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Na sequência da entrada anterior continuamos hoje a analisar o livro Inventário da Documentação de Turismo no AHMC, título omisso nas balizas temporais a que se reporta.
Contudo, na pg. 15, informa-se o leitor que na segunda parte, elaborámos o Inventário Documental de cada uma das instituições de Turismo de Coimbra, que constituíam o conjunto acumulado: a Comissão de Iniciativa e Turismo (CIT), 1923-1936 e a Comissão Municipal de Turismo (CMT), 1937-1983, respetivamente.
Na realidade, o livro encontra-se assim organizado: Da p. 15 à p. 54 pode ler-se uma resenha histórica da atividade desenvolvida pela Comissão de Iniciativa e Turismo (CIT), 1923-1936, seguida do inventário dos documentos relativos a este período, ocupando as páginas compreendidas entre a 55 e a 76. Seguidamente é feita uma análise similar à anterior, relativamente à Comissão Municipal de Turismo (CMT), 1937-1983 e que se estende até à p. 132. Segue-se o inventário documental relacionado com este lapso de tempo.
O trabalho técnico de inventariação, no que respeita ao material que lhe serviu de suporte, mostra grande qualidade e excelente adequação.
Como já referimos, fomos o responsável pelos serviços municipais de turismo no período que decorre entre 1977 e 1988.
O volume que estamos a analisar e que apresenta, repita-se, o título Inventário da Comissão Municipal de Turismo, insere na página 132 uma folha com um subtítulo, onde se lê: Inventário.CMT.1937-1983. Como se compreende, e dado que fomos responsáveis por esses serviços entre 1977 e 1988, período temporal que fica incluído entre 1937 e 1983, o trabalho colocado em letra de forma, mereceu-nos particular atenção.
A sua consulta levou-nos a constatar que nesse Inventário se encontra omitido a esmagadora maioria um significativo número de processos respeitantes ao período situado entre 1974 e 1983, processos esses que se encontravam devidamente organizados e arquivados e que patenteavam evidente e relevante interesse histórico. Em suma, os anos em que tive a honra de dirigir aqueles serviços foram, pura e simplesmente ignorados.
Baseio esta afirmação baseio nos factos que seguidamente enuncio:
- Até à minha saída da chefia do Departamento de Cultura, Desposto e Turismo, acontecida em 2 de janeiro de 1989, os processos encontravam-se todos devidamente referenciados e arquivados, existindo um funcionário que tinha como principal incumbência a organização do arquivo.
- Face à exiguidade de espaço onde, no Largo da Portagem, funcionavam os Serviços de Turismo e ao grande volume do “arquivo morto” referente ao período anterior a 1974, construiu-se nas instalações do horto municipal, ao tempo sediado em Bencanta, um edifício pré-fabricado destinado a guardar convenientemente não só essa documentação, mas também as caixas reservadas para conter os materiais utilizados nas 16 exposições das técnicas artesanais da Região de Coimbra, organizadas pelos serviços de Turismo; estas mostras foram apresentadas, num primeiro momento no edifício Chiado e, posteriormente, na Casa do Artesanato, ao tempo a funcionar na Torre de Anto. Acrescente-se, ainda, que havia interesse em acondicionar convenientemente este material, porque as referidas Exposições, posteriormente, eram disponibilizadas às Escolas.
- No referido livro, entre as páginas 177 e 185, encontram-se arroladas as exposições apresentadas na sala de exposições do Turismo no período que medeia entre 1955 e 1977. Mas as que decorreram, tanto na sala de exposições do Posto de Turismo, como as acontecidas no edifício Chiado depois daquela data, não são mencionadas.
Esta análise leva-nos a concluir a existência de um trabalho de inventariação documental de excelente qualidade no que respeita aos espécimes tratados e a constatar que o material que serviu de suporte ao livro, assentou, exclusivamente, na documentação, que se encontrava guardada no referido pré-fabricado e que, recorde-se, tinha o seu terminus em 1977.
Deve, no entanto, referir-se que, para o mesmo local, foi transportada, posteriormente, a documentação relacionada com 3 processos que diziam respeito aos Encontros de Fotografia e ao Festival Internacional do Filme Amador de Coimbra, eventos acontecidos em torno de 1980, por os mesmos serem muito volumosos e, consequentemente exigirem um espaço que as instalações do Turismo não podiam disponibilizar e também por já se encontrarem encerrados.
Sublinhe-se que o bem elaborado Inventário CMT 1937-1983, inserido no livro a partir da página 133 se encontra perfeitamente ajustado à documentação trabalhada (que termina em 1977, data a partir da qual só refere os 3 processos atrás referidos, bem como documentação de índole administrativa). Contudo, não se pode escamotear que a atividade desenvolvida pelos Serviços de Turismo, com as diversas designações que, depois de 1974, foi tendo ao longo do tempo, ultrapassa, em muito, o que ali é mencionado.
