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António Luís de Sousa Henriques Seco nasceu na casa-solar da sua família, em Antuzede (arredores de Coimbra), a 22 de janeiro de 1822, e faleceu em Coimbra … em 4 de dezembro de 1892.
Professor Doutor Henriques Seco. Op. cit., pg. 1
Depois de frequentar Preparatórios no Colégio das Artes, matriculou- se no 1. ° ano jurídico da Universidade a 3 de outubro de 1836, aí se bacharelou a 2 de junho de 1840, se licenciou em 21 de maio de 1841 e se doutorou no dia 29 de janeiro de 1843.
Tomou parte ativa nas lutas contra o Governo cabralista, iniciadas em Coimbra com a Revolução popular, em 8 de março de 1844.
O Barão do Casal derrotou as forças patuleias da Junta do Porto, comandadas por Sá da Bandeira, o lendário Sá Maneta, graças à deserção dos regimentos de infantaria 3 e 15, que mudaram de campo. Representaram-no a cavalo com cara de burro.
Acedido em: https://www.google.pt/search?q=guerra+da+patuleia
Depois do malogro desta Revolução, o Partido progressista julgou necessária a criação de um jornal para se opor às prepotências das autoridades. No dia 9 de julho de 1844, com a colaboração de Henriques Seco, saiu à luz o primeiro número do periódico, a que foi posto o nome de «A Oposição Nacional», cuja direção provinha da loja maçónica «Filadélfia», de que Henriques Seco era membro, com o nome simbólico de «Viriato». Tentou ainda, em 1845, coadjuvado por alguns amigos, publicar um periódico intitulado «O Conimbricense», mas as autoridades impediram arbitrariamente essa publicação, não lhe concedendo a necessária habilitação.
… Quando, no ano de 1846, a Revolução popular («Patuleia») triunfou em Coimbra e aí se instalou, em 18 de maio, uma Junta Governativa, Henriques Seco aderiu às hostes populares, tendo sido integrado, com o posto de Tenente, na 2.ª Companhia da Guarda Nacional de Coimbra.
Finda a Guerra da Patuleia com a Convenção de Gramido, não cessaram as violências dos cabralistas. Para reagir contra essa situação, um grupo de membros do Partido Progressista, entre eles António Luís de Sousa Henriques Seco, decidiram fundar um jornal, com o título «O Observador», saindo o primeiro número em 16 de novembro de 1847.
… Prosseguindo a sua atividade académica, Henriques Seco, na qualidade de «doutor adido», publica, em 1848, pela Imprensa da Universidade, a sua primeira obra: «Manual Histórico de Direito Romano» … Em 1850, elaborou a obra que viria a publicar, seis anos depois, com o título «Novos Elogios dos reis de Portugal, ou princípios de história portuguesa para uso das escolas».
A carreira universitária, após ter regido, no ano letivo de 1848-1849, a cadeira de Direito Natural e das Gentes, é interrompida pelo exercício, na primeira metade da década de 1850, de funções político-administrativas. Em 1851, com a «Regeneração», foi incumbido da Secretaria Geral do Governo Civil de Santarém (8 de maio de 1851), donde foi transferido, em 9 de junho desse ano, para idêntico cargo no de Coimbra, tendo nos dois anos seguintes exercido por diversos períodos a chefia efetiva do distrito, por falta ou impedimento dos titulares do cargo. Foi finalmente nomeado Governador Civil, em 28 de abril de 1853, cessando essas funções em 21 de março de 1854, na sequência do seu pedido de exoneração, formalizado em 16 desse mês, motivado pelos acontecimentos de fevereiro desse ano («Entrudada Académica»)
… Das visitas que fez aos diversos concelhos do Distrito resultou a publicação da «Memória histórico-corográfica dos diversos concelhos do distrito administrativo de Coimbra» … e «As eleições municipais em Coimbra para o biénio de 1854 a 1855».
…. Em 1854, ano em que regressa à docência universitária, coube-lhe proferir, em latim, a Oração de Sapiência na abertura solene das aulas.
…. Foi nomeado lente substituto extraordinário em 24 de janeiro de 1855 e substituto ordinário em 22 de agosto do mesmo ano a regência das cadeiras de História Geral da Jurisprudência (1855-1858), Instituições de Direito Eclesiástico (1855-1857), Enciclopédia Jurídica (1857-1858) e Direito Romano (1858-1860).
