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Como os outros Colégios construídos sobre as muralhas de Coimbra (os de Jesus e Artes, de S. Jerónimo, e o dos Militares), também este (o Colégio de Santo Agostinho ou da Sapiência, ou Colégio Novo, ou Colégio dos Órfãos, agora Faculdade de Psicologia) possuía uma cerca encostada à muralha, na Ribela, mas situada para além da Porta Nova, que era contígua à fachada oriental do Colégio.
Colégio de S.to Agostinho, com ligação à cerca, fotogradia de Arsène Hayes
Era inconveniente uma tal situação: para os colegiais irem à cerca tinham de sair à rua.
Obviaram os crúzios a este inconveniente, construindo um arco, por cima do qual estabeleceram uma comunicação entre o Colégio e a cerca.
O Autor, na página 260 acrescenta: O Colégio da Sapiência comunicava com a respetiva cerca por um passadiço sobre o arco de Santo Agostinho ou porta Nova, e perfurava a parte inferior da contígua torre de defesa, ultimamente transformada em casa de habitação; e tinha também comunicação direta com o mosteiro de Santa Cruz, por um corredor subterrâneo abobadado e com escadas.
Arco e passadiço, lados Sul e Norte
Sobre o arco via-se, numa e outra face, um nicho em estilo renascença, ladeado por 2 frestas, que davam luz ao passadiço. Destacavam-se nos 2 nichos as estátuas em vulto – na face que olhava para N, de S.to Agostinho revestido de pontifical; na que olhava para S, de S.to Teotónio, vestindo sobrepeliz e murça.
A figura 1 (a do lado esquerdo) representa a face S. do arco, tal como foi construído no princípio do séc. XVII.
Depois os cónegos crúzios ligaram por passagem subterrânea o seu mosteiro com a cerca do seu Colégio universitário de S.to Agostinho, e assim ficaram com comunicação entre o mosteiro e o Colégio por intermédio do passadiço do arco.
Mas este passadiço era acanhado, quase tocavam com a cabeça no teto os que por lá transitavam; e algumas vezes por ali passavam o próprio Dom Prior Geral, e outras pessoas de alta categoria. Para obviarem a este inconveniente, lembraram-se de dar maior pé-direito ao passadiço, rebaixando-lhe o pavimento. Substituíram então o arco, que era de volta plena, por um de volta abatida, o que aumentou consideravelmente a altura do passadiço.
Em 1613 já estava realizada a modificação, ficando o arco como se vê na figura 2 (a da direita).
Arco e passadiço, fotografia
Nota 1:
Em ordem à fotografia da ligação do Colégio à Cerca – da autoria de Arsène Hayes – tendo nascido nesta no ano de 1942, relevo: a casa onde nasci, uma arrecadação adaptada a habitação, ainda apresenta aquele que poderá ter sido o seu aspeto inicial; a existência, na parte inferior da Cerca, de construções que já não conheci e que poderão ter sido a saída da referida passagem subterrânea de ligação do Mosteiro ao Colégio pela Cerca; a subsistência da parte da muralha e das habitações sobre a mesma construídas, pelas quais passava a ligação do Colégio à Cerca, a qual poderá corresponder às quatro pequenas janelas visíveis na fotografia. Importa, ainda relembrar que foi no decurso da demolição destas construções que foi encontrada a pedra votiva que identificou Coimbra com Emínio, cuja localização foi assinalada com o castanheiro que ainda lé existe.
Nota 2:
O meu Pai entrou ao serviço do Colégio dos Órfãos em 1938 e conhecia profundamente o edifício. Um dia no pátio que estava para lá do átrio da portaria e onde funcionava a cozinha, mostrou-me o início de uma escadaria com cerca de dois metros de largura e muito íngreme que ia para uma sala abaixo que se encontrava atulhada. Disse-me, então que era o início da ligação Colégio ao Mosteiro de Santa Cruz. Afirmação que hoje reconheço não devia corresponder à realidade, pois como decorre do texto citado, a ligação se deveria fazer pela Cerca do Colégio. Isto, se não vierem a ser revelados documentos que confirmem outra realidade.
Vasconcelos, A. 1987. Escritos Vários Relativos à Universidade de Coimbra. Reedição preparada por Manuel Augusto Rodrigues. Volume I e II. Coimbra, Arquivo da Universidade de Coimbra, pg. 403, do Vol. I
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