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Apresentamos o trabalho de investigação realizado pelas Dr.ªs Ana Margarida Dias da Silva e Maria Teresa Gonçalves, Técnicas do Departamento de Ciências da Vida, sobre a redescoberta de um conjunto de desenhos, maioritariamente inéditos, sobre a construção do Jardim Botânico.
Op. cit., capa
Maria Forjaz Sampaio (1838, junho). Vista do Jardim Botânico a partir da Couraça de Lisboa. Op. cit., pormenor da capa
No ano em que se celebram os 250 anos da reforma pombalina da Universidade de Coimbra (UC), o Departamento de Ciências da Vida (DCV) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC (FCTUC), traz à estampa uma coleção de 40 desenhos do Jardim Botânico da UC, 35 dos quais inéditos.
Mapa do pedaço de cerca do colégio de S. Bento de Coimbra deu à Universidade para nele se fazer o Horto Botânico no ano da Reforma de 1772 para 1773 anos. Autor: Manuel Alves Macomboa. (1772-1773). Op. cit., pg. não numerada.
Esquecidos nos depósitos da biblioteca do antigo Instituto Botânico durante décadas, são agora resgatados ao esquecimento e do desconhecido quatro dezenas de desenhos de tipologia muito diversa. Em conjunto abarcam um arco temporal de quase 200 anos: desde a escolha, logo em 1772, do “lugar, que se achar mais proprio, e competente nas vizinhanças da Universidade” (Estatutos, Título VI, Cap. II, 1772, 391) para se instalar o jardim, até às “obras de arranjo e aformoseamento” empreendidas pela Comissão Administrativa do Plano de Obras da Cidade Universitária de Coimbra (CAPOCUC), nas décadas de 1940-1950.
…. Para além de publicações sobre a história e as etapas de construção do Jardim Botânico, recorremos também às fontes manuscritas do Arquivo de Botânica da Universidade de Coimbra (ABUC)5. A única menção a desenhos do jardim encontra-se num inventário de 1867, realizado por Júlio Henriques enquanto elemento de uma Comissão Administrativa do Jardim (1867-1868), que comprova a existência, à data e no edifício do colégio de S. Bento, de “12 estampas com riscos e planos do Jardim Botânico em mao estado”.
Planta do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra em 1807. Autor: [?]. Data: [séc. XX?]. Op. cit., pg. não numerada.
Desenho do patamar superior do lado dos Arcos do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra. Autor: [?] Data: 1857 Op. cit., pg. não numerada.
…. O presente catálogo reúne a totalidade dos desenhos (incluindo plantas, alçados e cortes) do Jardim Botânico pertencentes ao DCV9, incluindo os cinco já conhecidos e 35 inéditos (três desenhos do século XVIII, 27 do século XIX e 10 do século XX) e tem como objetivo disponibilizar, também on-line e em acesso aberto, fontes iconográficas escolhidas para o Jardim Botânico.
Projecto para a construção de uma casa para a ampliação do gabinete de trabalhos práticos de “Botânica” “no Jardim Botânico de Coimbra”. Autor: António Augusto Pedro (construtor civil). Data: 1912, janeiro, 10. Op. cit., pg. não numerada.
Esperamos que a feliz descoberta deste conjunto de desenhos inéditos no ano em que se assinalam os 250 anos da reforma pombalina da Universidade de Coimbra, e bem assim da fundação do seu jardim, contribua para o melhor conhecimento e novas leituras sobre o que foi idealizado e/ou projetado, o que foi aprovado e o que foi, efetivamente, construído, moldando o Jardim Botânico que hoje conhecemos, simultaneamente espaço de ciência, coleção biológica e um espaço emblemático da Universidade e da cidade de Coimbra.
Silva, A.M.D. e Gonçalves, M.T. Catálogo dos Desenhos do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra. Coleção do Departamento de Ciências da Vida (Séculos XVII a XX). 2022, Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra.
