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A' Cerca de Coimbra


Quinta-feira, 08.06.17

Coimbra: Avenida Sá da Bandeira na leitura de um coimbrinha

Mão amiga enviou-me o texto de um artigo de autor só identificado pelas iniciais C e F, publicado no início do século XX que reflete, de uma forma expressiva, uma das facetas menos positivas de uma figura típica da nossa Cidade: o “coimbrinha” que crítica, crítica e... não passa da crítica!

Sendo um texto que reflete uma época, penso que pela sua graça importa rever e analisar.

 

A minha architectura. Raul Lino

No sud express de anteontem, chegou a esta cidade o architecto Raul Lino, artista de mérito e rapaz muito sympáthico, que eu tive o prazer de conhecer pessoalmente, e que, com mais um amigo meu, acompanhei num pequeno passeio pelo bairro de Santa Cruz, onde brevemente se levantaram algumas construcçõces delineadas por aquelle novo architecto.

Encaixados num caleche, sob um sol abrazador, aí pela 1 hora, passámos pela Avenida, e mostrámos-lhe, primeiro que as nossos bellezas architectónicas, aquella galeria de monstrosinhos, que os honestos, mas pouco artistas, mestres de obras, cá da terra, e mais alguns, têem ido poisando por êsse bairro de Santa Cruz fóra.

Manutenção. Anais. 1920-1939.TIF

Edifício da Manutenção Militar

 Apresentámos lhe aquelle mostrengo da padaria militar, sellado na frontaria, como todas as coisas, e fizemo lo admirar aquelle caprichosinho ingénuo e ridiculo, de uma casolita de boneca, feita de tijolo, e encarrapitada na chaminé da mesma padaria.

Teatro Avenida (Principe Real) a.jpg

Teatro Príncipe Real, depois Avenida

 Mostrámos lhe depois a pequena cartonagem da casa de bombeiros e a boceta - Theatro, barriguda e atarracada, como o Santos Lucas, e, por fim, aos pouco, fomos-lhe apontando aquellas frontarias chatas, em rectangulo, com janellas em rectangulo, e portas em rectangulo, monótonas variações sobre o mesmo thema, - o rectangulo, ou então construcções estylo cartão de visita, como espirituosamente lhes chama um amigo nosso.

Olhar de alguma consideração mereceu-nos apenas uma casa, que fica quasi ao meio da rua, e que é a melhor casinha do sitio.

Ao chegar ao largo, fallámos-lhe desta nossa geral e exaggerada preoccupação das frontarias, e do absoluto desprezo das fachadas lateraes, justificado, provavelmente, por uma razão análoga á que podem apresentar os sujeitos que não cuidam da roupa branca, porque ella se não vê.

Para confirmar as nossas maldizencias, apresentamos-lhe uma das fachadas dum grande edifício, pintado de côr de rosa, na frente, e de branco, nos lados, onde, aos zig-zags, corria a bicha amarella da do canno das latrinas, e onde, apenas se abriam umas estreitas frestas.

... Sou má lingua, e não percebo nada disto. Sou o que quizerem; mas deixem-me fallar.

Eu sempre embirrei com esta mania de pôr chalets numa rua urbana, com est’outra de trazermos para o seio do nosso clima ameno, edifícios carrancudos dos paises frios, com telhados de lousa, empinados por causa das neves ... Eu quero que a casa diga com o clima e com o morador.

Ver um castello no meio dum jardim, e avistar-lhe, nos minaretes, os calções e as fraldas dos meninos a enxugar, embirro.

Ver um brutamontes, mettido num destes edificiosinhos, caixas de bonbons, que a França nos tem mandado, estragando com as botifarras, o encerado do parquet, - ou arrotando, em mangas de camisa, os gazes do jantar na sua varanda janota, embirro.

Ver estas casas burguesas, pretenciosas, com ornamentações de mausoleu, embirro e embirrarei.

Quero luz, quero limpeza, quero hygiene. Concordo em que as janelas sejam bem rasgadas, os quartos amplos, as estrebarias em pavilhões affastados, as latrinas isoladas e as casinhas á parte. Mas não quero que se façam casas como quem faz caixotes.

... Diz se que a casa, que se suppõe ser nossa, existe lá fora, nas habitações da mesma epocha. Concordo; mas imprimimos-lhes ou não lhes imprimimos um cunho nosso? Adaptamo-las ou não?

... E agora, meus amigos. Terei dicto muita asneira, nesta minha carta; o Quim se cá estivesse talvez me tivesse puxado as orelhas, por castigo, mas, ao menos, fico com a consolação de que disse o que sentia.

F., C. A minha architectura. Raul Lino, “Resistencia”, Coimbra, 1902.09.28.

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por Rodrigues Costa às 10:52

Segunda-feira, 29.05.17

Coimbra: Manutenção Militar, reintegração no património municipal

 A comunicação social, noticiou, que o edifício onde estivera instalada a Manutenção Militar, sito na Avenida Sá da Bandeira, fora reintegrado no património da Câmara Municipal de Coimbra. Esse sucedimento ficou a dever-se, numa primeira conjuntura, ao facto de, na escritura assinada no ano de 1899 entre a edilidade aeminiense e o então Ministério da Guerra figurar uma cláusula que previa a reversão do imóvel para a posse da autarquia, no caso de o “antigo matadouro e respectivos terrenos contíguos” deixarem de ser utilizados para fins militares.

Manutenção. Anais. 1920-1939.TIF

Edificio primitivo da Manutenção Militar

 Na sequência da extinção das ordens religiosas acontecida em 1834, a Câmara de Coimbra tomou posse, em 15 de dezembro de 1836, dos edifícios, e não só, do extinto mosteiro de Santa Cruz que lhe haviam sido cedidos pelo Estado; contudo, devido a dúvidas e a abusos de diversa índole ... o governo fez publicar, a 30 de julho de 1839, uma carta de lei destinada a esclarecer que tinham sido concedidos ao município os edifícios do extinto mosteiro de Santa Cruz, com exclusão da igreja e suas dependências, o pequeno laranjal, a horta e a encosta que ficam contíguas aos mencionados edifícios e terminavam na estrada pública situada na zona da Fonte Nova.

 

Para além da rua que ligava a estrada de Montarroio à horta fradesca, mas ainda no âmbito dos terrenos pertencentes à Câmara, erguia-se o matadouro dos crúzios que, posteriormente, passou a funcionar como municipal. Esse terreno pertencia à edilidade que, após a retirada do matadouro cedeu, por escritura, o terreno, a fim de aí se ergueu o edifício da Manutenção Militar; o imóvel, ao longo dos anos, foi-se ampliando.

Manutenção Militar 1.jpgManutenção Militar, ainda se vislumbrando a antiga Viela do Hospício que

durante séculos serviu de saída da Cidade para Norte

 

Pretende, agora, a Câmara Municipal instalar no imóvel, para além de outras valências, os diversos núcleos do Arquivo Municipal que, ao presente, se encontram dispersos. Para além de dar vida a um imóvel que se encontrava inerte em pleno centro histórico vai facilitar o conhecimento e o estudo de um acervo muito valioso capaz de contribuir para o aprofundar do conhecimento histórico da nossa cidade.

Anacleto, R. In: Diário de Coimbra, 29563, Coimbra, 2017.05.26

 

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por Rodrigues Costa às 22:16


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