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A' Cerca de Coimbra


Quinta-feira, 05.03.20

Coimbra: Peças levadas do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra 3

Nesta entrada iremos referir os objetos de arte levados de Santa Cruz, para o hoje Museu Nacional Soares dos Reis, arrolados no seguinte documento transcrito por Madaíl.

Igreja de Santa Cruz. Santuário 01 a.jpgMosteiro de Santa Cruz, santuário

«Termo de entrega das pinturas e mais objectos para o Mozeu da Cid.e do Porto
Aos quatro de Junho de mil oitocentos e trinta e quatro annos em Coimbra e Mosteiro de Santa Crus aonde eu Escrivão vim Com Francisco Pedro de Oliveira e Souza, Comicionado do Mozeu Portuençe para este na forma da ordem retro escolher, e Serem entregues os objectos que houvesse na mesma Casa para fazer Conduzir ao mesmo Mozeu e procedendo o mesmo na mesma escolha Se entregar e lhe forão entregues os objectos escolhidos que Saõ os que Se Seguem –
Seis paizages ao Devino pinturas em Cobre
Seis floreiros ditos, em Cobre
Cinco Nascimentos do Menino, em Cobre
Tres descimentos da Crus, em Cobre
Quatro Vezitações dos tres Reis Magnos, em Cobre
Tres Santos Antonios a receber o Menino, em Cobre
Huma pintura da flagelação de Christo, em Cobre
Outra ditta Calvario, em Cobre
Duas dittas a Sepultar Christo, em Cobre
Outra ditta = Senhora da Piedade, em Cobre
Outra ditta = Vezitaçaõ de Santa Izabel, em Cobre
Duas ditas Assençaõ de Nossa Senhora, em Cobre
Outra ditta de Trnafiguraçaõ no Horto, em Cobre
Outro ditto de Santa Izabel Raynha da Ungria, em Cobre
Outro ditto = Morte de Saõ Francisco, em Cobre
Outro ditto = Baptismo de Christo, pintura em pedra
Outro ditto de Nossa Senhora apresentando o menino a Santa Catherina, em Cobre
Outro dito de Saõ Joaõ pregando no dezerto, em Cobre
Outra ditta de Nossa Senhora entre huma gloria de Meninos Com dois Santos em adoração.
Outros ditos de Saõ Pedro, e São Paullo em Cobre e redondos
Duas famílias Sagradas, piquenas em Cobre
Huma dita redonda, Senhora da Cadeira, pintada em pedra
Outra pintura dita do Nascimento pintada em pedra e ouvada
Hum saõ Jeronimo em Cobre
Outra pequena pintura em pedra, vezitaçaõ dos tres Reis
Quatro Evangelistas, pinturas em Cobre
Huma Senhora com o Menino em Cobre
Santa Maria Magadallena em Cobre
Vinte e Seis pequenos quadros esmaltados em Cobre, da Paixão de Christo.

Mestre da Paixão de Cristo; esmalte pintado sobreMestre da Paixão de Cristo; esmalte pintado sobre cobre. In: O Património Artístico das Ordens Religiosas entre o Liberalismo e a atualidade

Três notas finais;
– No documento ora transcrito são ainda arrolados 21 títulos, sendo o primeiro Antiguidades Gregas, Italicas, e Romanas com 52 volumes;
- Para além da livraria do Mosteiro também foram também levados livros do Colégio de S. Agostinho, sendo referido o título Homens Ilustres, com 52 volumes;

Colégio de Santo Agostinho. Claustro a.jpg

Colégio de S. Agostinho, claustro. Coleção Regina Anacleto

- Não foram encontrados documentos referentes à retirada da espada dita de D. Afonso Henriques, nem da escrivaninha/tinteiro, aqui referidos em entradas próprias.

