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No início do passado mês de dezembro, a nova direção do Grupo de Arqueologia e Arte do Centro (GAAC) anunciou o regresso da Munda.
A primeira série que tinha como diretor o Dr. Mário Nunes, foi editada entre 1981 – aquando do surgimento do GAAC – e 2007, tendo sido publicados 52 números. Há que saudar não só o renascimento do Grupo, bem como da sua revista científica que teve um papel relevante, no panorama cultural da Cidade. Renascimento que foi assim noticiado pela Direção em exercício.
A retomada da publicação da revista Munda, que durante longos anos marcou a vida editorial coimbrã, constituía um dos maiores desafios que se colocavam à atual direção do GAAC.
Esse objetivo acaba de ser concretizado, com a publicação do n.º 1 de uma nova série, a 2.ª, com um vasto leque de artigos centrados na vida cultural e artística da região centro e, em especial, da cidade de Coimbra.
São 170 páginas que proporcionamos aos sócios e ao público em geral, com a consciência de que tudo foi feito para honrar o grandioso passado da revista,
Munda. N.º 1 – 2 série. Novembro de 2013, capa
O índice da revista permite-nos aquilatar da qualidade e interesse dos artigos ora publicados.
SECÇÃO TEMÁTIVA: RETRATOS HISTÓRICOS DE COIMBRA
- Coimbra, 1901, A Primeira Viagem de Manuel Gómez-Moreno a Portugal, de Josemi Lorenzo Arribas e Sérgio Pérez Martin.
- Martin Wdser em Coimbra: Um Escritor Alemão Esquecido. Entre Helmut Helling e Karl Heinz Delille, de Pedro Miguel Gon.
- Lusitania, Viaje por un País Romântico. Coimbra pelos Passos de Rogelio Buendía, de Ana Marques.
- Viajar no Mondego com Fotografias de Época, de Alexandre Ramires.
VÁRIA
- Monforte de Ribacôa, um castelo Leonês na posse de Portugal, de Carlos D’Abreu e Román Hernández Rodriguez.
- Moinhos Hidráulicos no Río Ocreza, de Lois Ladra.
- O Moinho do Meligioso e a Batalha do Bussaco. Esforço de Preservação do Património Histórico-Militar, de João Paulo Almeida e Sousa.
Destes artigos chamamos, nomeadamente, a atenção para o da responsabilidade de Alexandre Ramires, intitulado Viajar no Mondego com Fotografias de época, onde são apresentadas 21 recuperações de fotografias do início do seculo passado, das quais selecionamos as seguintes.
Barracas no Mondego, autoria não identificada, Maio1905. Op. cit., pg. 77
Barca de lenha, autoria não identificada, 1906. Op. cit., pg. 81
Crescer no Rio, autoria não identificada, 1906. Op. cit., pg. 85
À beira-rio, autoria não identificada, 1906.Op. cit., pg. 89
Ponte do Modesto, autoria não identificada, c.1930. Op. cit., pg. 95
Munda. N.º 1 – 2 série. Novembro de 2013. Coimbra. Grupo de Arqueologia e Arte do Centro.
I - DAS ARMAS DA CIDADE DE COIMBRA [Cont.]
As modificações posteriores seriam meramente ao nível cromático e dos ornatos exteriores do escudo, nomeadamente no que ao coronel e mais tarde à condecoração diz respeito, sendo estas as armas iluminadas pelo Rei de Armas Índia, F. Coelho no Thesouro da Nobreza e publicadas na obra de l. de V. Barbosa - As cidades e Villas da monarquia portugueza que têm brasão de armas, e vigorariam até à fixação das armas pela Portaria n.º 6959 de 14 de Novembro de 1930. Seria este diploma legal que produziria incompreensivelmente as maiores modificações nas armas desde a sua origem, ao introduzir dois escudetes de Portugal antigo em chefe e ao alterar a relação da figura feminina com o cálice, modificando ainda os esmaltes nomeadamente ao dotar a taça de ouro de um incompreensível e inexplicável realçado de púrpura.
