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A' Cerca de Coimbra


Quinta-feira, 09.06.22

Coimbra: Vitrais de Mons. Nunes Pereira, na Igreja de Cardigos

No Museu Nunes Pereira, situado na parte baixa do Seminário Maior de Coimbra, do lado direito de quem entra, encontra-se patente uma exposição com o título A História da Salvação. 50 anos dos vitrais da Igreja Matriz de Cardigos. A mostra apresenta os vitrais projetados há meia centúria pelo patrono do espaço museológico, a fim de serem colocados naquele templo.

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Brochura que serve de folha de sala, capa

Chamamos a atenção de todos os que amam Coimbra para o interesse em visitar a exibição que documenta mais uma obra de grande interesse, saída da mão de Monsenhor Nunes Pereira e composta por sete belos painéis, infelizmente pouco conhecidos.

Os vitrais foram executados, de acordo com cartões da sua autoria, pela empresa lisboeta J. Alves Mendes.

Hugo Costa Soares encarregou-se de fotografar as peças que se encontram patentes na exposição e que, algumas vezes, são acompanhadas pelos cartões que lhe serviram de suporte.

Julgamos que, tecnicamente, os responsáveis pela mostra encontraram soluções capazes de garantir a compreensão da qualidade, bem como do fundamento das peças originais.

O vitral é composto pelos seguintes sete painéis.

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Primeiro painel. Transgressão e Expulsão do paraíso (dimensões do original c. 3,80x1,95 m).. Chave de leitura – Criação: Queda e Promessa

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Segundo painel. Abraão e Isaac – Escuta e oferta (dimensões do original c.3,80x1,95 m). Chave de leitura – Escuta atenta de Abraão e sua Fé em Deus.

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Terceiro painel. Apanha do Maná (dimensões do original c. 3,80x1,95 m). Chave de Leitura – O Maná: o Pão Descido do Céu.

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Quarto painel.  O Cordeiro e a Redenção (dimensões do original c. 2,64x1,95 m). Chave de leitura – O Cordeiro de Deus e a Remissão dos Pecados.

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Quinto painel. O Pentecostes (dimensões do original c. 3,80x1,95 m). Chave de leitura – Maria, Mãe da Igreja.

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Sexto painel. A Lei como revelação de Deus (dimensões do original c. 3,80x1,95 m). Chave de leitura – A Lei e a Regra de Ouro: O Mandamento do Amor.

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Sétimo painel. O Memorial (dimensões do original c. 3,80x1,95 m). Chave de leitura – A Família e a Iniciação Cristã.

A exposição estará patente até ao dia 15 de janeiro de 2023, das 10h00 às 12h00 e das 14h00 às 17h00 de segunda a sexta feira. Aos sábados também é possível fazer visitas.

Todas as visitas implicam a sua prévia marcação, a qual pode ser efetuada por um dos seguintes modos: para o email mnp1906aanp@gmail.com; para o telemóvel 911 592 313; na  portaria do Seminário (telefone 239 792 340).

O visitante, no fim da visita, poderá repousar um pouco junto ao bar do “baloiço” e desfrutar de uma outra bela visão: a do rio Mondego e da sua margem esquerda, de um aprazível local conhecido por poucos.

Rodrigues Costa

 

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por Rodrigues Costa às 11:41

Quinta-feira, 24.03.22

Coimbra: Monsenhor Nunes Pereira 5

Alguns traços para o perfil de Monsenhor Nunes Pereira (conclusão)

 E o Padre Doutor António de Jesus Ramos continua a escrever:

Não é possível, nem eu o pretendo, fazer um catálogo completo de todas as peças artísticas de Monsenhor Nunes Pereira. Muitas foram vistas em exposições coletivas e individuais, em Coimbra, Lisboa, Faro, nos Açores, no Brasil, em Espanha, França e Luxemburgo. Outras estão espalhadas por dezenas de igrejas de norte a sul do país, em retábulos, vias-sacras, painéis e vitrais.

 

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Sem título. Fotografia José Maria Pimentel. Op. Cit., pg.102

 "Sou eu mais o caderno,

Meu chapéu, minha bengala:

Já é meu hábito eterno

Duma rua fazer sala" (Nunes Pereira)

Algumas integram coleções particulares, havendo dezenas de famílias que se orgulham de ter uma "ceia" xilogravada por Nunes Pereira a presidir às refeições nas suas salas de jantar.

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Ceia. Nunes Pereira. Coleção Particular

Outras, felizmente, estão agora, na galeria criada no Seminário, onde podem ser apreciadas por todos quantos o desejarem.

Não é possível, porém, deixar de referir algumas das obras mais significativas do artista. Se quisermos apreciar os seus vitrais temos de sair da cidade, (aqui apenas se pode ver um belo painel figurando Jesus a curar um doente, na pequena capela da Clínica de Santa Filomena) e prestar atenção, porque muitos deles não estão assinados. Vila de Rei, Domes, Paleão, Senhora do Mont'Alto, em Arganil, e Ponte de Sótão são alguns dos lugares com vitrais de Nunes Pereira. Mas os mais significativos, podemos admirá-los nas igrejas de Carnide, (um profeta Elias monumental), e de Cardigos, onde o artista descreve, nas janelas do templo, as principais cenas da História da Salvação.

