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Augusto Nunes Pereira – o sacerdote e o artista – é uma figura incontornável da Coimbra da segunda metade do século XX.
Nunes Pereira. Desenho F. Pimentel /78
Quem teve a felicidade de conviver com ele guarda na memória a sua bondade e alegria de viver, o sorriso acolhedor e a arte que o levava a desenhar compulsivamente tudo quanto via.
Arte polifacetada, assente num trabalho continuo desenvolvido até ao último dia de vida e que passou por diversas técnicas, com particular destaque para o vitral e para a gravura em madeira.
O Museu Nunes Pereira que, no Seminário Maior de Coimbra, se encontra instalado no local da sua última oficina, é um espaço que os conimbricenses deviam conhecer e do qual se deviam orgulhar.
O projeto da construção de um monumento, em Coimbra, a lembrar Monsenhor Nunes Pereira surgiu a 25 de março de 2022, no âmbito do ciclo de palestras designado por Conversas Abertas, promovido pelo blogue “A´Cerca de Coimbra”, com o apoio do Arquivo da Universidade de Coimbra e do Clube de Comunicação Social.
Naquela data foi abordado o tema Mons. Nunes Pereira. O homem, o sacerdote e o artista, sendo palestrantes as Senhoras Dr.as Virgínia Gomes (Técnica Superior responsável pelas coleções de Pintura, Desenho e Gravura do Museu Nacional de Machado de Castro) e Cidália Maria dos Santos (Curadora do Museu Nunes Pereira).
No âmbito desta Conversa Aberta, o Arq.º António José Monteiro e o artista plástico José Maria Pimentel, apresentaram um projeto destinado a servir de base para a construção de um monumento dedicado a Monsenhor Nunes Pereira, que deveria ser instalado em Coimbra, junto da rua com o seu nome, e que, gratuitamente, ofereceram à Cidade.
Proposta que mereceu o apoio e o empenho de todos, o que levou à constituição informal de um Grupo de Cidadãos, para dar sequência à mesma.
Seguiram-se meses de diligências que culminaram no dia 5 de julho de 2023, com a realização, nos Paços do Concelho, de uma reunião na qual participaram, em representação do Executivo Municipal, o Eng.º Nelson Cruz e o Dr. Pedro Peixoto, respetivamente Chefe do Gabinete do Presidente da Câmara e Assessor do mesmo Gabinete e os técnicos do Município Dr.ª Maria Carlos, Diretora do Departamento de Cultura e Dr.ª Elisabete Carvalho, Chefe de Divisão do mesmo Departamento e o Arq.º José Filipe Martins, Chefe da Divisão de Projetos. Em representação do Grupo de Cidadãos participaram a Arq.ª Isabel Anjinho, a Dr.ª Cidália Maria dos Santos e o signatário.
Dessa reunião resultou um acordo, assente nas seguintes bases:
- O monumento seria restringido à imagem de Monsenhor Nunes Pereira, comprometendo-se os Autores a apresentar, para além do material já entregue, o projeto estrutural do monumento a construir;
- O local exato da sua instalação seria definido numa visita noturna à zona, com representantes de ambas as partes;
- A oferta feita à Cidade restringir-se-ia ao projeto do monumento em si.
Este acordo veio, posteriormente a ser assumido pelo Executivo Camarário, em reunião pública, na qual foi autorizada a construção do mesmo.
Proposta de arte urbana. Monsenhor Nunes Pereira. Autores: José Maria Pimentel, António Monteiro, João Paulo Neves. 1
Proposta de arte urbana. Monsenhor Nunes Pereira. Autores: José Maria Pimentel, António Monteiro, João Paulo Neves. 2
Proposta de arte urbana. Monsenhor Nunes Pereira. Autores: José Maria Pimentel, António Monteiro, João Paulo Neves. 3
De seguida o Grupo de Cidadãos empenhou-se em encontrar uma entidade que, no âmbito do mecenato cultural, custeasse a construção do monumento. Depois de algumas promessas não cumpridas, acabou por se concluir pela incapacidade de conseguir tal ajuda.
A situação veio a ser desbloqueada, graças ao empenho – há que o assinalar – do assessor da Presidência da Câmara Municipal, Dr. Pedro Peixoto, que conseguiu reunir as condições necessárias para que, no passado dia 2 de setembro, pudesse informar o Grupo de Cidadãos de que havia sido inscrito, no projeto de Orçamento do Município para 2025, a verba de 20.000 € destinada à construção do monumento.
Na sequência, foi marcada para o dia 2 de outubro próximo, às 15h00, uma audiência do Grupo de Cidadãos com o Senhor Presidente da Câmara Municipal de Coimbra, para formalizar a entrega à Cidade do projeto do monumento a Mons. Nunes Pereira.
No decurso da referida reunião o Presidente do Executivo informou que iria apresentar, em próxima reunião do Executivo, uma proposta no sentido de o Município assumir a construção do monumento.
Ao chegar ao termo de um caminho, o Grupo de Cidadãos que se empenharam neste processo, tornam público o seu agradecimento:
- Ao autor da peça escultórica, o artista plástico José Maria Pimentel e aos coautores da estrutura física de suporte, arquitetos António José Monteiro e João Paulo Neves, não só pela generosidade da oferta, mas essencialmente por terem sabido entender a justeza da homenagem que a mesma consubstancia;
- À Câmara Municipal de Coimbra por assumir uma dívida que Coimbra tinha para com Mons. Augusto Nunes Pereira;
- A todos quantos, por qualquer forma, contribuíram para a viabilização deste projeto.