Por Decreto de 23 de janeiro de 1861, foi promovido a lente catedrático e encarregado da regência da cadeira de Direito Criminal.
… Perante este novo desafio … [decidiu] começar a redigir um «Compêndio de Direito Criminal Português» … Esse projeto não chegou a concretizar-se, tendo, no entanto, utilizado diversas notas na edição do «Código Penal Português».
Código Penal Português. 1861, sexta edição
…. Exerceu os cargos de Fiscal (1859/1860) e Diretor da Faculdade de Direito, desde 16 de dezembro de 1880 até à jubilação em 12 de fevereiro de 1885.
Renunciou à Comenda da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa …. Igualmente recusou aceitar o foro de Fidalgo da Casa Real.
Membro do Conselho do Distrito (1846,1854 e 1864), da Junta Administrativa dos Campos do Mondego (1856), foi Presidente da Câmara Municipal de Coimbra em 1862 e 1863 e da Junta Geral do Distrito, em 1863.
Por Decreto de 10 de fevereiro de 1852, D. Fernando II nomeou-o membro do seu Conselho.
Afeto ao Partido Histórico, foi eleito Deputado às Cortes em 1854, 1857, 1858 e 1860.
…. Em 28 de janeiro de 1874, foi eleito sócio efetivo do lnstituto de Coimbra.
Foi nomeado Conselheiro de Estado e Par do Reino vitalício em 7 de janeiro de 1881.
Faleceu em Coimbra … após o que seguiu para o cemitério de Antuzede.
No seu testamento, deixou a quase totalidade da sua livraria à Câmara Municipal de Coimbra, para com ela se criar uma Biblioteca Pública.
Ao noticiar o seu falecimento, «O Defensor do Povo» … salientou que “foi um cidadão honesto, um português de lei, revolucionário nos seus tempos, todo liberal, lutando com encarniçamento durante a época cabralina"; "homem de bom coração, esmoler", "serviu o seu País, com dedicação, sem egoísmos nem vaidades".
Seco, A.L.S.H. Execuções da pena última em Portugal. Recolha de textos, introdução e notas por Mário Araújo Torres. Lisboa, Edições Ex-Libris.
Na obra que vimos seguindo surgem diversas notícias relacionadas com a execução de pessoas de Coimbra, a primeira acontecida no ano de 1555. Desconhece-se o nome e o crime do homem que, nessa data, foi Atanazado e enforcado em Coimbra.
É, também, explicado no que consistia, em vida, o atanazamento, que implicava a aplicação de uma(s) das seguintes penas acessórias: o corte ou mutilação das mãos ambas, ou de algumas delas; o arrastamento da vítima, no percurso, até ao sítio da forca; o arrancamento do coração.
Saliente-se que são referidos diversos Autos-de Fé da responsabilidade da Inquisição de Coimbra, realizados na Praça de S. Bartolomeu, onde pereceram, queimadas vivas, entre homens e mulheres, 84 pessoas.
Praça de S. Bartolomeu, hoje Praça do Comercio
De entre as execuções realizadas na cidade mondeguina e referidas no livro escolhemos, como exemplo para aqui transcrever, uma das mais antigas e a mais recente.
- 1456.07.01
Luísa de Jesus, de 22 anos de idade.
Infanticídios diversos, indo buscar enjeitados à Misericórdia de Coimbra, a pretexto de criação, matando-os e enterrando-os depois, para se aproveitar do enxoval e dos 600 réis de criação pagos adiantadamente.
Atazanada pelas ruas públicas, cortadas as mãos em vida, garrotada e queimada. Sentença da Relação de Lisboa.
Acharam-se enterradas trinta e três crianças, confessando a ré haver garrotado vinte e oito por suas próprias mãos! Que tal era a fiscalização do estabelecimento, que permitia tantas e tão seguidas atrocidades! A mesma, fora de toda a dúvida, que havia em toda a superfície do país.
- 1839.07.29
José da Costa Casimiro, de 27 anos, natural do Picoto, freguesia de Cernache dos Alhos, concelho de Coimbra, solteiro, sapateiro.
Homicídio de Diogo Marques de Carvalho, no dia no dia 25 de Julho de 1835, no sítio das Almuinhas, próximo do mesmo lugar de Cernache.
Enforcado junto e a jusante do antigo «Ó» da ponte de Santa Clara, que corresponde [naquela data] à extremidade sul da atual «ponde de ferro».