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Vitral da Ressurreição da Igreja de S. José. Nunes Pereira. In: Duarte, M.D. O vitral de Ressurreição da igreja paroquial de São José de Coimbra. Exegese iconográfica da última obra de Augusto Nunes Pereira, Coimbra, Gráfica de Coimbra, L.da, 2004. da Ressurreição da Igreja de S. José. Nunes Pereira. Acedido em https://www.facebook.com/paroquia.saojose     

Vias-sacras xilogravadas podemos encontrá-las, por exemplo, em Nossa Senhora de Lurdes e na capela do Colégio de São Teotónio, em Coimbra, ou nas igrejas do Vidual e de Colmeias; em ferro forjado em Ponte de Sótão e "Pombal"; e em ferro forjado e mosaico de vidro na Serra da Marofa, (Castelo Rodrigo), e em Miranda do Corvo.

Entre as centenas de xilogravuras seja-me permitido destacar, pela sua beleza e dimensões a "Última Ceia" no refeitório do Seminário de Coimbra, o "Baptismo de Jesus" na igreja de São Caetano, "São Lourenço distribuindo esmolas" em Bustos, "O Encontro de Jesus com Nicodemos", na residência paroquial de São José, "Santo António nas quatro igrejas por onde passou", em Pádua, "Anunciação", "Assunção”, “O Milagre de Caná". na capela de Erada, (Covilhã). De temática diferente são as vinte e cinco tábuas que, só por si, passam a merecer uma demorada visita à galeria instalada no Seminário de Coimbra. Refiro-me aos “Contos de Fajão” que, antes do mais são um precioso contributo para quem no futuro, pretenda estudar a história do trajo, da alimentação, dos métodos agrícolas, do modo de convívio e dos demais costumes das gentes da Beira-Serra entre os séculos XIX e XX.

Há porém, outro aspeto que não pode deixe de ser aqui referido por me parecer fundamental: perante qualquer destes trabalhos, não precisamos de ler a assinatura do seu autor. Mal os observamos dizemos de imediato é Nunes Pereira.

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Sem título, em calhau rolado. Nunes Pereira. Op. Cit., pg. 207

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Sem título, em pedaço de tronco. Nunes Pereira. Op. Cit., pg. 208

É este, de resto, o pormenor que distingue o comum dos artistas, dos artistas de eleição – estes não precisam de assinar as suas obras para as identificarmos de imediato como sendo de EI Greco, de Rubens, de Columbano ou de Nunes Pereira.

Bastava o que fica dito para consideramos Nunes Pereira como um dos maiores artistas conimbricenses da segunda metade do século XX. Mas é muito mais, imensamente mais, o que fica por dizer da sua atividade como investigador, (lembre-se o seu magnífico estudo "Do cadeiral de Santa Cruz"), como arqueólogo, (é sócio da Associação dos Arqueólogos Portugueses e não devem ser esquecidos os seus trabalhos arqueológicos em Coja, sobre a "Pedra Letreira" no concelho de Góis ou as escavações que identificaram a primitiva igreja de São Bartolomeu), como etnólogo ou como historiador da Arte -Sacra.

Nunes Pereira é também e justamente apreciado como poeta, com várias obras publicadas, a primeira quando tinha 29 anos, e a mais recente no dia preciso em que completou 90 anos de vida, a 3 de Dezembro de 1997. Do primeiro livro de versos -"Da terra e do céu" - escreveu o poeta António Correia de Oliveira: "O que no seu poema comove e domina é a ternura, a doçura, a simplicidade, o sobrenatural e a natureza. Francisco e Clara gostariam de ler grande parte das suas líricas, em certas tardes de Porciúncula". Do mais recente - "Sopa de Pedra" - escrevi eu, na nota que lhe serve de prefácio, que se trata, uma vez mais, do regresso às raízes: "pode afirmar-se que o itinerário traçado começa e termina nos Penedos de Fajão. As excursões a outros lugares, quase sempre pouco demoradas, servem para abrir novos horizontes culturais e artísticos. Nunca se chega a perder, no entanto, o sentido do regresso ao Penedo Portelo, numa fidelidade constante às raízes. É dali, do alto das montanhas, que o poeta contempla e depois, nos descreve um mundo em que a beleza é irmã gémea da simplicidade e a dureza das fragas se transforma como que por encanto, em paraíso terreal, onde os homens vivem ao ritmo natural das horas marcadas por um relógio de sol. O tempo não conta. Conta, sim, a obra feita. Por isso, cada poema de Nunes Pereira é uma pedra do rio da sua infância, que a água límpida foi modelando, pacientemente, até à simplicidade de forma porque a torna naturalmente bela".

