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…. a municipalidade no derradeiro ano do século XIX encomendou-lhe “o projeto de um mercado público destinado ao local onde se vê o de D. Pedro V”, cuja construção ocorrera em 1867.
Mercado D. Pedro V, inícios do séc. XX
Verdade seja que o referido mercado nasceu em má hora; da obra completa, mais tarde retomada, mas nunca efetivada, passou-se apenas ao pavilhão destinado à venda do peixe e mesmo este arrastou-se penosamente, pois só veio a ser inaugurado a 8 de março de 1908.
A velha praça, ainda hoje ao serviço do público [1991] quase sem ter recebido nenhuma obra de beneficiação, merecia já, em 1917, [por parte do jornal “O Despertar”] este irónico comentário: “Também faz hoje 50 anos (já meio século!) que foi inaugurado o mercado D. Pedro V. Está a pedir museu das raridades”.
Mercado D. Pedro V, projeto de Silva Pinto
Mercado D. Pedro V, pavilhão do peixe fachada nascente
Mercado D. Pedro V, interior do pavilhão do peixe
Foi este, sem dúvida, o edifício mais ousado que Silva Pinto projetou para Coimbra. Todo em ferro, tijolo e vidro, seguia os moldes europeus. Não se pode esquecer que o arquiteto havia regressado de França onde as estruturas de ferro apareceram esporadicamente no final do século XVIII e conheceram uma verdadeira expansão nos anos quarenta de Oitocentos. Utilizadas indistintamente em edifícios utilitários ou não e ainda como material auxiliar nalgumas construções, surgem nos teatros, estufas, mercados, pontes, palácios de cristal, para atingir o delírio, em 1889, na famosa Torre Eiffel.
A estética da metalurgia é descoberta e afirma-se através das finas colunas metálicas e da plasticidade do ferro fundido.
Até mesmo John Ruskin, em 1849, embora sendo contra todo o tipo de industrialização, não deixava de afirmar que “provavelmente se avizinha uma época em que se desenvolverá um novo sistema de leis arquitetónicas, adaptadas por inteiro à construção metálica”.
No entanto, apesar de se tratar de uma construção bem dentro dos parâmetros utilizados na época, embora dentro de proporções modestas, mas de acordo com os orçamentos disponíveis, a verdade é que aquando da polémica havida, por volta de 1921, em torno da intervenção levada a cabo na igreja crúzia de S. João, transformada em “Café de Santa Cruz”, obra reprovada por Silva Pinto, como o foi por António Augusto Gonçalves e outros, um dos jornais citadinos não se eximia de, para atacar o arquiteto, apelidar de “aquário” o pavilhão da venda do peixe.
Anacleto, R.; Poilicarpo, I.P.L. O arquitecto Silva Pinto e a Universidade de Coimbra, em Universidade(s). História. Memória. Perspectivas, vol. 2, Congresso História da Universidade. 7.º centenário. Coimbra, 1991, p. 327-346.
No início do século XX o plano estava quase completo. O Matadouro implantou-se no limite norte da Quinta e foi inaugurado em 1897. O mercado foi ampliado e construído o Pavilhão do Peixe segundo projeto de 1901, do Arquiteto Silva Pinto. A estrada de ligação a Celas foi aberta através da rua Lourenço de Almeida Azevedo. O Jardim Público, aproveitando o antigo Jogo da Bola, foi denominado Parque de Santa Cruz e passou a ser utilizado por toda a população, que elegia aquele espaço para a realização de várias festas populares. O parque infantil foi construído na década de trinta, junto à praça D. Luís e denominado o Ninho dos Pequeninos. As águas da quinta foram canalizadas e conduzidas para o chafariz do largo da cadeia. E o planeado boulevard, ícone do urbanismo do século XIX, foi finalmente construído em 1906.
Para além dos equipamentos projetados, o novo bairro permitiu implantar a Escola Central do Ensino Primário (1905), o Teatro-Circo do Príncipe-Real (1892), a Central de Inspeção de Incêndios (1891), a Manutenção Militar e a Associação Comercial e Industrial (1909).
Concluindo
A extinção das corporações religiosas e a consequente desamortização dos seus bens permitiu ao município de Coimbra delinear uma estratégia concertada de modernização da cidade. Numa primeira fase procedeu à simples ocupação dos edifícios e terrenos desocupados, sem relevantes obras de adaptação às novas funções, mas sem descurar a organização geral da cidade. Num segundo momento, consciente das necessidades de cada função, promoveu obras de adaptação ou em casos mais radicais demoliu o existente, como no caso do edifício dos Paços do Concelho.
A maturação da experiência administrativa e a efetiva transformação da cidade contribuíram para um novo entendimento que esteve na base do primeiro levantamento topográfico da cidade, encomendado aos irmãos Goullard em 1873. Conhecendo a cidade, o município conseguiu avançar para lá dos limites cedidos e empreender a primeira operação de crescimento da cidade desde a abertura da Rua da Sofia no século XVI. Aproveitando os terrenos da antiga Quinta de recreio do Mosteiro de Santa Cruz, empenhou-se numa operação ambiciosa e marcou a entrada de Coimbra na era da modernidade, inaugurando de forma consciente o moderno planeamento urbano na cidade.
