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A 14 de Junho de 1802, em capítulo pleno do mosteiro de S. Marcos, tomou-se a deliberação por unanimidade … deferindo-se um requerimento apresentado por alguns frades … requerimento e termo dignos de registo.
… «Nosso muito reverendo padre D. Abade … os monges deste mosteiro de S. Marcos, humildes súbditos de vossa paternidade, abaixo assinados que, requerendo eles no triénio passado o aumento das vestiarias, cedendo de várias pitanças, que tinham por costume no mosteiro, em os dias festivos de primeira e segunda classe, e outros dias do ano, sucedeu deferir-se àquele requerimento com mutilação do pedido, sem que eles fossem ouvidos para ver se assentiam ou dissentiam às condições daquele deferimento; mas agora mais bem advertidos, e ainda requerendo, caso lhes seja preciso, o benefício da restituição, que lhes toca … e que outrossim fique em seu vigor o costume antigo, que havia a respeito dos jantares dos dias do Natal, Quinta-Feira Santa, Páscoa, S. Marcos, Ascensão, Pentecostes, Corpo de Deus, nosso padre S. Jerónimo, aniversário do benfeitor do Cacheu, e dois entrudos, em cujos dias eles só poderão guardar os restos dos seus jantares.
Além disto requerem, que nos dias em que havia de haver casa de fogo, fique a ceia sendo de lombo de porco, conservando-lhes sempre o prato das castanhas, bem como a pitança do lombo que se lhes dava na semana antecedente ao entrudo quaresmal; bem entendido que, por isso que eles ficam com uma só pitança em os clássicos, esta deve sempre ser boa, e naqueles em que por costume se dava peru e leitão, ou lombo do porco, ele seja de isto mesmo, conservando-se também sempre o prato de arroz de leite, bom e bem feito.
Nas segundas classes, porém, a pitança seja de frango, carneiro, ou vaca assada; e caindo algumas destas festividades em dia de jejum, a pitança será de peixe assado, frito ou guisado, e nunca de ovos só; e como nisto não há inovação, ou acrescentamento, antes é uma muito e assaz módica compensação … pedem humildemente a vossa paternidade haja propor este requerimento a toda a comunidade em capítulo pleno, pois que como isto toca a todos, todos devem ser ouvidos; e decidindo-se pela pluralidade, de tudo de faça termo para a todo tempo constar e se zelar a sua observância.
… aí foi mandado ler o requerimento supra, tendente à compensação das pitanças, pelo aumento das vestiarias, e depois sendo ouvida toda a comunidade, unanimemente, sem discrepância de votos, assentaram se devia cumprir tudo quanto se acha expresso no dito requerimento.
Loureiro, J. P. 1967. Coimbra no Século XIX. Separata do Arquivo Coimbrão, Vol. XXIII. Coimbra, Câmara Municipal de Coimbra. Pg.41 a 43
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