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O Mercandó
O Mercandó, de cabeleira, um bom ratão, o velho porteiro do palácio dos Grilos, que faz lembrar um pouco o Chitó-ó-Chito, que divertia o público executando palhaçadas nas ruas e que linha também umas barbas esplêndidas e um rosto expressivo.
O Chitó-ó-Chito (Cliché de Rodrigues da Silva)
A Feliciana Pereira, uma velhota revelha, com umas certas pretensões de asseio; tinha sido criada do grande liberal de Ceira Victorio Telles, cuja cabeça se viu, durante algum tempo, espetada num pinheiro, a uma esquina do largo de Sansão, devido ás lutas apaixonadas e renhidas do seu tempo.
A Feliciana Pereira
Talvez por esse motivo liberal ferranha. Não tinha o menor pejo em correr a pau a garotada das ruas que lhe sabia da pecha e, ainda há bem pouco tempo, lhe atormentavam os ouvidos a toda a hora dando vivas ao senhor D. Miguel, o que para ela equivalia à mordedura venenosa e súbita de uma víbora.
Obteriam dela tudo quanto quisessem…, mas nada de ofender os seus
ideais políticos! Credo! Virgem Santíssima! Lá isso não!
A Maria do Gato Negro (Retrato a óleo de Eduardo Macedo)
A Maria do Gato Negro era uma outra velha que viveu em Coimbra e foi um dos tipos mais interessantes da sua época. Já lá vai isto há um bom par de anos! Vivia num casinhoto dentro da torre de Santa Cruz e, como numa noite lhe tivessem morto um lindo gato negro que muito estimava, foi tal a raiva que se apoderou dela que, jurando vingar-se, pelava-se toda por andar altas horas da noite percorrendo as vielas mais imundas á caça dos gatos. Bichinho que ela apanhasse a jeito tanta paulada lhe assentava no lombo que nem a alma se lhe aproveitava!... Os estudantes de então, conhecedores da mania dessa pobre mulher, para se divertirem á sua custa, encomendavam-lhe gatos mortos, que ela de muito bom grado lá ia distribuir pelas repúblicas, a troco de uns míseros vinténs que mal lhe chegavam para não morrer de fome ...
O Senhorinha (Retrato a óleo de Eduardo Macedo)
O Senhorinha, assim chamado pelos seus modos efeminados, era um zelador municipal que ia levar a sua cara metade com quem casara… por amor… a casa dos estudantes, sobraçando sempre o cavaquinho. O amor para ele não valia nada sem um bom acompanhamento...
Monteiro, M. Typos de Coimbra, In Illustração Portugueza, 40, Série II, Lisboa, 1907.01.28.
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