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A' Cerca de Coimbra


Sexta-feira, 10.11.23

Coimbra: Reforma Pombalina, projetos de construções

Foi, recentemente, publicado mais um número – o 57-2023 – da Rua Larga. Revista da Reitoria da Universidade de Coimbra» que integra vinte e cinco artigos. Trata-se de uma reunião de saberes, escritos numa linguagem acessível, cuja leitura merece o nosso interesse.

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Rua Larga. Revista da Reitoria da Universidade de Coimbra, n.º 57-2023, capa

Nesta entrada olhamos para o artigo Modelações 3D de Projetos e Edifícios da Reforma Pombalina da Universidade, (pg. 35 a 41) assinado pelos Professores do Departamento de Arquitetura da Faculdade de Ciências e Tenologias, Rui Lobo e Carlos Moura Martins, magnificamente ilustrado onde, nomeadamente, é dito.

Em 2022, comemoraram-se os 250 da Reforma Pombalina da Universidade de Coimbra A Reitoria da Universidade de Coimbra  (UC), através do vice-reitor professor Delfim Leão, contactou o Departamento de Arquitetura no sentido de se produzir uma coleção de modelos 3D, em formato digital, dos projetos dos  edifícios da Reforma, aprofundando um trabalho começado no âmbito da unidade curricular de História da  Arquitetura Portuguesa, no ano letivo de 2020-21.

Em 29 de setembro de 1772, em sessão solene na Sala Grande dos Atos, Sebastião José de Carvalho e Melo, Marquês de Pombal, apresentava com pompa e circunstância, os novos Estatutos ao corpo reunido da Universidade. Eram criadas as novas Faculdades de Filosofia e de Matemática (substituindo a extinta Faculdade de Artes), mantendo-se as restantes faculdades de Teologia, Direito, Cânones e Medicina, ainda que esta última em formato renovado. Para as novas faculdades e para a reformulada Faculdade de Medicina, promovia-se um novo ensino de caráter prático e experimental, apoiado em novos estabelecimentos criados para o efeito: os Gabinetes de Física Experimental e de História Natural, o Laboratório «Chimico» e o Jardim Botânico para a Faculdade de Filosofia; o Observatório Astronómico para a Faculdade de Matemática; e o Teatro Anatómico e Dispensatório Farmacêutico para a Faculdade de Medicina, além da junção do Hospital Público da cidade à Universidade. Para executar a Reforma no terreno, nos seus mais variados aspetos, foi nomeado Reitor-Reformador D. Francisco de Lemos, verdadeiro «braço-direito» do Marquês em Coimbra.

Para instalar estes novos estabelecimentos pedagógicos e científicos, estavam disponíveis os edifícios do Colégio de Jesus (dos expulsos jesuítas), o antigo castelo (a nascente da Alta, para o Observatório), conseguindo ainda o Marquês a cedência de parte da cerca do Colégio de S. Bento para o Jardim Botânico. Seria também criada a Imprensa da Universidade, instalada no claustro da Sé Velha, já que a catedral passava a ser a antiga igreja dos inacianos, agora Sé Nova. Para realizar os projetos de arquitetura dos novos estabelecimentos, veio com o Marquês o tenente-coronel Guilherme Elsden, inglês radicado em Portugal, que havia feito carreira no exército português, realizando levantamentos cartográficos e territoriais e dirigindo algumas obras infraestruturais. Trabalharia com Elsden uma equipa de engenheiros militares, que incluía os capitães Izidoro Paulo Pereira e Joaquim Oliveira, e ainda os ajudantes Ricardo Franco de Almeida Serra, Theodoro Marques Pereira da Silva, Guilherme Francisco Elsden (filho do «Diretor das Obras»), Manuel de Sousa Ramos e o discípulo do número Inácio José Leitão.

Após a coordenação dos primeiros levantamentos, realizados durante a estada do Marquês em Coimbra em setembro-outubro de 1772, Elsden e a sua equipa regressariam a Lisboa, onde produziriam as plantas dos edifícios existentes (incluindo uma notável planta conjunta dos colégios de Jesus e das Artes, hoje no Rio de Janeiro) e umas primeiras ideias de adaptação dos mesmos aos novos estabelecimentos, como a proposta de adaptação da torre quadrangular do castelo de Coimbra a um primeiro e modesto observatório astronómico.

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Figura 1: Guilherme Elsden. Primeiro projeto para o Observatório Astronómico, aproveitando a torre de planta quadrada do castelo: desenho de 24 de novembro de 1772, Fundação Nacinal, Rio de Janeiro (modelo 3D: Rita Rodrigues). Op. cit., pg. 34

Reforma Pombalina 2.jpgFigura 2: Guilherme Elsden. Segundo projeto para o Observatório Astronómico, aproveitando ambas as torres do castelo: desenho do verão de 1773. Museu Nacional Machado de Castro (modelo 3D de Rita Rodrigues). Op. cit., pg. 37.