Fig. 11. Planta da autora de reconstituição da execução do Plano de Melhoramentos da Quinta de Santa Cruz a partir do levantamento da cidade de 1934
Fig. 12. Fotografia vertical do Bairro de Santa Cruz em 1934. Arquivo Histórico das Forças Armadas
Calveiro, M.R. Apropriação e conversão do Mosteiro de Santa Cruz. Ensejo e pragmatismo na construção da cidade de Coimbra. In: Cescontexto, n.º 6, Junho 2014. Coimbra, Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Pg. 227-240. Acedido em
A implantação dos novos equipamentos nos terrenos do extinto Mosteiro de Santa Cruz
Desde 1836 que as várias repartições públicas e a câmara municipal tinham sido instaladas no antigo mosteiro, mas faltava instalar o mercado e, em 1840, algumas vendedeiras foram transferidas para o Pateo de Santa Cruz. Esta medida foi mal aceite pelas próprias vendedeiras, que contestavam a localização fora dos circuitos habituais de circulação da cidade e marcou o início de uma acesa discussão sobre a localização dos modernos equipamentos públicos.
Efetivamente, se, por um lado, a opção de reutilizar os edifícios desocupados pelas ordens religiosas era sustentada por razões de economia e de rentabilização do Património do Estado, por outro, a reforma e o saneamento do denso tecido urbano existente só seria viável com a implantação destes novos equipamentos.
Fig. 5. Planta da autora com a indicação, a verde, da localização da Horta de Santa Cruz e a laranja a localização do Largo da Sota.
Neste sentido, o processo de construção do Mercado Municipal constitui o melhor exemplo do confronto entre a estratégica pragmática da Câmara Municipal e os desejos de progresso e modernidade idealizados pela população, que se opunha ao aproveitamento dos terrenos da Horta de Santa Cruz, cedidos ao município em favor da reforma e alteamento do Largo da Sota, no interior da baixa e junto às entradas da cidade, do cais das Ameias e do Largo da Portagem.
O primeiro estudo elaborado pelo município concluía que a hipótese de implantação no Largo da Sota, pelas vultosas expropriações e pelo alteamento de toda a área, correspondia a um aumento de cerca de 30% dos custos da construção do mercado na Horta de Santa Cruz. Pese embora este acréscimo de custos, esta seria a oportunidade de ouro para se proceder à reforma urbanística da Baixa, alteando o solo e rasgando novas ruas, saneando, assim, o antigo tecido insalubre. Tudo isto explica as hesitações do município e o tempo longo até à decisão final, contudo as debilidades financeiras do concelho acabaram por ditar a solução e as obras na Horta de Santa Cruz iniciaram-se em outubro de 1866, sendo o novo Mercado D. Pedro V inaugurado no dia 17 de novembro do ano seguinte.
Fig. 6 e 7. Planta de reconstituição da autora, com a implantação do Mercado D Pedro V. Fotografia do final do século XIX do antigo mercado. Imagoteca/Câmara Municipal de Coimbra
Para além do mercado, também a implantação do matadouro, aproveitando um antigo palheiro do Mosteiro de Santa Cruz, gerou controvérsia. Era apontada a precaridade da construção, que obrigou a várias intervenções de reparação e a reduzida distância à povoação, não cumprindo os padrões de salubridade. A partir de 1866 apontou-se mesmo a necessidade urgente de construir um novo edifício noutro local, conduzindo, na década de 1880, à compra de um terreno junto ao Rio, mas a necessidade de grandes aterros foi sucessivamente adiando a construção e mantendo o existente.
A segunda metade do século XIX correspondeu a um período de forte transformação na cidade. Primeiro chegou a Mala-posta que em 1855 ligava a cidade ao Carregado, depois instalou-se a iluminação a gás em 1856, seguiram-se os equipamentos sanitários, como o cemitério construído no Alto da Conchada inaugurado em 1860 e a transferência do Hospital da Conceição para o Colégio das Artes em 1857, a primeira operação de reforma urbanística, que decorreu entre 1858 e 1866 e correspondeu ao alargamento da antiga rua de Coruche e os aterros e regularização dos cais do Mondego que começaram a ser construídos com consistência a partir de 1872 e 1873, ao mesmo tempo que se construía a nova ponte de ferro.
Neste quadro de modernização, o município revelou a vontade de construir um novo edifício para albergar a Câmara Municipal e, em 1869, solicitou à Rainha a autorização para encarregar a Direção de Obras do Distrito dos estudos necessários, mas o pedido foi recusado, lembrando a criação no ano anterior da Repartição Distrital de Obras Públicas, dependente dos cofres do concelho e a ideia foi adiada.
Calveiro, M.R. Apropriação e conversão do Mosteiro de Santa Cruz. Ensejo e pragmatismo na construção da cidade de Coimbra. In: Cescontexto, n.º 6, Junho 2014. Coimbra, Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Pg. 227-240. Acedido em
Dos mercados ao Mercado D. Pedro V
Em Coimbra, os mercados e as feiras foram regulamentados, ao longo dos tempos, por cartas régias, mas os locais onde se processava a troca de produtos permaneceu inalterável até à segunda metade do século XIX.