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Sem título. Fotografia José Maria Pimentel. Op. Cit., pg.182

É pobre, bem sei, este perfil que aqui vos deixo. Mas está carregado das tintas da muita admiração e da enorme estima que nutro – que todos nutrimos – por este padre exemplar, por este artista de eleição, por este homem bom e simples – Monsenhor Cónego Augusto Nunes Pereira.

Coimbra, 10 de janeiro de 1977.

 Ramos, A. J. Alguns traços para o perfil de Monsenhor Nunes Pereira. In:  Pimentel, J.M. e Oliveira, M.C. 2001. Monsenhor Nunes Pereira. O percurso de uma vida. Coimbra, Edições Minerva.

 

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por Rodrigues Costa às 10:40

Quarta-feira, 23.03.22

Coimbra: Conversas Abertas. Sessão de homenagem a Mons. Nunes Pereira

É já depois de amanhã, dia 25, às 18h00 que serão retomadas as “Conversas Abertas”, iniciativa do blogue “A’Cerca de Coimbra”, com o apoio do Clube de Comunicação Social e do Arquivo da Universidade de Coimbra.

A primeira sessão, bem como as demais deste ciclo, decorrerão na Sala D. João III, do Arquivo da Universidade de Coimbra, com entrada pela Rua de São Pedro n.º 2, parte baixa e traseiras do edifício da Biblioteca Geral da Universidade.

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AUC, escadaria

Na sessão – de entrada livre - que se pretende seja uma singela homenagem ao conimbricense, por opção, que foi Monsenhor Nunes Pereira, será tratado o tema Mons. Nunes Pereira. O homem, o sacerdote e o artista, sendo palestrantes as Senhoras Dr.ªs Virgínia Gomes (Técnica do MNMC) e Cidália Maria dos Santos (Curadora do Museu Nunes Pereira).

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Presépio. NP

No final, o artista plástico José Maria Pimentel, fará a apresentação de uma proposta de monumento a Mons. Nunes Pereira a instalar preferencialmente  junto à rua com o seu nome, em Coimbra.

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A Virgem do leite. NP

Para esta sessão foram dirigidos convites aos Ex.mos Senhores Bispo de Coimbra e Presidente da Câmara para além de outras Personalidades.

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por Rodrigues Costa às 10:34

Terça-feira, 22.03.22

Coimbra: Monsenhor Nunes Pereira 4

Alguns traços para o perfil de Monsenhor Nunes Pereira (cont.)

Continuamos a transcrever o texto assinado pelo Padre Doutor António de Jesus Ramos, com o título, Alguns traços para o perfil de Monsenhor Nunes Pereira:

O Seminário. Eis-nos na segunda etapa que marcou de modo duradoiro a vida e, com ela, a caminhada artística de Nunes Pereira. Foi aqui que a sua propensão natural para o desenho recebeu os primeiros incentivos, sobretudo de dois colegas e amigos, os padres Cruz Gomes e Américo Monteiro de Aguiar. Este último teria também influência sobre a sua decisão na escolha entre os caminhos da arte ou do sacerdócio. "Pode-se ser padre e artista, meu caro Augusto" - disse-lhe o Padre Américo.

"Repara, por exemplo, em Fra Angélico que, sem deixar de ser bom monge, foi o artista que foi".

Na revista "Lume Novo", escrita e ilustrada pelos alunos daquele tempo, deixou Monsenhor Nunes Pereira, não apenas os seus primeiros desenhos, mas igualmente os primeiros versos.

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Desenho à pena. Nunes Pereira. Op. cit., pg. 62

Foram, de resto, esses desenhos à pena que lhe mereceram o primeiro louvor público do Bispo da Diocese, D. Manuel Luís Coelho da Silva. Numa daquelas distribuições de prémios que então se faziam aos alunos distintos, D. Manuel concedeu um a título extraordinário, antecedido de mais ou menos estas palavras: "Agora vou dar um prémio a um aluno que, tendo regular aproveitamento nas aulas e regular comportamento, dedica os seus tempos livres a realizar desenhos à pena de muito apreço". O incentivo das palavras, ali diante de professores e colegas, foi mais importante para o artista do que a pequena fortuna de cinquenta mil réis.

Por momentos, aquele prémio e outros incentivos que ia recebendo de superiores e de colegas, fizeram-no acalentar o sonho de lhe vir a ser proporcionada a ocasião de frequentar uma escola de Belas-Artes. "Mas a verdade - confidenciou-me um dia, com a humildade dos simples - é que, terminado o curso e recebida a ordenação fui mandado para a paróquia de Montemor, e ninguém falou mais no assunto".