Madail, A.G.R. 1949. Inventário do Mosteiro e Santa Cruz à data da sua extinção em 1834. Separata revista e aumentada da Revista O Instituto , vol. 101, 1943, acedida em:
http://webopac.sib.uc.pt/search~S17*por?/tinstituto/tinstituto/1,291,309,E/l856~b1594067&FF=tinstituto&1,1,,1,0

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por Rodrigues Costa às 10:06

Terça-feira, 03.03.20

Coimbra: Peças levadas do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra 2

Nesta entrada iremos abordar o que foi levado de Santa Cruz no que respeita a livros e manuscritos. Madaíl começa por referir que com a ocupação de Coimbra pelas forças liberais em 8 de Maio de 1834, cidade que era conhecida, desde o relato de Balbi, pelas suas magnificas Bibliotecas monásticas, caem, ato contínuo dois emissários da Comissão de Administração dos bens dos Conventos abandonados … um deles era Francisco Pedro de Oliveira e Sousa, por parte do Museu portuense; o outro, Alexandre Herculano, pela Biblioteca.
Ao Subprefeito da Província em Coimbra, José Maria Ribeiro Vieira de Castro, repugnou a diligência, que constituía um enxovalho e uma espoliação à cidade, e contrariava as instruções de 18 de Maio que o encarregavam de nomear uma comissão responsável pelos bens dos Conventos. De nada valeu porque em 30 de Maio foi determinado que nada mais lhe competia que cobrar deles recibos dos objetos que escolherem.
… Em 5 de Junho estava a escolha feita, concluída a relação de tudo, assinados os recibos e apensos ao processo; só um deles se encontra datado, mas todos são do punho dos próprios comissionados e constituem impressionantes relações de preciosidades arrebatadas injustamente a Coimbra, que, havia três séculos já, dispunha duma biblioteca na Universidade onde tudo devia ter sido recolhido; por iniciativa do Vice-Reitor, certamente alarmado com o conhecimento do que os comissionados do Porto estavam levantando, como a conjugação das datas permite concluir, assim o compreendeu, e dispôs, a Portaria de 9 desse mês, mandando recolher à Universidade os livros de objetos de Museu.
… Em dezembro de 1834 é que a Universidade foi entregue do que restava da famosíssima Livraria do Mosteiro de Santa Cruz. Chegava em último lugar…

O que foi levado para o Porto foi arrolado em diversos recibos, sendo:
- Manuscritos, num total de 157, sendo o primeiro da lista o Breviarium gothicum.

Breviarium gothicum..jpgBreviarium gothicum. Edição impressa de 1775
Imagem acedida em: https://archive.org/details/A104159/page/n6/mode/2up 

- No que concerne livros e documentos – de diferentes tamanhos e alguns com dois ou mais volumes – foram agrupados por temas:
- História e Antiguidades, com 439 títulos, sendo o primeiro Historia de la India oriental por San Roman;

Historia generale de la India.jpgImagem acedida em:
https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=42118

- Literatura, com 125 títulos, sendo o primeiro Statii opera;
- Ciências e Artes, com 160 títulos, sendo o primeiro Annales du Musée trinta e volumes;

Annales do Musée.jpgImagem acedido em:
: https://www.biodiversitylibrary.org/item/189419#page/5/mode/1up

- Jurisprudência, Economia, Política, com 21 títulos, sendo o primeiro Cours diplomatique avec Supplement;
- Teologia, com 37 títulos, sendo o primeiro S. Philastrii opera.
Ou seja, foram levados de Santa Cruz 782 títulos, necessariamente com um número muito maior de volumes. Número que há época era extremamente significativo.
Termina Madail com a seguinte nota.
Herculano deve ter retirado de Coimbra precipitadamente, perante o visível despertar da opinião pública, e o protesto do Vice-reitor da Universidade … A própria Câmara Municipal procurou «varrer sua testada»; convocou uma reunião extraordinária em 5 de junho, data, justamente, da entrega dos objetos aos comissionados do Porto, ficando na ata, para memória, o registo seguinte: «E nesta se deliberou que se fizesse hum officio ao Dezembargador Corregedor desta Cidade para elle, sendo sua attribuiçaõ impedice a remessa dos objectos».
Protesto inútil, meramente formal; fora exatamente o Corregedor quem recebera do Sub-Prefeito ordem para tudo deixar escolher.