Durante o período medieval e até a Oitocentos, a permuta de bens estendeu-se, na cidade, por vários locais. Um deles, o Forum Régio, situava-se entre a Torre da Rolaçom e a Sé, ou seja, mais ou menos na zona do atual Quebra-Costas e organizava-se em dois espaços: o “das tendas de baixo” (mais próximo do início do Quebra-Costas) e o “das tendas de cima” (mais chegado à Sé). Um outro local de troca de produtos ocupava, lá no cimo da colina, o terreiro do Paço Real. A partir de 1537, no Largo da Feira, frente à Sé Nova, após a transferência da Universidade para Coimbra, começou a realizar-se, às terças-feiras, um mercado semanal destinado, essencialmente, à comunidade estudantil.
Largo da Feira dos Estudantes. [Passado ao Espelho, p. 58]
Contudo a Praça de S. Bartolomeu (também conhecida por Praça do Comércio ou Praça Velha) pode considerar-se o local onde tradicionalmente acontecia o principal mercado, mas com o andar dos anos e com o aumento da população o espaço vai-se tornando cada vez mais exíguo e alguns produtos, sobretudo aves e grãos, passaram a ser comercializados em frente à igreja de Santa Cruz, no Terreiro de Sansão.
Fig. 07 – Praça do Comércio. [AHMC. Repartição de obras municipais. Luiz Antonio Nogueira. 1878. Pasta 49. B-14].
Os espaços atrás referidos, mesmo se se tiver em conta as contínuas disposições camarárias que especificavam o local exato da venda de cada produto, nem sempre eram acatadas de bom grado pelos vendedores (vendedoras em maior número) que se iam amontoando a esmo, de modo um tanto ou quanto caótico.
A ideia de reunir todas as transações num único local, começa a ganhar consistência e a necessidade de construir um mercado assume-se consensual. A partir de 1852 assiste-se à tentativa de concentrar, não sem oposição, os vários pontos de venda na horta do extinto mosteiro de Santa Cruz. Contudo, as opiniões dividiam-se quanto à localização do mercado e se uns apontavam para aquele local, outros inclinavam-se para a zona da Sota, na velha ‘baixa’ coimbrã.
Neste contexto, a 09 junho de 1858, Hardy Hislop, de nacionalidade inglesa, apresenta à Câmara um projeto para a construção de um mercado público cujos custos, na Sota, rondavam pelos 100 contos de réis e na Horta crúzia pelos 70.000$000 réis.
A escolha da zona onde o mercado se devia instalar, sob forte contestação, acabou por recair na horta de Santa Cruz, até porque esta, em virtude de ser propriedade da edilidade, tornava o cometimento mais acessível, contrariamente ao que aconteceria na Sota, onde, devido às cheias do Mondego, era necessário altear o local e proceder a expropriações.
Mas a debilidade das finanças municipais não consentiu a viabilização do empreendimento; por isso, mais tarde, a Câmara e o Conselho Municipal aprovaram, a 12 de março de 1866, um empréstimo de 13.000$000 réis tendente a fazer face à concretização da nova estrutura que teve por base o mais do que modesto projeto elaborado pelo engenheiro Everard, um provável técnico ferroviário britânico.
Fig. 08 – Mercado D. Pedro V em 1907. [Passado ao Espelho, p. 66].
A vereação, depois de “fazer festejos e convites”, decidiu marcar para o dia 17 de novembro de 1867 a inauguração do novo mercado, batizado com o nome de D. Pedro V; o imóvel foi-se tornando obsoleto e O Despertar, na sua edição de 17 de novembro de 1917, escrevia: “Também faz hoje 50 anos (já meio século!) que foi inaugurado o mercado D. Pedro V. Está a pedir museu das raridades”.
Radicara-se na cidade, entretanto, o arquiteto Augusto de Carvalho da Silva Pinto e a Câmara, em 1902, encarrega-o de riscar, a fim de “completar” o mercado existente, o projeto de um pavilhão destinado à venda de peixe.
Após serem ultrapassadas algumas barreiras, o edifício foi inaugurado em 08 de março de 1908. Esta estrutura que assentava prioritariamente no ferro e no vidro, se se pensar no contexto português e, sobretudo, no conimbricense, desenvolveu-se no âmbito de uma linguagem eivada de modernidade, embora, cronologicamente, face à Europa e à América, se apresentasse como tardia. Mas de nada lhe valeu inserir-se nas “modernas” tecnologias arquitetónicas, porque não deixou de ser depreciativamente apelidada de “aquário” por um dos jornais citadinos, quando, em 1921, o arquiteto emitiu uma opinião desfavorável acerca da transformação da igreja de S. João em “Café de Santa Cruz”.
Fig. 09 – Projeto para um mercado municipal. Arquiteto Silva Pinto. 1908. [AHMC. Repartição de obras municipais. Pasta 36. B-50].