«Ó» da ponte de Santa Clara
São ainda citadas duas informações relevantes.
- Da edição de 1747 do Compromisso da Santa Casa da Misericórdia da Cidade de Coimbra, datado de 24 de maio de 1620, são transcritos os Capítulos XXX e XXXI que tratam respetivamente:
. Do como como se hão-de acompanhar os padecentes,
. Do modo em que se hão-de ir buscar as ossadas dos que padeceram por justiça.
Compromisso da Santa Casa da Misericórdia da Cidade de Coimbra. Edição de 1830
- Indica o local onde, na cidade, se erguia a forca:
Para o leitor fora de Coimbra, e ainda para o desta cidade que somente conhece a moderna, será bom explicar que o nume «Ladeira da Forca» se dá à extremidade norte-poente do monde chamado «Monte Arroio», a qual cai quase a prumo sobre a cabeça da antiga «Ponte de Águas de Maias», e é ladeada pelo semicírculo que formam a estrada de Coimbra ao Porto e o caminho da Ribeira de Coselhas; assim como Ponte de Águas de Maias se chamava à antiga ponte, que, desde o sopé da «Ladeira da Forca», se estendia até o «Arco Pintado» …
Ponte de Águas de Maias
merece comunicar a todos este espaço o seu antigo nome, tão antigo que já serviu para designar o campo de batalha (se é verdadeira a tradição) travada há bastantes séculos entre os dois Hermenerico e Ataces.
Seco, A.L.S.H. Execuções da pena última em Portugal. Recolha de textos, introdução e notas por Mário Araújo Torres. Lisboa, Edições Ex-Libris.
Prosseguindo na sua tão louvável tarefa de reeditar obras esquecidas relacionadas, sobretudo, com Coimbra, o Dr. Mário Araújo Torres acaba de publicar, com recolha de textos, introdução e notas da sua responsabilidade, o livro Execuções da pena última em Portugal, com textos da autoria de António Luís de Sousa Henriques Seco.
Obra citada, pormenor da capa. Execução de Gomes Freire de Andrade, esplanada do Forte de S. Julião da Barra, 18 de outubro de 1817.
Explica Mário Araújo Torres, na Introdução, qual a motivação que o impeliu a publicar a obra ora apresentada.
No bicentenário do nascimento de António Luís de Sousa Henriques Seco, lutando contra o esquecimento a que tem sido injustamente votada a obra desta personalidade marcante em vários sectores da vida política e cultural da sociedade portuguesa do século XIX, procede-se à reedição dos capítulos insertos nos dois volumes das suas «Memórias do Tempo Passado e Presente para Lição dos Vindouros» (Coimbra, Imprensa da Universidade, 1880 e 1889),
Memórias do Tempo Passado e Presente para Lição dos Vindouros. Vol I e II
dedicados à execução da pena de morte em Portugal, onde apresenta uma extensa e impressionante relação dos “assassínios legais”, culminando, no capítulo final, com a defesa da abolição total dessa pena, não apenas para os crimes civis (consagrada em 1867), mas também para os crimes militares, por ilegítima, desnecessária e inútil.
Obra citada, pormenor da contracapa. Execução dos Távoras, Belém, 13 de janeiro de 1759
Salienta, ainda, que teve Henriques Seco um lugar destacado no movimento abolicionista da pena de morte em Portugal.
Nesse movimento, em que militaram os juristas conimbricenses Ribeiro dos Santos, Silva Ferrão, Levy Maria Jordão, Aires de Gouveia, Joaquim António de Aguiar e Barjona de Freitas, [dos quais são apresentadas breves biografias] só Henriques Seco e Aires Gouveia tiveram a coragem de defender a abolição total dessa pena, não apenas para os crimes civis (consagrada em 1867), mas também para os crimes militares, mesmo em tempo de guerra, como propugna na parte final da extensa e impressionante relação dos “assassínios legais”, que agora se colocam à disposição do público.
Seco, A.L.S.H. Execuções da pena última em Portugal. Recolha de textos, introdução e notas por Mário Araújo Torres. Lisboa, Edições Ex-Libris.
Prosseguindo na sua tão meritória caminhada de divulgar livros injustamente esquecidos da bibliografia coimbrã, o Dr. Mário Araújo Torres acaba de editar, com recolha de textos, introdução e notas da sua autoria, mais uma obra.
