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A' Cerca de Coimbra


Quinta-feira, 10.06.21

Coimbra: Alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. 23

A Escola Industrial Brotero deambula pela cidade (continuação)

Martins de Carvalho, no ano de 1891, em O Conimbricense fazia a apologia do ensino industrial ministrado pela escola, escrevendo que “hoje já se não comprehende um operario sem instrucção artistica. É mister progredir, e não se progride sem estudo. As differentes terras do reino procuram desenvolver e aperfeiçoar as suas industrias; e por isso a cidade de Coimbra não póde nem deve ficar-lhes inferior, quanto o permita a sua esphera de acção. O conhecimento do desenho é absolutamente indispensavel aos operarios; e esse conhecimento podem elles obtel-o na Escóla industrial Brotero. Chamâmos toda a attenção dos operarios, dos paes de familia e dos chefes dos estabelecimentos para este ponderoso assumpto”.

No contexto de modernização escolar delineada pela Coroa, a que já me referi, foi importada “mão-de-obra” específica, destinada a integrar o corpo docente desses estabelecimentos de ensino industriais, então a conhecerem, no país, um considerável impulso. Para Coimbra, de acordo com A Voz do Artista (1889.08.31) e O Conimbricense (1889.08.24), a fim de lecionar na Escola Industrial de Brotero vieram vários professore estrangeiros: Charles Lepierre (francês), contratado em Paris para o ensino da química aplicada à indústria; Leopoldo Battistini (italiano), contratado em Roma, para ensinar desenho decorativo; Hans Dickel (austríaco), contratado em Viena, seria o responsável pelo ensino do desenho de arquitetura; Emile Lock (austríaco), contratado em Viena, regeria o ensino da física mecânica e suas aplicações industriais, devendo também ocupar-se do curso de desenho de máquinas.

Charles Lepierre.jpg

Charles Lepierre

Hans Dickel, pouco depois de ter chegado a Coimbra, foi encarregado (1889) de riscar o projeto de um edifício destinado a albergar a Brotero, mas a verdade é que ele jamais saiu do papel, se é que alguma vez lá esteve, embora aparecesse sempre referenciado na imprensa local como sendo “de grandiosas dimensões”.

Mais tarde, em 1910, também sem qualquer resultado visível, o “distinto arq. Adães Bermudes” deslocou-se a Coimbra, a fim de coligir os apontamentos indispensáveis para a elaboração do risco do novo edifício e o dr. Sidónio Pais, no ano seguinte, depois de ter sido nomeado ministro do Fomento, encarrega o arquiteto Silva Pinto de apresentar um outro projeto que “ficará situado entre a Praça da Republica, rua Oliveira Matos e estrada de Entre Muros, com a fachada principal voltada para a Avenida Sá da Bandeira”. A impressa local publicou o alçado que por aí se quedou.

A impressa local publicou o alçado que por aí se

A impressa local publicou o alçado que por aí se quedou.

Em 1917 as chamas consumiram as alas do claustro da Manga que a Brotero ocupava, ocasionando graves prejuízos e deixando a escola sem instalações.

Mas goraram-se as expectativas de que o incêndio tivesse sido ‘providencial’ e obrigasse à construção do novo imóvel, porque a Escola passou a utilizar o edifício onde funcionara a Direção das Obras Públicas, nas proximidades da Praça da República; isto é, na ‘Casa de Férias’ do prior de Santa Cruz.

Em 1921, quando foi criado o Instituto Industrial e Comercial de Coimbra, o Governo determinou que a Brotero deixasse as instalações da Rua Oliveira Matos e passasse a ocupar o edifício fronteiro ao Jardim da Manga.

Fig. 40. Em 1921 a Escola Brotero instalou-se no e

Fig. 40 – Em 1921 a Escola Brotero instalou-se no edifício crúzio fronteiro ao mercado. [BMC.I, AG_0077].

A estrutura, um “edifício, donairoso e alegre na exposição de mimos que o rodeavam, pois se debruçava por sua longa fila de janelas e serventias sobre a opulenta e viçosa horta e laranjal, que a paciência e laborioso entendimento dos frades, tornavam em aprazível retiro digno de ser visto”, entrara na posse da edilidade, como já se referiu, depois da extinção das ordens religiosas.

Torre de Santa Cruz e edifícios circundantes.JPG

Torre de Santa Cruz e edifícios circundantes

Tratava-se, porém, de uma construção muito mais vasta do que a atual, pois a “queda” da torre de Santa Cruz, acontecida em 1935, arrastou consigo uma grande parte do edifício que havia integrado, outrora, o complexo crúzio.