O Grupo de Cidadãos,
Ana Maria Bandeira
Armando Braga da Cruz
Cidália Maria dos Santos
Isabel Anjinho
Nuno dos Santos
Regina Anacleto
Rodrigues da Costa
Pimentel, J.M., Monteiro, A., Neves, J.P. Proposta de arte urbana. Monsenhor Nunes Pereira. 2024. Coimbra, trabalho dos Autores
Última de três entradas dedicadas à divulgação do trabalho do Doutor João Alves da Cunha dedicado à história da construção da nova igreja de S. José.
Quanto ao interior da igreja, era composto por uma só nave, precedida de um pequeno átrio interno donde se acedia também quer à escada do coro, que envolvia superiormente a nave, quer ao batistério, que se manteve junto à entrada principal da igreja, mas agora integrado no seu volume principal. Próximo da capela‑mor situavam‑se duas capelas laterais que pela sua altura e profundidade formavam um transepto com expressão suficiente para dar um cariz cruciforme à planta da igreja.
A capela‑mor, de remate semicircular, era envolvida pelo referido deambulatório de acesso às sacristias, cartório e outros serviços, que tinham também acesso pelo exterior.
Este corredor encontrava‑se separado da capela‑mor “por meio de colunas cuja base de apoio é cheia até determinada altura”. Em termos de iluminação, “A nave fica mergulhada em penumbra pelo condicionamento de aberturas laterais. A capela‑mor, porém, inunda‑se de luz que lhe vem duma série contínua de aberturas que envolvem todo o deambulatório”. Quanto à torre sineira, à semelhança da proposta por Januário Godinho, situou‑se separada do volume principal. Ficava, no entanto, “ligada à galeria claustral envolvente, tanto para dar isolamento e capacidade à casa mortuária [situada na sua base], como também para se obter independência total de todos os elementos verticais da sua composição”.
…. Os meses passaram depressa, chegando a notícia no começo de outubro de que o projeto de arquitetura se encontrava ainda em execução.
.... [No] mês de outubro quando Álvaro da Fonseca entregou “à consideração superior” o esperado projeto, baseado “em estudos desenhados e num estudo em vulto que em devido tempo foram apreciados pelas entidades oficiais”. A nota descritiva e justificativa pouco diferiu da apresentada no anteprojeto.
Igreja de S. José, projeto. Plantas, cortes e alçados (Arq. Álvaro da Fonseca, 1953). Fonte: Arquivo da Igreja de S. José de Coimbra. Op. cit., 292
…. Pouco tempo passado, a 7 de novembro, o Diretor de Urbanização do Distrito de Coimbra enviou o seu parecer sobre o projeto ao Diretor Geral dos Serviços de Urbanização.
Igreja de S. José, em construção. Fonte: http://www.diocesedecoimbra.pt/noticias/site/ paroquia‑da‑se‑nova:787. Op. cit., pg. 293
…. A 19 de março de 1954 teve lugar a cerimónia de bênção da primeira pedra… Apesar da receção definitiva da obra ter ocorrido a 11 de abril de 1960 … D. Manuel de Jesus Pereira, Bispo Auxiliar, sagrou a igreja no dia de S. José, a 19 de março de 1962.
Igreja de S. José, após inauguração. Fonte: https://www.pinterest.pt/pin/448248969156178023/. Op. cit., 294
Ainda despida das intervenções artísticas, a luz interior da igreja e em particular da capela‑mor foi então largamente elogiada.
…. Monsenhor Nunes Pereira, outra importante figura no campo da arte e da cultura, escreveu que o novo templo, “bem iluminado, é dominado pela capela‑mor de terminação semicircular tendo ao centro o altar de mármore e o trono sob um baldaquino dourado”.
…. A intervenção de artistas plásticos acabou por realizar‑se quer no exterior quer no interior da igreja. Na fachada principal colocaram‑se dois grupos escultóricos de dimensão quase excessiva, ambos concebidos pelo artista açoriano Numídico Bessone Borges de Medeiros Amorim (1913‑1985): S. José com o Menino e Dois anjos com cruz. Para o interior da igreja, a escultora Maria Amélia Carvalheira (1904‑1988) concebeu diversas peças, nomeadamente as esculturas de Nossa Senhora e de S. José com o Menino, colocadas nas capelas laterais, e a Via Sacra, obras serenas e de traço seguro.
…. Ainda no presbitério foram colocados azulejos na parte inferior das paredes, tal como nas paredes laterais da igreja e das capelas laterais, cujo teto foi ainda rebaixado em três metros.
Nesta intervenção, a pia batismal foi deslocada desde o seu local original, no batistério junto à entrada, para o altar‑mor.