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Sem título. Fotografia José Maria Pimentel. Op. cit,, pg. 64

"Fui ver se encontrava o rasto

No lajedo que deixei;

Esse estava muito gasto

Das passadas que ali dei." (Nunes Pereira)

O artista, porém, mesmo sem curso. tinha pernas para andar. Quer em Montemor, onde esteve de 1929 a 1935. quer em Coja, que paroquiou de 35 a 52, quer em S. Bartolomeu de Coimbra, onde se manteve de 52 até à aposentação em 1980, Monsenhor Nunes Pereira soube conciliar o exercício do seu múnus pastoral com um crescente interesse pelo cultivo das artes, desde a poesia à escultura passando pelo desenho, pela aguarela, pelo vitral e sobretudo pela xilogravura, especialidade em que se viria a tomar possivelmente no melhor artista português da segunda metade deste século.

O Padre Américo dissera-lhe que se podia ser sacerdote e artista. Monsenhor Nunes Pereira tem-no demonstrado como pároco, como arcipreste de Coimbra, funções em que conquistou a estima e admiração dos colegas, como Vigário-Geral da Diocese, cargo para que foi nomeado em Maio de 1973, depois de consulta a todo o presbitério, pelo saudoso D. João António Saraiva, como conservador do Património Artístico da Diocese de Coimbra, para que foi escolhido em 1981, ou como membro da Comissão de Arte Sacra. Sendo um talentoso artista, não deixou de ser nunca um exemplar sacerdote. De resto, a arte em Nunes Pereira é um segundo sacerdócio. Ele próprio mo afirmou um dia, quando o entrevistei para o "Correio de Coimbra": "Eu não poderia ser o artista que sou se não fosse a minha formação sacerdotal". E acrescentou: "A minha arte, não é arte pela arte. É uma arte apologética, embora nem sempre lhe dê expressamente essa intenção".

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A última Ceia. Nunes Pereira. Op. cit., pg. 72

Sobretudo depois da sua vinda para Coimbra, em 1952, Nunes Pereira deixou de ser um artista desconhecido. A sua longa passagem pela redação do "Correio de Coimbra" (18 de Janeiro de 1952 - 31 de Janeiro de 1974), onde escreveu centenas de artigos e publicou um sem-número de xilogravuras, o seu contacto com outros artistas da cidade e a exposição frequente das suas obras fizeram-no sair do anonimato, tomando-se a sua arte conhecida e admirada não só na cidade, mas por todo o país e mesmo além-fronteiras.

Ramos, A. J. Alguns traços para o perfil de Monsenhor Nunes Pereira. In:  Pimentel, J.M. e Oliveira, M.C. 2001. Monsenhor Nunes Pereira. O percurso de uma vida. Coimbra, Edições Minerva.

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por Rodrigues Costa às 13:15

Sexta-feira, 18.03.22

Coimbra: Conversas Abertas. Sessão de homenagem a Mons. Nunes Pereira

O projeto “Conversas Abertas”, iniciativa do blogue “A’Cerca de Coimbra”, com o apoio do Clube de Comunicação Social e do Arquivo da Universidade de Coimbra, depois de um interregno de cerca de dois anos motivado pela pandemia, vai ser retomado de hoje a uma semana.

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Arquivo da Universidade de Coimbra, entrada pela Rua de São Pedro n.º 2, parte baixa e traseiras do edifício da Biblioteca Geral da Universidade

 A sessão da próxima semana, a decorrer no dia 25 do corrente, 6.ª feira, a partir das 18h00, terá lugar na sala D. João III, do Arquivo da Universidade de Coimbra.

Pretende-se que seja uma singela homenagem ao conimbricense, por opção, que foi Mons. Nunes Pereira.

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Monsenhor Nunes Pereira

Tema: Mons. Nunes Pereira. O homem, o sacerdote e o artista.

Palestrantes: Dr.ªs Virgínia Gomes (Técnica do MNMC) e Cidália Maria dos Santos (Curadora do Museu Nunes Pereira).

No âmbito desta Conversa Aberta o Arq.º António José Monteiro e o artista plástico José Maria Pimentel, farão a apresentação de uma proposta de monumento a Mons. Nunes Pereira a instalar junto à rua com o seu nome, em Coimbra.

Para esta sessão foram dirigidos convites aos Ex.mos Senhores Bispo de Coimbra e Presidente da Câmara, entre outras individualidades.

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Xilogravura de NP

A Entrada será livre ao limite da lotação, no respeito pelas diretivas em vigor da Direção Geral de Saúde.

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por Rodrigues Costa às 10:59

Quinta-feira, 17.03.22

Coimbra: Monsenhor Nunes Pereira 3

A obra que ora divulgamos insere o seguinte texto assinado pelo Padre Doutor António de Jesus Ramos, com o título, Alguns traços para o perfil de Monsenhor Nunes Pereira:

Numa das minhas incursões pela história comparada dos povos encontrei, tempos idos, a figura simpática de um rei polaco, de nome Augusto, que, nos finais do século XVII, deixou nomeada em toda a Europa pela simples razão de estar na origem paternal, pelo menos atribuída, de quatrocentas criaturas.

