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O convento de Santa Teresa de Jesus, em Coimbra, pertence ao ramo das Carmelitas Descalças e remonta à 1ª metade do século XVIII. A fundação deste Carmelo parece ter correspondido à vontade e ao fervor religioso de vários sectores da sociedade e das autoridades religiosas da cidade. Citem‑se, entre outros, a determinação e os esforços de frei Luís de Santa Teresa, nascido Luís Salgado, mais tarde bispo de Olinda, que, após ter frequentado o Colégio das Artes e as Faculdades de Cânones e Leis, onde atingiu o grau de Doutor e onde foi, igualmente, professor – além de juiz corregedor da comarca – abandonou a promissora carreira das leis e, em 1723, com 30 anos de idade, ingressou nos Carmelitas, no Convento de Nossa Senhora dos Remédios, de Lisboa … Na década de 30 regressou a Coimbra “animado pela ideia de aí fundar um convento de Carmelitas Descalças, para o que pedia esmolas de porta em porta, fazendo os mais servis trabalhos”.
Em 6 de junho de 1737, a Câmara concede licença para a fundação de um convento de Carmelitas Descalças na cidade, por proposta de um grupo de cidadãos encabeçado pelo Doutor Manuel Francisco, professor jubilado da Faculdade de Medicina, que tomam a seu cargo a busca de um local apropriado, o qual vêm a encontrar no denominado Casal do Chantre, então situado nos arrabaldes. Em 20 de janeiro de 1739, o rei Magnânimo promulga a provisão que autoriza a fundação do convento e na tarde do dia 14 de fevereiro chegam as 11 religiosas que o Provincial, Frei Manuel de Jesus Maria e José, nomeara para o efeito, oriundas de vários outros conventos da ordem, em Portugal. Hospedam‑se no vizinho Convento de Sant’Ana, das religiosas de Santo Agostinho. No dia seguinte, são recebidas na igreja do Colégio dos Carmelitas Descalços – Colégio de S. José dos Marianos, atualmente Hospital Militar – com um solene Te Deum. Daí seguem para a quinta de Simão Pereira Homem, sita na Arregaça, onde permanecerão por quatro anos.
No dia de Nossa Senhora das Dores, 9 de abril, de 1740 é lançada a 1ª pedra do convento, num terreno doado pelo cónego‑chantre da Sé, Manuel Moreira Rebelo. O projeto – muito simples e austero, como fica bem a uma congregação com estas características – é da autoria do arquiteto carmelita Frei Pedro da Encarnação e estaria elaborado desde 1714. O conjunto “é artisticamente modesto, valendo unicamente pelos portais de entrada da igreja onde se crava o milésimo de 1744, e pelo retábulo barroco da capela‑mor.
A planta do templo privativo é simples, de uma só nave de forma retangular, com um coro alto, uma abóbada de tijolo, uma capela única de cabeceira e uma cúpula no cruzeiro.
Convento de Santa Teresa, interior
Convento de Santa Teresa, capela-mor
Convento de Santa Teresa, portal
Convento de Santa Teresa, pormenor do portal
” Nesta igreja será sepultado, com grande solenidade, o pintor italiano Pasquale Parenti ou Pascoal Parente, que deixou notabilíssima obra espalhada por todo o país e especialmente por Coimbra e pela região centro, na 2ª metade do século XVIII. À volta do claustro, de cinco arcos de cada lado, dispõem‑se as dependências monacais, sendo os dormitórios no andar superior.
A 23 de junho de 1744, as religiosas Carmelitas deixam as instalações precárias, embora adaptadas, na Arregaça, e fazem a sua entrada no convento construído expressamente para elas e para as características da sua vida contemplativa e de clausura – tendo o sermão da trasladação sido proferido por Estanislau Manso, Sociedade de Jesus.
Aí permanecem sem grandes percalços, durante quase um século, acrescentando o número de professas e granjeando a simpatia da cidade.
Porém, a revolução liberal e as guerras que se lhe seguiram como, antes, as invasões francesas, trouxeram incertezas e perturbações a que nenhuma comunidade ou instituição ficou alheia.
…O Carmelo de S. Teresa viu serem‑lhe subtraídos os poucos bens que possuía e a iminência da extinção pesar‑lhe sobre a cabeça, uma vez que fora proibida a admissão de noviças.
Porém, em breve “a tempestade passou”; poucos anos depois, a igreja de Santa Teresa era, mesmo, um centro de vida espiritual altamente marcante na cidade”. Enquanto a vida religiosa em Coimbra “definhava” e “nos conventos de Santa Clara, Celas e Sant’Ana morriam as últimas freiras” (…) o convento de Santa Teresa era “o maior, para não dizer o único centro de piedade” que “contrastava, à evidência, com o ambiente de indiferença religiosa que era comum dos habitantes da cidade. Ali concorriam as famílias da nobreza e aristocracia coimbrã, que haviam conservado as velhas tradições portuguesas, sem se deixar contaminar pelo liberalismo e pelo formalismo externo (…) Ali concorria também muita gente devota, muita gente pobre e humilde… Neste convento, havia bastantes religiosas ainda válidas e algumas novas, todas piedosíssimas, passando a vida em penitências austeras e edificantes.
Elas tinham sabido renovar o seu pessoal professo. Como? Deus o sabe e elas também o sabiam. Era na Igreja das Teresinhas, e só ali, que todos os dias se viam fiéis”.
Guedes, G.M.F. O Convento de Santa Teresa de Jesus de Coimbra: inventário do acervo documental. In: Boletim do Arquivo da Universidade de Coimbra. Vol. 26 (2013). Pg. 65 a 80.
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