Igreja de S. José, capela‑mor (1962, 1983, 2001). Fonte: Castelhano, João, Nunes, Mário, Rebelo, João José – S. José - Coimbra: 75 Anos de uma Paróquia Viva. Coimbra: Diocese de Coimbra – Paróquia de S. José, 2008; Floristán, Casiano – Para compreender a paróquia. Arquivo do autor. Op. cit., pg. 301
No âmbito da Celebração do Jubileu do Ano Santo de 2000, várias obras foram encomendadas a diferentes artistas. Nas galerias exteriores foram inaugurados dois grandes painéis de azulejos da autoria de Vasco Berardo, pintor, escultor e ceramista. Inaugurados a 7 de janeiro de 2001, tiveram como tema “Cristo” (galeria nascente) e “Maria” (galeria poente).
Nunes Pereira, Vitral central da Igreja de S. José. Imagem acervo RA
A 16 de junho de 2001 foi colocado no presbitério o Vitral da Ressurreição, da autoria de Monsenhor Nunes Pereira, peça figurativa dividida em três tramos, o central e principal que representa a ressurreição de Cristo, ladeado por panos mais estreitos, à esquerda com cenas da vida de Cristo e à direita com os apóstolos.
Cunha, J. A. 2019. Igreja de São José, Coimbra: história da sua construção. In: Lusitania Sacra. 39 (janeiro-junho 2019), pg. 269-302. Universidade Católica Portuguesa. Texto e imagens acedidas em: https://www.academia.edu/77771199/Igreja_de_S%C3%A3o_Jos%C3%A9_Coimbra_hist%C3%B3ria_da_sua_constru%C3%A7%C3%A3o
Anteontem, terça-feira, dia 14 de junho, nos baixos do Seminário Maior de Coimbra, local onde Monsenhor Nunes Pereira teve a sua última oficina, foi inaugurada mais uma exposição temporária, a décima, relacionada maioritariamente com a obra do artista, subordinada ao tema “Santos da Casa [não] Fazem Milagres”.
Op. cit., capa
Op. cit., contracapa
“Tu és o início de um grande santo”, frase retirada do poema “Conselhos” que se encontra no seu livro de versos “Pedra d’Ara”, ao integrar o subtítulo da mostra, dá-lhe o mote.
A pequena brochura, com a reprodução de 19 das peças apresentadas, releva também os quatro padroeiros de Coimbra: S. Teotónio, S. António, Sto. Agostinho e a Rainha Santa.
Obviamente que no dia dedicado a Santo António, o Taumaturgo não podia deixar de estar presente, nem se podia olvidar que Fernando de Bulhões fez toda a sua formação no Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, nem que foi nesta cidade que ele mudou o seu nome para António, com tudo o que esses dois episódios significam.
Op. cit., pg. 8
Op. cit., pg. 13
De entre as peças expostas, face à sua raridade no contexto da obra de Nunes Pereira, destacamos a que representa S. José a ensinar ao Menino Jesus a sua profissão de carpinteiro.
Op. cit., pg, 13
E uma outra que evoca o Rei David como santo e profeta.
Op. cit., pg. 17
A exposição teve como curadora a responsável pela Oficina-Museu Nunes Perira, Dr.ª Cidália Maria dos Santos, e foi apresentada pelo Reitor do Seminário, Padre Doutor Nuno Santos.
No ato inaugural estiveram presentes cerca de trinta pessoas, com destaque para o Senhor Presidente da Câmara Municipal da Pampilhosa da Serra que, em breves palavras, manifestou, em seu nome e em nome dos munícipes do concelho, o regozijo por ver mais uma personalidade nascida naquelas terras serranas ser justamente homenageada.
Contrariamente, e tanto quanto nos apercebemos, não esteve presente nem se fez representar nenhuma Entidade oficial de Coimbra, cidade onde Monsenhor Nunes Perira viveu a maior parte da sua vida e onde, a par com o múnus apostólico, desenvolveu o seu engenho artístico.
Confirma-se, infelizmente, a velha afirmação: Coimbra é uma cidade madrasta para os seus filhos.
Rodrigues Costa
No Museu Nunes Pereira, situado na parte baixa do Seminário Maior de Coimbra, do lado direito de quem entra, encontra-se patente uma exposição com o título A História da Salvação. 50 anos dos vitrais da Igreja Matriz de Cardigos. A mostra apresenta os vitrais projetados há meia centúria pelo patrono do espaço museológico, a fim de serem colocados naquele templo.
Brochura que serve de folha de sala, capa
Chamamos a atenção de todos os que amam Coimbra para o interesse em visitar a exibição que documenta mais uma obra de grande interesse, saída da mão de Monsenhor Nunes Pereira e composta por sete belos painéis, infelizmente pouco conhecidos.
Os vitrais foram executados, de acordo com cartões da sua autoria, pela empresa lisboeta J. Alves Mendes.
Hugo Costa Soares encarregou-se de fotografar as peças que se encontram patentes na exposição e que, algumas vezes, são acompanhadas pelos cartões que lhe serviram de suporte.
Julgamos que, tecnicamente, os responsáveis pela mostra encontraram soluções capazes de garantir a compreensão da qualidade, bem como do fundamento das peças originais.
O vitral é composto pelos seguintes sete painéis.
Primeiro painel. Transgressão e Expulsão do paraíso (dimensões do original c. 3,80x1,95 m).. Chave de leitura – Criação: Queda e Promessa
Segundo painel. Abraão e Isaac – Escuta e oferta (dimensões do original c.3,80x1,95 m). Chave de leitura – Escuta atenta de Abraão e sua Fé em Deus.