Na página 112 do livro encontra-se o título Exposições a que se seguem três parágrafos, pretendendo, os dois primeiros, enquadrar os eventos levados a cabo na chamada Sala de Exposições do Posto de Turismo. Mas o terceiro e último item afirma:
Estas exposições continuaram a ser organizadas pelos Serviços Municipais cooperando, ou não com outros organismos públicos ou privados. Em Maio de 1980 realizaram-se os «I Encontros de Fotografia de Coimbra», com o auxílio do Centro de Estudos de Fotografia da Associação Académica de Coimbra; com o Centro de Estudos Cinematográficos da referida academia promoveram o «FIFAC (Festival Internacional do Filme Amador de Coimbra)».
Este parágrafo merece uma nota explicativa e corretiva, porque se as referidas iniciativas nasceram de conversas e sugestões vindas dos membros dos referidos Centros, a verdade é que a sua organização, embora para as edições de 1980 e de 1981 tivesse contado com elementos daqueles Centros nos júris, decorreu, na integra, sob a responsabilidade dos serviços municipais e foram totalmente financiadas pelo erário municipal.
O trabalho apresentado no livro sobre o qual nos temos vindo a debruçar não pode deixar de ser tido em conta, mas também não pode deixar de se lamentar o inaproveitamento da ocasião para dar a conhecer as realizações acontecidas depois de 1977, período em que se organizaram diversas iniciativas relevantes, das quais existem os respetivos processos que, na nossa ótica, dado o seu valor histórico, devem ser, necessariamente, salvaguardados. Elencamos, seguidamente, alguns exemplos que confirmam o que dissemos:
- Processo relacionado com criação da Região de Turismo do Centro, iniciado cerca de 1978 a partir de uma decisão da Comissão Municipal de Turismo, então presidida pelo Dr. António José Teles Grilo, e liderado até sua formalização pela Câmara Municipal de Coimbra. Voltaremos a este processo em momento oportuno.
- Realização, a 7 e 8 de janeiro de 1978, do Seminário sobre “Etnografia e o Folclore de Coimbra e seu termo” e organização dos processos que daí decorreram relativos ao “Esquema de apoio ao Folclore da Região de Coimbra” e à “Recuperação da viola toeira coimbrã”.
- Seminário sobre “O Fado. Seu passado. Seu futuro”, ocorrido em maio de 1978.
Faria, F. Fado de Coimbra ou Serenata Coimbrã. 1980, Coimbra, Comissão Municipal de Turismo.
- Realização, de 8 a 11 de novembro de 1979, de um Colóquio sobre “Artesanato” e a concretização dos processos daí decorrentes relacionados com a criação da “Casa do Artesanato da Região de Coimbra” que, de 1979 a 1995, funcionou no edifício da Torre de Anto e ainda da concretização das já referidas dezasseis “Exposições sobre as Técnicas Tradicionais da Região de Coimbra”.
Relacionadas com estas Exposições importaria saber onde se encontra o material que as integrava, até porque, há já algum tempo, me foi referido que estaria guardado nos baixos do silo de livros da Biblioteca Municipal.
Manuel Antunes de Carvalho na baixa coimbrã. In: Cruz, M. 2008. Pingos de Solda. Pingos de Saudade. Cernache, Freguesia de Cernache, pg. 62
- “Cursos de Guitarra Clássica de Coimbra” e “Concursos Internacionais de Guitarra Clássica de Coimbra”, realizados entre 1976 e 1986.
- Em maio de 1979 aconteceu o “II Seminário sobre o Fado de Coimbra” e, na sequência, funcionou no Edifício Chiado, entre 1979 e 1981, uma Escola de Fado.
- O “I Encontro sobre a Salvaguarda do Património Cultural” decorreu em dezembro de 1980.
- Em janeiro de 1981 decorreram as “Jornadas sobre a Cerâmica em Coimbra” e as comunicações aí apresentadas foram publicadas em livro financiado pela Comissão de Coordenação Regional de Coimbra.
- O “Seminário sobre a recuperação do Centro Histórico de Coimbra” teve lugar em fevereiro de 1982.
- Já depois de 1977 levaram-se a cabo numerosas ações no âmbito das “Cidades Geminadas”.
Boletim das Relações Internacionais de Coimbra, capa. Número 1, abril de 1982
- A “1.ª Quinzena da Guitarra Clássica” decorreu de 3 a 18 de setembro de 1983.
1.ª Quinzena da Guitarra Clássica, brochura promocional, capa
- Realizaram-se quatro edições das exposições denominadas “Salão de Pintura Naïve”.
