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A' Cerca de Coimbra


Terça-feira, 12.04.16

Coimbra: tipologia da habitação corrente nos séculos XIV a XVI 2

Em Coimbra, à semelhança do que se passava um pouco por todo o país, a casa de sótão e sobrado era então uma solução recorrente. A tendência para elevar as casas térreas, através da sobreposição de um sobrado fez-se sentir ao longo de todo o seculo XIV … São pardieiros que se transformam em casas sobradas no prazo de um ano, são casas térreas na Almedina ou na Rua dos Caldeireiros às quais, de «San Miguel que passou a huu ano», deve ser acrescentado um novo piso; é o ar que se afora sobre duas tendas da comuna judaica sob condição que façam «no dicto aar huu sobrado».

… em finais do século XIV, as casas sobradadas fossem claramente predominantes. Dispersas por toda a cidade, encontram-se tanto no arrabalde, na zona ribeirinha da Madalena ou em Montarroio, como na Alta … a partir do adro da Sé, em direção ao Paço da Alcáçova e castelo, a casa térrea ganha protagonismo, rareando a casa sobradada … já em 1312, eram abundantes os pardieiros e casas arruinadas.

… No espaço intramuros fronteiro ao arrabalde … predominam os artífices e mesteirais tais como açagadores, cuteleiros, sapateiros ou ferreiros, para quem a tenda do piso térreo era fundamental … nas imediações da Alcáçova, se situam serviços e dependências régias como os açougues ou os celeiros do vinho e do pão, as casas da falcoaria, os pombais, a chancelaria, as «casas do ofício da merçee del Rey». É também aí que se situam (ou situavam) as escolas das leis, da lógica, da gramática.

… embora a casa sobradada se encontre um pouco por toda a cidade … adquire uma presença incontestável, por vezes única, nos locais de maior dinamismo comercial … nas Ruas da Almedina e Ferraria, nelas residem sapateiros, ferreiros, marçeiros, peneireiros, para quem a residência era simultaneamente local de trabalho, oficina ou tenda. A duplicação de portais proporcionaria ao mesmo tempo preservar o espaço doméstico.

… Em relação aos materiais utlizados na construção das casas … elementos dispersos em documentação coeva asseguram que o leque de escolha não seria muito diferente do utlizado em tantas outras localidades: as omnipresentes pedra e madeira, a telha e a cal.

… segunda metade do século XIV as muralhas encontravam-se … parcialmente obstruídas por casas, encostadas ao interior da cerca, na rua da Ferraria, adossadas ao exterior do muro, na Judiaria Velha.

Trindade, L. 2002. A Casa Corrente em Coimbra. Dos finais da Idade Média aos inícios da Época Moderna. Coimbra, Câmara Municipal de Coimbra. Pg. 127 a 130

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por Rodrigues Costa às 10:47

Quarta-feira, 06.04.16

Coimbra: Cadeias que aqui existiram

À Câmara competia na verdade, e desde remoto tempo, a instalação e administração da cadeia.

Durante o século XVI, a prisão do Castelo tornou-se insuficiente e até inconveniente pelas promiscuidades a que obrigava e criaram-se:

 

1.º O Aljube, destinado a prisão eclesiástica (do clero e dos seus privilegiados), defronte do Paço Episcopal;

2.º A prisão académica, destinada a gente da Universidade nos baixos da sala dos Atos Grandes, mais tarde transferida para os baixos da Biblioteca da Universidade e mais tarde ainda para a Rua dos Loios ...

3.º A cadeia da Portagem, mandada construir pela Câmara, no atual Largo da Portagem

 

(Noutro lugar da mesma publicação o Autor ainda refere o Aljube de Santa Cruz ...no ‘Isento’ de Santa Cruz ... «cadeia especial para as penas impostas aos habitantes na área da jurisdição do prior-geral. Essa cadeia estava em Montarroio, numa casa ligada à Torre».

 

No meado do século XIX levantaram-se grandes clamores contra a ‘Cadeia da Portagem’, que intitulavam «inferno dos vivos», pela falta de condições higiénicas, mesmo elementares. E todos se insurgiam por ser um espetáculo desolador a quem entrava em Coimbra vindo dos lados de Lisboa, com os presos de mão estendida, pedindo «uma esmolinha pelo amor de Deus».

... Em 1856 a Câmara deliberou transferi-la para a chamada «casa vermelha», dependência do antigo Mosteiro de Santa Cruz.

Para aí se transferiram, feitas as obras necessárias, não só os presos da Cadeia da Portagem mais os do Aljube.

 

... E de então em diante só passou a haver nesta cidade a Cadeia de Santa Cruz e a Cadeia Académica, enquanto se não construiu (muito mais tarde), a Penitenciária e há poucos anos ainda a cadeia civil na cerca da Penitenciária.

A Cadeia da Portagem foi construída e administrada sempre pela Câmara ... e a Cadeia de Santa Cruz foi também arranjada e reparada largos anos igualmente pela Câmara que continuou, como anteriormente, a pagar ao carcereiro.

 

Loureiro, J.P. Relatório sobre os edifícios e terrenos do antigo Mosteiro de Santa Cruz. In Câmara Municipal de Coimbra. 1958. Antigas Dependências do Mosteiro de Santa Cruz. Petição e Fundamentos. Separata do Arquivo Coimbrão. Vol. XV. Coimbra, Câmara Municipal. Pg. 20 a 21

 

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por Rodrigues Costa às 10:09

Sexta-feira, 08.01.16

Coimbra, encruzilhada de caminhos

O trânsito, para Sul ou para Norte do País, obrigatoriamente, devia passar pela cidade e por dentro da cerca: almocreves, mercadores, caminhantes e «outros quaeesquer que levarem cargas». A pena era grave: perda das bestas e do que levassem.

O trânsito que vinha do sul entrava, como é óbvio, pela ponte. Daqui passava pelo Arrabalde em direção à porta de Almedina. Em vez de seguir adiante, penetrava na cerca por esta porta e ia sair pela do Castelo. Descia depois pela Ribela, pelo caminho que passava atrás da torre do mosteiro de Santa Cruz. Uma vez de novo no Arrabalde, o tráfego apanhava o caminho de saída: por Montarroio, «assy como se vay sair per cima dos paacos da gafaria»; daqui em diante, «per sob onde esta a forca, assy se vay sair aa ponte da Auga de Maios». Chegado a este ponto, seguia «pelas stradas direitas».

O caminho do trânsito norte-sul não foi indicado. Talvez fosse o mesmo, agora, descendo a colina.

No Arrabalde, «a par de Sam Bertolameu e a par de Santiago» ficaram as estalagens. Mas não podiam vender outra coisa que não fosse palha.

Oliveira, A. 1971. A Vida Económica e Social de Coimbra de 1537 a 1640. Primeira Parte. Volume I. Coimbra, Universidade de Coimbra, pg.156 e 157

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por Rodrigues Costa às 10:41


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