 

Madail, A.G.R. 1949. Inventário do Mosteiro e Santa Cruz à data da sua extinção em 1834. Separata revista e aumentada da Revista O Instituto , vol. 101, 1943, acedida em:
http://webopac.sib.uc.pt/search~S17*por?/tinstituto/tinstituto/1,291,309,E/l856~b1594067&FF=tinstituto&1,1,,1,0 

 

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por Rodrigues Costa às 20:48

Quinta-feira, 27.02.20

Coimbra: Peças levadas do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra 1

Sob esta epígrafe publicamos há algum tempo um conjunto de informações relativas ao que foi “tirado” do Mosteiro de Santa Cruz e levado para o Porto.
O entendimento das razões desse facto e do que foi levado é possível conhecer a partir do trabalho de Rocha Madaíl que iremos passar a utilizar. Nesta entrada iremos procurar compreender as razões que estavam subjacentes à ira liberal contra o Mosteiro, começando com a seguinte citação de um documento divulgado por Madaíl no trabalho em apreço. Trata-se de uma carta datada de 30 de Maio de 1834 dirigida pelo Sub Prefeito Interino Joze Maria Ribeiro de Castro, ao Corregedor da Comarca de Coimbra, Manuel Homem Rebelo Freire de Almeida.

Sendo publico, e notorio que o Prelado Geral do Convento de S.ta Cruz desta Cidade, e mais quatro Religiosos Conventuaes do mesmo Mosteiro, se evadirão, e abandonarão aquella Caza na occazião da entrada das Tropas Fieis [8 de Maio de 1834] nesta Cidade e Acclamação do Governo Legitimo de S. M.J. o Duque de Bragança Regente em nome da Rainha; e sendo de igual notoriedade publica que o referido Prelado serviu hostilmente contra o Governo do Mesmo Augusto Senhor, na qualidade de Commandante, de hum Corpo de Voluntarios, e não menos sabido que o mesmo Convento, recebeo alguns Religiozos dos Conventos Abandonados da Serra, Grijó, em cujos termos hé considerado Supprimido… nomeio a V.S.ª para proceder sem perda de tempo ao Inventario do referido Convento … Sirva-se igualmente enviar-me uma hua relação Nominal de todos os Religiozos do Convento.

Mosteiro de Santa Cruz. Fachada.jpgMosteiro de Santa Cruz, fachada da igreja.Coleção Regina Anacleto 

… Sobre o drama político, em que desde sempre se consubstanciou a gloriosa mas acidentada vida de S.ta Cruz de Coimbra – arrastada, nos últimos tempos, pelo torvelinho das violentas paizões que dominavam a época e às quais, a instituição não soube ou não pôde manter-se estranha – caía agora, com a frieza terminante do ofício acima transcrito, inglório e implacável, o pano do ultimo ato.
O que se lhe seguiu e aqui se relata, mais do que um epílogo, foi uma farsa que podemos perfeitamente isolar da vida daquela casa sete vezes secular; de comum com ela tem apenas o lugar da ação.
… Pelo que respeita a Santa Cruz de Coimbra é de notar que sempre o mosteiro gozara da fundada tradição de professar ideias antiliberais; com a vinda de D. Miguel a Coimbra em outubro de 1832, de caminho para o Porto, onde os liberais desembarcados no Mindelo se haviam instalado já desde 9 de julho, mais se arreigaram dedicações, e velhas simpatias absolutistas se concitaram.

Mosteiro de Santa Cruz. Púlpito.jpgMosteiro de Santa Cruz, púlpito. Coleção Regina Anacleto

O Rei [D. Miguel] chegou a Coimbra no dia 20, mas desde 12 que o seu Estado-Maior se encontrava na cidade, e aquartelado justamente no mosteiro de Santa Cruz.
Madaíl transcreve de seguida um documento em que se descreve, minuciosamente. os preparativos para alojar D. Miguel e o seu séquito no Mosteiro, o que não veio a ocorrer pois este preferiu alojar-se no Paço da Universidade.