Trata-se da Memória histórico-corográfica dos concelhos do distrito de Coimbra, seguida de Mapa do Distrito Administrativo de Coimbra, obras editadas em 1853-1854.
Capa do livro ora editado
Contracapa do livro ora editado
Mário Araújo Torres apresenta da figura e a obra de António Luís de Sousa Henriques Seco.
Pormenor da contracapa
Foi uma personalidade marcante em vários setores da vida política e cultural portuguesa do século XIX: na política, no jornalismo, na docência universitária, na historiografia.
Na política, foi um convicto liberal, participando nas revoltas populares de 1844 e 1846 e no movimento da Regeneração (1851), sendo eleito, por diversas vezes, Deputado às Cortes.
Na Administração Pública, chefiou o Distrito de Coimbra em 1847 e de 1852 a 1854, salientando-se, neste último período, o seu decidido combate ao banditismo, mesmo quando associado ao clientelismo político eleitoral.
Em 1862 e 1863, exerceu, com generalizados elogios, a presidência da Câmara Municipal de Coimbra.
No combate ao cabralismo, esteve na origem de várias publicações periódicas.
Como professor universitário, na Faculdade de Direito de Coimbra, de que foi Diretor, deixou obra relevante, sobretudo na área do Direito Criminal, mas também na História do Direito.
No bicentenário do seu nascimento, lutando contra o esquecimento a que a sua obra tem sido injustamente votada, e após termos recuperado extratos das suas Memórias do Tempo Passado e Presente para Lição dos Vindouros, relativos à luta contra o banditismo, inseridos, como anexo, à recente redição de os Assassinos da Beira, de Joaquim Martins de Carvalho, coloca-se à disposição pública duas outras obras de António Luís de Sousa Henriques Seco, elaboradas enquanto exerceu funções de Governador Civil de Coimbra: Memória Histórico-Corográfica dos Diversos Concelhos do Distrito Administrativo de Coimbra (1853) e Mapa dos Distrito Administrativo de Coimbra (1854).
Estamos, mais uma vez perante o inestimável contributo de Mário Araújo Torres para a história e a cultura de Coimbra.
Seco, A.L.S.H. Memória histórico-corográfica dos concelhos do distrito de Coimbra, seguida de Mapa do Distrito Administrativo de Coimbra. 1853-1854. Recolha de textos, introdução e notas de Mário Araújo Torres. Lisboa, 2022. Edições Sítio do Livro
A importância da reedição de textos, há muito esquecidos e esgotados, de autores que escreveram sobre Coimbra, é inquestionável.
Embora sabendo que Mário Araújo Torres é avesso a agradecimentos, temos repetidamente afirmado, e mais uma vez o fazemos, que Coimbra lhe deve um institucional: OBRIGADO.
Na modéstia do conimbricense que somos, pelo nosso lado, aqui fica esse reconhecimento.
Mário Araújo Torres. Imagem acedida em: https://www.bing.com/images
Mário José de Araújo Torres nasceu em 1945, em Cabeceiras de Basto, no seio de uma família com raízes em Braga. Em 1953 vai de Braga para Coimbra, onde conclui a instrução primária (Escola da Sé Velha), frequenta o Liceu D. João III (1955-1962) e se forma na Faculdade de Direito (1962-1968).
Faz-se sócio do Centro Académico de Democracia Cristã, de cuja revista Estudos foi subdiretor (1967).
Em 1969, frequentando o 6.º ano de Direito e o estágio para a advocacia, participa na defesa dos processos disciplinares e judiciais instaurados aos estudantes da Universidade de Coimbra durante a crise académica desse ano. Integra a lista da Oposição Democrática de Coimbra nas eleições legislativas do mesmo ano. Cumpriu o serviço militar em Angola (1972-1974).
Ingressou na magistratura do Ministério Público (delegado do procurador da República nas comarcas da Ilha de S. Jorge, Olhão e Lisboa; adjunto do procurador da República na Relação de Lisboa; membro do Conselho Consultivo da Procuradoria-Geral da República; representante do Ministério Público no Tribunal Constitucional), sendo fundador e primeiro presidente (1974) do Sindicato dos Delegados do Procurador da República (depois, Sindicato dos Magistrados do Ministério Público).
É fundador da associação MEDEL ‒ Magistrados Europeus pela Democracia e Liberdades.
