos e Memórias; código de referência: PT OTFCBR/A/01/01). Op cit., pg. 26
As ordens terceiras seculares são definidas atualmente pelo Código do Direito Canónico de 1983 como “associações cujos membros participando no século do espírito de algum instituto religioso e sob sua alta orientação, levam uma vida apostólica e tendam à perfeição cristã”. Têm um enquadramento jurídico diferente das irmandades e das confrarias e aproximam-se das ordens religiosas pela sua orgânica aprovada pela Santa Sé e porque os seus membros fazem noviciado e profissão, podendo usar hábito especial, substituível por insígnias, como o escapulário, medalha ou cordão.
Braçadeiras de irmão terceiro usadas nas procissões. Op. cit., pg. 67
Em assento da junta geral dos irmãos terceiros de 5 de janeiro de 1699 determina-se “o uso de hábito de terceiro comprido a todos os irmãos, assim eclesiásticos como seculares, para assistirem a funções públicas em que forem em comunidade e se ostentam filhos do padre S. Francisco como seja a procissão de Quarta-feira de Cinzas, Razoulas e acompanhamentos de irmãos defuntos e não os tendo não serão a eles admitidos”.
Nota: Não encontramos o significado da palavra «razoulas» em nenhum dos dicionários consultados. No entanto, no Elucidário das palavras de Viterbo, surge o verbo «razoar», significando relatar alguma coisa. Assim, somos levados a concluir que, no contexto, «razoulas» deverá referir-se à Celebração da Paixão que na igreja católica tem lugar na tarde da Sexta-feira Santa.
Silva, A.M.D. 2013. Inventário do Arquivo da Venerável Ordem Terceira da Penitência de S. Francisco da Cidade de Coimbra (1659-2008). Fotografias Ana Margarida Dias da Silva e Sérgio Azenha. Lisboa. Edição do Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa - Lisboa e da Venerável Ordem Terceira da Penitência de S. Francisco.
Convento de S. Domingos
Do lado fronteiro (ao Colégio da Graça) erguia-se o «Convento de S. Domingos», agora desaparecido e rasgado pela abertura da Rua João de Ruão. Da igreja pouco resta, além da fachada voltada à rua, que era a cabeceira da capela-mor, armoriada com o brasão dos duques de Aveiro, e da Capela de jesus, de magnífica arquitetura renascentista. Fazia parte deste templo a Capela do Tesoureiro, uma das mais notáveis realizações da Renascença Coimbrã, mas já com decoração maneirista, feita por João de Ruão entre 1558 e 1565. Encontra-se agora montada no Museu Machado de Castro.
A Igreja de S. Domingos, que ficou por concluir, devido à falta de meios … O antigo convento desta ordem situava-se mais próximo do rio (escavações arqueológicas entretanto realizadas identificaram a sua localização debaixo do edifício do Hotel Almedina) e havia sido fundado no primeiro quartel do século XIII, sob a proteção de D. Branca e D. Teresa, filhas de D. Sancho I.
Colégio do Carmo
Confinando com a Igreja da Graça encontra-se o «Colégio e Igreja de Nossa Senhora do Carmo»
O Colégio do Carmo Calçado foi uma das mais prestigiosas instituições da cidade universitária de Coimbra. Fundado em 1542 pelo bispo do Porto, D. Frei Baltazar Limpo, para acolher os clérigos da sua diocese que viessem seguir os estudos em Coimbra, em breve resolveria destiná-lo aos frades da ordem em que professara … Foi ele o iniciador das grandes construções colegiais de que ainda resta parte do noviciado, datado de 1548.
Mas o grande construtor, aquele que mandou erigir a mais monumental igreja da Rua da Sofia e um dos mais belos claustro de Coimbra foi, porém, o famoso bispo de Portalegre, D. Frei Amador Arrais
… A Igreja do Carmo é como um coroamento de todas as pesquisas arquitetónicas citadinas, com uma fachada porticada … de nave única com capelas nos flancos.
… Os edifícios foram entregues à Ordem Terceira de S. Francisco, que fez algumas alterações nas alas colegiais.
… A igreja data de 1597 e teve como mestre-de-obras e provável tracista Francisco Fernandes … são notáveis as capelas laterais … No retábulo principal salientam-se as pinturas maneiristas, do melhor que no género se fez em Portugal, de autoria de Simão Rodrigues e Domingos Vieira Serrão. De estacar são também os azulejos e as esculturas em madeira estofada.
… O claustro foi concluído em 1600 … Como diz Eugénio de Castro, este claustro é “o encanto de todos os artistas e a inveja de quantos ambicionam um asilo discreto e carinhoso para os estudos e para as suas meditações”.
Na sacristia, entre outras peças de valor, guarda-se uma Deposição no Túmulo, do século XVI, vinda do Convento de Sant’Ana, e um belíssimo arcaz feito em 1754 pelo marceneiro António Temudo.
Borges, N. C., 1987. Coimbra e Região. Lisboa, Editorial Presença. Pg. 81 e 82
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