Contudo, a edilidade, cônscia que estava da necessidade de dotar a cidade com um mercado condigno, encarregou o mesmo arquiteto, cerca de 1908, de riscar esse imóvel, que, apesar de aprovado, jamais saiu do papel (neste caso, do marion) e foi pena, pois, a ser edificado “constituiria hoje, sem dúvida, um dos mais curiosos exemplares da chamada arquitectura do ferro, tão representativa de uma época”.
Anacleto, R. Coimbra: alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. In: Belas-Artes: Revista Boletim da Academia Nacional de Belas Artes. Lisboa 2013-2016. 3.ª série, n.ºs 32 a 34. Pg. 127-186. Acedido em https://academiabelasartes.pt/wp-content/uploads/2020/02/Revista-Boletim-n.%C2%BA-32-a-34.pdf
O arquitecto Augusto de Carvalho da Silva Pinto nasceu em Lisboa a 7 de Maio de 1865 .... Depois de ter frequentado o “Instituto Industrial e Comercial de Lisboa”, matriculou-se, em 1882 … na “Escola de Belas Artes” e, seguidamente, inscreveu-se na especialidade de Arquitectura Civil, que integrava o curriculum daquela escola lisboeta.
Durante algum tempo leccionou no estabelecimento de ensino onde se havia formado e onde fora aluno brilhante, mas logo de seguida partiu para Paris, a fim de se valorizar e tomar contacto com as novas correntes estéticas … Regressou em 1895 e, logo depois, veio fixar residência em Coimbra, terra que adoptou como sua.
Augusto de Carvalho Silva Pinto
Este facto revestiu-se de grande significado para a cidade, que se encontrava afastada dos grandes centros, fechada sobre si mesma, sem possibilidade de se desenvolver, e passou a dispor de um homem com concepções arquitectónicas modernas, capaz de colocar o seu saber ao serviço da comunidade.
Logo após a chegada e acumulando com outras tarefas, entra como professor para a Escola Industrial Brotero onde permaneceu, ensinando gerações, até atingir o limite de idade; além disso, integra-se na vida artística do burgo, que quase se reduzia só à Escola Livre das Artes do Desenho, fundada por Mestre António Augusto Gonçalves em 1878, e por todos os artistas e artífices que gravitavam em torno dela.
…Em 1904 o engenheiro Augusto Barbosa é encarregado pela municipalidade de elaborar o projecto [de urbanização da Quinta de S. Cruz]. Silva Pinto desenha a casa do Doutor Ferrand Pimentel de Almeida, a construir na Avenida Dias da Silva.
… A Universidade, a Câmara Municipal e alguns particulares utilizam os seus serviços. A primeira, a partir de 28 de Outubro de 1913, passa a pagar-lhe mensalmente 5$00 “por ser o superintendente das obras” , mas a municipalidade adiantara-se e no derradeiro ano do século XIX encomendou-lhe “o projecto de um mercado público destinado ao local onde se vê o de D. Pedro V”, cuja construção ocorrera em 1867 … Foi este, sem dúvida, o edifício mais ousado que Silva Pinto projectou para Coimbra. Todo em ferro, tijolo e vidro, seguia os moldes europeus …No entanto, apesar de se tratar de uma construção bem dentro dos parâmetros utilizados na época, embora dentro de proporções modestas, mas de acordo com os orçamentos disponíveis, a verdade é que … um dos jornais citadinos não se eximia de, para atacar o arquitecto, apelidar de “aquário” o pavilhão da venda do peixe.
Projeto não concretizado do Mercado D. Pedro V
… A primeira notícia conhecida e que nos fala da possibilidade de criar uma Faculdade de Letras na Universidade de Coimbra remonta ao tricentenário da morte de Camões, ocorrido em 1880 … só trinta anos após a primeira tentativa, já então num quadro político e mental bem diverso, se veio a concretizar aquilo que o Doutor António Ribeiro de Vasconcelos considerava “uma necessidade urgente e inadiável”.
… O problema das instalações colocou-se de imediato à nova direcção; como consequência solicitou ao governo a cedência do terreno onde se andava a construir o edifício destinado ao Teatro Académico e que ocupava o sítio do antigo Colégio S. Paulo … Para riscar a nova casa universitária encarregaram o arquitecto Augusto de Carvalho da Silva Pinto … O Conselho da Faculdade aprovou as plantas e alçados do novo edifício a 31 de Julho de 1913 … Silva Pinto projectou uma fábrica que patenteava uma fachada equilibrada e harmónica, onde os volumes e o movimento provocado pelas aberturas, pilastras e colunas jogavam com a luz.
O espaço exterior do edifício apresentava uma forma entre o rectangular e o trapezoidal; quanto ao interior, embora ajustando-se ao fim a que se destinava, aproveitava algumas fundações do inacabado, ou melhor, mal começado, Teatro Académico.
