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A' Cerca de Coimbra


Quinta-feira, 16.01.20

Coimbra: O Tesouro da Sé de Coimbra, em 1906 3

 

Illustração Portugueza. p. 85 01.jpgIllustração Portugueza, 3, Primeiro semestre, 2.ª série, p. 85

Do século XII, a croça do báculo de S. Bernar¬do, em cobre dourado, e o belo cálice românico que na orla da base tem a legenda: «Geda Menendiz me fecit in onorem sci michaelis e MCLXXXX»;

Cálice românico.jpgCálice românico

Do século XIV, o relicário de coral e prata, a imagem da Virgem com o Menino ao colo e a cruz de ágata, objetos que pertenceram á Rainha Santa, e todos eles marcados com as armas de Portugal e de Aragão;

Relicário de coral e prata 01. Pertenceu à RainhRelicário de coral e prata que pertenceu à Rainha Santa

Do século XV, a grandiosa cruz processional cuja reprodução acompanha estas linhas;

Cruz gótica(1).jpgCruz processional

Do século XVI, a custódia tão sumptuosamente decorativa de D. Jorge d'Almeida, uma caldeirinha de prata com o brasão do mesmo Prelado, uma riquíssima coleção de cálices, e a bacia e gomil também aqui reproduzidos em gravura; do século XVII, a grande custódia e a cruz-relicário do Bispo D. João Manuel, o relicário de Santa Comba e uma grande cruz de azeviche; finalmente, do século XVIII, o jogo de sacras em prata e lápis-lazúli.
Na secção dos paramentos, figura, em primeiro lugar, a capa da abadessa de Lorvão, com sebastos soberbamente bordados, e na das tapeçarias um pano flamengo, representando Marte o Vénus surpreendidos por Vulcano, e uma alcatifa persa, em seda, verdadeira maravilha de brilho e cor.
Referindo-se ao Tesouro da Sé, escrevia há meses o sr. Joaquim de Vasconcelos: «Quem subscreve «estas linhas teve ensejo de visitar repetidas vezes os museus capitulares de alguns dos cabidos mais ricos da Europa; pode comparar sem prevenções e julgar do valor das obras expostas por experiência própria e por algum estudo, adquirido durante longos anos de pacientes investigações; não hesita, contudo, em afirmar que o Museu de Coimbra rivaliza com os mais opulentos».
O mesmo ilustre crítico escrevera também na «Arte e Natureza em Portugal»: «A criação do Museu é um exemplo preclaro, dado aos restantes prelados portugueses, que podem e devem abrir, os tesouros das catedrais ao estudo. O senhor Bispo-Conde soube achar em Coimbra o artista erudito, competente para a difícil obra da Sé Velha. Temos fé que encontrará, sem sair de Coimbra, o arqueólogo sagaz e bem informado, que deve inventariar num índice impresso, luminoso, manuseável o barato as incomparáveis riquezas do museu diocesano».

Castro, E. O Thesouro da Sé de Coimbra. In Illustração Portugueza, 3, Primeiro semestre, 2.ª série, Lisboa, 1906, p. 84-87.

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por Rodrigues Costa às 09:48

Quinta-feira, 09.01.20

Coimbra: O Tesouro da Sé de Coimbra, em 1906 2

Illustração Portugueza. p. 86 01.jpg

Illustração Portugueza, 3, Primeiro semestre, 2.ª série, p. 86

A primitiva instalação constava apenas de duas salas: na primeira, estavam as tapeçarias e os paramentos; na segunda, as peças de ouro e prata.

Capa da Abadessa de Lorvão.jpg

Capa da Abadessa de Lorvão

No entanto os últimos conventos iam acabando, e, à proporção que acabavam, ia a coleção crescendo. Não sem o obstáculo de alguns respeitáveis pedregulhos, cuja remoção não foi das mais fáceis, de Lorvão, de Semide, de Santa Clara, de Tentúgal e de Vila Pouca vinha correndo para o Tesouro da Sé uma rutilante enxurrada de alfaias preciosas, relicários, cibórios, turíbulos, cálices, gomis, frontais e dalmáticas, numa estranha confusão em que o ouro, a prata, as pedrarias e os esmaltes se misturavam com o veludo, a seda, a tartaruga, o coral e a malaquite.

Exposição de vários objetos religiosos.jpg

Exposição de vários objetos religiosos

A acumulação tornara-se excessiva. Ousadamen¬te, se rasgou en¬tão uma ampla galeria contigua às duas salas, e ao longo dela se dispuseram, em vitrines, os objetos mais preciosos. Entro estes, alguns há que lu¬ziriam como estrelas de primeira grandeza nos mais ricos museus do estrangeiro. Dadas as di¬mensões naturalmente estabelecidas para este ar¬tigo, apenas mencionarei as peças mais notáveis pe¬la beleza e pelo valor histórico.

Castro, E. O Thesouro da Sé de Coimbra. In Illustração Portugueza, 3, Primeiro semestre, 2.ª série, Lisboa, 1906, p. 84-87.

 

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por Rodrigues Costa às 09:26

Quinta-feira, 04.04.19

Coimbra: Edifício na Alameda Júlio Henriques

Um leitor do blogue A’Cerca de Coimbra questionou-me acerca do edifício onde atualmente funciona a Administração Regional de Saúde do Centro. Indagando, consegui reunir algumas informações relacionadas com o mesmo.

