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A' Cerca de Coimbra


Quarta-feira, 24.08.22

Coimbra: Execuções da pena última

Na obra que vimos seguindo surgem diversas notícias relacionadas com a execução de pessoas de Coimbra, a primeira acontecida no ano de 1555. Desconhece-se o nome e o crime do homem que, nessa data, foi Atanazado e enforcado em Coimbra.

É, também, explicado no que consistia, em vida, o atanazamento, que implicava a aplicação de uma(s) das seguintes penas acessórias: o corte ou mutilação das mãos ambas, ou de algumas delas; o arrastamento da vítima, no percurso, até ao sítio da forca; o arrancamento do coração.

Saliente-se que são referidos diversos Autos-de Fé da responsabilidade da Inquisição de Coimbra, realizados na Praça de S. Bartolomeu, onde pereceram, queimadas vivas, entre homens e mulheres, 84 pessoas.

Pelourinho de Coimbra 01 a.jpg

Praça de S. Bartolomeu, hoje Praça do Comercio

De entre as execuções realizadas na cidade mondeguina e referidas no livro escolhemos, como exemplo para aqui transcrever, uma das mais antigas e a mais recente.

- 1456.07.01

Luísa de Jesus, de 22 anos de idade.

Infanticídios diversos, indo buscar enjeitados à Misericórdia de Coimbra, a pretexto de criação, matando-os e enterrando-os depois, para se aproveitar do enxoval e dos 600 réis de criação pagos adiantadamente.

Atazanada pelas ruas públicas, cortadas as mãos em vida, garrotada e queimada. Sentença da Relação de Lisboa.

Acharam-se enterradas trinta e três crianças, confessando a ré haver garrotado vinte e oito por suas próprias mãos! Que tal era a fiscalização do estabelecimento, que permitia tantas e tão seguidas atrocidades! A mesma, fora de toda a dúvida, que havia em toda a superfície do país.

- 1839.07.29

José da Costa Casimiro, de 27 anos, natural do Picoto, freguesia de Cernache dos Alhos, concelho de Coimbra, solteiro, sapateiro.

Homicídio de Diogo Marques de Carvalho, no dia no dia 25 de Julho de 1835, no sítio das Almuinhas, próximo do mesmo lugar de Cernache.

Enforcado junto e a jusante do antigo «Ó» da ponte de Santa Clara, que corresponde [naquela data] à extremidade sul da atual «ponde de ferro».

Ponte de pedra e Convento S. Francisco , desenho.

«Ó» da ponte de Santa Clara

São ainda citadas duas informações relevantes.

- Da edição de 1747 do Compromisso da Santa Casa da Misericórdia da Cidade de Coimbra, datado de 24 de maio de 1620, são transcritos os Capítulos XXX e XXXI que tratam respetivamente:

. Do como como se hão-de acompanhar os padecentes,

. Do modo em que se hão-de ir buscar as ossadas dos que padeceram por justiça.

Misericordia de Coimbra. Compromisso, 1830.jpg

Compromisso da Santa Casa da Misericórdia da Cidade de Coimbra. Edição de 1830

- Indica o local onde, na cidade, se erguia a forca:

Para o leitor fora de Coimbra, e ainda para o desta cidade que somente conhece a moderna, será bom explicar que o nume «Ladeira da Forca» se dá à extremidade norte-poente do monde chamado «Monte Arroio», a qual cai quase a prumo sobre a cabeça da antiga «Ponte de Águas de Maias», e é ladeada pelo semicírculo que formam a estrada de Coimbra ao Porto e o caminho da Ribeira de Coselhas; assim como Ponte de Águas de Maias se chamava à antiga ponte, que, desde o sopé da «Ladeira da Forca», se estendia até o «Arco Pintado» …

Água de Maias 2.jpg

Ponte de Águas de Maias

merece comunicar a todos este espaço o seu antigo nome, tão antigo que já serviu para designar o campo de batalha (se é verdadeira a tradição) travada há bastantes séculos entre os dois Hermenerico e Ataces.

Seco, A.L.S.H. Execuções da pena última em Portugal. Recolha de textos, introdução e notas por Mário Araújo Torres. Lisboa, Edições Ex-Libris.

 

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por Rodrigues Costa às 21:23

Terça-feira, 03.08.21

Coimbra: Terceira invasão francesa e os seus malefícios em Coimbra

Sabemos que as Invasões Francesas deixaram atrás de si um rasto de destruição e morte. Sabemos, também, que a terceira, em 1810-1811, foi terrível para as populações civis. Mas não haverá algum exagero nos relatos da época? O impressivo deve, se praticável, assentar na solidez da investigação em fontes directas. Assim sendo, o que me proponho é esclarecer, com a exactidão possível, a dimensão dos massacres cometidos pelos invasores numa vasta região da zona Centro do nosso país e avaliar os sacrifícios impostos a essas populações.