… Bem ritmado, com o piso térreo de silharia de junta fendida e torreões marcados nas extremidades, a zona central do primeiro andar apresenta as aberturas vazadas no paramento e separadas por pilastras adossadas à parede ou por colunas duplas. A parte superior do vão das janelas oscila entre o arco de volta perfeita e o frontão triangular, para, numa liberdade criativa total, mostrar o lado inferior das ventanas colocadas nos pseudo-torreões a acompanhar os degraus da escada interior. Bem ritmado, com o piso térreo de silharia de junta fendida e torreões marcados nas extremidades, a zona central do primeiro andar apresenta as aberturas vazadas no paramento e separadas por pilastras adossadas à parede ou por colunas duplas. A parte superior do vão das janelas oscila entre o arco de volta perfeita e o frontão triangular, para, numa liberdade criativa total, mostrar o lado inferior das ventanas colocadas nos pseudo-torreões a acompanhar os degraus da escada interior.
… Lamentavelmente o projecto não se realizou tal como havia sido concebido. Construído ao longo de duas dezenas de anos, cedo mostrou a exiguidade de espaço. O arquitecto viu-se na necessidade de, no decorrer das obras, criar uma área maior dentro da estrutura prevista.
Antiga Faculdade de Letras da UC no início dos anos 40 do século XX
…De qualquer forma, a primeira Faculdade de Letras, no seu conjunto, expressava um maior gabarito do que a actual fachada da Biblioteca Geral, que, ao fim e ao cabo e despudoradamente, ainda se apoderou de grande parte das estruturas interiores.
… O amplo salão de leitura e a cúpula elíptica, de arrojado traçado, que o encimava, foram reaproveitados, embora a contextura de um mal amanhado tecto disfarce aquela composição; o mesmo aconteceu com o elegante vestíbulo e escadas de acesso.
Nem sequer tiveram dó dos belos portões de ferro forjado, dos magníficos lustres do mesmo material, dos lindos artefactos de talha que se encontravam portas a dentro e do grande vitral de manufactura italiana existente na vasta sala do Museu.
… O então Director da Faculdade de Letras, Doutor António de Vasconcelos, a 12 de Dezembro de 1914, escreveu-lhe uma carta a comunicar “que o Conselho da Faculdade de Letras, (...) em sessão hoje celebrada para inauguração da parte já concluída do seu edifício em construção, resolveu por unanimidade que se lançasse na acta um voto de louvor pelo zelo, saber, competencia e desvelado carinho com que VEx.ci fez o estudo da modificação e adaptação, para instalação da Faculdade de Letras, do antigo projécto do teatro académico, aproveitando quasi toda a obra que já se achava realizada; e com que tem dirigido superiormente os trabalhos de construção do mesmo edifício.
… Silva Pinto, ao longo dos anos que permaneceu em Coimbra não se desligou do quotidiano. Relacionado com a vida artística, pois, para além da sua actividade profissional esteve intimamente ligado com a Escola Livre das Artes do Desenho, com Mestre Gonçalves, com o Dr. Joaquim Martins Teixeira de Carvalho, mais conhecido por Quim Martins, e ainda com os numerosos artistas saídos desses dois alfobres que foram as escolas da Torre de Almedina e a Brotero, andou também de braço dado com a política.
Pertenceu ao executivo municipal, exerceu o cargo de Governador Civil Substituto e, mais tarde, por discordar do sistema vigente instaurado após 1928, conheceu mesmo as agruras da prisão. Republicano convicto acabou por ser preso a 6 de Maio de 1930 e, embora libertado onze dias depois, foi-lhe imposta residência fixa em Tentúgal, até Agosto do mesmo ano.
Anacleto, R. e Policarpo, I.P.L. O arquitecto Silva Pinto e a Universidade de Coimbra, em Universidade(s). História. Memória. Perspectivas, Vol. 2, Congresso História da Universidade. 7.º centenário, Coimbra, 1991, p. 327-346.
Folheando, tempos atrás, dois catálogos impressos aquando da realização de exposições de fotografias antigas de Coimbra, pertencentes à coleção de Alexandre Ramires, escolhi, de entre muitas que ali observei, três que me pareceu interessante divulgar.
A primeira diz respeito à Sé Velha e foi retirada de Revelar Coimbra. Os inícios da imagem fotográfica em Coimbra. 1842-1900, Lisboa, Instituto Português de Museus, 2001, imagem 48.
Sé Velha antes do restauro
A vetusta catedral conimbricense encontrava-se em franca deterioração e António Augusto Gonçalves, a alma, o mestre, o mentor da Escola Livre das Artes do Desenho tudo fez para que uma intervenção de fundo, capaz de preservar as velhas pedras de séculos, se viesse a concretizar.
As obras iniciaram-se a 30 de janeiro de 1893 e o portal principal foi intervencionado, já em 1898, por José Barata, que se encarregou de esculpir as colunas e por João Machado que tomou sob a sua responsabilidade o trabalho das almofadas. Eram dois artistas formados pela referida Escola e que integravam aquela “plêiade de rapazes que começavam a fazer lembrar a idade áurea da Coimbra artística do século XVI”.
A imagem leva-nos ainda a reparar na atual falta de harmonia existente no edifício, resultado do desaparecimento do terraço. Gonçalves reduziu a área desta plataforma e os Monumentos Nacionais, na reforma levada a cabo em meados da centúria de XX, sumiram-na. Filosofias de restauro mais do que discutíveis que não cabe aqui analisar.