Mosteiro de Santa Cruz. Túmulo de D. Afonso Henri

Mosteiro de Santa Cruz, túmulo de D. Afonso Henriques. Coleção Regina Anacleto

Prossegue Madaíl salientado que Conquanto não lograsse hospedar o monarca adentro de seus muros, o mosteiro recebeu-o nos dias 23 e 25 … vendo todo o convento, santuário e igreja; a pedido do Rei, foram abertos os túmulos de D. Afonso Henriques e D .Sancho I, patenteando-se-lhe, e à régia comitiva, a própria ossada do fundador da monarquia portuguesa.
Mais adiante acrescenta que Na noite de 7 para 8 os miguelistas abandonavam Coimbra às quais se juntaram … o Geral de Santa Cruz e mais quatro Cónegos; para a identificação destes últimos não dispomos de elementos suficientes; mas o Geral sabemos que era D. João da Assunção Carneiro.
… Primeira consequência do abandono do Paço episcopal e do Mosteiro de Santa Cruz por parte, respetivamente, do Prelado e do Prior Geral, foi a instalação das tropas liberais nestes edifícios.

Madail, A.G.R. 1949. Inventário do Mosteiro e Santa Cruz à data da sua extinção em 1834. Separata revista e aumentada da Revista O Instituto , vol. 101, 1943, acedida em:
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por Rodrigues Costa às 18:13

Quinta-feira, 07.04.16

Coimbra: A ‘roda’ dos expostos

Nos termos das Ordenações Filipinas (1603) os filhos ilegítimos deviam ser criados à custa dos pais... Não o querendo estes fazer, ou sendo filhos de religiosos ou de mulheres casadas, mandar-se-iam criar à custa dos hospitais ou albergarias que houvesse, com bens ordenados para a criação de enjeitados.

Na falta de tais hospitais e albergarias, criar-se-iam à custa das rendas do concelho. Quando as não houvesse, lançar-se-iam fintas pelas pessoas que tinham obrigação de pagar nas fintas e encargos do concelho.

Competindo esse encargo inicialmente à Câmara, que com grandes dificuldades o ia suportando, pouco depois já a Misericórdia de Coimbra, no seu compromisso de 1620, inseria o capítulo XXVI, intitulado «De como se há-de acudir aos meninos desamparados»... Mais adiante, por provisão régia de 7-V-1708, foi a Câmara aliviada da administração dos expostos e atribuída à Santa Casa da Misericórdia, entregando-se a esta, para a criação dos mesmos, as rendas da imposição, fintando-se ainda 400.000 reis anuais nos lançamentos das sisas da cidade de Coimbra e seu termo.

... Na primeira metade do século XVIII, surgiu, de importação estrangeira, a prática das ‘rodas’ dos expostos favorecendo e de algum modo oficializando a exposição clandestina, com o benéfico propósito de suprimir ou pelo menos reduzir a proporções mínimas o crime de infanticídio.

... Num documento, datado de 15-III-1712, vê-se que o provedor e demais irmãos da Misericórdia de Coimbra compraram... umas casas sitas em Montarroio ... «para nela se fazer uma roda de enjeitados».

... do referido Compromisso da Misericórdia de Coimbra de 1629, edição de 1830, vem inserto, sem data, o «Regulamento da Real Casa dos Expostos da cidade de Coimbra» ... lê-se que o edifício da Roda se acha muito mal situado, por ser húmido e abafadiço, no inverno, exposto a calores extraordinários no verão, e privado pela sua posição dos ventos de norte e dos outros que possam arejá-lo e refrescá-lo ... O cemitério, em que ao tempo eram sepultados os expostos, imediato às paredes das casas da Roda, que ficava ao norte, em risco de infecionar e corromper os ares, devia em todo o caso mudar-se para sítio mais distante e retirado.

