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Monsenhor Nunes Pereira foi um dos homens que marcou a minha vida.
Primeiro, como professor na Brotero, onde se destacava pela sua humanidade, pela simplicidade e por, a fim de lecionar o conteúdo da disciplina que lhe estava confiada, e não só, desenhando no quadro preto autênticas obras de arte.
Mais tarde, quando assumi o cargo de Diretor do Departamento de Cultura da Câmara Municipal de Coimbra, tive ocasião de conhecer mais profundamente o Homem e o Sacerdote. A sua dignidade e simplicidade, o seu saber, a sua imensa alegria de viver, o sorriso que vinha do fundo da alma, a sua bondade, a busca continua de mais conhecer e de mais transmitir deixaram em mim uma marca indelével.
Com ele passei longas horas, na Portela, a conversar à porta da sua residência, quando, depois das reuniões em que participávamos, o ia levar a casa, pois automóvel foi coisa que nunca lhe vi. Era uma habitação de madeira, modesta, mas repleta de obras de arte e de tranquilidade.
Ainda hoje lhe estou grato pelo muito que me ensinou e pelo humanismo que ele fez gravar em mim, para sempre.
O Museu Monsenhor Nunes Pereira, localizado em Fajão, sua aldeia natal, foi inaugurado a 13 de setembro de 1997.
Museu Monsenhor Nunes Pereira na atualidade, exterior. Acedido em https://www.allaboutportugal.pt/pt/pampilhosa-da-serra/cultura/museu-monsenhor-augusto-nunes-pereira
Museu Monsenhor Nunes Pereira na atualidade, interior. Acedido em http://www.cm-pampilhosadaserra.pt/pages/485?poi_id=138
Quando tive o privilégio de usufruir de uma visita guiada a este pequeno/grande Museu, recolhi a folha de sala, então distribuída aos visitantes, que, na capa, apresentava uma ilustração, desenhada pelo próprio, com o aspeto exterior inicial do edifício.
Museu Monsenhor Nunes Pereira. Folha de sala, capa
e na contracapa, sobre a reprodução da sua assinatura, uma fotografia do patrono à porta do Museu.
Museu Monsenhor Nunes Pereira. Folha de sala, contracapa
Museu Monsenhor Nunes Pereira. Folha de sala, contracapa, pormenor da assinatura
No interior da folha de sala, pode ler-se um texto assinado Pe. Augusto Nunes Pereira, que diz o seguinte:
Fajão, entre a História e a Lenda
Em Junho de 1233, o Prior do Mosteiro de S. Pedro de Folques, Dom Pedro Mendes, concedeu Foral a “dez Povoadores de Seira que depois se chamou Fajão”. Foi o primeiro foral concedido por aquele mosteiro.
Os povoadores ficavam de posse das terras, para que edificassem e plantassem e cultivassem e nela fizessem o que lhes aprouvesse, apenas com a obrigação de darem ao mosteiro a décima e uma fogaça de almude da medida de Arganil e um capão au galinha, e se algum não podia dar capão au galinha daria seis denários (Cf. «Pe. Augusto Nunes Pereira. O Mosteiro de S. Pedro de Folques, in Santa Cruz de Coimbra do século XI ao século XX. Coimbra. 1984»).
O Mosteiro de S. Pedro foi fundado em Arganil no século XI e depois transferido para Folques. Era dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho. Fundado o Mosteiro de Santa Cruz, pouco depois o Mosteiro de Folques foi agregado àquele, conservando, no entanto, a sua autonomia. Isto permitia-lhe gozar dos privilégios e isenções concedidas pelos reis ao Mosteiro de Santa Cruz. Pelo menos duas vezes, os moradores de Fajão protestaram contra a atribuição de fintas para melhoramentos públicos em concelhos estranhos, alegando estarem isentos disso ao abrigo daqueles privilégios. De uma das vezes a reclamação foi encabeçada por Pascoal Fernandes, de Fajão, o que terá motivado ser o Pascoal uma figura relevante nos célebres «contos de Fajão».
Estes contos são dos mais valiosos patrimónios de Fajão, como na Alemanha os «contos de Beckum», muito semelhantes aos nossos.
Mas Fajão tem outros valores. Para recolher, e para deles fazer uma força educativa, houve a ideia de criar um museu de Fajão. O seu edifício, uma antiga casa de habitação, com sua cozinha e forno, foi restaurada no gosto das antigas construções de xisto, de modo que será um incentivo para que não se estraguem outras casas do meso tipo que ainda restam na vila e na região.
Nos dois pisos reúnem-se artefactos, obras de arte e documentos históricos, havendo ainda a possibilidade de ali se realizarem, uma vez ou outra exposições diversas.
Fajão fica, por esta forma, enriquecido por um valioso instrumento educativo, que a Junta de Freguesia e os fajaenses certamente vão defender, desenvolver e aproveitar.
Pe. Augusto Nunes Pereira
Acrescento uma pequena memória extraída da pagela da missa do 7.º dia, comemorativa da sua partida, ocorrida a 1 de junho de 2001.
Pagela da misa do sétimo dia, anverso
Pagela da misa do sétimo dia, reverso
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