Foi Juiz Conselheiro do Supremo Tribunal Administrativo (1993-2000), do Supremo Tribunal de Justiça (2000-2002) e do Tribunal Constitucional (2002-2009).
Peregrinação ao Mundo encantado das Crianças. O Desenho na Escola e outros textos pedagógicos) de Afonso Duarte. Recolha de textos e notas por Mário Araújo Torres. Imagem acedida em https://www.sitiodolivro.pt/Peregrinacao-ao-Mundo-encantado-das-Criancas
Após a sua jubilação, dedicou-se à recolha e reedição de textos de autores que em Coimbra desenvolveram a sua atividade, como a produção etnológica e pedagógica do poeta Afonso Duarte (Ereira, 1884 - Coimbra, 1958) e a obra poética completa de António de Sousa (Porto, 1898 - Oeiras, 1981), esta última a aguardar edição pela Imprensa Nacional.
Nos últimos anos procedeu à recolha e reedição de textos injustamente esquecidos sobre a história de Coimbra, da autoria de António Coelho Gasco (Lisboa, c. 1595 - Maranhão, 1666), Bernardo de Brito Botelho (pseudónimo), António Francisco Barata (Góis, 1836 - Évora, 1910), António Moniz Barreto Corte-Real (Angra, 1804 - Angra do Heroísmo, 1888), Francisco António Rodrigues de Gusmão (Tondela, 1815 - Coimbra, 1888), Manuel da Cruz Pereira Coutinho (Almagreira, 1808 - Coimbra, 1880), José Leite de Vasconcelos (Ucanha, 1858 - Lisboa, 1941), Amadeu Ferraz de Carvalho (Tondela, 1876 - Tondela, 1951), Vergílio Correia (Peso da Régua, 1888 - Coimbra, 1944), Joaquim da Silveira (Sangalhos, 1879 - Sangalhos, 1972), António Carvalho da Costa (Lisboa, 1650 - Lisboa, 1715) e Inácio de Morais (Mogadouro, c. 1510 - Alcobaça, 1580).
Sítio do Livro. Mário de Araújo Torres. S/d. Texto acedido em: https://www.sitiodolivro.pt/Os-nossos-autores/Mario-Araujo-Torres
O dr. Mário Araújo Torres, no prosseguimento de uma verdadeira cruzada que tem vindo a desenvolver direcionada para a busca e recuperação de publicações deslembradas relacionadas com Coimbra, acaba de colocar em letra de forma, com recolha de textos, introdução e notas da sua responsabilidade, mais uma obra, Os Assassinos da Beira de Joaquim Martins de Carvalho, seguido de extratos das Memórias do Tempo Passado e Presente para lição dos vidouros de António Luís de Sousa Henriques Seco.
Os Assassinos da Beira, capa
Os Assassinos da Beira, contracapa
Os Assassinos da Beira, capa mutilada da edição de 1890
Os Assassinos da Beira, rosto da edição de 1890
Embora correndo o risco de, mais uma vez, nos repetirmos, não podemos deixar de expressar ao dr. Mário Araújo Torres, enquanto estudioso da história da cidade em que nascemos, o nosso maior respeito e agradecimento pelo trabalho que vem realizando em prol da cultura de Coimbra.
O dr. Mário Araújo Torres acerca de Os Assassinos da Beira e das Memórias do Tempo Passado e Presente para lição dos vidouros, que ora abordamos e que iremos utilizar em futuras entradas, diz o seguinte:
No bicentenário do nascimento de Joaquim Martins de Carvalho (Coimbra,1822 -1898), após a reedição dos seus «Apontamentos para a História Contemporânea» (1868) e, em anexo, de «A Nossa Aliada!» (1883}, coloca-se ao dispor do público a sua última recolha de textos: «Os Assassinos da Beira - Novos Apontamentos para a História Contemporânea» (1890), retrato fiel da sua corajosa e pertinaz campanha na imprensa («O Observador» e «O Conimbricense») contra o banditismo que, após o termo da guerra civil, grassou na Beira, muitas vezes com o apoio das diversas forças políticas.
Nessa campanha, o principal aliado de Joaquim Martins de Carvalho foi o Doutor António Luís de Sousa Henriques Seco (Antuzede, 1822 - Coimbra, 1892), também na imprensa. mas sobretudo como Governador Civil de Coimbra e Deputado às Cortes, de que deixou circunstanciado relato nos dois volumes das suas «Memórias do Tempo Passado e Presente para Lição dos Vindouros» (1880 e 1889), de que se reproduzem as passagens mais pertinentes.