Longe estava eu de pensar que alguma vez me seria dada a honra de, nestes últimos anos do século XX, traçar o perfil de um outro Augusto, com créditos firmados em Portugal e além-fronteiras, e que assume a paternidade responsável de várias centenas, talvez de milhares de criaturas.

Ninguém se admirará que eu me exprima deste modo e tenho a certeza de que Monsenhor Augusto Nunes Pereira não vai desaprovar este preâmbulo.

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Na fachada da casa natal, uma cabeça de mulher outrora saída das suas mãos, serve-lhe agora de modelo para uma fotografia. Op. cit., pg. 33

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As voltinhas do Fajão. Fotografia José Maria Pimentel. Op. cit., pg. 40

"Comecei a pisar esta calçada,

Um cinco-réis de gente, um quase nada.

Que bela recordação,

As voltinhas do Fajão" (Nunes Pereira)

Eu digo porquê. Num dos nossos primeiros encontros, era eu ainda jovem estudante, quando lhe referi o nome da minha aldeia, deixou-me algo perplexo, mas não escandalizado, a sua informação: «Conheço muito bem, e até lhe posso dizer que tenho lá dois irmãos».

 

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Pai de Nunes Pereira, Xilogravura. Op. cit., pg. 19

Perante o meu silêncio questionador o santo e paciente sacerdote, sempre amável para o verdor da juventude, explicou-me, logo de seguida que seu pai, além de agricultor, fora, em finais do século XIX o escultor-santeiro mais conhecido em toda a Beira-Serra e que, para a capela do povoado onde nasci, por encomenda dos meus antepassados, esculpira duas imagens que eu venero desde criança, uma representa Nossa Senhora de Nazaré com o seu Menino ao colo e um grupo de anjos aos pés e a outra o santo do meu nome, António, nas suas vestes franciscanas, com um cordão que lhe toma a cintura pronunciada, uma cruz na mão direita e, na esquerda, um livro aberto nudez do Divino Infante. Aquelas duas imagens são, hoje, no meu humilde entendimento artístico, os familiares antepassados das centenas de criaturas que, em desenho à pena, em ferro forjado, em aguarela, em vitral e sobretudo em madeira gravada saíram do talento artístico que o Senhor de todos os dons concedeu em abundância caudalosa a este homem simples e bom que, ainda hoje, se identifica com as suas raízes, que vão mergulhar na honradez que lhe foi transmitida nas canções com que a mãe Ana o embalava no rulo que o pai António fizera em madeira de castanho.

Quem quiser conhecer e entender a multifacetada obra artística de Nunes Pereira tem de se deter demoradamente sobre esta primeira etapa da sua vida. Foi o próprio artista que mo confessou em longa conversa que mantivemos, em Agosto de 1980, respirando a brisa fresca da praia da Figueira: "Moralmente recebi influência direta de meu pai.

Embora eu tivesse só nove anos quando ele morreu, lembro-me muito da convivência com ele, do que me dizia, do modo como educava os filhos”. E dele recebeu também o gosto pela arte e as ferramentas para trabalhar a madeira: as plainas, as goivas, os formões... E não deixou de o influenciar por certo aquela história verdadeira que ouviu na infância a propósito de seu pai: alguns homens da Mata foram à sede de freguesia, a Fajão, para combinarem com o pároco, padre Carlos José Fernandes de Almeida, a bênção da imagem do Senhor dos Milagres, orago da capela local. 0 prior perguntou à delegação: "Quem é que a fez?" Eles responderam: "Foi António Nunes". "Isso não deve estar capaz" - retorquiu o padre Carlos. "Está pois! Ele é um artista." Pouco convencido, o prior despachou-os: "Está bem! Eu lá irei, mas, se não estiver em condições, agarro-lhe por uma perna e atiro-a para o Pego Redondo". Não foi necessário, o sacerdote não só benzeu a imagem como ficou admirado como é que as mãos calejadas de um cavador de enxada tinham esculpido obra tão perfeita.

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Retrato de minha Mãe – 1927. Nunes Pereira, op. cit., pg. 19.

Não menos influente na formação do padre e artista foi a figura tutelar de sua mãe. Num dos seus livros de versos, escreveu Nunes Pereira esta dedicatória: "A minha mãe, que eu persisto em relembrar no momento dos vivos".

Na mesma conversa que atrás referi, confidenciava-me o artista:” Minha mãe, considero-a ainda viva pela influência que exerce em mim. Foi uma grande mulher. Tendo enviuvado cedo, ficou com uma casa de lavoura a seu cargo e, mesmo assim conseguiu-me mandar para o Seminário, com dinheiro emprestado.

Ramos, A. J. Alguns traços para o perfil de Monsenhor Nunes Pereira. In:  Pimentel, J.M. e Oliveira, M.C. 2001. Monsenhor Nunes Pereira. O percurso de uma vida. Coimbra, Edições Minerva.

 

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por Rodrigues Costa às 10:07

Terça-feira, 15.03.22

Coimbra: Monsenhor Nunes Pereira 2

 

Dedicamos a entrada de hoje e as quatro que se lhe vão seguir ao livro Monsenhor Nunes Pereira. O percurso de uma vida.