Construído na primeira metade de Seiscentos para servir de enfermaria, acabou por funcionar como residência do prior e como hospedaria, destinada a receber visitantes ilustres; coloca-se mesmo a hipótese de o cartório também ali ter estado instalado. Depois de servir muitos outros fins, acabou em Escola Brotero e, posteriormente, em Escola Jaime Cortesão.

Anacleto, R. Coimbra: alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. In: Belas-Artes: Revista Boletim da Academia  Nacional de Belas ArtesLisboa 2013-2016. 3.ª série, n.ºs 32 a 34. Pg. 127-186. Acedido em https://academiabelasartes.pt/wp-content/uploads/2020/02/Revista-Boletim-n.%C2%BA-32-a-34.pdf

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por Rodrigues Costa às 13:00

Quarta-feira, 09.03.16

Coimbra: Leopoldo Battistini um pintor italiano que aqui ensinou

A insuficiência de quadros qualificados no país, que respondessem às solicitações, face ao alargamento inusitado de escolas de desenho industrial … a partir de 1888 … está na origem de contratação de professores estrangeiros para lecionar naquelas escolas.
… A Legação Portuguesa em Roma fez publicar o anúncio … Pelo relatório final apresentado pelo júri romano pode concluir-se que as respostas foram imediatas … Cerca de um ano depois, procedia o governo português à contratação de … Leopoldo Battistini … celebração do contrato por cinco anos com o governo português, em 1 de Julho de 1889, para lecionar na Escola Industrial Brotero … À data da vinda para o nosso país, Leopoldo Battistini contava vinte e quatro anos ... Encontra-se em Coimbra na primeira reunião do conselho escolar que teve lugar na Escola Industrial Brotero no dia 22 de Novembro de 1889. Participaram na mesma reunião outros estrangeiros, oriundos da Áustria (Emil Jock e Hans Dickel professores das cadeiras de desenho de máquinas e física e mecânica, o primeiro e de desenho arquitetónico, o segundo) e França (Charles Lepierre … química industrial) … Permaneceriam na Escola de Coimbra … Battistini até Setembro de 1903 … e Lepierre até ao ano de 1911.

… Maria de Portugal … quando pretende encontrar uma justificação … decisão do jovem professor em prolongar a sua estadia, contra todas as previsões, em Portugal – em Coimbra, mais corretamente – introduz um indicador de ordem subjetiva … o artista não contou com o “sortilégio que a terra portuguesa exerce em todos” … Consta apenas que … foi vítima pactuante do sortílego efeito a que não conseguiu ou não quis oferecer resistência e que se deixou embalar pelas saudosas cores da terra e do céu coimbrão.

… Joaquim Leitão quando fala do encontro de Leopoldo Battistini com a cidade mondeguina … fornece duas pistas significativas. A primeira quando relata que … aceitara ir ensinar ali porque lhe tinham dito que a cidade universitária era a Florença portuguesa e a segunda, ao dizer que Quim Martins e Augusto Gonçalves tinham ido mostrar ao pintor a cidade do Mondego, noite fechada.
… O golpe desferido sobre as suas ilusões, que Battistini alimentara … foi tão cruel quanto eficaz porque “nunca até à morte, se varreu do espirito do ilustre italiano” … o choque … derivara do “atraso material da cidade” que nesse tempo “não tinha sequer iluminação que merecesse tal nome” … a memória que o italiano reteve de Coimbra associava-se às imagens da escuridão, de falta de higiene e de rusticidade – denunciadas pelos gatos vadios – e à bizarria dos intelectuais, enfiados em antros em que ele não descortinava qualquer conforto ou sentido estético, a discutir assuntos que lhe escapavam.
… Caracterizadas pela irreverência sempre, as festas estudantis “além de interferirem em linhas e setores de sociabilidade geral, geravam formas peculiares e relativamente autónomas de sociabilidade a vários níveis”: os bailes, as récitas, as baladas, as serenatas e os passeios fluviais, além da festa exclusiva dos quintanistas de Medicina e as intervenções da Academia nos centenários de inspiração cívica e patriótica, que ficaram memoráveis … A sensibilidade de Leopoldo Battistini não lhe conseguiu ficar indiferente à magia telúrica das manifestações públicas aqui sumariadas plenas de força anímica, de pujança e de rusticidade de um povo que ritma o pulsar da vida pelos ciclos da natureza … A vida privada de Battistini pautar-se-á, em breve, pela dos citadinos de Coimbra … Sabe-se que habitou uma casa na Couraça dos Apóstolos … Posteriormente deslocou-se para a rua da Alegria.