Terceiro painel. Apanha do Maná (dimensões do original c. 3,80x1,95 m). Chave de Leitura – O Maná: o Pão Descido do Céu.
Quarto painel. O Cordeiro e a Redenção (dimensões do original c. 2,64x1,95 m). Chave de leitura – O Cordeiro de Deus e a Remissão dos Pecados.
Quinto painel. O Pentecostes (dimensões do original c. 3,80x1,95 m). Chave de leitura – Maria, Mãe da Igreja.
Sexto painel. A Lei como revelação de Deus (dimensões do original c. 3,80x1,95 m). Chave de leitura – A Lei e a Regra de Ouro: O Mandamento do Amor.
Sétimo painel. O Memorial (dimensões do original c. 3,80x1,95 m). Chave de leitura – A Família e a Iniciação Cristã.
A exposição estará patente até ao dia 15 de janeiro de 2023, das 10h00 às 12h00 e das 14h00 às 17h00 de segunda a sexta feira. Aos sábados também é possível fazer visitas.
Todas as visitas implicam a sua prévia marcação, a qual pode ser efetuada por um dos seguintes modos: para o email mnp1906aanp@gmail.com; para o telemóvel 911 592 313; na portaria do Seminário (telefone 239 792 340).
O visitante, no fim da visita, poderá repousar um pouco junto ao bar do “baloiço” e desfrutar de uma outra bela visão: a do rio Mondego e da sua margem esquerda, de um aprazível local conhecido por poucos.
Rodrigues Costa
Alguns traços para o perfil de Monsenhor Nunes Pereira (conclusão)
E o Padre Doutor António de Jesus Ramos continua a escrever:
Não é possível, nem eu o pretendo, fazer um catálogo completo de todas as peças artísticas de Monsenhor Nunes Pereira. Muitas foram vistas em exposições coletivas e individuais, em Coimbra, Lisboa, Faro, nos Açores, no Brasil, em Espanha, França e Luxemburgo. Outras estão espalhadas por dezenas de igrejas de norte a sul do país, em retábulos, vias-sacras, painéis e vitrais.
Sem título. Fotografia José Maria Pimentel. Op. Cit., pg.102
"Sou eu mais o caderno,
Meu chapéu, minha bengala:
Já é meu hábito eterno
Duma rua fazer sala" (Nunes Pereira)
Algumas integram coleções particulares, havendo dezenas de famílias que se orgulham de ter uma "ceia" xilogravada por Nunes Pereira a presidir às refeições nas suas salas de jantar.
Ceia. Nunes Pereira. Coleção Particular
Outras, felizmente, estão agora, na galeria criada no Seminário, onde podem ser apreciadas por todos quantos o desejarem.
Não é possível, porém, deixar de referir algumas das obras mais significativas do artista. Se quisermos apreciar os seus vitrais temos de sair da cidade, (aqui apenas se pode ver um belo painel figurando Jesus a curar um doente, na pequena capela da Clínica de Santa Filomena) e prestar atenção, porque muitos deles não estão assinados. Vila de Rei, Domes, Paleão, Senhora do Mont'Alto, em Arganil, e Ponte de Sótão são alguns dos lugares com vitrais de Nunes Pereira. Mas os mais significativos, podemos admirá-los nas igrejas de Carnide, (um profeta Elias monumental), e de Cardigos, onde o artista descreve, nas janelas do templo, as principais cenas da História da Salvação.
Vitral da Ressurreição da Igreja de S. José. Nunes Pereira. In: Duarte, M.D. O vitral de Ressurreição da igreja paroquial de São José de Coimbra. Exegese iconográfica da última obra de Augusto Nunes Pereira, Coimbra, Gráfica de Coimbra, L.da, 2004. da Ressurreição da Igreja de S. José. Nunes Pereira. Acedido em https://www.facebook.com/paroquia.saojose
Vias-sacras xilogravadas podemos encontrá-las, por exemplo, em Nossa Senhora de Lurdes e na capela do Colégio de São Teotónio, em Coimbra, ou nas igrejas do Vidual e de Colmeias; em ferro forjado em Ponte de Sótão e "Pombal"; e em ferro forjado e mosaico de vidro na Serra da Marofa, (Castelo Rodrigo), e em Miranda do Corvo.
Entre as centenas de xilogravuras seja-me permitido destacar, pela sua beleza e dimensões a "Última Ceia" no refeitório do Seminário de Coimbra, o "Baptismo de Jesus" na igreja de São Caetano, "São Lourenço distribuindo esmolas" em Bustos, "O Encontro de Jesus com Nicodemos", na residência paroquial de São José, "Santo António nas quatro igrejas por onde passou", em Pádua, "Anunciação", "Assunção”, “O Milagre de Caná". na capela de Erada, (Covilhã). De temática diferente são as vinte e cinco tábuas que, só por si, passam a merecer uma demorada visita à galeria instalada no Seminário de Coimbra. Refiro-me aos “Contos de Fajão” que, antes do mais são um precioso contributo para quem no futuro, pretenda estudar a história do trajo, da alimentação, dos métodos agrícolas, do modo de convívio e dos demais costumes das gentes da Beira-Serra entre os séculos XIX e XX.