Em 1836, sendo lastimoso o estado em que se achavam reduzidas as diversas rodas de expostos em todo o país... o decreto de 19 de Setembro dispôs... 3.º que a administração de cada um dos estabelecimentos de expostos competia às Câmaras Municipais...; 4.º que assim cessava a competência que em algumas terras estava incumbida às Misericórdias.

... recebeu a Câmara (20-I-1838), do provedor da Misericórdia a relação dos tributos que se cobravam para a manutenção dos expostos ... nomeou escrivão dos expostos e fez imprimir ... «Regulamento e instrução para a administração dos expostos do distrito de Coimbra»... só a partir de então se pôde considerar a Câmara investida na administração dos expostos, iniciada em 3-V-1839 ... assentou (4-IX-1839) em não mudar a Casa da Roda antes de fazer na então existente as reparações indispensáveis

... Essa Casa da Roda devia ser situada na Travessa de Montarroio, onde mais tarde... se instalou o Asilo da Mendicidade.

... em 26-II-1847 a Câmara deliberou sobre a transferência da Casa da Roda para o Dormitório do Pilar (dependência dos antigos edifícios do Mosteiro de Santa Cruz)

... uma proposta ... sobre a supressão da Roda dos Expostos ... veio a ser votada em 21-III-1872, criando-se então o Hospício dos Abandonados ... continuando a sua administração a cargo da Câmara Municipal.

... o decreto de 22-II-1911 extinguiu o hospício do distrito de Coimbra ... e criou uma Maternidade anexa á Faculdade de Medicina ... onde fossem recebidos até poderem ser colocados em criação externa os expostos e as crianças desvalidas de abandonadas.

 

Loureiro, J.P. Relatório sobre os edifícios e terrenos do antigo Mosteiro de Senta Cruz. In Câmara Municipal de Coimbra. 1958. Antigas Dependências do Mosteiro de Santa Cruz. Petição e Fundamentos. Separata do Arquivo Coimbrão. Vol. XV. Coimbra, Câmara Municipal. Pg. 12 a 18

 

 

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por Rodrigues Costa às 10:15

Quarta-feira, 06.04.16

Coimbra: Cadeias que aqui existiram

À Câmara competia na verdade, e desde remoto tempo, a instalação e administração da cadeia.

Durante o século XVI, a prisão do Castelo tornou-se insuficiente e até inconveniente pelas promiscuidades a que obrigava e criaram-se:

 

1.º O Aljube, destinado a prisão eclesiástica (do clero e dos seus privilegiados), defronte do Paço Episcopal;

2.º A prisão académica, destinada a gente da Universidade nos baixos da sala dos Atos Grandes, mais tarde transferida para os baixos da Biblioteca da Universidade e mais tarde ainda para a Rua dos Loios ...

3.º A cadeia da Portagem, mandada construir pela Câmara, no atual Largo da Portagem

 

(Noutro lugar da mesma publicação o Autor ainda refere o Aljube de Santa Cruz ...no ‘Isento’ de Santa Cruz ... «cadeia especial para as penas impostas aos habitantes na área da jurisdição do prior-geral. Essa cadeia estava em Montarroio, numa casa ligada à Torre».

 

No meado do século XIX levantaram-se grandes clamores contra a ‘Cadeia da Portagem’, que intitulavam «inferno dos vivos», pela falta de condições higiénicas, mesmo elementares. E todos se insurgiam por ser um espetáculo desolador a quem entrava em Coimbra vindo dos lados de Lisboa, com os presos de mão estendida, pedindo «uma esmolinha pelo amor de Deus».

... Em 1856 a Câmara deliberou transferi-la para a chamada «casa vermelha», dependência do antigo Mosteiro de Santa Cruz.

Para aí se transferiram, feitas as obras necessárias, não só os presos da Cadeia da Portagem mais os do Aljube.

 

... E de então em diante só passou a haver nesta cidade a Cadeia de Santa Cruz e a Cadeia Académica, enquanto se não construiu (muito mais tarde), a Penitenciária e há poucos anos ainda a cadeia civil na cerca da Penitenciária.