Lázaro, A. 2002. Leopoldo Battistini: Realidade e Utopia. Influência de Coimbra no percurso estético e artístico do pintor italiano em Portugal (1889-1936). Coimbra, Câmara Municipal de Coimbra. Pg. 71 a 75, 91 a 101

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por Rodrigues Costa às 09:12

Sexta-feira, 23.10.15

Coimbra, as origens da Escola Brotero

No ... ano de 1984, a Escola Brotero de Coimbra, comemora o seu primeiro centenário. Com efeito, foi criada, pelo então Ministro das Obras Públicas, Comércio e Indústria, António Augusto de Aguiar, como Escola de Desenho Industrial, por Decreto de 3 de Janeiro de 1884, sendo batizada com o nome de «Brotero» por Decreto de 5 de Dezembro desse mesmo ano.
… Por Despacho de 4 de Dezembro de 1884, foi colocado na Escola Brotero, o professor António Augusto Gonçalves, diretor da «Escola Livre das Artes de Desenho» … Para instalação da Escola, a Câmara Municipal de Coimbra … cedeu a antiga Igreja da Trindade … Sendo, porém, necessário fazer obras de adaptação … a Associação dos Artistas de Coimbra, para que a abertura da Escola não fosse adiada, ofereceu uma sala de que, desde 1866, dispunha no mosteiro de Santa Cruz – o antigo refeitório. Aí abriu a Escola Brotero, em 20 de Fevereiro de 1885, lá se mantendo, em condições precárias, até Dezembro de 1887.
… O material didático … foi obtido, em parte, na Alemanha, na Inglaterra e na França e, em parte, no nosso País. Tendo o da Escola Brotero vindo da Alemanha … O ensino do desenho divide-se em elementar e industrial; o primeiro é diurno e o segundo é noturno … As aulas abriram efetivamente em 20 de Fevereiro de 1885, estando matriculados 84 alunos (81 do sexo masculino e 3 do sexo feminino … Em poucos dias, mantendo-se embora estacionário o número de alunos do sexo feminino, esse número subiu para 152. Esse alunos, cujas idades oscilavam entre os 6 e os 40 anos, ou se distribuíam por um leque bastante amplo de profissões – alfaiates, barbeiros, canteiros, carpinteiros, fabricantes de doce, fundidores, latoeiros, marceneiros, oleiros, ourives, pedreiros, pintores, tipógrafos.
… No começo do ano letivo de 1886-1887, em Dezembro, a Escola Brotero deixou de funcionar na sala da Associação dos Artistas e passou … no corredor por cima do antigo refeitório. Nesse corredor, ladeado de celas, foram feitas obras de adaptação, que consistiram fundamentalmente em unir as celas de um dos lados corredor para formar uma sala grande.
… Emídio Júlio Navarro, então, Ministro das Obras Públicas, por Decreto de 10 de Janeiro de 1889, transforma a Escola de Desenho Industrial de Coimbra em Escola Industrial «destinada a ministrar o ensino teórico e prático apropriado às indústrias predominantes na mesma cidade» … Em 4 de Janeiro de 1890 começou a funcionar como Escola Industrial … em 15 de Maio de 1889, o italiano Leopoldo Battistini foi nomeado professor de «Desenho ornamental» e o austríaco Emil Jack, professor de «Desenho de máquinas» … o austríaco Hans Dickel … professor de «Desenho arquitetónico» … o francês Charles Lepierre … professor de «Química industrial» … Albino Augusto Manique de Melo … professor de «Aritmética e geometria elementar» e Eugénio de Castro e Almeida … professor de «Língua francesa».
… A Câmara Municipal cedeu à Escola, nesse ano letivo (de 1890-1891) «a parte baixa do antigo cerco do noviciado do convento de Santa Cruz”.
Durante o ano letivo de 1890-1891, foram feitas obras «na parte inferior dos edifícios que bordam o jardim da Manga, a fim de adaptar esta parte do edifício ao estabelecimento de oficinas de serralharia, carpintaria e marcenaria, de modelação e cerâmica, com que vai ser dotada aquela escola, bem como para melhorar as instalações da oficina de gravura e ornamentação de metais que este ano já funcionou».

Gomes, J. F. Apontamento para o estudo das origens da Escola Brotero de Coimbra. In 1.º Centenário da Exposição Distrital de 1884. Coimbra. Simpósio. 30 de Junho e 1 de Julho de 1984. Coimbra, Edição do Secretariado das Comemorações, p. 30 a 41

 

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por Rodrigues Costa às 22:38


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