Uma chamada de atenção para a torre sineira, um acréscimo à construção primitiva, que albergava o chamado sino balão, levado para a Sé Nova e a existência de dois janelões laterais também abertos nas grossas paredes dos inícios. No interior da Sé acolhiam-se indivíduos fugidos à justiça régia, os homiziados, pois ali, tal como na zona das lajes, isto é no terraço que circundava o templo, existia o chamado “direito de asilo”.
A segunda imagem refere-se à Praça de Sansão, atual Praça 8 de maio e foi retirada de Passado ao espelho. Máquinas e imagens das vésperas e primórdios da photographia, Coimbra, Museu de Física da Universidade de Coimbra, Coimbra, 2006, p. 60.
Praça de Sansão mercado
A Praça de S. Bartolomeu, Praça Velha ou Praça do Comércio era um dos locais onde, em Coimbra, se realizavam as trocas e a venda de produtos. A partir do momento em que este espaço se tornou exíguo para responder às necessidades da população aeminiense, a comercialização, sobretudo de aves e de grãos, transferiu-se, num primeiro momento, para a Praça de Sansão, atual 8 de maio. Posteriormente este “mercadinho” deslocou-se para a zona fronteira à esquadra da PSP e, e depois de 1867, instalou-se definitivamente mercado D. Pedro V.
À direita, a igreja de S. João, paroquial da freguesia de Santa Cruz (atual café), já se encontrava desativada, fora desamortizada e ali funcionava, ao tempo, um Armazem de Tecidos.
A fotografia é anterior a 1876, porque nesse ano se iniciou a construção do edifício da Câmara Municipal de Coimbra que aniquilou a parte esquerda do mosteiro, ainda intacta na imagem.
A terceira imagem que nos chamou a atenção é uma “Panorâmica de Coimbra” e encontra-se no catálogo Revelar Coimbra…, imagem 14.
Vista geral, 1860 c.
A foto, da autoria de Alfred Fillon, foi tirada c. de 1860. Numa rápida amostragem diremos que nela se pode ver, à direita, a ponte de pedra sobre o rio Mondego, o Largo da Portagem, a zona da Universidade com o Observatório Astronómico, riscado por Manuel Alves Macomboa, erguido na extremidade do Pátio e o complexo que pertencera outrora aos Jesuítas; mais para a esquerda fica a Torre de Anto, o Colégio da Sapiência e a Torre dos Sinos do mosteiro de Santa Cruz.
Visível ainda na imagem a Rua da Sofia com alguns dos seus muitos colégios e, mais em cima, uma estranha estrutura que deve ser constituída por muros da cerca de alguns colégios e suportes murados a formar socalcos que suportavam um frondoso olival outrora ali existente.
Algum tempo depois da extinção do mosteiro, ocorrida em 1834, resolveu a Câmara, em 13 de Junho de 1840, que as vendedeiras de cereais de Sansão passassem para o então denominado Pátio de Santa Cruz, situado no local que é hoje o início da Rua Olímpio Nicolau Rui Fernandes, entre a atual fachada lateral dos Paços do Concelho e o edifício fronteiro, onde se encontra instalada a P.S.P. Este último estava ligado à esquina do mosteiro, que a sede da edilidade veio substituir, por um edifício que mais tarde foi demolido, sendo a entrada para o pátio feita através de um arco nele existente … Não tardaria muito que o edifício de ligação fosse demolido, facto ocorrido em 1856 … nova alteração surgiu, com a mudança do mercado dos cereais para a antiga horta do mosteiro, pertença da Câmara.
… A horta de Santa Cruz estava longe de tudo (não nos esqueçamos que na época não existiam a atual Avenida Sá da Bandeira, a Praça da República e todas as ruas que nela convergem, constituindo todas essas artérias a antiga Quinta de Santa Cruz, então propriedade particular); o Bairro de Montarroio era então um pequeno aglomerado; o acesso à Alta era feito por um apertado caminho que ia dar à Rua do Colégio Novo. E a própria comunicação com a Baixa fazia-se por uma estreita ligação, que só mais tarde viria a ser alargada com a demolição do lanço norte do Claustro da Manga e do arco que o ligava ao edifício que é hoje a Escola Jaime Cortesão.
… No ano de 1882, é apresentada na sessão de 23 de Agosto uma proposta do Barão de Matosinhos, em que este solicita a concessão de um ascensor para acesso à Alta, construído a expensas suas. O referido ascensor, que facilitaria o acesso do público, ligaria o local junto à Fonte Nova até a Couraça dos Apóstolos. A ideia de então não iria avante, mas veio a ser concretizada nos nossos dias, quase 120 anos depois, com a construção do atual elevador.
… Os acessos da Baixa são em 1888 facilitados com o alargamento, já atrás referido, da então denominada Rua do Mercado, com a demolição das construções que fechavam pelo lado norte o Claustro da Manga, e do chamado Arco do Correio, que lhe ficava adossado, e que permitiria mostrar o Jardim, tal como hoje acontece.