Carvalho, J. M. e Seco, A.LS.H. 2022. Os assassinos da Beira. Novos apontamentos para a história contemporânea, seguido de extratos das Memórias do tempo passado e presente para lição dos vindouros. Recolha de textos, introdução e notas por Mário Araújo Torres. Lisboa, Edições Ex-Libris.
O Dr. Mário Torres, um conimbricense pelo coração, continua na senda a que se propôs, reeditando, às suas custas, obras relacionadas com a história da nossa Cidade.
Coube agora a vez ao livro Apontamentos para a História Contemporânea seguido de A Nossa Aliada!, título com que publica textos de Joaquim Martins de Carvalho.
Apontamentos para a História Contemporânea, capa
Diz Mário Torres: Na presente edição, com atualização da grafia, reproduz-se a 1.ª edição dos Apontamentos para a História Contemporânea»
Apontamentos para a História Contemporânea, 1.ª edição, capa
complementado pelos «Apontamentos aos Apontamentos para a História Contemporânea», publicados por Manuel Lopes de Almeida, e, em anexo, o opúsculo «A Nossa Aliada!» … sobre as relações de Portugal com a Inglaterra.
Na capa do livro, acrescenta: Recolha de textos, introdução e notas por Mário Araújo Torres.
Já tivemos ocasião de sublinhar a dívida de Coimbra para com o Dr. Mário Torres, que, ao reeditar textos de grande relevância para a história da urbe, coloca obras inacessíveis ao alcance de todos. Como simples cidadão reafirmo e acentuo, de novo e publicamente, que o dever de gratidão da Cidade continua por saldar.
O livro ora reeditado – ao qual esperamos voltar – centra-se na figura de Joaquim Martins de Carvalho, homem de Coimbra, a quem a cidade tanto ficou a dever e a quem – também a ele – tinha obrigação de prestar um reconhecimento digno, dado que a mera atribuição do seu nome à rua onde morreu, a antiga rua das Figueirinhas, se mostra mais do que insuficiente.
Na badana do livro pode ver-se uma gravura que o retrata
Joaquim Martins de Carvalho
acompanhada da seguinte nota biográfica:
Joaquim Martins de Carvalho nasceu em Coimbra em 19 de novembro de 1822 e aí faleceu em 18 de outubro de 1898.
Órfão muito jovem, o regime de morgadio então vigente determinou que a parte substancial do património familiar fosse encabeçada no filho primogénito, Venceslau Martins de Carvalho. Como filho segundo, fora Joaquim Martins de Carvalho destinado à carreira eclesiástica, ao que ele resistiu.
A sua única instrução formal consistiu na frequência, durante um ano, em !833, da aula de Latim no Colégio das Artes, então dirigida por jesuítas.
Deve-se ao seu abnegado esforço de autodidata a aquisição de vastíssimos conhecimentos, sobretudo nas áreas da história e da bibliografia.
Na sua juventude exerceu as modestas profissões de empregado comercial e de latoeiro, que lhe valeu o epiteto de «Doutor Latas» ou «Lord Latas».
Convicto lutador liberal, esteve vários meses preso na cadeia do Limoeiro, em 1847, como membro do Partido Popular («patuleio») contra o cabralismo.
Depois de libertado, dedicou-se ao jornalismo, essencialmente no «Observador» (1847-1853), a que sucedeu, logo em janeiro de 1854, o «Conimbricense» de que foi proprietário, diretor e principal redator, até à sua morte, em 1898.
Liberal progressista, foi membro da Maçonaria e da Carbonária Lusitana.
Promotor do associativismo. sobretudo no sentido do progresso económico da região de Coimbra e da defesa das classes laboriosas, nos domínios da instrução e do mutualismo. Foi membro de diversas instituições científicas, designadamnte a Academia das Ciências de Lisboa e o Instituto de Coimbra.
Os Assassinos da Beira, capa
Em vida publicou dois livros, com seleção de artigos e estudos seus saídos em «O Conimbricense»: «Apontamentos para a História Contemporânea» e «Os Assassinos da Beira».
Carvalho, J.M. 2021. Apontamentos para a História Contemporânea» seguido de A Nossa Aliada! Recolha de textos, introdução e notas por Mário Araújo Torres. Lisboa, Edições Ex-Libris.