Apresentamos o trabalho de investigação realizado pelas Dr.ªs Ana Margarida Dias da Silva e Maria Teresa Gonçalves, Técnicas do Departamento de Ciências da Vida, sobre a redescoberta de um conjunto de desenhos, maioritariamente inéditos, sobre a construção do Jardim Botânico.
Op. cit., capa
Maria Forjaz Sampaio (1838, junho). Vista do Jardim Botânico a partir da Couraça de Lisboa. Op. cit., pormenor da capa
No ano em que se celebram os 250 anos da reforma pombalina da Universidade de Coimbra (UC), o Departamento de Ciências da Vida (DCV) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC (FCTUC), traz à estampa uma coleção de 40 desenhos do Jardim Botânico da UC, 35 dos quais inéditos.
Mapa do pedaço de cerca do colégio de S. Bento de Coimbra deu à Universidade para nele se fazer o Horto Botânico no ano da Reforma de 1772 para 1773 anos. Autor: Manuel Alves Macomboa. (1772-1773). Op. cit., pg. 56.
Esquecidos nos depósitos da biblioteca do antigo Instituto Botânico durante décadas, são agora resgatados ao esquecimento e do desconhecido quatro dezenas de desenhos de tipologia muito diversa. Em conjunto abarcam um arco temporal de quase 200 anos: desde a escolha, logo em 1772, do “lugar, que se achar mais proprio, e competente nas vizinhanças da Universidade” (Estatutos, Título VI, Cap. II, 1772, 391) para se instalar o jardim, até às “obras de arranjo e aformoseamento” empreendidas pela Comissão Administrativa do Plano de Obras da Cidade Universitária de Coimbra (CAPOCUC), nas décadas de 1940-1950.
…. Para além de publicações sobre a história e as etapas de construção do Jardim Botânico, recorremos também às fontes manuscritas do Arquivo de Botânica da Universidade de Coimbra (ABUC)5. A única menção a desenhos do jardim encontra-se num inventário de 1867, realizado por Júlio Henriques enquanto elemento de uma Comissão Administrativa do Jardim (1867-1868), que comprova a existência, à data e no edifício do colégio de S. Bento, de “12 estampas com riscos e planos do Jardim Botânico em mao estado”.
Planta do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra em 1807. Autor: [?]. Data: [séc. XX?Op. cit., pg.
Desenho do patamar superior do lado dos Arcos do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra. Autor: [?] Data: 1857. Op. cit., pg.
…. O presente catálogo reúne a totalidade dos desenhos (incluindo plantas, alçados e cortes) do Jardim Botânico pertencentes ao DCV9, incluindo os cinco já conhecidos e 35 inéditos (três desenhos do século XVIII, 27 do século XIX e 10 do século XX) e tem como objetivo disponibilizar, também on-line e em acesso aberto, fontes iconográficas escolhidas para o Jardim Botânico.
Projecto para a construção de uma casa para a ampliação do gabinete de trabalhos práticos de “Botânica” “no Jardim Botânico de Coimbra”. Autor: António Augusto Pedro (construtor civil). Data: 1912, janeiro, 10. Op. cit., pg.
Esperamos que a feliz descoberta deste conjunto de desenhos inéditos no ano em que se assinalam os 250 anos da reforma pombalina da Universidade de Coimbra, e bem assim da fundação do seu jardim, contribua para o melhor conhecimento e novas leituras sobre o que foi idealizado e/ou projetado, o que foi aprovado e o que foi, efetivamente, construído, moldando o Jardim Botânico que hoje conhecemos, simultaneamente espaço de ciência, coleção biológica e um espaço emblemático da Universidade e da cidade de Coimbra.
Silva, A.M.D. e Gonçalves, M.T. Catálogo dos Desenhos do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra. Coleção do Departamento de Ciências da Vida (Séculos XVII a XX). 2022, Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra.
