Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Na obra que vimos seguindo surgem diversas notícias relacionadas com a execução de pessoas de Coimbra, a primeira acontecida no ano de 1555. Desconhece-se o nome e o crime do homem que, nessa data, foi Atanazado e enforcado em Coimbra.
É, também, explicado no que consistia, em vida, o atanazamento, que implicava a aplicação de uma(s) das seguintes penas acessórias: o corte ou mutilação das mãos ambas, ou de algumas delas; o arrastamento da vítima, no percurso, até ao sítio da forca; o arrancamento do coração.
Saliente-se que são referidos diversos Autos-de Fé da responsabilidade da Inquisição de Coimbra, realizados na Praça de S. Bartolomeu, onde pereceram, queimadas vivas, entre homens e mulheres, 84 pessoas.
Praça de S. Bartolomeu, hoje Praça do Comercio
De entre as execuções realizadas na cidade mondeguina e referidas no livro escolhemos, como exemplo para aqui transcrever, uma das mais antigas e a mais recente.
- 1456.07.01
Luísa de Jesus, de 22 anos de idade.
Infanticídios diversos, indo buscar enjeitados à Misericórdia de Coimbra, a pretexto de criação, matando-os e enterrando-os depois, para se aproveitar do enxoval e dos 600 réis de criação pagos adiantadamente.
Atazanada pelas ruas públicas, cortadas as mãos em vida, garrotada e queimada. Sentença da Relação de Lisboa.
Acharam-se enterradas trinta e três crianças, confessando a ré haver garrotado vinte e oito por suas próprias mãos! Que tal era a fiscalização do estabelecimento, que permitia tantas e tão seguidas atrocidades! A mesma, fora de toda a dúvida, que havia em toda a superfície do país.
- 1839.07.29
José da Costa Casimiro, de 27 anos, natural do Picoto, freguesia de Cernache dos Alhos, concelho de Coimbra, solteiro, sapateiro.
Homicídio de Diogo Marques de Carvalho, no dia no dia 25 de Julho de 1835, no sítio das Almuinhas, próximo do mesmo lugar de Cernache.
Enforcado junto e a jusante do antigo «Ó» da ponte de Santa Clara, que corresponde [naquela data] à extremidade sul da atual «ponde de ferro».
«Ó» da ponte de Santa Clara
São ainda citadas duas informações relevantes.
- Da edição de 1747 do Compromisso da Santa Casa da Misericórdia da Cidade de Coimbra, datado de 24 de maio de 1620, são transcritos os Capítulos XXX e XXXI que tratam respetivamente:
. Do como como se hão-de acompanhar os padecentes,
. Do modo em que se hão-de ir buscar as ossadas dos que padeceram por justiça.
Compromisso da Santa Casa da Misericórdia da Cidade de Coimbra. Edição de 1830
- Indica o local onde, na cidade, se erguia a forca:
Para o leitor fora de Coimbra, e ainda para o desta cidade que somente conhece a moderna, será bom explicar que o nume «Ladeira da Forca» se dá à extremidade norte-poente do monde chamado «Monte Arroio», a qual cai quase a prumo sobre a cabeça da antiga «Ponte de Águas de Maias», e é ladeada pelo semicírculo que formam a estrada de Coimbra ao Porto e o caminho da Ribeira de Coselhas; assim como Ponte de Águas de Maias se chamava à antiga ponte, que, desde o sopé da «Ladeira da Forca», se estendia até o «Arco Pintado» …
Ponte de Águas de Maias
merece comunicar a todos este espaço o seu antigo nome, tão antigo que já serviu para designar o campo de batalha (se é verdadeira a tradição) travada há bastantes séculos entre os dois Hermenerico e Ataces.
Seco, A.L.S.H. Execuções da pena última em Portugal. Recolha de textos, introdução e notas por Mário Araújo Torres. Lisboa, Edições Ex-Libris.
O exercício de uma profissão “arte ou ofício mecânico” exigia um período de aprendizagem prolongado ficando o aprendiz a viver com o mestre. Colaborava em todas as atividades de fabrico na oficina sem auferir salário, até estar apto a realizar a sua obra-prima.
Esse objeto era submetido à apreciação dos juízes do ofício eleitos entre os mestres. O certificado, “carta de examinação e aprovação”, era a condição para poder montar oficina própria. Após o seu registo na Câmara, obtinha-se licença para ter “loja aberta”.
O fabrico e a qualidade dos produtos eram rigorosamente controlados pelas Corporações dos Ofícios, através de um regulamento específico designado por Regimento... encontram-se no AHMC alguns exemplares de Regimentos: dos sombreireiros (séc. XVI), dos Sirgueiros (1582), dos Alfaiates (1596), dos Caldeireiros (1600), dos Cordoeiros (1659), etc.