The Duke of Wellington, por Thomas Lawrence.png

The Duke of Wellington, por Thomas Lawrence, pintado c. 1815-1816. Acedido em https://en.wikipedia.org/wiki/Arthur_Wellesley,_1st_Duke_of_Wellington

[Segundo António José Telo, a estratégia inglesa não visou proteger as populações portuguesas e nem sequer expulsar rapidamente o invasor, mas desgastar na Península os exércitos napoleónicos. Porque não interessava uma vitória rápida, evitaram-se as grandes batalhas e, quando estas foram inevitáveis, como a do Buçaco em 1810, os seus resultados não foram explorados. Wellesley (futuro duque de Wellington) rumou para Sul, abandonando Coimbra ao saque dos invasores, que decorreu nos dias 1, 2 e 3 de Outubro de 1810, até ser reconquistada pelas milícias comandadas pelo coronel Trant.

Batalha do Buçaco.png

… Em Março de 1811 os Franceses iniciaram a retirada. Desesperados pela fome, buscando mais a sobrevivência do que o combate, levaram as atrocidades ao último grau, apanhando as populações em fuga, a quem torturavam e matavam para lhes extorquir víveres. Coimbra foi poupada, pois Massena não conseguiu entrar na cidade. Conduziu então os seus homens para Espanha pela margem sul do rio Mondego, onde a carnificina prosseguiu.

Nos dias 19 e 20 de Março, sem encontrar nada para comer, as tropas francesas espalhavam-se por Pinhanços, Sandomil, Penalva do Castelo, Celorico da Beira, Vila Cortês, Vinhó, Gouveia, Moimenta da Serra, etc.

… Em Coimbra, já no mês de Junho de 1810 se vivia uma situação aflitiva: os sucessivos sacrifícios impostos desde 1808 e a contínua chegada e passagem de tropas com o consequente aboletamento compulsivo, a imundície acumulada, a escassez de víveres e alta de preços, conduzia à miséria e à doença grande parte da população. Em reunião de 17 de Junho da Mesa da Misericórdia, afirma-se que vivendo-se “tantas e tão extraordinárias necessidades”, “... a numerosa classe da mesma pobreza se acha reduzida à maior consternação e miséria, tendo subido o preço do pão a treze e a catorze tostões a medida, com cujo preço não tem proporção alguma os lucros e os meios dos jornaleiros e oficiais mecânicos e geralmente de toda a mesma pobreza, a qual por isso tem padecido e actualmente padece as mais rigorosas fomes, acrescendo a este flagelo o horroroso contágio que tanto tem grassado nesta cidade e suas circunvizinhanças desde os princípios do corrente ano e que infelizmente ate aqui não tem diminuído”.

…As vítimas da diocese de Coimbra

Mapa 1. Op. cit., pg. 9.png

Mapa 1. Op. cit., pg. 9

… A pilhagem de Coimbra, de 1 a 3 de Outubro de 1810, foi absolutamente devastadora e não tem sido devidamente valorizada pelos historiadores, não obstante ter sido cabalmente comprovada já em 1944 por Maria Ermelinda Fernandes Martins. Só a Universidade escapou parcialmente, protegida pelos cuidados dos oficiais portugueses que integravam as tropas invasoras. As residências das populações humildes também não foram poupadas. Quando regressaram não possuíam uma peça de mobiliário ou um fato com que se cobrissem. Aos Franceses tinham-se seguido as pilhagens feitas pelo povo que, entretanto, voltara e pelos refugiados das zonas a sul do Mondego.

Em petições de esmolas dirigidas à Misericórdia de Coimbra na Páscoa de 1813, 63 mulheres evocam ainda estes acontecimentos, responsabilizando-os, pelo menos em parte, pela indigência que sofriam quase três anos depois.

Em inícios de 1811 viveu-se na cidade um cenário dantesco. A Santa Casa da Misericórdia não dispunha dos recursos necessários para acudir aos “imensos pobres que de fora se tinham acolhido a esta cidade”. Por ordem de Trant, todos os habitantes de Miranda do Corvo, Lousã e circunvizinhanças até ao rio Alva haviam sido obrigados a retirar para norte do Mondego. As populações acorreram a Coimbra, refugiando-se nas casas abandonadas, e só regressaram às suas terras a partir de 10 de Abril, quando tal foi autorizado. Os dirigentes da Misericórdia sentiam-se tão vivamente impressionados com o ambiente da cidade em Fevereiro de 1811, que afirmam tratar-se de “uma calamidade incomparável, de que não há memória nos séculos passados”.

Lopes, M.A. Sofrimentos das populações na terceira invasão francesa. De Gouveia a Pombal. In: O Exército Português e as Comemorações dos 200 Anos da Guerra Peninsular. Volume III. 2010-2011. Lisboa/Parede, Exército Português/Tribuna da História, pp. 299-323.