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Monsenhor Nunes Pereira. O percurso de uma vida, capa

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Monsenhor Nunes Pereira. O percurso de uma vida, contracapa

Trata-se, essencialmente, de um magnifico álbum fotográfico dedicado à vida e à obra dessa figura maior de Coimbra que foi Nunes Pereira.

Para além das excelentes imagens, a obra em apreço apresenta, a enquadrá-las, um conjunto de textos passíveis de fazer um relato do percurso de vida do Homem e do Sacerdote que ele foi e da sua obra artística, afanosamente construída ao longo da vida.

A obra de Nunes Pereira merece a atenção dos conimbricenses e a razão dessa relevância surge assim relatada:

Num café de Coja tomávamos a bica.

Veio à conversa a recente edição da Valceira, Associação de Desenvolvimento sediada em Fajão, de uma recolha de quadras populares coordenada por Maria da Conceição Oliveira e ilustrada por Monsenhor Nunes Pereira. Falámos sobre ele, sobre a sua enorme vitalidade, sobre o que conhecíamos da sua vida e obra, que se nos apresentava em fragmentos mais ou menos dispersos do que sobre ele tínhamos ouvido falar ou lido.

Nos minutos seguintes, a admiração que ambos temos por este homem, para quem a arte é uma paixão desde criança e de todos os dias, fez-nos nascer a ideia de uma fotorreportagem. Não pretendíamos ficar presos à sua biografia, nem tão pouco fazer um estudo detalhado da obra realizada, queríamos antes acompanhá-lo no reencontro com os espaços e ambientes que foram a sua vida e transcrevê-los em imagens.

Seria uma justa homenagem e um projeto que concretizaríamos com prazer.

Apresentámos-lhe a ideia.

Com a habitual modéstia hesitou. Parecia-lhe trabalho a mais para pessoa de interesse relativo.

Ultrapassado à força de argumentos este primeiro obstáculo, encontrámos o entusiasmo que lhe é característico e que põe em tudo aquilo a que se dedica.

Seguiu-se a digressão pelos locais onde viveu, acompanhados por este conversador incansável dotado de um sentido de observação, saber e memória extraordinários.

Assim, fomos descobrindo uma obra com uma dimensão muito superior à que imagináramos, tanto na vertente de intervenção social, como na artística. Até neste último aspeto, talvez aquele que julgávamos conhec.er melhor, nos conseguiu surpreender. Sempre munido de caneta e papel, percorreu a vida a registar o que lhe despertava o olhar: são cadernos e cadernos de desenhos gravuras, aguarelas espalhados entre o seu atual atelier e escritório no Seminário, a casa da Portela (Coimbra), o museu em Fajão (Pampilhosa da Serra), as coleções particulares; são as muitas xilogravuras, vitrais e trabalhos em ferro existentes em igrejas do país e outros edifícios. Deparámos com surpresa que, entre as muitas disciplinas artísticas que praticou, também a banda desenhada mereceu a sua atenção permitindo, ocasionalmente, dar curso a um sentido de humor familiar a quantos o conhecem.

A recolha de imagens foi feita ao ritmo das nossas deambulações, sem encenações nem poses.

À medida que iam surgindo, entregávamos-lhe uma cópia para que seguisse o trabalho. Nasceram, assim, espontaneamente, de sua autoria e em jeito de comentário, as quadras que as acompanham.

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Nunes Pereira – Retrato a ponta seca da autoria de José Maria Pimentel. Op. cit., pg. 5

Este livro apresenta Monsenhor Nunes Pereira nos espaços que são hoje o seu quotidiano, sugere o ainda possível dos ambientes que condicionaram o percurso da sua vida, regista os objetos que o têm seguido, muitos fabricados pelas suas mãos. A reprodução de obras nele incluídas não pretende fazer qualquer seleção critica, mas apenas dar nota da sua qualidade e diversidade.

Esperamos ter sido merecedores da confiança que em nós depositou.

Pimentel, J.M. e Oliveira, M.C. Monsenhor Nunes Pereira. O percurso de uma vida. Alguns traços para o perfil de Monsenhor Nunes Pereira, A. Jesus Ramos. Percursos artísticos de Augusto Nunes Pereira, Elisabete Oliveira. 2001. Coimbra, Edições Minerva.

 

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por Rodrigues Costa às 21:44

Quarta-feira, 07.07.21

Coimbra: As Últimas Ceias de Nunes Pereira

No Seminário Maior de Coimbra, que presentemente se encontra em obras de recuperação, justamente no local onde Monsenhor Nunes Pereira teve a sua última oficina

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Nunes Pereira na sua oficina. Fotografia RA

e que atualmente se designa Museu Nunes Pereira, encontra-se patente ao público uma belíssima exposição intitulada “As Últimas Ceias de Nunes Pereira. Das Ceias à Ceia”, onde são apresentados alguns dos seus trabalhos relacionados com esta temática.

