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A' Cerca de Coimbra


Quinta-feira, 09.02.23

Coimbra: Faculdade de Letras, Ícone do Poder 3

O Átrio Professor (Frescos do vestíbulo principal).

As duas alegorias que aqui habitam, todavia, resultando de painéis diferentes, unem-se bem através de um traço que, em linha gerais, as aparenta, dando ao local grande homogeneidade pictórica. Na verdade, as obras são de autores diferentes, mas suas cores e até a maneira de distribuir as manchas pintadas, tanto num como noutro painel, se podem fazer equivaler.

… Tomando como guia o deus Cronos (a cronologia), o tema central do painel da parede esquerda (para quem atravessa as portas de fora para dentro) aparece primeiramente exposto na lição. Com efeito, a aula que toma lugar no átrio da Faculdade de Letras desenrola-se em dois tempos, segundo o próprio título dos panéis, a «Alegoria da Antiguidade Clássica» e, depois, do lado direito, a «Alegoria do Génio Português». A autoria artística do primeiro fresco é de Joaquim Rebocho e o autor do segundo painel é Severo Portela Júnior.

Alegoria da Antiguidade Clássica

Op. cit., pg. 63.jpg

“Alegoria da Antiguidade Clássica” de Joaquim Rebocho, pintura a fresco de 1951. Op. cit., pg. 63

 O exame iconográfico do fresco torna-se muito complexo pela multidão de personagens e de sítios e monumentos desenhados, melhor dito, monumentos citados, que ali, em conjunto, fazem a alegoria à Antiguidade Clássica. Elas são aproximadamente vinte e quatro figuras humanas e estas juntam-se a outras figurações que apontando para variadas situações (cenários, paisagens, lendas, mistérios: enfim, figuração do que é Clássico).

… Porém, a lição que se expõe nas imagens pintadas não é uma mera apresentação de figuras do antigamente. As figuras são ali lisonjeadas, por fazerem parte de uma memória coletiva que é comum, não só à cultura portuguesa, como a toda a cultural ocidental. A lição tem um objetivo claro que terá se ser por nós perscrutado, tendo, por isso, de se olhar o painel de Rebocho por zonas grupais. Assim, surgem logo destacados dois grandes mundos: na metade inferior do campo pictórico, o mundo grego, que na ilharga do lado mais interior da faculdade se prolonga até à zona cimeira, onde o autor «arquitetou» os edifícios da acrópole;

 

Op. cit., pg. 74.jpg

A acrópole ateniense merece uma representação muito fiel. Op. cit., pg. 74.

 do lado das portas do edifício, o mundo romano, circunscrito à zona cimeira do fresco.

 

Alegoria da Glorificação do Génio Português (pintada por Portela Júnior)

Op. cit., pg. 86.jpg

Fresco de Severo Portela Júnior, datado de 1951. Op. cit., pg. 86.

O fresco que deste pintor vamos estudar é, na opinião de Jorge Segurado, «um mural de grades dimensões com a figuração dos mais notáveis vultos da cultura portuguesa» e, nas palavras de Fernando Pamplona, «dá-nos uma bela síntese da história da Cultura Portuguesa».

… A tática de representação é semelhante à do outro fresco: recorre-se às figuras mais importantes que evocam os grandes feitos da nação portuguesa. Evocam-se situações que medeiam desde os alvores da nacionalidade, no século XII, até ao século XX. São cerca de oitocentos anos de cronologia através dos acontecimentos que se acharam merecedores de figurarem como ilustrativos de tão alta história. Continuamos, portanto, a projetar o olhar para a História de Portugal.

…. Distinguem-se, à primeira observação, o grupo dos homens ligados à expansão marítima (Infante D. Henrique, João Gonçalves Zarco e Afonsos de Albuquerque).

 

Op. cit., pg. 92.jpg

Os homens escolhidos para figuração das Descobertas. Op. cit., pg. 92

Estamos, agora, em condições de concluir sobre o painel, ou talvez, o retábulo pintado por Severo Portela Júnior… A legenda é mais abrangente; retirada das palavras de Camões, diz «aqueles que por obras valerosas/ se vão da lei da morte libertando». Quem são esses? Todos os que ali estão perpetuados e que, somados, formam a figura da Pátria cujo nome aparece inscrito no fundo do «sacrário» … «São Portugal».

Duarte, M.D. 2003. Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra: Ícone do Poder. Ensaio iconológico da imagética do Estado Novo. Prefácio de Regina Anacleto. Coimbra, Câmara Municipal.

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por Rodrigues Costa às 21:19


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