 

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por Rodrigues Costa às 11:27

Terça-feira, 19.03.19

Coimbra: Misericórdia breve história

Dentro de alguns anos [1998] passa o meio milénio da Misericórdia coimbrã … Entre vária documentação notável, merece referência o conjunto de 25 grossos volumes, denominados «Documentos antigos», que agrupam manuscritos que vêm da fundação da Casa até meados do seculo XVIII, e o precioso «Memorial das Rendas e mais couzas da Misericordia de Coimbra».


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Folha de abertura do «Memorial» de João Baptista

…. Abrindo com uma folha branca, está a folha seguinte toda ocupada por um desenho nas cores sépia, preto e vermelho … Na oval, em chefe, está a figura de Nossa Senhora da Misericórdia lateralizada por dois anjos apoiados nos brasões nacional e dos Almeidas, decerto em lembrança do benemérito bispo Dom Jorge de Almeida, que na sua Sé acolheu a Misericórdia quando da sua instituição.
…. [Do «Memorial das Rendas e mais couzas da Misericordia de Coimbra»] Se respigam alguns capítulos concernentes à história da Santa Casa até ao ano [1645] em que ele a escreveu:
- Teve sua origem em princípio de 1498.
- No ano de 1500 se ordenou essa Confraria na cidade de Coimbra, como parece, por uma carta do … Rei de 12 de Setembro de 1500 escrita aos Vereadores desta cidade em que os louva e aprova quererem instituir a dita confraria e lhe concede os privilégios todos que haviam concedido à Misericórdia de Lisboa por um alvará feito no mesmo dia.
- É tradição que primeiro se assentou esta Confraria da Santa Misericórdia na Sé, daí se passou para a Igreja de Santiago, na casa que serve de celeiro, na quina da praça onde se diziam as missas e se chamava Capela da Misericórdia.
- No mesmo sítio esteve até o ano de 1546 em que se ordenou fazer-se nova casa sobre a Igreja de Santiago como está edificada, como se vê do contrato celebrado pelo provedor e mais irmãos dela… e o prior … e mais beneficiados da dita Igreja [de Santiago].

Relevo da frontaria da Misericórdia de Coimbra 02

Relevo da frontaria da Misericórdia e Coimbra (In: Borges, N.C. 1960. João de Ruão. Escultor da Renascença Coimbrã)

- Os retábulos e mais obras desta casa parece fazer aquele grande mestre João de Ruão como se vê de uma quitação sua.
- Depois, em diversos tempos, se tratou de mudar a casa da Misericórdia para vários sítios, escolhendo a praça desta cidade no canto do hospital de S. Bartolomeu até o Romal e para isso compraram as moradas de casas que estão feitas na praça nas costas da mesma Igreja do hospital que ao depois se tornaram a vender. E depois se quis edificar na entrada da Rua do Corpo de Deus, onde se começou nova casa em o ano de 1589 a 29 de Maio, cujas obras se suspenderam depois da obra estar aberta, havendo-se nela despendido já cópia de dinheiro.

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A Misericórdia ocupava os dois pisos superiores ao portal de Santiago, e ali se encontravam somente a administração e a capela, de que se nota a Torre sineira

- Finalmente no ano de 1605, em 6 de Março se tomou o último assento que a casa da Misericórdia se não mudasse e se fizesse as casas, convém a saber, do despacho, sacristia, e da cera, e mais obras novas na forma e que hoje estão.

A velha Sé de Coimbra adaptada a Igreja da Miseri

A velha Sé de Coimbra adaptada a Igreja da Misericórdia, pormenor c.1773

…. Perante os insucessos a Irmandade vai-se mantendo na sua exótica Igreja e sede -porque, caso único, estava construída sobre outra igreja – até que tendo o Cabido da Sé sido mudado da velha Sé para a Igreja dos Jesuítas, logo a Irmandade da Misericórdia, em Março de 1772, voltou à casa onde havia nascido quase três séculos antes.

- As grandes dificuldades de alojamento só viriam a ser resolvidas pela Carta de Lei de 15.XI.1841 quando concedeu à Misericórdia a ocupação do Colégio Novo (onde num pequeno espaço funcionava o Tribunal, e em resultado da cedência teve que vir instalar-se na Torre de Almedina).


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O «Colégio Novo» restaurado após o incêndio. À direita a «Torre de Anto» e o moderno colégio onde se encontram os alunos

- A vida da Misericórdia continuou com altos e baixos até que na noite de 1 de Janeiro de 1967 um violento incêndio destrói grande parte do edifício

Nota:
O trabalho citado integra uma transcrição do Inventário dos «Moveis desta S. Caza…» realizado em 1645.

Silva, A. C. 1985. Um Inventário seiscentista da Misericórdia de Coimbra. Separata de Munda.

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por Rodrigues Costa às 21:32

Terça-feira, 17.07.18

Coimbra: Igreja de São Tiago cronologia

- Nos finais do séc. XI/ início de XII, existia uma edificação romano-bizantina, da qual ainda estavam inteiros dois pórticos, em 1894. Em 1131 aparece referida tendo por prior um D. Onorio. Até 1183 esteve sujeita ao Arcebispo de Compostela, e a partir daí passou a pertencer ao bispo conimbricense. 