É a igreja de S. Bartolomeu talvez a de mais antiga história na cidade. Já existia em 957, pois, em 2 de novembro desse ano, foi doada ao mosteiro de Lorvão pelo presbítero Samuel, por mando do presbítero Pedro, em risco de morrer. Antes tinha sido dedicada a S. Cristóvão. A doação incluía também a igreja de S. Cucufate, com todas as suas vinhas e hortas que se encontravam em redor. O grande chefe mouro Almançor conquistou e arrasou Coimbra em 987. A igreja de S. Bartolomeu não deve ter sido poupada, pois que a vemos novamente doada a Lorvão em 1109, o que indica reconstrução. A doação de 1 de janeiro de 1109 é feita pelo presbítero Aires e nela são citados os ornamentos, móveis e imóveis.
Estas primitivas igrejas, cujos vestígios arqueológicos se encontram sob o pavimento da atual, depois de escavações levadas a cabo em 1979 e 1980, mas nunca publicadas, tinham entrada para poente e não para o lado da praça. No século XVIII a igreja ameaçava ruir, pelo que em 5 de junho de 1755 se fez a trasladação do SS. e das imagens de Cristo e Nossa Senhora para o antigo Hospital Real, donde passaram para a Misericórdia, iniciando-se de imediato a demolição do velho edifício românico. A primeira pedra da igreja atual foi lançada em 16 de julho de 1756, sendo arquiteto Manuel Alves Macomboa.
Igreja de S. Bartolomeu, vista aérea
A planta do novo edifício é de grande simplicidade, articulando em retângulo a nave com a capela mor. Amplas janelas inundam e unificam o interior de uma luz homogénea, bem característica da época rococó em que se fez a reedificação.
Igreja de S. Bartolomeu, torre sineira
A fachada enobrece o topo da praça, com suas duas torres sineiras coroadas de fogaréus e cúpula bolbosa. No século XIX construíram a casa da esquina com a rua dos Esteireiros, que lhe rouba parte da monumentalidade. O portal é ladeado por colunas dóricas onde assenta uma varanda de balaústres em forma de vaso chinês, diferentes dos da balaustrada que une as duas torres.
Igreja de S. Bartolomeu, capela-mor e retábulos laterais
O interior é sóbrio apenas se destacando as cantarias dos púlpitos, portas, janelas e arcos das capelas. O arco da capela-mor é em asa de cesto, sobre entablamento peraltado, assentando em pilastras mais cuidadas. O retábulo-mor domina todo o espaço, captando a atenção. Foi executado pelo notável entalhador de Coimbra João Ferreira Quaresma, contratado em 20 de dezembro de 1760, com a obrigação de consultar o arquiteto Gaspar Ferreira, para que ficasse como o de Santa Cruz. A fortíssima impressão causada pelo retábulo de Santa Cruz fez dele o pai de imensa prole que se estendeu de Coimbra a todas as Beiras, originado o estilo do rococó coimbrão. O mesmo João Ferreira Quaresma executou as cadeiras do coro e os arcazes da sacristia. O retábulo tem dois pares de colunas por banda, sobre alto embasamento. O coroamento, em frontão interrompido, de elaboradas formas, abriga glória solar ladeada de anjos com palmas. Marmoreados e dourados dão realce a todo o conjunto e emolduram a boca da tribuna, preenchida com uma tela de Pascoal Parente, representado o martírio de S. Bartolomeu.
Igreja de S. Bartolomeu, capela lateral
Os retábulos colaterais seguem o mesmo estilo, simplificado. Duas capelas laterais apresentam retábulos recuperados da igreja antiga. O do lado nascente é ainda maneirista, dos finais do século XVI, adaptado ao espaço. Conservou, além da estrutura, duas pequenas pinturas sobre tábua. A capela fronteira tem um retábulo de colunas salomónicas de finais do século XVII, época de D. Pedro II.
A igreja tem ainda no seu espólio belas sanefas de concheados, das melhores peças da cidade, feitas por Bento José Monteiro, mas certamente com desenho de Gaspar Ferreira. Salientam-se ainda outras pinturas de Pascoal Parente com Cristo crucificado e Anunciação.