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Figura 4: Manuel Alves Macomboa. Observatório Astronómico do Paço das Escolas, construído entre 1791 e 1799, demolido em 1951 (modelo 3D: Rita Rodrigues). Op. cit., pg. 38

Elsden voltaria a Coimbra em março de 1773, dando início às obras de transformação do corpo nascente do antigo Colégio de Jesus, correspondente à atual fachada do Museu de História Natural, que definia o também novo espaço urbano do Largo do Museu, atual Praça Marquês de Pombal.

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Figura 6: Guilherme Elsden. Segundo projeto para o Laboratório Chimico (teatro das demonstrações químicas) desenho do verão de 1773, Departamento de Quimica da FCTUC, (modelo 3D: Júio Vidotti, Rafaela Alves e Rita Rodrigues). Op. cit., pg. 40.

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Figura 7: Guilherme Elsden. Projeto final para o Laboratório Chimico (teatro das demonstrações químicas) desenhos de finais de 1773 ou inícios de 1774, Livro dos Riscos das Obras da UC, Júlio Vidotti, Rafaela Alves e Rita Rodrigues). Op. cit., pg. 40.

Lobo, R. e Martins, C. Modelações 3D de Projetos e Edifícios da Reforma Pombalina da Universidade.  2023. In: Rua Larga. Revista da Reitoria da Universidade de Coimbra, n.º 57-2023, pg. 35 a 41.

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por Rodrigues Costa às 18:06

Terça-feira, 08.08.17

Coimbra: Colégio de Jesus 2

Pertenceu aos «Padres da Companhia de Jesus» ou «jesuítas».

Fundado em 1542, este Colégio foi o primeiro que a Companhia teve em todo o mundo... Funcionou a princípio provisoriamente numa casa na... Couraça dos Apóstolos.

Por carta régia de D. João III, datada de 16 de Agosto de 1544 foi concedida aos colegiais deste instituto ... «todos os privilégios, liberdades, graças e franquezas ... de que usam ... os lentes e deputados e conselheiros da Universidade»

... A 14 de Abril de 1547 ... lançamento da primeira pedra, a obra do edifício definitivo, o maior e mais grandioso que jamais se ergueu em Coimbra.

...A planta destas construções tem a forma de um retângulo, medindo tanto o lado oriental como o ocidental 108 metros de extensão, e os lados meridional e setentrional 94 metros cada um.

Colégio de Jesus desenho.TIFColégio de Jesus

 ... Mais tarde construíram-se dois pequenos corpos de passadiços ou corredores, perpendiculares à fachada oriental, projetando-se para leste: um dava comunicação do Colégio de Jesus para o Real Colégio das Artes; o outro comunicava com um outro edifício fronteiro, onde estavam a cozinha, a dispensa e outras oficinas, sito aproximadamente onde hoje é o Laboratório Químico.

... A obra ia prosseguindo, embora um pouco lentamente... É preciso que se saiba que do antigo edifício pouco resta além do templo e de parte das paredes, ainda assim profundamente modificadas e enobrecidas.

... Foi este (o templo) a última parte do edifício a construir-se, pois corria já o ano de 1598 quando... colocou «ritu pontificali» a primeira pedra. Decorreram quarenta e um anos enquanto se foi construindo a grande nave com as suas capelas; ... logo este corpo se isolou, por um taipal ... levantou-se um altar provisório ... benzido na tarde de 31 de Dezembro de 1639.

... Continuaram a decorrer as obras durante mais de meio século, até se achar completo o transepto e capela-mor. Foi em 1698, a 31 de Julho, que se fez a inauguração do templo... havia passado um século desde a bênção e colocação da primeira pedra.

Mas estava então ainda longe o complemento das obras, que foram continuando, tanto no exterior como no interior, durante o 1.º quartel do século XVIII. A parte superior da fachada deve ter sido executada no princípio deste século; o douramento do retábulo do altar-mor concluiu-se em 1712, e os retábulos colaterais do transepto foram dourados em 1724.

... Pouco tempo gozaram os jesuítas de Coimbra a sua magnificentíssima igreja colegial, depois de concluída e perfeita.

Presos a 15 de Fevereiro de 1759... foi extinto o Colégio, e os respetivos edifícios ficaram abandonados durante treze anos.

... foi cedido ao Bispo e ao Cabido de Coimbra o templo ... para servir de catedral, com o seu claustro e com o corpo meridional do Colégio que lhe era contiguo, assim como grande parte do edifício que se estendia a ocidente da igreja; à Universidade, para instalação dos museus e mais estabelecimentos das Faculdades de Medicina e de Filosofia, foi concedido todo o resto do edifício.

O Hospital Real de Coimbra... Ficou instalado no ângulo NO do edifício.

Após a proclamação da Republica os serviços universitários ocuparam as partes do edifício que estavam em poder dos cónegos, com exclusão da igreja, torres dos sinos, claustro, sacristia e algumas dependências desta.