- Foi sagrada sob a designação de basílica em 1206, devido a profanação, reparação ou reconstrução.  

- Em 1500, D. Manuel funda a Misericórdia em Coimbra. E, em 1526, esta muda-se para o celeiro da Igreja Paroquial de São Tiago. Em 3 de Junho de 1546 é lançada a primeira pedra da Igreja Velha da Misericórdia sobre uma das naves de S. Tiago, concluída em 1549, com capelas, retábulos e varanda de João de Ruão. No entanto acontecem divergências com a paróquia, e saem, e em 1571 começam mesmo a construir outro edifício na mesma praça, mas em 1587 suspendem os trabalhos. Voltam a S. Tiago em 1589. São retomadas as obras. Deu-se a deformação da frontaria com o acrescento de dois pisos. A rosácea é rasgada e convertida em janela de sacada. Em 1772 vão para a Sé Velha, mas pouco depois voltam para São Tiago. De facto, a Misericórdia tinha tido várias localizações, mas acabava sempre por voltar. No séc. XVIII nova reforma desfigurou-lhe completamente as naves interiores, tendo as suas paredes sido todas estucadas. 

- Em 1841 a Misericórdia vai definitivamente para o Colégio da Sapiência, junto com o Colégio dos Órfãos.

Igreja da S. Tiago e Misericórdia 02. Boletim.JPG

 S. Tiago antes das obras

 - Em 1858, quando a Câmara procede ao alargamento da “tortuosa, escura e estreitíssima” Rua do Coruche, para a converter na atual Visconde da Luz, as absides da capela-mor e laterais foram cortadas e, portanto, as proporções da planta inteiramente alteradas. Além disso não se respeitou a disposição da antiga escadaria que dava acesso à porta principal, tendo sido introduzida como que uma escadaria “em trono”.

Igreja de Santiago obras.jpg

S. Tiago durante as obras

- Em 1861, é demolida a Capela-mor de São Tiago e parte do Adro da Misericórdia Velha. Para restabelecer o acesso às instalações, constroem-se umas escadas e um patim gradeados.


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 S. Tiago depois das obras

 A antiga Igreja da Misericórdia vem a ser demolida em 1908. Em 1930, a igreja é visitada por um conjunto de especialistas, no sentido de serem tomadas opções para o restauro. No entanto o restauro só se conclui em 1935, pelos Monumentos Nacionais.

 

Anjinho, I. 2006. Da legitimidade da correção do restauro efetuado na Igreja de S. Tiago em Coimbra. Acedido em 2018.01.23, em https://estudogeral.sib.uc.pt/bitstream/10316/31091/1/

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por Rodrigues Costa às 09:33

Quinta-feira, 19.10.17

Coimbra: Colégio de S. Agostinho 2

Foi longo o processo de maturação que, no Mosteiro de Santa Cruz, haveria de conduzir à construção do Colégio de Santo Agostinho que sobrevive... Num ambiente de contenção financeira sempre denunciada pelos cronistas, apenas do Capitulo Geral de 1569 «se comessou a tratar da mudança do nosso Collegio apartado do Convento de S. Cruz» a despeito de todos os obstáculos movidos pelo bispo de Coimbra, contra a eventualidade de que o «Collegio se apartasse do Convento de S. Cruz e se edificasse nas cazas de João de Ruão, que he o mesmo sitio onde depois de muitos annos o fundou» ... no local encostado à muralha, onde, aliás, já anos antes o mosteiro se tinha preocupado em alargar através de compras e trocas de terrenos.

... Tradicionalmente... o edifício do Colégio de Santo Agostinho anda atribuído a Filipe Terzi, mas, intencionalmente ou não, os cronistas nem sempre têm acertado nas atribuições que fazem ... a presença frequente de Jerónimo Francisco em Santa Cruz indicia uma ligação que parece apontar para a hipótese de uma fortíssima contribuição no problema construtivo que, nesta data, mais afetaria os crúzios: o colégio novo.

Colégio de S. Agostinho pulpito.jpgColégio de S. Agostinho igreja púlpito

A estrutura colegial, que sobrevive às transformações posteriores e ao violento incêndio de 1967, ajusta-se à especificidade do terreno ocupado, com a linha da fachada poente assentando os alicerces no antigo pano da muralha da Almedina.

A igreja e o claustro dinamizam o espaço onde se encontraram a estabilidade e o equilíbrio para fornecer aos colegiais um percurso ordenado e inteligível. Tanto quanto é possível apurar pelas plantas do edifício, e depois das reformas do século XIX para albergar o Colégio dos Órfãos, a Misericórdia e, recentemente, a Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, a nota mais dissonante à normal constituição dos espaços colegiais é dada pela presença do corredor que estabelece a ligação entre o portal (aberto em 1859) e o claustro (desembocando no ângulo sudoeste), protegendo a entrada principal da igreja e provocando a formação de uma ala com diversas dependências, onde se instala, agora, a Misericórdia.