…Procedera-se, entretanto, no ano de 1924, à mudança da Fonte Nova para junto do mercado, encostada ao muro da rua que tem o seu nome. Até então, encontrava-se no início da Avenida Sá da Bandeira, no local onde seria construído o prédio em que viria a funcionar o posto das Caixas de Previdência.
… Era então presidente da Câmara o Dr. Mendes Silva, que entre 1984 e 1986 viria a proceder a significativas alterações na zona envolvente do mercado. Foi o caso da colocação de painéis de azulejo, com reproduções de monumentos da cidade, da autoria de Amílcar Martins, no muro da cerca da Escola Jaime Cortesão, da construção duma escadaria no local em que se erguera a Torre de Santa Cruz, para onde foi transferida a Fonte Nova, o ajardinamento do espaço em frente do pavilhão do peixe.
Andrade, C.S. 2001. Mercado D. Pedro V. Uma História com História Texto publicado em suplemento especial no Jornal de Coimbra de 14 de Novembro de 2001
Face ao aumento da população e às novas condições, quer de mobilidade, quer económicas e sociais, a cidade tinha, forçosamente, de romper os seus limites … Em 1856, quando D. Pedro V visitou a cidade, já havia sido aberta, rompendo a unidade do conjunto outrora pertencente aos frades agostinhos, a rua Olímpio Nicolau Rui Fernandes, que passou a consentir a ligação da baixa à zona alta da cidade, até então apenas possível pela rua de Montarroio.
Por quantas vicissitudes passou o sexacentenário complexo fradesco!
Não se pode deixar de acentuar que a edilidade, ao modificar, arrasar, substituir, alterar as estruturas monacais e ao transformar a quinta anexa, destruiu, no bom e no mau sentido, possivelmente mais neste do que aquele, o património existente, transfigurando, mesmo a fisionomia da urbe.
A 18 de Março de 1875, a Câmara pede ao Rei licença para demolir uma parte do mosteiro crúzio, a fim de aí construir os novos Paços do Concelho e, a 22 de Junho de 1876, sob a presidência de Lourenço Almeida Azevedo, votou, por entre o ruído feito por uma parte da imprensa local que vivamente se insurgiu contra este e outros atos da administração municipal, a primeira verba para custear a demolição parcial do mosteiro, justamente a zona em que se deviam erguer os novos paços municipais. A casa da Câmara, inaugurada a 13 de Agosto de 1879, ostenta, a coroar a fachada principal as armas da cidade … Mas, mal as colocaram, logo o diretor de O Conimbricense, notando o erro existente no escudo, afirma que elas serão para os vindouros “o padrão do desleixo, incúria e ignorância” da vereação citadina de 1879.
…
A partir dos inícios da década de oitenta de Oitocentos, a Câmara começou a pensar seriamente em adquirir os terrenos fradescos, então já hipotecados pelo seu proprietário. Pretendia abrir aí vários arruamentos, construir um passeio público e um matadouro … O processo arrasta-se, mas a edilidade acaba por via a adquirir a quinta … No mesmo dia em que a Câmara toma conhecimento da compra da antiga cerca encarrega o engenheiro Adolfo Ferreira Loureiro de elaborar, sob a direção do presidente, um plano de benfeitorias (ou seja, de urbanização) da quinta, trabalho que aquele apresenta a 23 de Julho de 1885; apesar de só tardiamente vir a ser cumprido, até porque a Sá da Bandeira, antes de virar avenida foi rua, a verdade é que o produto final tem por base o plano de Loureiro, dado que este “traçou a partir do mercado uma grande avenida de 50 metros de largo que termina à entrada do jogo da bola da quinta por uma grande praça. Da praça partem simetricamente duas avenidas para Celas e para Sant’Ana e outras duas em direção aos arcos de S. Sebastião”.
… Em 1889 inicia-se o loteamento do Vale da Ribela e em Junho desse ano são postos em praça diversos espaços destinados à construção de moradias … Os trabalhos desenvolveram-se a bom ritmo e no mês de Dezembro, antes do Natal … inauguraram-se os arruamentos de Sá da Bandeira, de Alexandre Herculano, da Escola Industrial (Oliveira Matos), de Castro Matoso, de Tomar e de Almeida Garrett … “À noite foram pela primeira vez acessos os candeeiros de gaz na Praça D. Luís I (Praça de República), nas ruas Marquês de Sá da Bandeira e Alexandre Herculano”.
Anacleto, R. 2010. Coimbra entre os Séculos XIX e XX. Ruptura Urbana e Inovação Arquitectónica. In Caminhos e Identidades da Modernidade. 1910. O Edifício Chiado em Coimbra. Actas. Coimbra, Câmara Municipal de Coimbra, pg. 153, 155 a 158
… Dera-se, entretanto, um facto que não poder ser dissociado da história do Mercado D. Pedro V.