Igreja de S. Bartolomeu, lustre e órgão
O templo é indissociável da praça onde se insere, outrora chamada praça de S. Bartolomeu. Nesta praça se fez durante séculos, até 1867, o mercado. Aqui se correram touros. Aqui se situou o paço dos tabeliães. Aqui funcionou a junta dos vinte e quatro dos mesteres e o paço do concelho. S. Bartolomeu é o patrono dos açougueiros e magarefes, cujos talhos estavam na praça e ruas confinantes, isto é, junto da igreja do seu santo padroeiro: principal justificação para a sua edificação neste local.
Nelson Correia Borges
Publicado em Correio de Coimbra, n.º 4761, de 7 de novembro de 2019, p. 8.
… A Relação geral do estado da Universidade redigida pelo reitor-reformador e remetida, em 1777, à soberana, materializa o intuito de não deixar cair por terra a reestruturação principiada … Este manuscrito tinha como complemento, segundo se crê, um volume intitulado, na encadernação, Riscos das Obras da Universidade de Coimbra, o qual compreende, além da descrição do estado em que se encontravam, em Setembro de 1777, os novos estabelecimentos, bem como da enumeração das despesas, uma série de trinta desenhos, relativos a essas construções. Os dois finais dizem respeito ao jardim botânico: um é o plano elaborado por Júlio Mattiazzi, sobre o qual já nos detivemos; o outro é o Risco das Estufas do Jardim Botanico da Universidade de Coimbra sem data ou assinatura.
Risco das Estufas do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra. Sem autor. Sem data
Curiosamente, este último encontra também, na biblioteca do departamento de botânica, um desenho que muito se lhe assemelha. Titulado Risco das Estufas do Real Jardim Botânico da Universidade de Coimbra, o grandioso projecto apresenta, pese embora a sua visível deterioração, as plantas, alçados e cortes das estufas, cuja interpretação nos é facilitada pela legenda à esquerda do conjunto.
Risco das Estufas do Real Jardim Botânico da Universidade de Coimbra. Sem autor. Sem data
Por outro lado, o facto de tanto o plano do jardim como o das estufas que se acham na dita biblioteca encontrarem um “correspondente” nos desenhos enviados em 1777 à soberana, leva-nos a considerar a hipótese de ter havido, da parte do reitor, a tentativa de retomar a configuração outrora reprovada pelo ministro de D. José. Se assim foi, o intuito de D. Francisco de Lemos não vingou uma vez mais, pois nem estas estufas foram construídas, nem o jardim obedeceu ao grandioso feitio. O remediado plano seguido parece ter sido, afinal, o resultado da adaptação das linhas italianas às possibilidades económicas, às sensibilidades dos que sobre este espaço se foram debruçando, aos condicionalismos do terreno e das ocasiões e às necessidades pedagógicas que reclamavam um ponto final a este moroso processo construtivo.
… O projecto para as estufas no jardim botânico, assinado por Manuel Alves Macomboa e datado de Abril de 1791, articula uma resposta a esta necessidade.
Projecto para as estufas no Jardim Botânico. Manuel Alves Macomboa. 1791
Desconhece-se se este traçado veio a ser executado. No entanto … parece-nos que tal proposta veio a ter, de forma parcial, seguimento.
Projecto para o jardim botânico. Sem data nem assinatura
…. Em 1801 ordenou a construção das escadas do segundo plano. O desenho a tinta da china e aguada castanha e cinzenta sobre papel, não datado nem assinado, que se encontra na biblioteca geral da Universidade de Coimbra, constitui, com probabilidade, o projecto, guisado no final do século XVIII e posto em prática no começo da centúria seguinte, para o levantamento das escadas que “se andem fazer para subir do 2.º o 3.º plano”
Brites, J.R.C. 2006. Jardim Botânico da Universidade de Coimbra: de Vandelli a Júlio Henriques (1772-1873), Coimbra, 2006 (Policopiado). [Trabalho escrito apresentado no seminário “Património e teorias do restauro”, integrado no Mestrado de História da Arte da Universidade de Coimbra e, depois de refundido, publicado pela autora, com o mesmo título, no Arquivo “Coimbrão. Boletim da Biblioteca Municipal”, Vol. XXXIX, Coimbra, 2006, p. 11-60]
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