Colégio de S. Agostinho claustro.jpgColégio de S. Agostinho claustro

... Inteiramente nova na cidade é a conceção plástica que envolve o claustro retangular datado de 1596.

Craveiro, M.L. O Colégio da Sapiência, ou de Santa Agostinho, na Alta de Coimbra. In: Monumentos. Revista Semestral de Edifícios e Monumentos. N.º 25, Setembro de 2006. Lisboa, Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, pg. 68-71

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por Rodrigues Costa às 22:19

Terça-feira, 17.10.17

Coimbra: Colégio de S. Agostinho 1

Colégio de Santo Agostinho ou da Sapiência, vulgarmente conhecido pela denominação de Colégio Novo. (Hoje Faculdade de Psicologia).

Referem os cronistas do mosteiro crúzio, que lá dentro do mosteiro, houve, desde a reforma joanina das escolas gerais fixadas em Coimbra, um Colégio universitário propriamente dito ... Decorridos porém alguns anos, vieram os cónegos regrantes a reconhecer as grandes vantagens que lhes resultariam de constituírem um Colégio distinto e separado do seu mosteiro.

... Adquirira o mosteiro em 1552, por escambo feito com a Câmara Municipal, um pedaço de chão à «porta Nova» (que mais tarde se denominou «porta de Santo Agostinho») com seu muro e barbacã. Ficava ao fundo da Couraça dos Apóstolos, encostado à muralha, no ângulo N-O de «almedina», em sítio de soberbas vistas sobre o arrabalde e os campos do Mondego. Foi este o local destinado ao «Colégio-Novo».

Mas a área desse terreno era bastante irregular, terminando a N-E num ângulo muito agudo. Escolheu-se para elaborar o projeto do edifício o célebre arquiteto italiano Filippo Terzi.

... Correu célere a construção. Decorridos escassos onze anos, a 25 de março de 1604, já ali se instalaram os cónegos regrantes, mestres e alunos universitários.

Colégio de S. Agostinho fachadas.jpgColégio de S.to Agostinho, fachadas ocidental e setentrional

 Eis um dos mais interessantes e grandiosos edifícios colegiais de Coimbra.

Colégio de S. Agostinho igreja.jpgColégio de S.to Agostinho, igreja

 Construção no estilo da renascença, é bem uma obra de arte italiana; especialmente o claustro e a igreja chamam e prendem as atenções – aquele pela euritmia e nobreza das linhas, esta por isso também e pela bela ornamentação das abóbadas.

Colégio de S. Agostinho claustro.jpgColégio de S.to Agostinho claustro

 Este Colégio tinha uma boa cerca, hoje bastante reduzida, que se estendia pela riba N da cidade, entre a muralha que a coroava, e a rua pública que acompanhava a quinta de Santa Cruz, a qual em baixo, no vale, se dilatava a N-E; confinava a E a cerca do Colégio da Sapiência com a cerca dos jesuítas.

... O Colégio da Sapiência comunicava com a respetiva cerca por um passadiço sobre o arco de Santo Agostinho ou porta Nova, e perfurava a parte inferior da contígua torre de defesa, ultimamente transformada em casa de habitação; e tinha também comunicação direta com o mosteiro de Santa Cruz, por um corredor subterrâneo abobadado e com escadas.

... em 1834... sucedeu a este edifício o mesmo que aos restantes: ficou abandonado, e exposto à voracidade da escória social.

... 15 de setembro de 1841 ... ordenou que fossem entregues à Santa Casa da Misericórdia, tanto o edifício deste Colégio, como a cerca anexa.

Vasconcelos, A. 1987. Escritos Vários Relativos à Universidade de Coimbra. Reedição preparada por Manuel Augusto Rodrigues. Volume I e II. Coimbra, Arquivo da Universidade de Coimbra, pg. 257-261, do Vol. I

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por Rodrigues Costa às 12:02

Terça-feira, 06.06.17

Coimbra: Cidade ECHO?

Assisti no passado domingo, dia 4 de Junho, pela segunda vez, a um concerto dos seis órgãos da Basílica de Mafra.

Tomei então conhecimento da existência da ECHO (Europae Civitates Historicorum Organorum) que foi fundada em 1997 e tem como objetivo desempenhar um papel unificador em projetos a nível europeu das cidades com órgãos de valor histórico e de origem europeia.

Integram esta rede Alkmaar (Holanda), Bruxelas (Bélgica), Freiberg (Alemanha), Fribourg (suíça), Innsbruck (Áustria), Mafra (Portugal). Toulouse (França), Treviso (Itália) e Trondheim (Noruega).