- Recuperação e divulgação da Doçaria Tradicional de Coimbra.
- Com o tema «Descobrir Coimbra», obviamente relacionado com a História da cidade, realizou-se um ciclo de palestras que contou com 20 conferências.
- Instituiu o Prémio Literário “Miguel Torga Cidade de Coimbra”, que teve a sua primeira edição no ano de 1984.
- O “Museu dos Transportes Urbanos” funcionou de 16 de agosto de 1982 até dezembro de 2000. Este tema será objeto de entradas a publicar proximamente.
Museu dos Transportes Urbanos de Coimbra
- Entre 8 e 17 de junho de 1984 realizou-se, no Casino do Estoril, a “Semana de Coimbra”.
Este simples enunciado – que poderia ser mais alargado - penso que seja suficiente para se compreender a importância desta documentação e a necessidade de a depositar no Arquivo Histórico Municipal de Coimbra, a fim de a salvaguardar e de tornar a sua consulta acessível ao público interessado.
Rodrigues Costa
Manuel Antunes de Carvalho, nasceu em Condeixa-a-Nova … a 12 de Dezembro de 1919 … conhecido, sobretudo, pelos nomes de “Luís Antunes” ou “Ti Luís Latoeiro” … filho de uma família tradicional e abastada … (em que) diz terem havido “18 latoeiros, dos quais só resta ele”.
Era filho de Raúl Antunes Xavier que foi Conservador no Registo Predial de Condeixa … e neto materno de António Pinho de Carvalho, famoso latoeiro do Bordalo, Santa Clara … e neto paterno … apesar de “compreensivelmente”, constar da sua certidão de nascimento a informação que é neto paterno de “avô incógnito” … do famoso Dr. João Antunes mais conhecido pelo “Padre Boi” … Padre, licenciado em Direito e Teologia, conservador do registo predial, professor, escritor, músico e compositor…
Muitos traços do avô, não só físicos mas também de personalidade, aplicam-se ao neto. Ele era uma espécie de espelho mais antigo vindo de outra época, com outras ideias e sensibilidades.
… A sua casa, em Cernache, tem normalmente, a porta entreaberta facilitando a visita habitual de inúmeros amigos … imediatamente percebemos que estamos perante um artesão respeitado e considerado por todos. As paredes estão repletas de documentos, fotografias, diplomas e homenagens que contam histórias de 80 anos de profissão e de quase 90 de vida … “Manuel Antunes de Carvalho, o último dos latoeiros”. É nas traseiras desta casa … que tem a sua oficina – a latoaria, onde continua a passar horas a fio. Nas suas paredes estão inúmeros moldes alguns “com mais de cem anos”, conta.
E por Cernache ficaria, adotando esta terra como sua e elevando o seu nome através da sua nobre arte que já dominava como poucos. Trabalhando e participando em feiras, exposições e outros eventos.
… Exigente e comunicador por excelência, para Manuel Antunes de Carvalho, ensinar a sua arte era uma alegria. Tal como afirma sem hesitar, “ser Artesão tem de ser uma paixão. Uma dedicação” … entregou-se de corpo e alma à arte … exímio na sua arte. Fazia trabalhos que poucos latoeiros se atreviam a fazer, devido à sua complexidade, exigiam uma técnica muito apurada e levavam muito tempo a realizar … cada vez que um utensílio não lhe saía como desejava, esmagava-o imediatamente à martelada.
… possui uma cultura literária elevada e, talvez por isso, é detentor de uma prosa vibrátil e vernácula, que embeleza as cenas pertencentes a um passado que consegue valorizar, a cada conversa …
A latoaria era a sua vida, a música a sua grande paixão e ficou mesmo conhecido em muitos lugares por onde passou, como “fadista de Coimbra” … Curiosamente, só começou a cantar depois do 25 de Abril de 1974 mas cantou por todo o país … Músicas como “A Senhora da Serra”, “O meu menino é de oiro” ou “Subi ao céu” eram algumas das canções que faziam parte do seu repertório … Para além do fado, cantava baladas que ninguém conhecia, pois, eram do seu avô e muitas não ficaram escritas.
Um breve acrescento:
No exercício das minhas funções no Departamento de Cultura da Câmara de Coimbra tive ocasião de conviver com o Ti Luís.
Homem por inteiro e um artesão de grande mérito.
Sempre disponível, sempre ansioso de fazer mais e melhor, sempre desejoso de ensinar a sua arte, nomeadamente, às crianças.
Generoso e extrovertido era um homem bom que um dia acompanhei à sua última morada.
Cruz, M. P. F. O. P. 2008. Pingos de solda, pingos de saudades! Coimbra, Junta de Freguesia de Cernache. Pg. 37 a 59
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