Vasconcelos, A. 1987. Escritos Vários Relativos à Universidade de Coimbra. Reedição preparada por Manuel Augusto Rodrigues. Volume I e II. Coimbra, Arquivo da Universidade de Coimbra, pg. 190-196, do Vol. I

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por Rodrigues Costa às 10:10

Sexta-feira, 06.05.16

Coimbra e as invasões francesas 3

No dia 26 (de Junho de 1808) não havendo pólvora para a luta a travar iniciaram-se no Laboratório Químico da Universidade os trabalhos da sua produção, sob a direção do Doutor Tomé Rodrigues Sobral, lente da Faculdade de Filosofia. Nesse dia de tarde, veio da Quinta de Santa Cruz, ainda então propriedade dos frades crúzios, uma carrada de vides para se fazer carvão. Às 10 da noite já havia alguma pólvora feita, faltando contudo o pessoal para a encartuchar. Por isso se mandaram vir do hospital dois soldados portugueses convalescentes, para se lhes incumbir essa tarefa, bem como todos os ourives e funileiros para fundirem as balas. Nessa faina levaram a noite inteira, sem descanso algum, preparando as formas, fundindo metal e ensinando outras pessoas.

Na mesma noite se cuidou de produzir metralha para as peças que se esperavam da Figueira; e às seis horas da manhã estavam feitos mais de 3.000 cartuchos … Até ao dia 14 de Julho estavam já feitos 60.000 cartuchos …

«Além do material de guerra fabricado … foram consertadas grande número de espingardas e preparado um número extraordinário de objetos necessários para a campanha, na fábrica de fiação de Manuel Fernandes Guimarães, estabelecida na Rua João Cabreira…»

No mesmo dia 26, tocando-se a rebate em Coimbra, por haver chegado a Viseu o general Loison (o odiado e temido “maneta”) que segundo voz corrente se encaminhava para Coimbra, o Governador da Cidade, Doutor Manuel Pais de Aragão Trigoso, publicou uma proclamação ordenando a todas as autoridades civis e militares que convocassem às armas as ordenanças, milícias e quaisquer militares que tivessem tido baixa desde o ano de 1801 e todos os corpos civis. E no dia seguinte – maravilha foi presenciá-lo – 15.000 a 20.000 paisanos se apresentaram, «armados de lanças e roçadoiras, armas que não erram o tiro» ávidos de lutarem contra os inimigos.

… Nesse mesmo dia, alistaram-se numerosos estudantes, posto que a maioria se encontrasse já ausente, em gozo de férias. E com os inscritos organizou o Doutor Tristão Álvares da Costa Silveira, lente de cálculo e major de engenharia, um corpo académico.

 

Loureiro, J. P. 1967. Coimbra no Século XIX. Separata do Arquivo Coimbrão, Vol. XXIII. Coimbra, Câmara Municipal de Coimbra. Pg. 55 a 57

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por Rodrigues Costa às 10:08

Domingo, 19.07.15

Coimbra, o Museu das Ciências Naturais, a Faculdade de Medicina e o Laboratório Químico

Os edifícios destinados às faculdades onde se procedesse a “Observações, Experiências e Demonstrações de Sciencias Naturaes”, constituíam prioridades …
O edifício construído apresenta uma longa fachada de cento e onze metros de comprido, dividida em três corpos, bem marcados por pilastras. A zona central exibe, no piso térreo, outras tantas aberturas em arcaria …Demarcam eta zona, intervalando as aberturas, quatro pilastras dóricas adossadas à parede e remata o conjunto um largo frontão triangular, ornamentado no seu tímpano, com um relevo atribuído a Machado de Castro, representando a Natureza.

No antigo Colégio de Jesus, para o efeito incorporado no “perpétuo domínio da Universidade” abrigavam-se os institutos ligados à Faculdade de Medicina: o Hospital, o Teatro Anatómico e Dispensário Farmacêutico.
O Teatro Anatómico já funcionava nos inícios de 1774 … Ao lado, mesmo junto à Couraça dos Apóstolos situava-se o “jazigo” ou cemitério. Interessa salientar aqui o facto de, em Coimbra, se projetar, já em 1772 ou 1773, uma necrópole.

Para construir o Laboratório Químico “aplicou o Marquez Vizitador a parte septentrional do Collegio, que compreendia o Refeitório, e a mais officinas adjacentes”, mas como não se tornou viável proceder a uma racional utilização, “foi precizo demolir tudo, e Edificar de novo o Edificio” … o imóvel que atualmente se ergue na Praça Marquês de Pombal, continua a ter a assinatura do inglês (Guilherme Elsden) e resultou do modelo “… de Vienna de Austria” … O responsável pelo seu bom apetrechamento foi em 1800, o lente de Metalurgia, José Bonifácio de Andrade e Silva.

Anacleto, R., 2009. Universidade de Coimbra: Primeiras Propostas Arquitetónicas da Reforma Pombalina. Separata do IV Congresso Histórico de Guimarães. Do Absolutismo ao Liberalismo, pg. 29 e 30, 34 e 35

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por Rodrigues Costa às 23:30


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