 

Igreja de Santa Cruz. Orgão 02.jpg

 Órgão da Igreja de Santa Cruz

Coimbra, por direito próprio, podia e devia pertencer a este Rede, porque:

- Dispõe de três grandes órgãos históricos – Igreja de Santa Cruz, Universidade e Sé Nova – recentemente recuperados, e ainda o órgão do Seminário de Coimbra de muito boa qualidade e operacional e o da Igreja do Colégio Novo que foi objeto de recuperação no início da segunda metade do século passado;

 

Capela Universidade Orgão.jpg

 Órgão da Capela da Universidade

- Existem ainda nos Concelhos limítrofes dois outros órgãos recentemente recuperados e de valor inestimável: o do Mosteiro de Lorvão (Penacova); e o do Convento de Semide (Miranda do Corvo);

- Teve Coimbra duas escolas de música de referência do nosso País, com produção organística própria: a do Mosteiro de Santa Cruz; e a da Universidade.

De tudo o que atrás refiro sugiro o seguinte conjunto de perguntas:

- Quantas cidades do Mundo se podem orgulhar de um património organístico desta dimensão?

- Depois dos vultuosos investimentos feitos e sendo condição necessária para a boa manutenção destes instrumentos o seu uso regular, o que se tem feito a Cidade para que a mesma aconteça?

- Não tem Coimbra capacidade económica para ter um organista residente que assegure aquele uso regular?

- Não será este um elemento muito importante não só para a vida cultural de Coimbra e da Região onde se insere, bem como para o desenvolvimento do turismo cultural que todos defendem?

- Não é possível a conjugação de vontades entre os Municípios de Coimbra, de Penacova, de Miranda do Corvo, da Diocese, da Universidade, da Misericórdia de Coimbra, da Direção Regional de Cultura do Centro e da Região de Turismo Centro de Portugal, tendo em vista a potenciação do património organístico aqui existente?

Eu tenho as minhas respostas. Acho que todos devem ter as suas.

Rodrigues Costa

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por Rodrigues Costa às 09:05

Terça-feira, 10.01.17

Coimbra: as prisões que aqui existiram

Em meados do século XVIII existiam em Coimbra cinco prisões públicas: dois aljubes (um do Bispo e outro do mosteiro de Santa Cruz, que era isento da jurisdição episcopal), os cárceres da Inquisição, a cadeia da Universidade e a cadeia da Portagem

... Com o Liberalismo e a abolição das justiças eclesiásticas, desapareceram os dois aljubes e os cárceres da Inquisição. A Universidade perdeu a seu jurisdição, mas continuou a poder deter os estudantes prevaricadores através do seu corpo policial e, ainda, as mulheres consideradas escandalosas ou de mau exemplo que vivessem da porta de Almedina para cima.

... Entre Agosto de 1768 e o final de 1779, onze anos e cinco meses, foram efetuadas na cadeia da Portagem 2.798 detenções, sendo 490 de mulheres e 2.308 de homens.

... Entre os motivos de prisão documentados, predominam em ambos os sexos os de âmbito económico, mas com assinalável diferença, já que 27% dos homens e 47% das mulheres se integram nesse tipo de delito. 18% dos homens eram réus do foro militar.

... As condições de vida na prisão dependiam dos apoios que os presos tinham no exterior ou do dinheiro que eles próprios possuíam. Não nos esqueçamos de que o sistema prisional da época não fornecia alimentação, vestuário ou medicamentos aos detidos. Mais: eram obrigados a pagar a carceragem e o alvará de soltura. Os que não dispunham de uma “retaguarda” (família, protetores, economias), mesmo que não fossem pobres, acabavam por cair na miséria por falta de rendimentos. Em 1770, uma mulher de Vale do Cântaro (Assafarge), isolada em Coimbra, viu-se obrigada a empenhar a própria saia por 10 tostões para se manter. Quando foi solta, não pôde sair porque, além de não ter dinheiro para a carceragem, estava praticamente nua.

Os presos pobres obtinham, por vezes, licença para mendigar pelas ruas da cidade, acompanhados por um homem da vara a quem tinham – porque na prisão tudo se paga – de remunerar pelo serviço.

Quem que não era de Coimbra, sempre que podia requeria a transferência para as cadeias dos pequenos concelhos vizinhos. Muitos conseguiam-no, mas teriam de pagar à guarda que os conduziria.

... O compromisso da Misericórdia de Coimbra consagrava o seu capítulo XI à assistência aos presos, obra que merecia especial cuidado até porque foi “a primeira obra, em que se empregárão os primeiros Irmãos, que instituírão esta Irmandade”.                                  

Para se ser incluído no rol dos presos da Casa era necessário: 1º - ser pobre e desamparado; 2º - não estar preso por dívidas e fianças nem por incumprimento de degredo a que já tivesse sido condenado anteriormente; 3º - estar detido há pelo menos 30 dias.

Eram os mordomos dos presos que se encarregavam de os visitar duas vezes por semana, às quartas-feiras e domingos. Tratariam da assistência espiritual, jurídica e física. Assim, fariam que se confessassem e comungassem pela Quaresma e pelos quatro jubileus do Bispado, dar-lhes-iam duas vezes por semana pão suficiente para todos os dias e ainda uma posta de carne e uma escudela de caldo às quartas e domingos”.