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“As Últimas Ceias de Nunes Pereira. Das Ceias à Ceia”, cartaz

Trata-de de uma pequena mostra – a exiguidade do espaço não permite mais – apresentada com grande despojamento, mas respeitando com dignidade a personalidade do Artista. Centra-se na apresentação de uma interessante coleção de “Últimas Ceias” que se materializam em diversos tipos de suporte, das quais apresentamos as seguintes obras.

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Nunes Pereira. Folha de sala. Última Ceia, 1

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Nunes Pereira. Folha de sala. Última Ceia, 2

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Nunes Pereira. Folha de sala. Última Ceia, 3

Para além da exposição, o visitante pode ainda visualizar a nossa Cidade a partir de um ângulo pouco conhecido, desfrutar de um pequeno espaço de lazer, deleitar-se com um gelado caseiro de qualidade e fruir de um baloiço que parece voar sobre o rio. Tudo sem problemas de estacionamento.

A folha de sala apresenta uma breve explicação sobre o significado da celebração da Última Ceia e apresenta-a como um local de encontro com a própria pessoa, de conversão e de perdão; onde o outro é mais importante, onde a vida é celebrada. Lugar de tomada de decisões e de tensão. Se pensarmos bem, a vida humana gira muito em torno deste lugar: a Mesa.

Refere ainda que as “Últimas Ceias de Nunes Pereira – Das Ceias à Ceia –“, constitui um percurso que mostra a forma como o artista plasmou, o Memorial – a Eucaristia – contido e inscrito em cada uma das suas obras: Jesus à mesa, ao centro, ladeado de seis apóstolos de cada lado, o pão e o cálice ao centro a serem abençoados e a ação de graças, evocada de vários modos, por parte de cada um dos apóstolos. Percurso que permite “saborear”, interiorizar e valorizar o significado da mesa, do alimento e da presença do outro na nossa vida. Lugar de gratidão, de conhecimento e de reconhecimento.

A exposição, promovida pelo Seminário Maior de Coimbra e que teve como curadora Cidália Santos, pode ser visitada, de Segunda a Sexta-feira, às 14h, 15h, 16h, 17h e, aos sábados, às 10h, 11h, 12h, 14h, 15h, 16h, 17h.

O uso de máscara é obrigatório e a marcação da visita deve ser feita com, pelo menos, 1 dia de antecedência, em:

 https://www.seminariomaiordecoimbra.com/pt/visitar-seminario/  

Em suma, não se pode deixar de visitar esta exposição, de relembrar essa personalidade ímpar da nossa cidade que foi Monsenhor Nunes Pereira e, simultaneamente, desfrutar a beleza do local.

Rodrigues Costa

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por Rodrigues Costa às 11:29

Terça-feira, 06.07.21

Coimbra: O Púlpito de Santa Cruz 1

Os púlpitos das nossas igrejas tornaram-se obsoletos com o advento da amplificação sonora e sobretudo depois do concílio Vaticano II, quando toda a ação litúrgica se centrou no altar da celebração. Foram substituídos pelo ambão, normalmente colocado à direita do altar, no lado outrora destinado ao Evangelho. Será difícil às novas gerações percecionar a função e utilidade que estava destinada a estas peças, sempre tratadas com muito esmero e muitas vezes expressão artística de alto merecimento. No pós-concílio, alguns púlpitos chegaram mesmo a ser retirados das igrejas, esquecendo que a sua presença de séculos é parte da história dos monumentos e das comunidades.

Púlpito de Santa Cruz de Coimbra.jpg

Púlpito de Santa Cruz

As origens dos púlpitos podem procurar-se na civilização romana, de que somos herdeiros. Estavam presentes nos edifícios públicos e no foro como um local elevado, onde se situavam os oradores. Nas primitivas basílicas cristãs havia já uma tribuna semelhante ao ambão dos dias de hoje. Na segunda metade do século XIII, a atividade oratória de franciscanos e dominicanos levou à criação do púlpito como uma tribuna elevada, no centro da nave e por vezes com um dossel ou quebra-voz, para melhoria das condições acústicas, geralmente posicionado do lado do Evangelho. A partir do século XVI o púlpito ganha grande protagonismo no espaço interior das igrejas. Ali se fazia lembrar o louvor a Deus e o proveito espiritual das almas para a salvação eterna, em sermões inspirados, por vezes exuberantes e teatrais para que a mensagem chegasse a todos, pois grande parte da população era iletrada.

Em Santa Cruz de Coimbra o púlpito situou-se junto à desaparecida grade que separava o espaço conventual do espaço dos fiéis.

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o púlpito situou-se junto à desaparecida grade

 Ele é bem a expressão da sapiente cultura dos cónegos crúzios e da arte refinada de Nicolau Chanterene. O escultor francês Nicolau Chanterene fez uma passagem quase episódica por Coimbra. No mosteiro de Santa Cruz deixou o melhor da sua obra, na fachada, no claustro e no púlpito, executado em 1521, data descoberta pelo Pe. Nunes Pereira quando fazia desenhos de pormenores, publicados neste jornal em 1985.