A Cadeia da Portagem foi construída e administrada sempre pela Câmara ... e a Cadeia de Santa Cruz foi também arranjada e reparada largos anos igualmente pela Câmara que continuou, como anteriormente, a pagar ao carcereiro.

 

Loureiro, J.P. Relatório sobre os edifícios e terrenos do antigo Mosteiro de Santa Cruz. In Câmara Municipal de Coimbra. 1958. Antigas Dependências do Mosteiro de Santa Cruz. Petição e Fundamentos. Separata do Arquivo Coimbrão. Vol. XV. Coimbra, Câmara Municipal. Pg. 20 a 21

 

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por Rodrigues Costa às 10:09

Terça-feira, 05.04.16

Coimbra: Utilização dos edifícios do antigo Mosteiro de Santa Cruz

... Após a extinção das congregações religiosas em 1834, pouco depois ingressaram no património municipal ... os edifícios e terrenos do extinto Mosteiro de Santa Cruz, desde o Terreiro de Sansão (atualmente praça 8 de Maio) até à Fonte Nova, com exclusão apenas da igreja e suas dependências.

Mas, com o rodar dos anos, esses edifícios passaram por grande mutações, tanto na forma como na aplicação. O corpo principal do Mosteiro, por exemplo, com frente para o Terreiro de Sansão, foi demolido para no seu lugar se construírem os atuais Paços do Concelho; todo o conjunto cedido foi mais tarde dividido em dois lotes completamente separados pela abertura da via de acesso de Sansão à Fonte Nova, anos depois e ainda agora denominada Rua Nicolau Rui Fernandes, e pela consequente demolição do Arco do Correio em 1856; a parte que ficou a norte dessa linha divisória, antigamente celeiro, botica, residência do prior-mor e hospedaria do convento (além destas aplicações tiveram os prédios urbanos ainda a de cárceres do Mosteiro de Santa Cruz), tem sido cadeia, esquadra policial, Roda dos Expostos, Hospício dos Abandonados, Creche, Instituto Industrial e Comercial de Coimbra, e Escola Industrial e Comercial de Brotero; uma parte dos edifícios a sul dessa linha divisória foi devorada por um incêndio em 1917, assim como mais tarde o edifício em que se encontravam instalados os correios e telégrafos, já há anos reconstruído.

A par disto, construiu-se o Mercado D. Pedro V na antiga horta e laranjal do convento, abriu-se uma via de ligação da entrada do mercado com a Rua Martins de Carvalho, e instalaram-se por ali diversos serviços públicos e particulares.

Sessão (da Câmara Municipal) de 17 de Dezembro de 1836

... O presidente dá parte à Câmara de que no dia 15 do corrente fora chamado pelo Administrador do Concelho para lhe dar posse do extinto Convento de Santa Cruz, e do da Graça ... com a clausula de neste estabelecer um quartel militar e naquele colocar as Repartições Públicas. A Câmara ficou ciente.

Leu-se um ofício do Administrador do Correio ... para se entender com a Câmara, e esta lhe dar cómodo no extinto Convento de Santa Cruz ... aplicado ... para Administração do Correio a parte do dormitório denominado de São Francisco, desde a parede que divide o refeitório em prumada ao telhado dentro de paredes do dito até à frente de Sansão menos o vão da denominada despensa rente ao chão, que fica para casa da bomba contra incêndios, e depósito de azeite da iluminação da cidade; o refeitório para audiência do Júri de pronúncia servindo o vão de topo para casa de retenção de presos, e a casa por cima deste com duas janelas para o pátio de Sessão dos Jurados, fazendo-se escada de madeira por dentro; o resto do dormitório de S. Francisco dividido em três habitações tendo a ponta superior serventia pelo lado da horta, as duas pela antiga escada de pedra por que se servia a extinta comunidade. O vão a nível da varanda de pedra por cima do claustro grande, e por baixo do denominado noviciado para Secretaria do Administrador do Concelho e habitação do secretário de ante o mesmo; o noviciado com frente para os claustros grandes e do banho para uma habitação tendo serventia por aquela escada de pedra; a outra parte do noviciado debaixo e de cima com frente para o Claustro do banho e costas ao cerco do lado da Rua das Figueirinhas servir com este para habitação do secretário da Câmara com serventia pela varanda do claustro grande; o dormitório baixo com frente para a rua, o claustro do banho para habitação, tendo serventia pelo lado da horta; o dormitório denominado do Pilar na sua generalidade com o jardim para habitação e secretaria do Administrador Geral, com serventia pela escada de pedra que vem da horta; as casas da Botica e as que pegam pelo lado de Montarroio para habitação; a Hospedaria desde a porta do Carro até o cunhal da que corre para a torre, muito convém demolir-se para tornar o grande pátio em terreiro público que acomode as contratadeiras de legumes e de aves, e se colocar ali cadeia pública no primeiro e segundo andar.