Prosseguindo na sua cruzada – porque é isso mesmo, uma cruzada em prol de Coimbra e da sua história – o Dr. Mário Araújo Torres acaba de editar com recolha de textos e notas suas, mais um volume do conjunto de livros esquecidos ou raros que ajudam à compreensão da nossa Cidade, no passado e no presente.
Capa do livro
Na contracapa podemos ler.
Imagem de parte da contracapa
Na presente edição reproduz-se o único exemplar conhecido da «Descripcam e debuxo do Moesteyro de Sancta Cruz de Coimbra», impressa em 1541 nas oficinas tipográficas do próprio Mosteiro, atualmente conservado na «Greenlee Collection» da «Newberry Library» de Chicago, e procede-se à transcrição integral do opúsculo, com atualização da grafia.
Imagem da pg. 29
Mas a obra ora publicada não se fica pela transcrição desta raridade bibliográfica, pois é enriquecida com os seguintes trabalhos em anexos.
Reproduzem-se os capítulos da «Crónica da Ordem dos Cónegos Regrantes do Patriarca Santo Agostinho» (1668), onde D. Nicolau de Santa Maria alegadamente reproduziu a «Descrição» de D. Francisco de Mendanha, com aditamentos sobre alterações entretanto ocorridas;
Imagem da pg. 85
O estudo de Sousa Viterbo (1890) sobre a descoberta do opúsculo, com anexos documentais dos reinados de D. Manuel I e de D. João III; e extratos de manuscritos de Jerónimo Roman (1588), de D. José de Cristo (1622) e do Cartorário D. Vicente, sobre as novas obras no Mosteiro posteriores a 1540.
Concluindo. O estudioso de Coimbra ou o simples amante das coisas com ela relacionadas, encontra reunido num só volume tudo o que foi escrito relacionado com a descrição do que era o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, nos séculos XVI e XVII.
Pelo meu lado, mais uma vez, o meu obrigado ao Dr. Mário Araújo Torres, pelo muito que está a fazer em prol da divulgação da história da nossa Cidade.
Rodrigues Costa
Mendanha, F. Descripcam e dubuxo do Moesteyro de Sancta Cruz de Coimbra. Reedição com recolha de textos e notas de Mário Araújo Torres. 2021. Lisboa. Edições Ex-Libris.
O Dr. Mário Araújo Torres juntou mais uma pedra, a sétima, ao monumento que, à sua custa, vem erguendo dedicado a obras relacionadas com Coimbra, todas elas deslembradas no tempo.
Agora coube a vez ao “Conimbricae Encomium” ou “Elogio de Coimbra”, publicado em 1554, da autoria de Inácio de Morais.
Capa do livro ora editado
O livro em causa, ora editado, não se remete a uma mera reprodução do texto inaciano, pois Mário Araújo Torres, após uma cuidada e vasta investigação, anexa um alargado conjunto de notas, passíveis de permitir não só enquadrar o escrito, mas também de facilitar ao leitor hodierno e sua compreensão. Além disso, insere a tradução do poema para português, feita por Alberto da Rocha Brito, e completa o volume com a apresentação de uma detalhada biografia e bibliografia relacionada com Inácio de Morais.
Na Nota Prévia, Araújo Torres, elucida-nos que Augusto Mendes Simões de Castro num artigo escrito para a revista “Instituto” havia referido ter adquirido “num leilão em Lisboa”… “um livro muito interessante, que temos na conta dos de maior raridade, intitulado Conmbricae Encomium.
… A convicção de que se trataria do único exemplar existente em Portugal, fundava-se em não ter achado tal obra nas Bibliotecas Nacional de Lisboa, da Universidade de Coimbra ou Municipal do Porto, nem nas boas livrarias de muito bibliógrafos que consultou, descobrindo apenas uma cópia manuscrita na Biblioteca Pública de Évora.
… O exemplar adquirido por Simões de Castro deve ser o que se encontra atualmente na Biblioteca Nacional de Portugal, único de que há registo nos catálogos disponíveis das bibliotecas portuguesas.
“Conimbricae Encomium”. 1544, rosto. Fl. 15
“Conimbricae Encomium”. 1544, dedicatória. Fl. 16
“Conimbricae Encomium”. 1544, página inicial. Fl. 17
Duas outras edições foram feitas do texto latino: a terceira, por Joaquim Alves de Sousa, em 1890; e a quarta por Mário Brandão, em 1938.