1521, data descoberta pelo Pe. Nunes Pereira.jpg

1521, data descoberta pelo Pe. Nunes Pereira

Parte do púlpito onde em 1985 foi.jpg

Parte do púlpito onde em 1985 foi identificada a data da sua construção, ilegível passados 35 anos.

Borges, N.C. O Púlpito de Santa Cruz. In: Correio de Coimbra, n.º 4785, de 2020.05.07

 

 

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por Rodrigues Costa às 10:21

Quinta-feira, 26.07.18

Coimbra: O Pelourinho e as suas peregrinações pela cidade 2

Orgulhoso e altaneiro, bem cioso dos direitos que representa, o pelourinho não desvenda com facilidade a sua origem, mas verificamos que a sua existência se estendeu a toda a Europa ocidental, cronologicamente até à implantação das ideias liberais e que, nalguns países, ultrapassou mesmo esta época. Sabemos também que atravessou os mares e se implantou no Novo Mundo por influência de portugueses, espanhóis e ingleses.

Herculano pretende ver a sua origem associada ao direito itálico (jus italicum) que consignava uma total organização municipal e permitia levantar no forum a estátua de Marsyas ou de Sileno com a mão erguida, símbolo da liberdade burguesa.

Pinho Leal, filia a origem destes monumentos na columna moenia, colocada pelo cônsul romano Moenio na praça, isto é, no forum que se estendia frente à sua casa, onde se realizavam os julgamentos feitos pelos magistrados (triumviros), se aplicavam os castigos públicos e se faziam as festas populares.

Teófilo Braga vê no pelourinho a representação do Genius Loci romano, patrono da independência municipal.

Luís Chaves filia o aparecimento do pelourinho na antiga imagem do poste pessoal ou coletivo de um clã, de um povoamento ou de um agrupamento religioso.

Mas a sua origem, provavelmente, tem de se ir buscar em tempos ainda mais recuados.

Todas as picotas, mais ou menos esbeltas, mais ou menos ricas na sua decoração, têm um elemento comum: a coluna.

… Monsenhor Nunes Pereira, nos idos de Quarenta, escrevia que os pelourinhos “testemunham a autonomia (jurisdicional, digo eu) que a terra goza ou gozou noutros tempos. Devem ser estimados, conservados e reconstituídos onde isso possa fazer-se”.

*

 O pelourinho de Coimbra transferiu-se do adro da Sé Velha, onde se encontrava junto à Casa do "Vodo" (casa da audiência da Câmara que se erguia frente à igreja da Sé [Velha] para a praça do Comércio nos finais do século XV (1498).

Retirado deste lugar, deslocou-se para o Largo da Portagem (1611), tendo então sido adaptado a fontanário. Aí permaneceu até 1836, ano em que o desmontaram e armazenaram até 1894. 

Grimpa do pelourinho de Coimbra, original.jpg

Grimpa do pelourinho de Coimbra, original

 Do original resta apenas a grimpa, conservada no acervo do Museu Nacional de Machado de Castro.

*

Da sua reconstrução, ocorrida nos anos oitenta do século passado, posso dar testemunho.

Eu era, ao tempo, Chefe de Serviços de Turismo aos quais estava adstrito o Gabinete de Salvaguarda do Património, de que era responsável o arquiteto António José Monteiro.

Tendo sido determinado pelo então Presidente da Câmara, Dr. Mendes Silva, a recuperação da Praça do Comércio, na altura mais conhecida por Praça Velha, entendeu-se reinstalar ali uma reconstituição do Pelourinho, até porque ele, outrora, já estivera erguido naquele local.


Pelourinho de Coimbra na Portagem.jpg

 Pelourinho de Coimbra na Portagem

 

Baseado em desenhos que se pensam ser fidedignos, o arquiteto António José Monteiro riscou uma proposta reconstrutiva e o saudoso Mestre Pompeu Aroso bateu as partes metálicas, copiando-as do original, existente no Museu Machado de Castro. 

 

Pelourinho de Coimbra c.JPG

 Pelourinho de Coimbra reconstituição

 

Praça Velha com reconsituição do pelourinho.jpg

 

Praça Velha com reconstituição do pelourinho

 

 

Bibliografia

. Anacleto, R. 2008. Para que servem os pelourinhos? Conferência proferida nas I Jornadas de História local, Pampilhosa da Serra. Auditório Municipal, 2008.04.10 e 2008.04.11.

. Malafaia, E.B.A. 1997. Pelourinhos portugueses. Tentâmen de inventário geral. Col. Presenças de Imagens. Lisboa, Imprensa Nacional Casa da Moeda.

. https://pt.wikipedia.org/wiki/Pelourinho_de_Coimbra. Acedido em 2018.07.17

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por Rodrigues Costa às 19:03


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