 

Loureiro, J.P. Relatório sobre os edifícios e terrenos do antigo Mosteiro de Senta Cruz. In Câmara Municipal de Coimbra. 1958. Antigas Dependências do Mosteiro de Santa Cruz. Petição e Fundamentos. Separata do Arquivo Coimbrão. Vol. XV. Coimbra, Câmara Municipal. Pg. 10 e 11, 22 e 23

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por Rodrigues Costa às 10:35

Terça-feira, 22.03.16

Coimbra: Posse pela Câmara das dependências do Mosteiro de Santa Cruz

Auto de posse do edifício do extinto Mosteiro desta cidade, com os seus pertences, dada à Câmara Municipal da mesma (11 de Setembro de 1839)


... nesta cidade de Coimbra, e no edifício do extinto Mosteiro de Santa Cruz ... aí se acharam reunidos o ilustríssimo presidente interino, fiscal e mais membros da Câmara Municipal da dita cidade ... apresentadas as cópias ... da Carta de Lei de trinta de Julho corrente, e mais duas Portarias ... tudo relativo à concessão que as Cortes Constituintes da Nação fizeram à mesma Câmara do edifício e seus pertences (e logradoiros) do extinto Mosteiro de Santa Cruz... o qual tem princípio no cunhal da Igreja de Santa Cruz, em frente da Praça de Sansão, e corre pelo lado do Norte seguindo pelo Bairro de Montarroio acima, e daí segue até ao sítio da Fonte Nova, continuando daí pelo Nascente por toda a estrada acima, vindo a terminar na Rua das Figueirinhas, junto da Igreja de S. João, que foi pertença do referido Mosteiro, e cujo recinto se acha cercado de muros, dentro dos quais se acham o pequeno laranjal, horta, encosta... assim como as antigas hospedarias, onde atualmente está a Administração do Correio, antigas Casas dos Moços Fidalgos que seguem até à Torre, Pátio e mais casas e dormitórios, com o respetivo claustro grande junto à Igreja, rodeado de capelas, com um chafariz ao meio, e outro ao lado, casas da antiga Botica, quintal pegado e jardim junto a este; e logo saindo pela horta acima, sempre, caminhando junto aos canos das águas até chegarmos às suas nascentes, quase ao cimo da mesma quinta, donde passam pelos ditos canos aos dormitórios do mesmo Mosteiro, e daí se conduzem ao chafariz do Pátio, por baixo da Torre dos Sinos, e do mesmo edifício com todos os seus pertences, pequeno laranjal, horta, encosta, casas, claustro, dormitórios, águas da quinta acima indicadas, tomou o mesmo ilustríssimo presidente interino, com o fiscal e mais membros da Câmara Municipal, para o seu Município, posse atual, civil e natural, mansa e pacificamente, abrindo, fechando portas, pondo as mãos pelas paredes, lançando terra ao ar, cortando ramos das árvores, e praticando outros possessório da Lei.

Câmara Municipal de Coimbra. 1958. Antigas Dependências do Mosteiro de Santa Cruz. Petição e Fundamentos. Separata do Arquivo Coimbrão. Vol. XV. Coimbra, Câmara Municipal. Pg. 24 e 25

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por Rodrigues Costa às 09:49


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