Há porém, outro aspeto que não pode deixe de ser aqui referido por me parecer fundamental: perante qualquer destes trabalhos, não precisamos de ler a assinatura do seu autor. Mal os observamos dizemos de imediato é Nunes Pereira.
Sem título, em calhau rolado. Nunes Pereira. Op. Cit., pg. 207
Sem título, em pedaço de tronco. Nunes Pereira. Op. Cit., pg. 208
É este, de resto, o pormenor que distingue o comum dos artistas, dos artistas de eleição – estes não precisam de assinar as suas obras para as identificarmos de imediato como sendo de EI Greco, de Rubens, de Columbano ou de Nunes Pereira.
Bastava o que fica dito para consideramos Nunes Pereira como um dos maiores artistas conimbricenses da segunda metade do século XX. Mas é muito mais, imensamente mais, o que fica por dizer da sua atividade como investigador, (lembre-se o seu magnífico estudo "Do cadeiral de Santa Cruz"), como arqueólogo, (é sócio da Associação dos Arqueólogos Portugueses e não devem ser esquecidos os seus trabalhos arqueológicos em Coja, sobre a "Pedra Letreira" no concelho de Góis ou as escavações que identificaram a primitiva igreja de São Bartolomeu), como etnólogo ou como historiador da Arte -Sacra.
Nunes Pereira é também e justamente apreciado como poeta, com várias obras publicadas, a primeira quando tinha 29 anos, e a mais recente no dia preciso em que completou 90 anos de vida, a 3 de Dezembro de 1997. Do primeiro livro de versos -"Da terra e do céu" - escreveu o poeta António Correia de Oliveira: "O que no seu poema comove e domina é a ternura, a doçura, a simplicidade, o sobrenatural e a natureza. Francisco e Clara gostariam de ler grande parte das suas líricas, em certas tardes de Porciúncula". Do mais recente - "Sopa de Pedra" - escrevi eu, na nota que lhe serve de prefácio, que se trata, uma vez mais, do regresso às raízes: "pode afirmar-se que o itinerário traçado começa e termina nos Penedos de Fajão. As excursões a outros lugares, quase sempre pouco demoradas, servem para abrir novos horizontes culturais e artísticos. Nunca se chega a perder, no entanto, o sentido do regresso ao Penedo Portelo, numa fidelidade constante às raízes. É dali, do alto das montanhas, que o poeta contempla e depois, nos descreve um mundo em que a beleza é irmã gémea da simplicidade e a dureza das fragas se transforma como que por encanto, em paraíso terreal, onde os homens vivem ao ritmo natural das horas marcadas por um relógio de sol. O tempo não conta. Conta, sim, a obra feita. Por isso, cada poema de Nunes Pereira é uma pedra do rio da sua infância, que a água límpida foi modelando, pacientemente, até à simplicidade de forma porque a torna naturalmente bela".
Sem título. Fotografia José Maria Pimentel. Op. Cit., pg.182
É pobre, bem sei, este perfil que aqui vos deixo. Mas está carregado das tintas da muita admiração e da enorme estima que nutro – que todos nutrimos – por este padre exemplar, por este artista de eleição, por este homem bom e simples – Monsenhor Cónego Augusto Nunes Pereira.
Coimbra, 10 de janeiro de 1977.
Ramos, A. J. Alguns traços para o perfil de Monsenhor Nunes Pereira. In: Pimentel, J.M. e Oliveira, M.C. 2001. Monsenhor Nunes Pereira. O percurso de uma vida. Coimbra, Edições Minerva.
É já depois de amanhã, dia 25, às 18h00 que serão retomadas as “Conversas Abertas”, iniciativa do blogue “A’Cerca de Coimbra”, com o apoio do Clube de Comunicação Social e do Arquivo da Universidade de Coimbra.
A primeira sessão, bem como as demais deste ciclo, decorrerão na Sala D. João III, do Arquivo da Universidade de Coimbra, com entrada pela Rua de São Pedro n.º 2, parte baixa e traseiras do edifício da Biblioteca Geral da Universidade.
AUC, escadaria
Na sessão – de entrada livre - que se pretende seja uma singela homenagem ao conimbricense, por opção, que foi Monsenhor Nunes Pereira, será tratado o tema Mons. Nunes Pereira. O homem, o sacerdote e o artista, sendo palestrantes as Senhoras Dr.ªs Virgínia Gomes (Técnica do MNMC) e Cidália Maria dos Santos (Curadora do Museu Nunes Pereira).
Presépio. NP
No final, o artista plástico José Maria Pimentel, fará a apresentação de uma proposta de monumento a Mons. Nunes Pereira a instalar preferencialmente junto à rua com o seu nome, em Coimbra.
A Virgem do leite. NP
Para esta sessão foram dirigidos convites aos Ex.mos Senhores Bispo de Coimbra e Presidente da Câmara para além de outras Personalidades.
Alguns traços para o perfil de Monsenhor Nunes Pereira (cont.)
Continuamos a transcrever o texto assinado pelo Padre Doutor António de Jesus Ramos, com o título, Alguns traços para o perfil de Monsenhor Nunes Pereira:
O Seminário. Eis-nos na segunda etapa que marcou de modo duradoiro a vida e, com ela, a caminhada artística de Nunes Pereira. Foi aqui que a sua propensão natural para o desenho recebeu os primeiros incentivos, sobretudo de dois colegas e amigos, os padres Cruz Gomes e Américo Monteiro de Aguiar. Este último teria também influência sobre a sua decisão na escolha entre os caminhos da arte ou do sacerdócio. "Pode-se ser padre e artista, meu caro Augusto" - disse-lhe o Padre Américo.