Lopes, M.A. 2010. Cadeias de Coimbra: espaços carcerários, população prisional e assistência aos presos pobres (1750-1850). In Araújo, M.M.L., Ferreira, F.M. Esteves, A. (orgs.) Pobreza e assistência no espaço Ibérico (séculos XVI-XIX), [Porto], CITCEM – Centro de Investigação Transdisciplinar “Cultura, Espaço e Memória”, 2010, pp. 101-125. Pg. 1, 11 a 14

 

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por Rodrigues Costa às 10:20

Quinta-feira, 01.12.16

Coimbra: a Baixinha 2

No final do século XVI, o arrabalde apresentava uma estrutura bastante consolidada e o seu poder económico superava já o da Alta, tornando-se num centro vital para a sobrevivência da cidade. Em relação à morfologia, foi a altura em que se finalizou a ligação entre os adros de Santa Justa, o largo de Sansão e a Praça do Comércio, formando-se um aglomerado contínuo. “A cidade afirmou urbanisticamente a sua determinação em se instalar na zona mais baixa e plana.” O território distinguia dois conjuntos urbanos que vieram evidenciar a polaridade entre a Alta e a Baixa. Os dois polos tinham funções diferentes no panorama citadino e não entraram por isso em colapso, uma vez que se completavam nas necessidades funcionais da urbe. Na cidade Alta, intramuros, vivia o clero, os cónegos da Sé e outros beneficiários eclesiásticos, a nobreza local, os seus servidores e algum povo. Na cidade Baixa, habitavam o povo miúdo, os comerciantes, os artesãos e alguns mesteres. Já no século XV, a praça do arrabalde tinha sido denominada pelo infante D. Pedro como a P r a ç a d a C id a d e, expressão que denota claramente a importância crescente da cidade Baixa no contexto urbano. O sistema já consolidado do arrabalde é composto sequencialmente pelo Largo da Portagem, Rua dos Francos, a Praça do Comércio e a Praça 8 de Maio. Todos estes elementos formalizam a estrutura principal da Baixinha e referenciam-na como espaço singular da urbe. O modelo de rua e praça, de cheios e vazios representa, assim a imagem da cidade medieval com estruturas agregadoras de lugar da vida comum e das atividades relacionais da sociedade. A condição central da praça funciona como “sala de estar” urbana de encontro e troca, pois faz confluir todos os percursos estreitos para um lugar amplo e espaçoso de desdensificação da malha construída e concentra programaticamente funções importantes no contexto urbano

 ... Era à volta da praça principal do arrabalde que se concentravam os principais serviços comerciais. Atualmente, com uma forma alongada, esta praça resultou da união das igrejas de S. Bartolomeu (o adro de trás) e de S. Tiago (o adro cemiterial fronteiro), da consolidação, em contínuo dos respetivos núcleos e da reconformação da estrutura viária Norte/Sul. Localizada próximo da porta principal da cidade e em zona ribeirinha, a praça serviu as necessidades mercantis e agregadoras da dinâmica urbana da cidade medieval. Por ser uma área plana de fácil acesso e ponto de transição do rio para a cidade intramuros, rapidamente ganhou um estatuto central e identificador para a comunidade urbana. Logo se tornou a Praça da cidade e o valor da sua propriedade superava o das restantes zonas. São características evidenciadas pela altura dos edifícios que, era térrea na cidade em geral e atingia os três pisos neste local. Inicialmente foi intitulada Praça de S. Bartolomeu como referência à igreja que a conformava. Mais tarde, passou a ser referido o seu papel de Praça do Comércio.  A transferência de poder e de funções da cidade Alta para a Baixa, mais especificamente para a Praça do Comércio, veio acentuar e potenciar a sua condição central no seio do restante tecido. O reconhecimento deste espaço como praça surgiu no século XV, quando foi transferido para o local o mercado que inicialmente se realizava na parte alta. Com melhores características espaciais e de acessibilidade para o efeito, a praça foi progressivamente palco de feiras, mercados e açougues da cidade. A ação de D. Manuel, no século XVI, instaurou um processo de reestruturação e consolidação na cidade de Coimbra. Os empreendimentos de renovação e requalificação urbana levaram a cabo o melhoramento dos pavimentos das ruas e a redefinição programática da praça, com a localização do pelourinho, da Casa da Câmara, do Hospital Real e da Misericórdia, na primeira ação global de modernização. Neste mesmo século, o Mosteiro de Santa Cruz promoveu uma intervenção urbanística de grande importância, pela reconformação do seu espaço fronteiro, potenciando o desenvolvimento da interação social de mais um espaço urbano. Foram instaladas fontes de abastecimento público de água e era o espaço preferencial para as atividades lúdicas. A denominação de Largo de Sansão viria a mudar no século XIX, adaptando-se a designação de Praça 8 de Maio. A Rua Visconde da Luz, que estabelecia a sua ligação com os restantes espaços do sistema, ganhou gradual importância na vida urbana, instalando-se aí ourives e latoeiros. O sistema de largos, ruas e praças estava assim conformado e interligado no novo zoneamento urbano. 