Os ofícios agrupavam-se por afinidades profissionais escolhendo um santo protetor comum para a bandeira da sua corporação, daí a designação de embandeirados. Cada um desses doze conjuntos embandeirados elegia dois representantes, constituindo a Casa dos Vinte e Quatro dos Mesteres de Coimbra. Desta instituição saía o Juiz do Povo e os Misteres da Mesa que assistiam às reuniões da Câmara. A sua existência está bem documentada para o século XVII, e seguintes possuindo as atas das suas reuniões.
... O arruamento dos mesteres, medida controladora da produção e da concorrência desleal, em Coimbra deixou os seus vestígios na toponímia da cidade, embora não tenha sido observado com tanto rigor como noutras cidades. Ainda é possível encontrar, atualmente, as Ruas dos Oleiros, da Louça, das Padeiras, dos Sapateiros, em zonas onde outrora se fixaram estas profissões.
Outros ofícios localizavam-se em áreas outrora desertas e hoje densamente urbanizadas... Esse é o caso dos fogueteiros que no séc. XVIII se sediavam fora de portas entre a Ladeira da Forca e a Ponte de Água de Maias. É também o exemplo dos Cordoeiros que naquela mesma época possuíam as suas oficinas nos terrenos baldios que iam da Capela de Nosso Senhor do Arnado (entretanto demolida) até ao rio, pela atual Avenida Fernão de Magalhães.
... Entre a documentação compulsada ... surgiram várias referências a Mulheres no exercício dos seus ofícios ... Num breve levantamento encontramo-las a exercer os ofícios mais diversos, desde os que tradicionalmente estão associados à condição feminina e às artes domésticas como parteira, lavadeira, tecedeira, alfaiata, padeira, forneira, etc. como noutros mais invulgares em que partilham o universo masculino. É o caso da profissão de Algebrista, antepassada do endireita e do moderno ortopedista, definida como o ofício de “consertar brasos e pernas e outros quaisquer membros desmanados e bem assi para curar feridas simplises, chaguas, apestemas, entrasas leves que não forem de má qualidade”.
Nota: A Ladeira da Forca é hoje designada, a meu ver mal, por Escadas de Santa Justa; a Ponte de Água de Maias refere-se à ponte que existiu onde agora está a Rotunda da Casa do Sal.
França, P. 1997. Catálogo. Exposição Artes & Ofícios de Outras Eras. 27 Set. a 17 Out.1997. Coimbra, Arquivo Histórico Municipal de Coimbra, Trabalho fotocopiado, pg. 2-4.
Ao regimento de milícia de Coimbra, formado por habitantes da cidade e de numerosas povoações compreendendo a maior parte da Bairrada, tocou a obrigação (aquando das invasões francesas) de marchar para a praça de Almeida, e no aviso convocatório fora dada ordem para formar em parada, na força de 690 homens, no Rossio de Santa Clara, a 25 de Março de 1801.
A academia, que nesse ano atingira o número de 1648, entre alunos da Universidade e do Colégio das Artes … foi em grande número assistir à parada. Às tantas, porém, alguns dos seus membros entraram a dirigir chufas aos bisonhos milicianos… ridicularizando-os, numa provocação que chegou ao ponto de derrubarem algumas das armas que se encontravam ensarilhadas … um oficial mais assomadiço ou menos condescendente mandou calar baioneta à sua companhia e ordenou uma carga sobre os provocadores.
Fugindo tudo em debandada, nem por isso deixou de haver muita gente maltratada, tendo falecido um frade do Colégio de Santa Rita (vulgo Colégio dos Grilos), em consequência dos ferimentos recebidos. A noite chegou e os milicianos de fora tiveram de ser aboletados em casas particulares, como era de uso.
Os estudantes, ansiosos de um desforço, espalharam-se pelas ruas da cidade, preparados para a agressão aos milicianos, dirigindo-lhes ultrajes em altas vozes, tendo havido alguns conflitos e ferimentos … quando da partida do regimento para Almeida … os estudantes o fossem esperar no melhor ponto para o ataque, postando-se na Ladeira da Forca, sobranceira à moderna Rua da Figueira da Foz. Mas tendo-se feito constar que o regimento ia de armas carregadas, isso bastou para dissipar qualquer propósito de provocação, e pôde seguir pacificamente ao seu destino.
Para apurar responsabilidades, o conservador da Universidade logo instaurou uma devassa … Tempo depois, em 29 de Novembro, o reformador-reitor … remeteu a devassa ao ministro do reino, propondo que se expulsassem da Universidade três dos principais … Mas, o alvitre parece não ter sido aceite, pois o reitor repetiu dois anos mais tarde … como se nunca o houvesse apresentado anteriormente.
Loureiro, J. P. 1967. Coimbra no Século XIX. Separata do Arquivo Coimbrão, Vol. XXIII. Coimbra, Câmara Municipal de Coimbra. Pg.24 a 26
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.