… “Encontram-se neste poema notícias curiosíssimas sobre a Coimbra do tempo de D. João III, quando este monarca transferiu para ali a Universidade então estabelecida em Lisboa. Referem-se vários usos e costumes da população académica, discente e docente, de alguns dos quais ainda hoje se conservam não poucos vestígios. Dá-se minuciosa informação das muitas casas religiosas de um e outro sexo ali existentes, de outros edifícios públicos notáveis e de alguns palácios de antigos fidalgos. Descreve-se a beleza dos horizontes, a salubridade dos ares, a fertilidade do solo, a amenidade dos arredores, a índole bondosa, pacífica e hospitaleira, e até a graça natural e folguedos populares dos habitantes da cidade ridente.
Da versão portuguesa apresentada no volume em apreço, de que Alberto da Rocha Brito é responsável, selecionamos um trecho que relata a lenda, mais uma, do brasão de Coimbra.
Conimbricae Encomium. 1544, rosto, pormenor. Fl. 15
Em memória da sua Pirene ordenou aos conimbricenses que tivessem sempre na lembrança a sua história e um monumento da sua dor.
Por isso estão insculpidos nos muros urbanos as insígnias representando a urna, a coroa e o rosto da mutilada donzela, com a serpente de um lado e do outro o leão.
Morais, I. Conimbricae Encomium. Elogio de Coimbra. Recolha dos textos e notas de Mário Araújo Torres. 2021. Lisboa, Edições Ex-Libris.
Na continuação da tarefa a que se propôs, o Dr. Mário de Araújo Torres acaba de editar, a expensas suas, outra obra dedicada a Coimbra, selecionada de entre aquelas que o tempo deslembrou.
Trata-se de mais um serviço prestado às gentes interessadas pela cidade do Mondego. Pela minha parte, conimbricense de nascimento e estudioso da sua história por gosto e devoção, manifesto, publicamente, e mais uma vez, o agradecimento que lhe é devido.
A obra, com o título Corografia Portuguesa: Comarcas de Coimbra e de Montemor-o-Velho, é constituída por uma recolha de textos e notas da responsabilidade de Mário Araújo Torres, a partir da obra homónima, editada em 1708, por António Carvalho da Costa, «Clérigo do habito de São Pedro, matemático, natural de Lisboa», como o próprio se apresenta.
Do livro ora publicado extraímos a seguinte passagem, na qual se referem, nomeadamente, a constituição e as tarefas da Câmara de Coimbra.
O cuidado dos edifícios públicos e sua reparação, o governo político da cidade e dos ofícios, taxa e provisão dos mantimentos e coisas tocantes à conservação da saúde … conselho da Câmara, o qual consta de um presidente letrado, que é o juiz de fora, de quatro vereadores, um da Universidade e três da cidade …
um procurador, um escrivão e dois misteres anuais, tirados por sortes no mês de Janeiro do número dos vinte e quatro; e provê muitos ofícios, como o do juiz do povo
… ; dois almotacéis … também provê um meirinho.
… O governo das coisas militares desta cidade, em cuja comarca se contam noventa e cinco capitães, tem uma pessoa nobre com o título de capitão-mor.
… É este capitão-mor eleito pelo conselho da Câmara e assiste na eleição dos oficiais da milícia, todos os quais lhe estão sujeitos e lhe obedecem, como os capitães de ordenança e os de cavalo.
… Há mesta cidade um sargento-mor, quatro capitães, outros tantos alferes, sargentos, ajudantes e cabos de esquadra; e também muitos oficiais de justiça, como provedor, conservador, chanceler, juiz do fisco, almoxarife, tesoureiro e muitos meirinhos, perto de quarenta advogados e setenta e três escrivães.
… Tem cento e vinte lagares, cinco açougues, treze boticas, dezassete boticários do partido, trinta médicos também do partido, cinco cárceres públicos, trinta e cinco espécies de oficiais mecânicos; tem todas as semanas feira franca, além da anual.
Nota: As imagens das varas foram acedidas em https://www.cm-coimbra.pt/areas/viver/cultura/arquivo-historico/memoria-do-municipio.
Costa, A.C. Corografia Portuguesa: Comarcas de Coimbra e de Montemor-o-Velho. Recolha de textos e notas por Mário Araújo Torres. Lisboa, Edições Ex-Libris. Pg. 48-49.
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