"Repara, por exemplo, em Fra Angélico que, sem deixar de ser bom monge, foi o artista que foi".
Na revista "Lume Novo", escrita e ilustrada pelos alunos daquele tempo, deixou Monsenhor Nunes Pereira, não apenas os seus primeiros desenhos, mas igualmente os primeiros versos.
Desenho à pena. Nunes Pereira. Op. cit., pg. 62
Foram, de resto, esses desenhos à pena que lhe mereceram o primeiro louvor público do Bispo da Diocese, D. Manuel Luís Coelho da Silva. Numa daquelas distribuições de prémios que então se faziam aos alunos distintos, D. Manuel concedeu um a título extraordinário, antecedido de mais ou menos estas palavras: "Agora vou dar um prémio a um aluno que, tendo regular aproveitamento nas aulas e regular comportamento, dedica os seus tempos livres a realizar desenhos à pena de muito apreço". O incentivo das palavras, ali diante de professores e colegas, foi mais importante para o artista do que a pequena fortuna de cinquenta mil réis.
Por momentos, aquele prémio e outros incentivos que ia recebendo de superiores e de colegas, fizeram-no acalentar o sonho de lhe vir a ser proporcionada a ocasião de frequentar uma escola de Belas-Artes. "Mas a verdade - confidenciou-me um dia, com a humildade dos simples - é que, terminado o curso e recebida a ordenação fui mandado para a paróquia de Montemor, e ninguém falou mais no assunto".
Sem título. Fotografia José Maria Pimentel. Op. cit,, pg. 64
"Fui ver se encontrava o rasto
No lajedo que deixei;
Esse estava muito gasto
Das passadas que ali dei." (Nunes Pereira)
O artista, porém, mesmo sem curso. tinha pernas para andar. Quer em Montemor, onde esteve de 1929 a 1935. quer em Coja, que paroquiou de 35 a 52, quer em S. Bartolomeu de Coimbra, onde se manteve de 52 até à aposentação em 1980, Monsenhor Nunes Pereira soube conciliar o exercício do seu múnus pastoral com um crescente interesse pelo cultivo das artes, desde a poesia à escultura passando pelo desenho, pela aguarela, pelo vitral e sobretudo pela xilogravura, especialidade em que se viria a tomar possivelmente no melhor artista português da segunda metade deste século.
O Padre Américo dissera-lhe que se podia ser sacerdote e artista. Monsenhor Nunes Pereira tem-no demonstrado como pároco, como arcipreste de Coimbra, funções em que conquistou a estima e admiração dos colegas, como Vigário-Geral da Diocese, cargo para que foi nomeado em Maio de 1973, depois de consulta a todo o presbitério, pelo saudoso D. João António Saraiva, como conservador do Património Artístico da Diocese de Coimbra, para que foi escolhido em 1981, ou como membro da Comissão de Arte Sacra. Sendo um talentoso artista, não deixou de ser nunca um exemplar sacerdote. De resto, a arte em Nunes Pereira é um segundo sacerdócio. Ele próprio mo afirmou um dia, quando o entrevistei para o "Correio de Coimbra": "Eu não poderia ser o artista que sou se não fosse a minha formação sacerdotal". E acrescentou: "A minha arte, não é arte pela arte. É uma arte apologética, embora nem sempre lhe dê expressamente essa intenção".
A última Ceia. Nunes Pereira. Op. cit., pg. 72
Sobretudo depois da sua vinda para Coimbra, em 1952, Nunes Pereira deixou de ser um artista desconhecido. A sua longa passagem pela redação do "Correio de Coimbra" (18 de Janeiro de 1952 - 31 de Janeiro de 1974), onde escreveu centenas de artigos e publicou um sem-número de xilogravuras, o seu contacto com outros artistas da cidade e a exposição frequente das suas obras fizeram-no sair do anonimato, tomando-se a sua arte conhecida e admirada não só na cidade, mas por todo o país e mesmo além-fronteiras.
Ramos, A. J. Alguns traços para o perfil de Monsenhor Nunes Pereira. In: Pimentel, J.M. e Oliveira, M.C. 2001. Monsenhor Nunes Pereira. O percurso de uma vida. Coimbra, Edições Minerva.
O projeto “Conversas Abertas”, iniciativa do blogue “A’Cerca de Coimbra”, com o apoio do Clube de Comunicação Social e do Arquivo da Universidade de Coimbra, depois de um interregno de cerca de dois anos motivado pela pandemia, vai ser retomado de hoje a uma semana.
Arquivo da Universidade de Coimbra, entrada pela Rua de São Pedro n.º 2, parte baixa e traseiras do edifício da Biblioteca Geral da Universidade
A sessão da próxima semana, a decorrer no dia 25 do corrente, 6.ª feira, a partir das 18h00, terá lugar na sala D. João III, do Arquivo da Universidade de Coimbra.
Pretende-se que seja uma singela homenagem ao conimbricense, por opção, que foi Mons. Nunes Pereira.