Ferreira, C. 2007. Coimbra aos Pedaços. Uma abordagem ao espaço urbano da cidade. Prova Final de Licenciatura em Arquitectura pelo Departamento da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, orientada pelo Professor Arquitecto Adelino Gonçalves, p. 32-34

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por Rodrigues Costa às 16:58

Quinta-feira, 07.04.16

Coimbra: A ‘roda’ dos expostos

Nos termos das Ordenações Filipinas (1603) os filhos ilegítimos deviam ser criados à custa dos pais... Não o querendo estes fazer, ou sendo filhos de religiosos ou de mulheres casadas, mandar-se-iam criar à custa dos hospitais ou albergarias que houvesse, com bens ordenados para a criação de enjeitados.

Na falta de tais hospitais e albergarias, criar-se-iam à custa das rendas do concelho. Quando as não houvesse, lançar-se-iam fintas pelas pessoas que tinham obrigação de pagar nas fintas e encargos do concelho.

Competindo esse encargo inicialmente à Câmara, que com grandes dificuldades o ia suportando, pouco depois já a Misericórdia de Coimbra, no seu compromisso de 1620, inseria o capítulo XXVI, intitulado «De como se há-de acudir aos meninos desamparados»... Mais adiante, por provisão régia de 7-V-1708, foi a Câmara aliviada da administração dos expostos e atribuída à Santa Casa da Misericórdia, entregando-se a esta, para a criação dos mesmos, as rendas da imposição, fintando-se ainda 400.000 reis anuais nos lançamentos das sisas da cidade de Coimbra e seu termo.

... Na primeira metade do século XVIII, surgiu, de importação estrangeira, a prática das ‘rodas’ dos expostos favorecendo e de algum modo oficializando a exposição clandestina, com o benéfico propósito de suprimir ou pelo menos reduzir a proporções mínimas o crime de infanticídio.

... Num documento, datado de 15-III-1712, vê-se que o provedor e demais irmãos da Misericórdia de Coimbra compraram... umas casas sitas em Montarroio ... «para nela se fazer uma roda de enjeitados».

... do referido Compromisso da Misericórdia de Coimbra de 1629, edição de 1830, vem inserto, sem data, o «Regulamento da Real Casa dos Expostos da cidade de Coimbra» ... lê-se que o edifício da Roda se acha muito mal situado, por ser húmido e abafadiço, no inverno, exposto a calores extraordinários no verão, e privado pela sua posição dos ventos de norte e dos outros que possam arejá-lo e refrescá-lo ... O cemitério, em que ao tempo eram sepultados os expostos, imediato às paredes das casas da Roda, que ficava ao norte, em risco de infecionar e corromper os ares, devia em todo o caso mudar-se para sítio mais distante e retirado.

Em 1836, sendo lastimoso o estado em que se achavam reduzidas as diversas rodas de expostos em todo o país... o decreto de 19 de Setembro dispôs... 3.º que a administração de cada um dos estabelecimentos de expostos competia às Câmaras Municipais...; 4.º que assim cessava a competência que em algumas terras estava incumbida às Misericórdias.

... recebeu a Câmara (20-I-1838), do provedor da Misericórdia a relação dos tributos que se cobravam para a manutenção dos expostos ... nomeou escrivão dos expostos e fez imprimir ... «Regulamento e instrução para a administração dos expostos do distrito de Coimbra»... só a partir de então se pôde considerar a Câmara investida na administração dos expostos, iniciada em 3-V-1839 ... assentou (4-IX-1839) em não mudar a Casa da Roda antes de fazer na então existente as reparações indispensáveis

... Essa Casa da Roda devia ser situada na Travessa de Montarroio, onde mais tarde... se instalou o Asilo da Mendicidade.

... em 26-II-1847 a Câmara deliberou sobre a transferência da Casa da Roda para o Dormitório do Pilar (dependência dos antigos edifícios do Mosteiro de Santa Cruz)

... uma proposta ... sobre a supressão da Roda dos Expostos ... veio a ser votada em 21-III-1872, criando-se então o Hospício dos Abandonados ... continuando a sua administração a cargo da Câmara Municipal.

... o decreto de 22-II-1911 extinguiu o hospício do distrito de Coimbra ... e criou uma Maternidade anexa á Faculdade de Medicina ... onde fossem recebidos até poderem ser colocados em criação externa os expostos e as crianças desvalidas de abandonadas.

 

Loureiro, J.P. Relatório sobre os edifícios e terrenos do antigo Mosteiro de Senta Cruz. In Câmara Municipal de Coimbra. 1958. Antigas Dependências do Mosteiro de Santa Cruz. Petição e Fundamentos. Separata do Arquivo Coimbrão. Vol. XV. Coimbra, Câmara Municipal. Pg. 12 a 18

 

 

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por Rodrigues Costa às 10:15


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