Elemento destacado no largo de São João, a que se junta a fachada da igreja de São João de Almedina, o paço episcopal é digno de referência em diferentes autores nos finais do século XIX, que enaltecem a sua qualidade estilística maioritariamente assente no período maneirista. No «Roteiro Illustrado do Viajante em Coimbra», publicado nos finais de 1894 António Augusto Gonçalves … aponta os efeitos negativos de uma «moderna e insensata renovação do lanço norte», e aponta [o] preocupante estado de conservação do edifício, aludindo-o nos seguintes termos «O palácio está em ruína; parte do interior inhabitavel e a reforma é instante»

Paço episcopal. Finais do XIX.JPG

Paço episcopal, fotografia do Álbum de Jorge Oliveira

A presente citação de Gonçalves revela uma alusão, ainda que de modo subtil, às vicissitudes do recinto nos finais de oitocentos, alvo de uma polémica reforma que marcou de forma irreversível o bloco norte do paço episcopal. A referida centúria trouxe períodos conturbados ao referido edifício … Após a saída de D. Joaquim de Nossa Senhora da Nazaré, a 7 de Maio de 1834, a residência episcopal sofreu as intempéries de um espaço desocupado, como mais tarde historiou António de Vasconcelos: «A soldadesca e a populaça invadiram o paço episcopal desabitado, e principiaram a roubar e a estragar tudo, arrombando portas, escalando janelas, etc.

Paço episcoal e arco.jpgPaço episcopal. Finais do XIX

… O Estado tomou posse do imóvel … e um regimento de cavalaria chegou a usufruir dos seus espaços até aos primeiros anos da década de 1850, época em que a mitra voltou aos antigos aposentos, através dos esforços levados a cabo pelo bispo D. Manuel Bento Rodrigues da Silva.

D. Manuel Correia de Bastos Pina (O Occidente, 190

D. Manuel Correia de Bastos Pina

No início da vigência do prelado D. Manuel Correia de Bastos Pina foi tomada a decisão de desocupar o palácio episcopal e reconstruir um novo edifício, destinado às mesmas funções, nas proximidades do mosteiro de Santa Ana. Esta solução apresenta-se no periódico «O Conimbricense», a 21 de outubro de 1873, como uma ideia salutar. Adjetivando o paço de «indecoroso pelo estado em que encontra».
… No mesmo sentido, foi levada a cabo uma proposta de lei, apresentada, a 20 de fevereiro de 1874, pelo governo à câmara dos deputados, consentindo ao prelado diocesano a venda do velho paço episcopal e a aplicação dos lucros obtidos nas expensas necessárias à edificação do novo.
… A edificação do novo edifício na cerca do mosteiro de Santa Ana iniciou-se nos finais da década de 1870, a partir de um projeto de Matias Cipriano Pereira Heitor de Macedo. A constante paragem das obras por falta de verba e o desagrado de D. Manuel Correia de Bastos Pina em relação a diversos aspetos do plano (1) levaram à desistência por parte do antístite, da ocupação do novo paço e, mais tarde, à consequente reconversão deste, sob expensas do Estado, no intuito de albergar um hospital para coléricos.

Edificio a ARS.JPGEdifício da Administração Regional de Saúde do Centro. Fachada principal

Nos dias-de-hoje são visíveis as marcas da função original, através das insígnias do citado bispo insculpidas no frontão triangular da fachada principal do edifício que alberga a Administração Regional de Saúde do Centro.

Frontão com as armas episcopais.JPGEdifício da Administração Regional de Saúde do Centro. Fachada principal, frontão com as armas epicopais de D. Manuel Correia de Bastos Pina

XXX

Porque o governo se tinha apoderado do paço episcopal, que viria a ser ocupado como museu, foi no seminário que se instalou o prelado quando, no final de 1912, voltou a Coimbra.

2017-09-05 14.25.06.jpgResidência episcopal no Seminário de Coimbra

(1) Segundo Milton Pedro Dias Pacheco, «Paira ainda hoje na memória dos eclesiásticos diocesanos … que Dom Manuel recusara o edifício por um simples motivo: o facto de lhe ter sido sempre negada a participação na traça arquitetónica do edifício, principalmente na organização interna das várias dependências e que viria a culminar na inadequação para receber os vários serviços da chancelaria episcopal.»

Freitas, D.M.R. 2014. Memorial de um complexo arquitectónico enquanto espaço museológico: Museu Machado de Castro (1911-1965). Tese de doutoramento em Letras, área de História … apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Vol. I, pg. 208-210 [policopiado]
Ramos, A.J. 1995. O Bispo de Coimbra D. Manuel Correia de Bastos Pina. Dissertatio ad Doctoratum in Facultate Historiae Ecclesiasticae. Ponttificiae Universitatis Gregorianae. Coimbra, Gráfica de Coimbra

Nota: Temos memória de neste edifício ter funcionado, durante muitos anos a Maternidade dos HUC e, posteriormente, o serviço de Ortopedia e simultaneamente ou posteriormente, algumas outras enfermarias, uma das quais a de Urologia.

 

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por Rodrigues Costa às 18:40


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