Monsenhor Nunes Pereira
Tema: Mons. Nunes Pereira. O homem, o sacerdote e o artista.
Palestrantes: Dr.ªs Virgínia Gomes (Técnica do MNMC) e Cidália Maria dos Santos (Curadora do Museu Nunes Pereira).
No âmbito desta Conversa Aberta o Arq.º António José Monteiro e o artista plástico José Maria Pimentel, farão a apresentação de uma proposta de monumento a Mons. Nunes Pereira a instalar junto à rua com o seu nome, em Coimbra.
Para esta sessão foram dirigidos convites aos Ex.mos Senhores Bispo de Coimbra e Presidente da Câmara, entre outras individualidades.
Xilogravura de NP
A Entrada será livre ao limite da lotação, no respeito pelas diretivas em vigor da Direção Geral de Saúde.
A obra que ora divulgamos insere o seguinte texto assinado pelo Padre Doutor António de Jesus Ramos, com o título, Alguns traços para o perfil de Monsenhor Nunes Pereira:
Numa das minhas incursões pela história comparada dos povos encontrei, tempos idos, a figura simpática de um rei polaco, de nome Augusto, que, nos finais do século XVII, deixou nomeada em toda a Europa pela simples razão de estar na origem paternal, pelo menos atribuída, de quatrocentas criaturas.
Longe estava eu de pensar que alguma vez me seria dada a honra de, nestes últimos anos do século XX, traçar o perfil de um outro Augusto, com créditos firmados em Portugal e além-fronteiras, e que assume a paternidade responsável de várias centenas, talvez de milhares de criaturas.
Ninguém se admirará que eu me exprima deste modo e tenho a certeza de que Monsenhor Augusto Nunes Pereira não vai desaprovar este preâmbulo.
Na fachada da casa natal, uma cabeça de mulher outrora saída das suas mãos, serve-lhe agora de modelo para uma fotografia. Op. cit., pg. 33
As voltinhas do Fajão. Fotografia José Maria Pimentel. Op. cit., pg. 40
"Comecei a pisar esta calçada,
Um cinco-réis de gente, um quase nada.
Que bela recordação,
As voltinhas do Fajão" (Nunes Pereira)
Eu digo porquê. Num dos nossos primeiros encontros, era eu ainda jovem estudante, quando lhe referi o nome da minha aldeia, deixou-me algo perplexo, mas não escandalizado, a sua informação: «Conheço muito bem, e até lhe posso dizer que tenho lá dois irmãos».
Pai de Nunes Pereira, Xilogravura. Op. cit., pg. 19
Perante o meu silêncio questionador o santo e paciente sacerdote, sempre amável para o verdor da juventude, explicou-me, logo de seguida que seu pai, além de agricultor, fora, em finais do século XIX o escultor-santeiro mais conhecido em toda a Beira-Serra e que, para a capela do povoado onde nasci, por encomenda dos meus antepassados, esculpira duas imagens que eu venero desde criança, uma representa Nossa Senhora de Nazaré com o seu Menino ao colo e um grupo de anjos aos pés e a outra o santo do meu nome, António, nas suas vestes franciscanas, com um cordão que lhe toma a cintura pronunciada, uma cruz na mão direita e, na esquerda, um livro aberto nudez do Divino Infante. Aquelas duas imagens são, hoje, no meu humilde entendimento artístico, os familiares antepassados das centenas de criaturas que, em desenho à pena, em ferro forjado, em aguarela, em vitral e sobretudo em madeira gravada saíram do talento artístico que o Senhor de todos os dons concedeu em abundância caudalosa a este homem simples e bom que, ainda hoje, se identifica com as suas raízes, que vão mergulhar na honradez que lhe foi transmitida nas canções com que a mãe Ana o embalava no rulo que o pai António fizera em madeira de castanho.
Quem quiser conhecer e entender a multifacetada obra artística de Nunes Pereira tem de se deter demoradamente sobre esta primeira etapa da sua vida. Foi o próprio artista que mo confessou em longa conversa que mantivemos, em Agosto de 1980, respirando a brisa fresca da praia da Figueira: "Moralmente recebi influência direta de meu pai.
Embora eu tivesse só nove anos quando ele morreu, lembro-me muito da convivência com ele, do que me dizia, do modo como educava os filhos”. E dele recebeu também o gosto pela arte e as ferramentas para trabalhar a madeira: as plainas, as goivas, os formões... E não deixou de o influenciar por certo aquela história verdadeira que ouviu na infância a propósito de seu pai: alguns homens da Mata foram à sede de freguesia, a Fajão, para combinarem com o pároco, padre Carlos José Fernandes de Almeida, a bênção da imagem do Senhor dos Milagres, orago da capela local. 0 prior perguntou à delegação: "Quem é que a fez?" Eles responderam: "Foi António Nunes". "Isso não deve estar capaz" - retorquiu o padre Carlos. "Está pois! Ele é um artista." Pouco convencido, o prior despachou-os: "Está bem! Eu lá irei, mas, se não estiver em condições, agarro-lhe por uma perna e atiro-a para o Pego Redondo". Não foi necessário, o sacerdote não só benzeu a imagem como ficou admirado como é que as mãos calejadas de um cavador de enxada tinham esculpido obra tão perfeita.