A chamada "Lei do Selo" agravava substancialmente os impostos, atingindo particularmente as vendedeiras do mercado, na generalidade de fracos recursos económicos. A aplicação de multas leva as padeiras de boroa das Carvalhosas, logo secundadas pelas vendedeiras de hortaliças e outras, a manifestarem-se ruidosamente no dia 11 de Março de 1903, frente aos Paços do Concelho e nas principais artérias da Baixa.
Coimbra ficou em verdadeiro estado de sítio, prosseguindo os tumultos nos dias seguintes, tendo o comércio fechado, bem como as fábricas e oficinas, movimentando-se milhares de pessoas, o que originou a vinda para a cidade de diversas forças militares.
O acontecimento, que ficou conhecido como a "Revolta do Grelo", viria a ter trágicas consequências, provocando mortos e feridos entre a população, sendo uma das mais violentas manifestações a que Coimbra assistiu.
A própria Universidade e o Liceu foram encerrados, tendo a Academia manifestado inequivocamente a sua solidariedade para com as vítimas da brutal repressão. E, na própria Câmara, na sessão de 14 de Março, em reunião extraordinária, os edis resolveram solicitar a revisão da lei que estivera na origem dos acontecimentos, pedindo ao presidente, Dr. Dias da Silva, ausente em Lisboa, para interceder junto ao governo, de modo a apaziguar os ânimos, para que a cidade retomasse a normalidade. E na sessão seguinte, em 20 de Março, o presidente relatou as suas diligências, tendo sido atendidas as reivindicações e suspenso o imposto que originara o conflito, reconhecendo-se que fora a sua criação e "mais ainda, o modo descaroável por que se pretendeu fazer a sua arrecadação, as causas principais, senão únicas, dos tumultos ultimamente levantados no concelho".
Andrade, C.S. 2001. Mercado D. Pedro V. Uma História com História Texto publicado em suplemento especial no Jornal de Coimbra de 14 de Novembro de 2001.
No princípio do século XX … mais um novo impulso iria ser dado com a elaboração do plano de um pavilhão para a venda de peixe … projeto da autoria do Arq.º Silva Pinto … Depois de alguns contratempos, viria a estar pronto em 1907, tendo um regulamento próprio.
... em 25 de Agosto de 1928: "As obras que se estão fazendo no mercado são mais importantes do que se supõe" … "Desaparecerão todas as tendas, barracas e alpendres que ali há. Será feita uma marquise sobre o mercado e outra sobre o recinto reservado à fruta e hortaliça na encosta da barreira, fazendo uma entrada para o mercado pelo lado do Colégio Novo" … em 17 de Dezembro … "Foram já postas a funcionar as barracas para venda de carneiro, miudezas, etc."
Desapareciam assim as decrépitas barracas que tantas críticas tinham merecido ao longo dos anos …durante o ano de 1930, continuam as obras, com a construção de um portão de ferro, uma nova cobertura do pavilhão do peixe e a abertura de mais um pavilhão.
… O certo é que o velho mercado a tudo ia resistindo, com a merecida fama de ser uma praça farta, com produtos cuja excelência era comummente reconhecida, desde as frutas e legumes dos férteis campos do Mondego, ao peixe que diariamente aí chegava vindo da Figueira da Foz …
… o Mercado do Calhabé, inaugurado em 1942, pela sua exiguidade, não contribuíra significativamente para atenuar a pressão que se fazia sentir no mercado principal.
… Chegados a 1982, o estado da velha praça suscita ao diretor do Centro de Saúde Distrital um ofício-exposição que envia à Câmara Municipal, documento analisado na sessão de 13 de Setembro, em que se alertava para que a edilidade atentasse "muito seriamente na transformação, remodelação ou melhor localização do Mercado D. Pedro V, cuja degradação se vem a verificar desde há anos".
Tornava-se, pois, imperiosa a necessidade da solução do problema. E, como resultado de estudos prévios, é apresentado, em 19 de Março de 1999, um plano de intervenção para a remodelação do Mercado D. Pedro V. Após uma introdução do presidente, Dr. Manuel Machado, o vereador Dr. Henrique Fernandes expôs o novo projeto, delineado pela Arq.ª Teresa Freitas … O empreendimento previa a demolição do muro da Rua Olímpio Nicolau Rui Fernandes, o recuo da superfície do mercado, estabelecimentos para o exterior, a construção de dois pisos e parques de estacionamentos subterrâneos, conservando-se apenas a estrutura existente do pavilhão do peixe … As obras …iniciaram-se em Outubro de 2000, tendo sido o mercado, nessa data, transferido provisoriamente para o edifício da antiga Fábrica Triunfo, na Rua dos Oleiros.
… em Outubro de 2000, fecharam-se pela última vez as portas do mais que centenário mercado. … o novo mercado … transformou o espaço num funcional e moderno local de comércio, num enquadramento que valoriza a área e os edifícios circundantes, atrativo e de acordo com as atuais exigências, pronto a receber de novo os vendedores e o ruidoso e colorido formigueiro humano tão característico, ontem como hoje, do Mercado D. Pedro V.
Andrade, C.S. 2001. Mercado D. Pedro V. Uma História com História.Texto publicado em suplemento especial no Jornal de Coimbra de 14 de Novembro de 2001.
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