Figura 3 - Armas da cidade de Coimbra. Iluminura do armorial de Francisco Coelho (1675, f. 11)
Figura 4 — Armas da cidade de Coimbra. Publicadas por Inácio de Vilhena Barbosa (1860, s.p.)
Figura 5 – Armas da Cidade de Coimbra de acordo com a Portaria n.º 6959 (1930, P. 2031)
GIL VICENTE E O SIMBOLISMO DAS ARMAS DE COIMBRA
Estado da questão
F. de S. A. de Azevedo na coluna que assinava no boletim do Instituto Português de Heráldica, titulada de "Meditações Heráldicas", dedica a décima sétima dessas meditações a esta peça num pequeno artigo que designou por "Gil Vicente heraldista, breves apontamentos", estudo este que seria posteriormente citado pelo marquês de Abrantes em "O Selo Medieval de Coimbra e o seu Simbolismo Esotérico". S. A. de Azevedo limita-se a deixar registado o que é avançado por Vicente, havendo a registar algo de muito relevante no artigo em apreço, quando o investigador chama a atenção para um aspeto que os diversos textos relativos à peça normalmente parecem omitir e que se reporta à questão da própria dramaturgia e encenação, quando refere que o final da comédia passa pela recriação em palco das armas da cidade de Coimbra, um momento protagonizado por atores com recurso à cenografia e adereços relativamente raro e muito interessante em termos heráldicos.
M. Nunes fez um levantamento de imagens das armas da cidade de Coimbra limitando-se a fazer uma síntese do argumento da peça e cita a fala de Colimena onde esta descreve o brasão.
A. Clemente que explora o parentesco entre a emblemática e a "mascarada cortesã" refere, quanto à questão heráldica, que Vicente foi instaurador ao ter-se adiantado relativamente ao que era feito em outros países já que criou textos teatrais a partir de armas.
… Mateus, que estudou aprofundadamente a peça, na obra Devisa refere justamente o que a peça é: "(...) uma história cavaleiresca inventada, mas que finge existir antes," sendo dos poucos que analisa e propõe uma reconstituição da encenação vicentina em Coimbra, nomeadamente da última cena em que é recriado o brasão-de-armas da cidade.
A. P. de Castro no texto sob o título de "A "Comédia sobre a divisa da cidade de Coimbra", relativamente à matéria heráldica, limita-se a fazer uma síntese de algumas das leituras simbólicas das armas de Coimbra. [Em nota de rodapé é acrescentado que relativamente a frei Bernardo de Brito que "(.. .) aduzindo documentos naturalmente fictícios, do cartário do Mosteiro de Alcobaça, conta na Monarquia Lusitana como Ataces, rei dos Suevos, ganhara Coimbra”].
Mais recentemente Sales Machado em “A Imagem do Teatro” aborda esta peça, mas, estranhamente, jamais analisa a relação do texto com a realização plástica da heráldica conimbricense. Sales Machado por um lado cita, mas posteriormente escamoteia uma muito importante ligação entre as artes visuais e a encenação vicentina ao não dar a importância devida à representação heráldica.
Por fim, P. M. M. Faria refere que "Quem une, portanto, os textos Divisa e Nau, é o móbil da sua criação intrínseco na sua função celebrativa, numa altura privilegiada para a corte exibir e consolidar o seu status mundi, perante si mesma e perante o mundo."
Alexandre, P.M. Uma patranha heráldico-genealógica de Gil Vicente: «A comedia sobre a devisa da cidade de coimbra» e o brasão-de-armas de Coimbra. In: Alicerces. Revista de Investigação, Ciência Tecnologia e Arte. Ano VI, n.º 6. 2016, julho. Lisboa, Instituto Politécnico de Lisboa. Pg. 65-88. Acedido em https://repositorio.ipl.pt/bitstream/10400.21/8644/1/revista_alicerces6_2016_pv.pdf.
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