Retrato de minha Mãe – 1927. Nunes Pereira, op. cit., pg. 19.
Não menos influente na formação do padre e artista foi a figura tutelar de sua mãe. Num dos seus livros de versos, escreveu Nunes Pereira esta dedicatória: "A minha mãe, que eu persisto em relembrar no momento dos vivos".
Na mesma conversa que atrás referi, confidenciava-me o artista:” Minha mãe, considero-a ainda viva pela influência que exerce em mim. Foi uma grande mulher. Tendo enviuvado cedo, ficou com uma casa de lavoura a seu cargo e, mesmo assim conseguiu-me mandar para o Seminário, com dinheiro emprestado.
Ramos, A. J. Alguns traços para o perfil de Monsenhor Nunes Pereira. In: Pimentel, J.M. e Oliveira, M.C. 2001. Monsenhor Nunes Pereira. O percurso de uma vida. Coimbra, Edições Minerva.
Dedicamos a entrada de hoje e as quatro que se lhe vão seguir ao livro Monsenhor Nunes Pereira. O percurso de uma vida.
Monsenhor Nunes Pereira. O percurso de uma vida, capa
Monsenhor Nunes Pereira. O percurso de uma vida, contracapa
Trata-se, essencialmente, de um magnifico álbum fotográfico dedicado à vida e à obra dessa figura maior de Coimbra que foi Nunes Pereira.
Para além das excelentes imagens, a obra em apreço apresenta, a enquadrá-las, um conjunto de textos passíveis de fazer um relato do percurso de vida do Homem e do Sacerdote que ele foi e da sua obra artística, afanosamente construída ao longo da vida.
A obra de Nunes Pereira merece a atenção dos conimbricenses e a razão dessa relevância surge assim relatada:
Num café de Coja tomávamos a bica.
Veio à conversa a recente edição da Valceira, Associação de Desenvolvimento sediada em Fajão, de uma recolha de quadras populares coordenada por Maria da Conceição Oliveira e ilustrada por Monsenhor Nunes Pereira. Falámos sobre ele, sobre a sua enorme vitalidade, sobre o que conhecíamos da sua vida e obra, que se nos apresentava em fragmentos mais ou menos dispersos do que sobre ele tínhamos ouvido falar ou lido.
Nos minutos seguintes, a admiração que ambos temos por este homem, para quem a arte é uma paixão desde criança e de todos os dias, fez-nos nascer a ideia de uma fotorreportagem. Não pretendíamos ficar presos à sua biografia, nem tão pouco fazer um estudo detalhado da obra realizada, queríamos antes acompanhá-lo no reencontro com os espaços e ambientes que foram a sua vida e transcrevê-los em imagens.
Seria uma justa homenagem e um projeto que concretizaríamos com prazer.
Apresentámos-lhe a ideia.
Com a habitual modéstia hesitou. Parecia-lhe trabalho a mais para pessoa de interesse relativo.
Ultrapassado à força de argumentos este primeiro obstáculo, encontrámos o entusiasmo que lhe é característico e que põe em tudo aquilo a que se dedica.
Seguiu-se a digressão pelos locais onde viveu, acompanhados por este conversador incansável dotado de um sentido de observação, saber e memória extraordinários.
Assim, fomos descobrindo uma obra com uma dimensão muito superior à que imagináramos, tanto na vertente de intervenção social, como na artística. Até neste último aspeto, talvez aquele que julgávamos conhec.er melhor, nos conseguiu surpreender. Sempre munido de caneta e papel, percorreu a vida a registar o que lhe despertava o olhar: são cadernos e cadernos de desenhos gravuras, aguarelas espalhados entre o seu atual atelier e escritório no Seminário, a casa da Portela (Coimbra), o museu em Fajão (Pampilhosa da Serra), as coleções particulares; são as muitas xilogravuras, vitrais e trabalhos em ferro existentes em igrejas do país e outros edifícios. Deparámos com surpresa que, entre as muitas disciplinas artísticas que praticou, também a banda desenhada mereceu a sua atenção permitindo, ocasionalmente, dar curso a um sentido de humor familiar a quantos o conhecem.
A recolha de imagens foi feita ao ritmo das nossas deambulações, sem encenações nem poses.
À medida que iam surgindo, entregávamos-lhe uma cópia para que seguisse o trabalho. Nasceram, assim, espontaneamente, de sua autoria e em jeito de comentário, as quadras que as acompanham.
Nunes Pereira – Retrato a ponta seca da autoria de José Maria Pimentel. Op. cit., pg. 5
Este livro apresenta Monsenhor Nunes Pereira nos espaços que são hoje o seu quotidiano, sugere o ainda possível dos ambientes que condicionaram o percurso da sua vida, regista os objetos que o têm seguido, muitos fabricados pelas suas mãos. A reprodução de obras nele incluídas não pretende fazer qualquer seleção critica, mas apenas dar nota da sua qualidade e diversidade.
Esperamos ter sido merecedores da confiança que em nós depositou.
Pimentel, J.M. e Oliveira, M.C. Monsenhor Nunes Pereira. O percurso de uma vida. Alguns traços para o perfil de Monsenhor Nunes Pereira, A. Jesus Ramos. Percursos artísticos de Augusto Nunes Pereira, Elisabete Oliveira. 2001. Coimbra, Edições Minerva.
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